O Quinto Dia

“…Deus criou os monstros do mar, e todas espécies de seres vivos que em grande quantidade se movem nas águas, e criou também todas espécies de aves que voam no céu. A noite passou e veio a manhã. Esse foi o quinto dia. Gênesis 20-22”

Essa é uma história bem antiga. O que vamos contar se sucedeu há trezentos mil anos atrás. Sobrevoando iremos por toda a extensão do vale do Caiçara, por ali vamos. De cima dava pra ver bem, o delta do rio Ipanema, deitado eternamente em berço fulgurante. Dantes, coberto por esplêndida vegetação. Aonde um dia, surgiria o município de Santana do Ipanema. Uma floresta tão densa que não dava pra ver o solo da primitiva pátria mãe. E a flora era dum colorido fantástico, reluzente. Como se briófitas e liquens emitissem raios de luz, produzindo um efeito etéreo, mágico. Como se lá no meio da mata escura, cogumelos luzidios alumiassem aldeias, algumas imaginárias. Não fazia muito tempo, e estávamos na Era do Gelo. Imagine que o céu, se apresentava em duas tonalidades, no horizonte uma nuance violácea, no firmamento um azul de um céu profundo, se tornando cada vez mais escuro à medida que afastava da estratosfera do recém criado, novo mundo. Deus, por essa época, se ocupava, experimentando a Criação. Os planetas, já Ele os havia feito, porém ficaram muito próximos da Terra, de modo que ao observar o céu, dava perfeitamente pra vê-los, sem necessidade de aparelho algum. Saturno com seus anéis, multicoloridos, alternando camadas de pequenos meteoros, e nuvens de gás neon. Plutão, imenso, misterioso, como se a qualquer momento fosse sair de lá dentro, da sua superfície gasosa, um ser mitológico, alado, dotado de três cabeças com potentes chifres, a boca demasiadamente aberta com presas ofídicas, uma couraça revestindo seu corpo, e a ponta da calda terminando em seta. Ameaçava atacar a Terra, porém passava, rente, de modo que se alguém escalasse uma montanha e estirasse o braço seria capaz de tocá-lo. Mas o dragão seguia seu caminho. Ia pela via láctea espalhando as estrelas, deixando um rastro de poeira cósmica.

O sol, uma gema em fogo, mais parecia uma lua vermelho-alaranjada. A quentura mal chegava a terra, E sua luz parecia iluminar somente a ele próprio. A lua ao seu lado, ainda maior do que se apresenta hoje, parecia soprar sobre a terra, uma brisa cor de prata, gélida, que tornava o ar rarefeito, metálico. Deus havia feito tudo isso. Ele o fez. E todas essas coisas estavam muito próximo da terra. De modo que ao longo de muitos milênios lentamente iria se expandir, indo ocupar o lugar, onde se encontram hoje. Essa proximidade de todos os astros e estrelas com o nosso planeta, acabaria por tornar a gravidade da Terra inconstante, de modo que imensas porções de terra e pedras flutuavam na atmosfera. Olhando o horizonte, via-se ilhas de blocos de terra e pedras, como que navegando feito balões. E eram habitadas por gigantescas aves de penas, bico e garras, mas havia também aves com características de répteis, que ao voar emitiam um canto, um longo silvo estridente, como se comunicassem com outros da mesma espécie. Dentre todos eles o mais temido era um que tinha cabeça semelhante ao cavalo, e que lhe cairia bem o nome de Pegassus bucefalus. Dotado de patas que permitia cavalgar, e asas que atacava outras espécies em pleno vôo.

Briófitas que emitiam luzes de cores variadas que correspondiam e identificavam cada uma das espécies. Colibris e mariposas específicas para fecundar cada espécie. Plantas com sensibilidade ao toque, que se abriam somente em determinados momentos e fechavam-se ora pra facilitar os animais alados que promoviam sua fecundação, ora pra capturar suas presas. Escaravelhos que eram atraídos por feromônios. Essas plantas revestiam o solo sedimentar. E possuíam sensibilidade tanta que se recolhiam ao simples toque de elementos invasores. Pterodófitas se elevavam a muitos metros do chão. Os elementos mais presentes ali era oxigênio e hidrogênio. E em menor quantidade enxofre liberado de algumas fendas que existiam no solo. Angiospermas e gimnospermas rica em flores e frutos, de variadas espécies. Ananás, de nuance vária, que brotava nos cardos e pântanos. Árvore de frutos nodosos e atraentes que muitas vezes escondiam armadilhas biológicas, seivas leitosas, resinas odoríficas. Algumas possuíam glândulas por onde liberavam nuvens de pigmentos e tinturas, caso se sentissem ameaçadas. Enormes tapires, javalis e porcos selvagens habitavam as margens do rio e cavavam tocas onde moravam e se refugiavam de tigres de sabres, jaguares e lobos do gênero Canis lupus. Micos habitavam as copas das árvores, e para se camuflar escolhiam árvores de acordo com a cor de sua pelagem. Azuis, amarelos e vermelhos.

Mamíferos, de linhagem mais evoluída que os símios habitavam palafitas ao longo do delta do rio Ipanema. Tribos de primatas, homens das cavernas. Havia os que moravam nas grutas, e outros que para se protegerem das feras, moravam em palafitas, assim era. Ao contrário do homem de Neanderthal, nossos ancestrais não possuíam o corpo coberto de pelos, provavelmente por não viverem em terras geladas. Nossos primeiros habitantes tinham o corpo liso, cabelo espesso e duro, eram pardos. O crânio levemente achatado. Olhos fundos, bocarra, e não tinham barba. Tronco e tórax e membros superiores bem desenvolvidos. Eram exímios nadadores. Viviam da caça e da pesca, da extração de frutos e tubérculos. Já moldavam suas armas e utilizavam o fogo. Feições de homens e mulheres eram muito semelhantes, somente as mamas desenvolvidas nelas, os diferenciavam.

Nesse paraíso viveu Joaracy e Coaracy, um casal de nativos. Nas imediações das terras onde um dia seria o Sítio Laje dos Barbosa. Teve uma ocasião que veio uma tempestade, o rio Ipanema avançou sobre as palafitas, afogando muitos primatas. Joaracy e Coaracy estavam caçando, interromperam a caçada e retornaram a gruta que habitavam. Os afluentes do Ipanema também transbordaram. E as águas soterraram a gruta onde o casal de nativos se abrigava. E o mundo girou, e o tempo avançou. Trezentos mil anos depois, e chegamos a Era Cenozóica da Terra. Período Quaternário, Idade Contemporânea. Lá estava Inácio, professor de história, estudioso de arqueologia, realizando escavações naquele mesmo local. Passou quatro dias escavando, sem nada encontrar, estava pra desistir daquele lugar. E eis que no quinto dia, encontrou. Os corpos fossilizados de nossos heróis, e a ossada de outros monstros que também pereceram na grande tempestade.

Moda santanense com Luan Soares

Foto Luan Soares

As primeiras iniciativas para o desenvolvimento do seguimento   industrial de confecções no município, foi através do projeto piloto da Oficina de Moda em 2006, quando a Prefeitura Municipal de Santana do Ipanema comprou 8 máquinas Industriais de costura, capacitou e contratou costureiras  e alugou um espaço para realização do Projeto.

Em consonância com a Oficina de Moda surgiu o Núcleo de Confecções Flor do Mandacaru em 2007, em parceria com Associação Comercial de Santana do Ipanema, surge uma nova perspectiva para o seguimento de moda  em nosso município, com uma proposta de revelar a criatividade e o talento Santanense, através da criação de peças de roupas  desenvolvidas por  mulheres, que visam o mercado Alagoano de Confecções. Inspiradas na Flor do Mandacaru trás as cores Verde dos Cactos, Marrom da Terra, Amarelo Sol, Areia do Ipanema, Azul do Céu e o Alaranjado do por do Sol Sertanejo. A Flor do Mandacaru teve o apoio da Prefeitura Municipal de Santana do Ipanema,  com a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, Sindicato da Industria do Vestuário – SINDVEST, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI.

Luan Soares

A primeira coleção lançada no mercado de moda foi à Flor do Mandacaru, apresentada em 2008, durante o Dia da Moda no Estado de Alagoas. Em 2009 o grupo retornou às passarelas, durante o Maceió Fashion Design, com coleção Flor do Oriente.   A coleção apresentada em 2010 foi a Flor da pele e, em 2011 trouxe a coleção inspirada na mulher sertaneja a Flor de Mulher.  Em 2012 a Flor do Mandacaru apresentou sua nova coleção Cereus, na Semana de Moda de Maceió no Trend House. As peças foram inspiradas em Maria Quitéria, Baiana, que lutou na Guerra da Independência no século XVIII, e era conhecida como Joana D’ Arc Brasileira.

 A Cereus é o nome cientifico do Cacto Mandacaru, este lançamento veio como Up-grade para a marca Flor do Mandacaru, o que oportunizou a moda Santanense para exportação, por sua criatividade, abrindo as portas para empresas investirem e apoiarem esse seguimento de Confecção, que representa um percentual expressivo da economia brasileira. Este trabalho é motivo de orgulho para a Prefeita Dra. Renilde Bulhões e todos os que vêm acreditando e incentivando esse grupo de pessoas que estão tendo a oportunidade de aprender uma nova profissão tendo como garantia de geração de emprego e renda.

Foto Luan Soares

E, assim, em dezembro 2012 o sonho da Prefeita Renilde Bulhões se concretiza com a implantação do Centro de Difusão e Inovação de Tecnologia em Confecções Maria das Virgens Gaia Nepomuceno (Dona Virgínia). É um projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia e Prefeitura Municipal de Santana do Ipanema, através do Convênio 00218/2008 e Emenda Parlamentar do Deputado Federal Givaldo Carimbão.  Esse projeto conta com 120 máquinas industriais de última geração, além de instalação própria em um espaço amplo e cômodo para a realização desse trabalho. O Centro dispõe de um Laboratório fixo apropriado para treinamentos continuados, garantindo formação aos novos profissionais. Já foram capacitadas 20 Costureiras chamadas de Multiplicadoras, essas 20 repassou todo o conhecimento para os 120 novos costureiros.

Foto Luan Soares

 Em lançamento da coleção Alto Verão a Grife Flor do Mandacaru apresentou em desfile peças arrojadas, ousadas e despojadas para mulheres reais, contemporâneas e acima de tudo mulheres de atitude que sabe valorizar o seu espaço e respeitar as diferenças.

Assim agradando a todos os gostos dos mais discretos aos mais ousados, proporcionando principalmente conforto já que o verão é a estação mais quente do ano, além de muita elegância.

Economia e ecologia não devem ter conflitos

Em nome do que se convenciona chamar “progresso econômico”, a agressão ambiental em escala mundial não deixa espaço para dúvidas: o forte desequilíbrio no sistema natural é decorrente das mãos humanas que procura responder às ordens do mercado de consumo. Mais produtos, menos ambiente. Mais economia, menos ecossistema. À medida que o consumo ganha – pela ordem da imposição macroeconômica tradicional – maior proporção e torna-se sinônimo de prosperidade material, os recursos naturais são dilapidados de forma assustadora e o meio ambiente, eixo do sistema-vida, sofre as consequências. Disso decorre o desequilíbrio no sistema de chuvas, altera-se radicalmente o clima, desmata-se, polui-se, agridem-se os lençóis freáticos, chove onde deveria fazer sol, há seca onde deveria ter água. Essa “salada química” é intensa: monóxido de carbono, dióxido de enxofre, eutrofização (degradação do ambiente aquático), pesticidas.

Na busca desenfreada pelo bem-estar o homem moderno se fecha dentro de uma visão míope e rompe seus laços cordiais para com a Mãe Natureza. Que espécie de bem-estar é esse que degrada o ambiente? Que tipo de melhoria de vida é possível num ambiente natural caótico, desequilibrado e dilapidado?

Ainda em nome da expansão industrial, o ritmo alucinado do crescimento de algumas economias – modernas no nome; porém, arcaicas no conceito -, somente tem violentado sobremaneira a natureza. Dentro desse modelo, valoriza-se mais o som da buzina dos automóveis ao som do canto dos pássaros. A fumaça das fábricas passa a ter mais valor que o cheiro do mato. Da macroeconomia convencional vem à palavra de ordem: CRESCER. Pouco importa se a consequência seja DESTRUIR. Inverter esse procedimento é a necessidade mais premente dos dias atuais.

O relacionamento entre o Meio Ambiente e a Economia precisa ser harmonioso, visto que a segunda condição (a atividade econômica) depende da primeira (os recursos da natureza). Nesse pormenor, sempre é oportuno reiterar que o crescimento econômico não pode acontecer sobre as ruínas do capital natural. Contudo, infelizmente, é exatamente isso o que tem acontecido. Atentemos ao seguinte fato: de 1950 a 2000 a economia global foi multiplicada por sete. Nesse mesmo período, a produção de bens e serviços saltou de US$ 6 trilhões para US$ 43 trilhões, e hoje (2012), o PIB global atinge quase 80 trilhões de dólares. Entretanto, ainda não foi devidamente respondido a que “preço” esse elevado crescimento foi alcançado.

Enquanto a economia for responsável por sustentar essa produção/consumo exagerada que ocorre em benefício de poucos, haverá, por brevíssimo período, na outra ponta, uma mesma economia que “sustentará” a mais brutal agressão ambiental já vista. Que tenhamos então condições intelectuais suficientes para entender que a economia e a natureza não nasceram para condenar as pessoas à humilhação, à exploração, à pobreza material ou a dilapidação dos recursos naturais. Antes, Economia e Natureza, juntas, podem representar uma via de acesso às melhorias que levam ao almejado padrão de bem-estar social, desde que caminhando conjuntamente formem uma “parceria” capaz de crescer sem explorar, de progredir sem destruir, pois é perfeitamente possível parar de crescer e continuar a se desenvolver.

Talvez seja por isso que Jean-Michel Cousteau ponderou que “a economia e a ecologia não devem ter conflitos porque hoje são exatamente a mesma coisa”. O curioso é que num passado não muito distante, a ecologia chegou a ser chamada de “a economia da natureza”, dada a íntima relação entre o ato de “produzir” e o de “retirar” recursos da natureza.

Desse argumento de Cousteau resulta reiterar que a economia e o meio ambiente devem sim caminhar em conjunto, pois um é o complemento do outro, apesar de ser a economia um subconjunto do meio ambiente. Para tanto, a ideia central em torno da busca pelo crescimento econômico deve ser revista, pois esse não pode ser patrocinado pela dilapidação/exaustão dos recursos naturais. A própria palavra exaustão (na origem: extremo cansaço) já determina como será no futuro: é algo que vai acabar. Portanto, é necessário moderação na busca pela expansão econômica, uma vez que é impossível crescer além dos limites.

Se há limites esses devem ser respeitados, uma vez que a Terra não aumentará de tamanho. A esse respeito à mensagem é única: usou, esgotou, não teremos mais.

Dessa forma, a história entre economia e natureza em conflito pode ser assim resumida: mais economia (crescimento) é sinônimo de menos ambiente. Logo, crescimento sem regras e sem ponderações aponta para profundos impactos ambientais, afinal, ambiente (ecossistema) degradado, é vida mal vivida.

Marcus Eduardo de Oliveira é professor de economia.

Especialista em Política Internacional, com mestrado pela (USP).

Crescimento sustentável é pura enganação, diz Marcus Eduardo em entrevista

Para o economista paulista Marcus Eduardo de Oliveira, falar em economia sustentável é pura farsa. Em entrevista à rádio Imaculada Conceição, de Campo Grande (MS), no último dia 26 de novembro, o economista ressaltou que “defender o crescimento da economia destruindo as bases ambientais, os serviços ecossistêmicos, desejando que esse crescimento seja sustentável é pura enganação”. A seguir, a entrevista completa do economista.

1. PROFESSOR, QUAL É A SUA VISÃO DA CHAMADA ECONOMIA SUSTENTÁVEL, TÃO DIVULGADA NOS ÚLTIMOS DIAS?

A economia sustentável, tal qual é colocada por aí, para mim é um verdadeiro engodo, uma farsa. Não é possível fazer a economia crescer, sem destruir e ainda querer que essa destruição seja sustentável. Portanto, defender o crescimento da economia, destruindo as bases ambientais, os serviços ecossistêmicos, desejando ainda que esse crescimento seja sustentável é pura enganação. Para mim, a palavra sustentável não se coaduna com a palavra crescimento. Uma fere a outra. Destruir a natureza em troca dos apelos da voracidade do mercado de consumo é, antes disso, destruir as teias que sustentam a vida. Nós temos que entender que o mercado, assim como toda a economia, depende de algo que está acima de tudo isso: a natureza, o planeta, a Terra. A economia, como atividade produtiva, é apenas um subproduto do ambiente natural e depende escandalosamente dos mais variados recursos que a natureza emana. Nós, seres humanos, como todos os seres vivos, somos partes e não o todo desse ambiente natural que contempla a riqueza do viver. É forçoso ressaltar que não estamos na Terra; nós somos a Terra. Portanto, destruir esse habitat em nome de fazer a economia crescer é destruir nossa casa, é tirar o nosso chão. Isso não pode ser, em hipótese alguma, considerado algo sustentável.

2. O SR. ACREDITA QUE AS PESSOAS (DE MANEIRA GERAL) CONSOMEM MAIS DO QUE PRECISAM?

Não tenho dúvidas disso. Eu costumo dizer que “o consumo consome o consumidor”. E isso em escala mundial; porém, o consumo não é para todos. Apenas a parcela mais abastada da humanidade exagera nos hábitos de consumo. Só para termos uma ideia do que estou lhe dizendo, 20% da população mundial consomem 80% de tudo o que é produzido. Ou seja, o grosso do consumo está restrito a uma parcela pequena da população mundial. Para os outros 80% da população restam apenas 20% da produção de bens. O fato é que há uma desigualdade enorme, abissal entre os povos. No mundo, hoje, 20% da Humanidade não hesita em gastar três dólares (algo em torno de R$ 6,00) por dia num simples cappuccino; enquanto, do outro lado do planeta, 40% da população mundial (quase 3 bilhões de pessoas) “tenta” sobreviver com menos de dois dólares por dia. Isso é uma pequena amostra do quão desigual é o acesso aos ganhos monetários e, por consequência, aos bens de consumo.

3. ESSE CONSUMO DESNECESSÁRIO INFLUENCIA NO MEIO AMBIENTE? POR QUÊ?

Influencia da seguinte maneira: a ordem na economia é uma só: abastecer o mercado, produzir mais e mais. Acontece que toda a produção de bens precisa de recursos naturais. Para isso, agride-se a natureza, extraindo recursos em quantidade tal que não é possível sua reposição. Fora isso, grande parte, para não dizer a maioria, dos recursos naturais são finitos, vão acabar um dia. E quanto mais se usa, menos se tem. Essa é a questão primordial. Eu digo que mais economia (ou seja: mais produtos, maior produção) significa menos ambiente (menos recursos). A conta que temos que fazer é a seguinte: a população mundial aumenta a cada dia, mas o espaço habitável não. Ou seja, o que eu quero dizer com isso é que, em números, por dia, 200 mil novas pessoas nascem no mundo, ao ano são mais de 70 milhões…e o número de mortes é menor – mesmo sabendo-se que morre muita, mas muita gente no mundo por motivos diversos – . Bom, essas pessoas estão chegando num mesmo espaço de terra, num planeta Terra que não irá aumentar de tamanho, é e será sempre o mesmo…a Terra não irá aumentar de tamanho…o espaço é fixo, limitado, assim como são limitados os recursos para a produção que é cada vez mais intensa, cada vez maior para atender as necessidades da população que são ilimitadas. Essa é a conta que não fecha. Tem um dado bem interessante que é o seguinte: em 1900 havia exatamente 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Hoje, somos 7 bilhões. Em 1900, o planeta Terra tinha exatamente o mesmo tamanho que tem hoje. Está claro isso? Logo, as consequências disso são cada vez mais desastrosas, cada vez mais se gera com isso desigualdades, distorções. Não é à toa que temos no mundo 1 bilhão de estômagos vazios e de bocas esfaimadas…não porque faltam alimentos, mas porque a distribuição não é feita de forma igual. Eric Hobsbawn, um dos maiores intelectuais de todos os tempos, falecido recentemente, dizia que “Ou ingressamos num outro paradigma ou vamos logo mais à frente encontrar a escuridão”.

4. NESTA ÉPOCA DO ANO AS PESSOAS COSTUMAM CONSUMIR MAIS, AS INDÚSTRIAS PRODUZEM MAIS E AS PROPAGANDAS NOS CHAMAM O TEMPO TODO PARA O CONSUMO. COMO MANTER A CALMA E UTILIZAR BEM ESSE DINHEIRO A MAIS (COMO O 13° E GRATIFICAÇÕES)?

A primeira coisa mais saudável que temos que fazer é fugir das tentações expostas pela propaganda televisiva. Até para não cairmos naquilo que disse de sermos devorados pelo consumo. Eu entendo que deveríamos adotar a prática da poupança, ou seja, sempre guardarmos um percentual dos ganhos. Grande parte das pessoas, por estarem inseridos nessa onda do consumo fácil, entrega 100% de seus ganhos ao consumo. Adotar uma postura mais moderada, conservadora e poupar pelo menos 25% de seus ganhos somente irão trazer benefícios a todos, até mesmo porque, lá na frente sempre aparecem gastos de última hora, que não estavam previstos, e nada melhor para enfrenta-los do que estar preparado para isso. Ao mesmo tempo, fazendo isso, diminuímos a sanha consumista.

5. QUE TIPOS DE VALORES DEVEMOS CULTIVAR PARA CONSEGUIR NÃO SER ATINGIDO PELO MUNDO DO “TER”?

Eu penso que se cultivarmos uma filosofia de vida diferente isso nos fará muito bem. Que tipo de filosofia é essa? Entender que o materialismo não leva à nada, apenas produz mais estragos que benefícios. Santo Agostinho tem uma frase que eu acho espetacular. Dizia ele que “o supérfluo dos ricos é o necessário dos pobres”. Ou seja, todo consumo excedente, exagerado, sem limites, apenas faz desequilibrar a balança da desigualdade. Um colega de profissão, economista britânico chamado Tim Jackson, diz que “A Era de comprar coisas que você não precisa, com dinheiro que você, às vezes, não tem, para impressionar pessoas com quem você não se importa, já se esgotou, já chegou ao fim”. Se cultivarmos esse tipo de filosofia, entendendo sempre que o mais importante é SER e não TER, é um bom caminho para frearmos essa sociedade consumista que vemos estampadas todos os dias por aí.

 

Um belo texto do jovem Everton Lacerda

Foto Everton

Everton Lacerda com apenas 17 anos de idade, vem se destacando, através de belos textos no seu facebook, ele que foi Mister Santana do Ipanema, 2011/2012. Em breve estará lançando seu primeiro livro, reside em Santana do Ipanema e estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Divino Mestre.

Nunca deixar de acreditar

Verdade é aquilo que você acredita. É aquilo que você não duvida, não desiste, não espera.  Eu tenho medo de que as pessoas não esperem por mim. Eu não acredito nas pessoas. Eu tenho medo das opiniões das pessoas. Eu não acredito em mim.  

A mentira é isso. É você não acreditar. Quando você não acredita em algo, aquilo passa a não tornar-se verídico para você. Acredite na vida, nas pessoas. Mas, não em tudo o que elas falam para você. Não em tudo o que dizem para você. Acredite nos detalhes.  Nos olhares, nos momentos difíceis, na precisão.  

Não desista daquilo que vale a pena para você. Não mude de opinião, por medo de algo ou de alguém. Não desista de ser você.  Utilize os fatos e a sua imaginação, as dúvidas e as certezas de quem busca pela a verdade. De quem existe, e acredita que existe. 

Eu estou cansado de viver como um cego, mas nunca me dei bem vivendo como sábio, com sentimentos que corrompem a minha sapiência, através das mágoas e das decepções da vida. Se quiser acreditar, não crie expectativas.  Se quiser acreditar, não tenha medo de se decepcionar. As pessoas tem medo, de que um dia as pessoas não o tenham mais. Por isso, levante a cabeça, lute, mas sem força, e sem violência. Lute, com sua vida, com sua cabeça. Contra si próprio. Enfrente seus medos, suas dúvidas e até suas crenças. Não tenha medo de mudar de opinião, de enfrentar novos caminhos.

Proibido, é querer voltar atrás, ou ficar parado onde se está.  A vida é para ser vivida, como dizem. É para ser caminhada, e explorada. Se fosse proibido conhecer, como chegaríamos a algum lugar? Não é proibido seguir em frente, mesmo que seja por outras formas, mesmo que seja com outras atitudes, com outros sentimentos, com outras pessoas. A vida é uma forma de reviver, viver, e viver de novo.  Por isso não desperdice, não morra.  Acreditem, apenas. 

10 curiosidades da história política de Santana do Ipanema

Foto: Montagem / Alagoas na Net

Para tanto, além do que já tinha guardado em mente, recorri a pesquisas na biblioteca pública municipal Breno Accioly, localizada provisoriamente no Centro de nossa cidade. De qual momento quero deixar o meu apreço pela atenção dedicada pelas bibliotecárias, Cícera e Letícia.

A identidade de um povo é a sua história. O retrato que vemos hoje é o reflexo do que fizerem os nossos antepassados, bem como o nosso futuro se colocará da forma a qual estamos construindo neste momento.

Então, se você não sabia fique sabendo:

– Que Mário Silva é o 13º prefeito eleito pelo voto direto, de Santana do Ipanema e o quarto prefeito eleito a ter exercido o cargo de vereador. Quando Mário Silva assumir, em janeiro de 2013 serão 17 mandatos exercidos por 13 prefeitos.

– Que a prefeita Renilde Bulhões foi a primeira mulher a assumir o Executivo santanense, em 2001, bem como a primeira prefeita a se reeleger, em 2008. Até o ano de 1996 não era permitido a reeleição no Brasil para os chefes do Poder Executivo Municipal, Estadual e Federal.

– Que o primeiro prefeito eleito pelo voto direto foi Joel Marques, em 1936, e seu filho Adeildo Nepomuceno Marques o primeiro vereador a se eleger prefeito de Santana.

– Que Adeildo Nepomuceno Marques foi o único prefeito eleito por três vezes:

de 1951 a 1955

de 1966 a 1969

de 1973 a 1977

– Que Paulo Ferreira de Andrade foi o político que mais se candidatou a prefeito e vice-prefeito de Santana do Ipanema; quatro vezes a prefeito e duas a vice. Sendo candidato a prefeito pela primeira vez em 1972, não obtendo êxito.

De 1983 a 1988, Paulo Ferreira exerceu o cargo de vice-prefeito e em seguida foi eleito duas vezes prefeito, entre os anos: de 1989 a 1992 e de 1997 a 2000.

– Que a vereadora Josefa Eliane Bezerra, a Fofa, foi a primeira mulher a presidir o Legislativo santanense.

– Que o vereador Luciano Gaia é o vereador com maior número de mandatos. Em janeiro de 2013 deverá exercer o cargo pela nona vez. Desde a primeira vez em que foi eleito vereador, em 1971, Luciano só não exerceu o mandato nos exercícios de 2001 a 2004 (Marcos Davi) e de 2005 a 2008 (Renilde Bulhões).

– Que o Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão foi eleito o primeiro deputado estadual para representar Santana do Ipanema, em 1950. Seguido de Siloé Tavares, ex-vereador, e do ex-prefeito Adeildo Nepomuceno Marques.

– Que as cidades de Major Izidoro, Olho d’Água das Flores, Olivença, Carneiros, Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Banco e Senador Rui Palmeira, já foram distritos de Santana do Ipanema.

10ª – Que a emancipação política de Santana do Ipanema é comemorada no dia 24 de abril, apesar de o Município só ter passado à condição de cidade no dia 31 de maio do ano de 1921, isso porque, antes da proclamação da república, as povoações eram elevadas a vilas de acordo com o sistema português.

No Brasil colonial a data correta da fundação de municípios era a da criação da vila. Com a vila, o arraial ou freguesia, adquiria a sua autonomia político administrativo, podendo escolher o seu intendente (prefeito) e conselheiros (vereadores). Santana do Ipanema, ainda Santana da Ribeira do Panema, passou à sua condição de cidade (vila) emancipada politicamente, através da Resolução nº 681, de 24 de abril de 1875, se desmembrando da Comarca de Traipu.

Prefeitos de Santana do Ipanema, eleitos pelo voto popular:

Joel Maques 1936/1938

Coronel Lucena Maranhão – 1948/1951

Adeildo Nepomuceno Marques – 1951/1955

Hélio Cabral do Nascimento – 1956/1960

Ulisses Silva – 1961/1065

Adeildo Nepomuceno Marques – 1966/1969

Henaldo Bulhões Barros – 1970/1972

Adeildo Nepomuceno Marques – 1973/1976

Genival Wanderlei Tenório – 1977/1982

Isnaldo Bulhões Barros – 1983/1988

Paulo Ferreira de Andrade – 1989/1992

Nenoi Pinto – 1993/1996

Paulo Ferreira de Andrade – 1997/2000

Marcos Davi Santos – 2001/2004

Renilde Silva Bulhões Barros – 2005/2008

Renilde Silva Bulhões Barros – 2009/2012

*Referencia da pesquisa: Livro Santana do Ipanema conta a sua História; Floro de Araujo Melo e Darci de Araujo Melo.

Correntes e Acorrentados

Conto por Fabio Campos

Cidade de Santana do Ipanema, de ruas e praças espraiadas no tabuleiro inconstante do rio. As casas, teclado vivo de um órgão descomunal, melodiavam uma melodia diuturnamente, intensa, incansável. Ora suave e relaxante, ora extravagante e profusa. Ainda assim sonoridade semi Vivaldiana.

Magníficas elevações serranas circundantes lembravam, aos deslumbrados contempladores, ursos hibernantes. E o povo como que em êxtase, dormia um sono acordado, e o mais que sabiam, era ouvir e contar histórias. Reais ou inimagináveis, de sujeitos e pátria desimportantes até. Porém criam.

Glauco e Otávio ali se haviam um dia. Num tempo, que a gente jamais esquece. Tempo em que os trovões eram roucos de se ouvir. E o céu de toda manhã se abria como fenda de fogo vivo que aparece. Tempo, em que Deus estava ainda terminando de fazer o mundo. E ao separar as águas do elemento terra, acabou por ficar tão escasso ali. Glauco era homem do campo. Amava o cultivo do solo. Ainda bem cedo, quando os primeiros raios de fogo tocavam-lhe as faces, punha-se de joelhos. E fincando suas duas mãos no solo do sertão, pedia a benção, a mãe terra. Elevando os olhos aos céus, atirava um punhado de pó ao vento, e agradecia a Deus. E nas festas da Padroeira Senhora Santana, não importava se o ano fora seco ou de fartura, não faltaria com a oferenda, ao templo de Jerusalém, remanescente de Israel. Tantas sacas de feijão e milho doaria para o leilão. Pra o compadre Ermíndio, dono da farmácia, certamente não faltaria um peru gordo cevado, no natal. Doutor Cleófanes médico obstetra, ganharia um queijo, uma galinha, um dúzia de ovos de capoeira. O prefeito que atendera seu pedido de limpar o açude seco, planear a estrada, pra ele uma marrã de ovelha, que ele mandaria matar, e com os amigos comeria, regado a bom uísque.

Otávio, nosso outro personagem, vivia vida de gado, um povo marcado, um povo feliz. Porque gado aquela gente marcava, a ferro e fogo. Mas com gente, não era muito diferente. E o mundo vivia girando sob as patas de seu cavalo. O elemento água também essencial era ali. E Otávio trouxe até sua propriedade um mago. Um homem sábio de lugar longínquo veio. Conhecedor das ciências ocultas, deitava orações para afastar maus-olhados, curava doenças. Livrava da morte certa animais picado por bichos peçonhentos. Pras os confins da terra afastava pragas da palma, enxames de abelha, cupim da madeira, mosca do chifre, maleita, macacoa e sezão. Tudo isso fazia. E tinha outro dom especial, sabia os locais onde havia água no subsolo. De olhos vendados, portando uma forquilha, de um pau que ele sozinho ia buscar no mato, localizou água quase na divisa da propriedade com o vizinho Glauco. Em parceria cavaram um poço, e ambos utilizavam a água. Assim o fizeram. Otávio também doava seu dízimo na festa da padroeira Senhora Santana. Tantas cabeças de gado. E os dois eram como aqueles irmãos, tementes a Deus, narrado no livro sagrado. Suas casas louvavam ao senhor todos os dias. E os filhos pediam a benção, em três momentos no período de um dia: Ao levantar-se, após as refeições, e ao deitar-se.

Um dia, ao cair da tarde Otávio pastoreava seu rebanho, pitando um cigarro de palha. E eis que foi se encontrar, olhando pras bandas do fim do mundo. Justamente do lado oposto da sua propriedade e de seu amigo, que apontavam rumo ao sol nascente. E caiu em si, numa pergunta. O que haveria pra além do que seus olhos alcançavam? Sem dizer nada a ninguém, quis ele mesmo tirar suas dúvidas. Na manhã seguinte partiria, assim o fez. E Otávio sumiu no oco do mundo. Os seus entes queridos deram-no como morto. Seus filhos e esposa tocaram a vida, como se órfãos e viúva fossem. Porém Otávio morto não estava, e depois de sua longa jornada voltou. Voltou pelo outro lado do mundo. Pois uma volta completa sobre a terra ele dera. E chegou justamente na propriedade do amigo Glauco. Por aquele, teria sido muito bem recebido. Como a um filho pródigo. Recebido com honras e festa, assim o fora. Porém notou que o amigo havia voltado com outro semblante. Os cabelos tornaram-se grisalhos, cultivara uma longa barba igualmente branca. Assemelhava-se a Moisés, depois que descera do monte Horebe. O amigo adquirira sabedoria. E passada a euforia do reencontro, quis o amigo viajante ter uma conversa com o amigo arraigado. Eles que, desde que se entendiam de gente, nunca, jamais haviam deixado suas propriedades. Otávio afinal havia rompido com aquele interdito, imposto por eles mesmo. Deus não tinha participação naquela decisão deles.

E tiveram um diálogo. Disse Otávio: – Glauco! Quero lhe falar do que vi nessa viagem que fiz. Imagine um muro bem alto, separando o mundo de fora, desse nosso mundo. Pra que você entenda melhor, chamarei de caverna. A caverna é o mundo onde só existimos nós, a minha e a sua propriedade, a minha e a sua família. Todos os dias chega um raio de luz, o sol que nasce a cada manhã. Como aqui permanecemos desde que nascemos e crescemos, só conhecemos essa realidade. Apesar de ter uma vida livre, de poder ir e vir por toda extensão de nossas propriedades, vivemos como que acorrentados. Sem poder nos movermos, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna. Não deixa de ser um belo cenário que aprendemos, desde de pequenos, a contemplar, amar e se sentir feliz. Ali no firmamento, todos os dias, vemos projetadas sombras de outros homens que estão para além do muro, separando o fim do mundo. E aqueles mantêm acesa uma fogueira. A luz projeta uma imagem que julgamos real, porém não passa de imagem. A realidade Glauco, está para além do fim do mundo. Ao fazer essa viagem em torno da terra, eu rompi com esse eterno estado de sonho, um mundo fantasioso, não real, em que vivíamos. Acatar tudo que nos é imposto, leis, proibições, governo, religiões. O sistema perverso hierarquizado, saúde, educação para todos, direito a ir e vir, liberdade de expressão. Tudo conversa pra boi dormir, um eterno faz de conta. E nós isolados do resto do mundo achando que assim éramos felizes.

Otávio, disse que, o que tinha pra dizer já havia dito. E que o amigo agora também passara a conhecer a realidade, cabia a ele continuar aceitando tudo como dantes. As correntes que nos prendem, fomos nós mesmos que a criamos. Ninguém está livre delas, resta-nos pelo menos entendê-las. Somos todos atores, partícipes duma grande encenação. “E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial, que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social”.

O humanismo econômico de padre Lebret

Por Marcus Eduardo de Oliveira

Louis-Joseph Lebret (1897-1966), ou simplesmente, padre Lebret, como era conhecido esse dominicano, foi daquelas poucas pessoas que “desembarcaram” nesse mundo com uma missão ímpar: promover a aproximação entre o pensamento cristão vinculado à ação econômica voltada exclusivamente para a promoção de uma sociedade mais fraterna e menos injusta.

De forma apurada, padre Lebret teve uma visão humanista da economia, uma visão diferenciada na maneira de se pensar a economia pelas lentes do social.

Nascido a 26 de junho de 1897, em Minihic-sur-Rance, na Bretanha, Lebret conseguiu ao longo do tempo em que viveu – 69 anos – criar e consolidar um pensamento social cristão ressaltando a importância da construção de uma civilização mais solidária. Nunca se esqueceu de que as bases principais dessa premissa repousam no respeito em primeiro lugar ao ser humano, vendo-o como um ser capaz de agir em prol do estabelecimento de um mundo mais justo, e não somente “encarnado” na pele de consumidor, tão ao gosto capitalista que apregoa um tipo de economia que apenas valoriza a posse material, e não o ser humano.

Desse modo, a vida de Lebret, enquanto teólogo de ação e pensador social, esteve diretamente entrelaçada em dois movimentos criados e estruturados para dinamizar uma cultura econômica e social mais fraternal. Cultura essa que, infelizmente, nos dias de hoje, tem regredido na escala de valores, afastando-se assim daquilo que se convenciona chamar de prática do bom-senso. Os movimentos em questão são: i) a revista “Économie et Humanisme”; e ii) o “Movimento dos Economistas Cristãos”.

Ambos os movimentos, a partir do início dos anos 1940, fizeram com que Lebret concebesse uma nova visão da economia em função do ser humano, orientando-a para a satisfação das necessidades e das aspirações de cada um comprometidos com um sistema econômico capaz de priorizar as pessoas, e não o mercado e suas mercadorias. Com esses “movimentos”, pautados no método “ver, julgar e agir”, Lebret viabilizou projetos de desenvolvimento e valorização das relações humanas sob as bases da tradição cristã.

É interessante pontuar, a esse respeito, que esses dois “movimentos” marcaram sistematicamente o posicionamento religioso e econômico de uma pessoa que devotou parte considerável de sua vida para desmitificar o deus-mercado e valorizar o ser humano desprovido de recursos. Como bem aponta Manuela Silva num brilhante texto em homenagem a Lebret: (…) “Esses dois projetos estão interligados por um denominador comum – o conceito de economia humana, uma economia posta ao serviço das pessoas e dos povos, de todas as pessoas e de todos os povos. É um conceito de inspiração cristã que tem atravessado os documentos do magistério da Igreja e tem a sua consagração na Carta encíclica Populorum Progessio”.

Padre Lebret, indiscutivelmente, sempre foi um homem de ação. Foi ainda um pensador incomodado com as injustiças socioeconômicas que sempre fizeram com que a exclusão de muitos fosse algo inaceitável num mundo que caminhava a passos largos para a conquista tecnológica, mas que era, ao mesmo tempo, por forças mercantis, incapaz de acabar com o problema da fome e da miséria humanas.

Em 1958, chamado a contribuir para o esclarecimento das causas do subdesenvolvimento em algumas partes do mundo, Lebret, junto a um grupo de intelectuais, fundou o IRFED (Institut de Recherche et Formation em vue du Développement), transformado depois em Centre Développment et Civilisations – Lebret-IRFED, com a missão de oferecer assistência técnica no desenvolvimento dos países considerados atrasados, formando, para tanto, quadros cristãos empenhados na ação humana.

Assim, em rápidas palavras, os conceitos, as ações, o modo de ser, agir e pensar e, acima de tudo, o exemplo de vida deixado por Padre Lebret deveriam, para o bem de uma disciplina que pretende também ser vista como uma espécie de “auxiliadora” para a busca da promoção social, ser ensinados em todos os cursos superiores de ciências econômicas. De modo geral, não é exagerado afirmar que os futuros economistas necessitam “respirar” os ideais de Padre Lebret. Acontecendo isso, a economia humana saberá agradecer essa prática.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Política Internacional pela FESP-SP.

 

Entrevista Exclusiva com Mister Brasil Turismo Teen 2012 – Maurício Agra

Foto Maurício Agra

CELEBRIDADE IN FOCO: Com apenas 16 anos de idade o jovem MAURÍCIO AGRA, natural de São José da Tapera-AL, estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio Divino Mestre em Santana do Ipanema-AL é o Mister Brasil Turismo teen 2012, onde irá representar o estado de alagoas e o Brasil durante um ano no país a fora.

CELEBRIDADE IN FOCO: Como surgiu essa vontade de você ser mister?

MAURICIO AGRA – Bem, tudo começou sempre com uma brincadeira, não tinha levado a sério. Mas, foi a partir de um concurso, do Mister Alagoas, que eu tirei uma boa colocação, que eu comecei a ter uma nova visão. E comecei a levar um pouco mais a sério também.

CELEBRIDADE IN FOCO: Antes de você virá mister, você já trabalhava como modelo?

MAURICIO AGRA – Não, nem pensava nisso.

CELEBRIDADE IN FOCO: Sabe que hoje as dificuldades para serem modelos são grandes, por ser um sonho de muitos jovens. Qual é o conselho que daria para um jovem que busca esse sonho?

MAURICIO AGRA – Acreditar sempre em si, nunca desistir dos seus ideais, e buscar aproveitar todas as oportunidades.

CELEBRIDADE IN FOCO: Você se considera um jovem bonito?

 MAURICIO AGRA – (risos) eu sempre brinco com minhas amigas dizendo que não, mas eu me considero sim.

 CELEBRIDADE IN FOCO: Queria que você falasse um pouco, pois hoje você está famoso, sabemos que é um título muito importante.

 MAURICIO AGRA – Eu não me importo com isso de ser famoso, é bom mas, há seu lado positivo e seu lado negativo.

CELEBRIDADE IN FOCO: Suas considerações finais:

MAURICIO AGRA – Queria agradecer a todos que me incentivaram. Foi necessário o incentivo deles, e principalmente da minha família para eu ter chegado até aqui, e para eu ter planos na área da moda para o futuro. Agradeço a todos que me apoiaram, a minha agência, Chinna Model, e aos meus amigos, Éverton, Júlio e Matheus Damasceno, meus pais. E a todos que depositaram a confiança em mim. E estarei cumprindo o meu dever, como Mister Teen Brasil Turismo. Estarei sendo o garoto que reconhece o que fazem por ele, e que procura fazer algo, que há reconhecimento.

CELEBRIDADE IN FOCO: Uma frase:

MAURÍCIO AGRA: Feliz aquele que não se preocupa com a opinião dos outros.

Vestibulada

Colegas de todas as lembranças

Ilustração do colega Roberto Alves

Ao longo da minha vida, tive a oportunidade de morar em várias cidades e esse negócio de mudar de um lugar para o outro, com certeza, gerou alguns desconfortos, mas se tem uma coisa que essa trajetória de vida me proporcionou e que eu acho muito bom, são boas lembranças de todos os lugares em que vivi. Quando eu tinha apenas dez anos de idade fui morar em Recife, isso eu já contei. Morei na capital pernambucana os dez anos seguintes e seria ingênuo da parte de qualquer um sugerir que tão demorada estada não deixasse grandes marcas. Eu saí de uma cidadezinha do interior de Alagoas e fui estudar numa das maiores cidades do Brasil. As diferenças urbanísticas, tecnológicas e culturais com certeza me impressionaram profundamente, mas, dentre as melhores lembranças que trago daquele tempo, se destaca as amizades que firmei ao longo de sete anos estudando no Colégio Nóbrega, bem ali na Boa Vista, entre a Rua Oliveira Lima e a Rua do Príncipe, tendo como vizinho, do outro lado desta rua, a Universidade Católica de Pernambuco.

No meu primeiro dia de aula, mamãe me levou para o colégio segurando minha mão. Identificou qual a minha sala e lá me deixou, não sem antes se assegurar que eu sabia fazer o caminho de volta pra casa, tarefa por demais fácil, afinal de contas morávamos num apartamento a poucos quarteirões da escola, difícil foi mamãe se sentir tranquila, sabendo que eu tinha que atravessar algumas ruas movimentadas sem a sua presença sempre diligente. Assisti às primeiras aulas e, na hora do recreio, me misturei à criançada no pátio do colégio tentando entender a sistemática daquele novo mundo. Confesso que achei muito estranho ver a meninada se acotovelando no balcão da cantina num verdadeiro emaranhado de braços, cada um tentando ser o primeiro a ser atendido. Nesse momento me senti confortável por ter trazido um bom lanche que mamãe me fizera antes de sair de casa. Enquanto comia, vi passar dois meninos que eu identifiquei como membros da minha turma. Cheguei perto, puxei conversa e a aceitação daqueles garotos foi o marco do primeiro vínculo de amizade que firmei nas terras pernambucanas. Seus nomes: Geraldo e Jaime.

Expressar uma convivência de sete anos no mesmo colégio e na mesma turma seria uma ousadia que eu não me atrevo a tentar. Ao longo deste tempo às vezes a gente brincava e algumas vezes a gente brigava, mas jamais algo sério, só coisa de criança. Seguimos nossa vida estudando, tirando onda com a cara de um e de outro e fazendo planos para o futuro. Geraldo foi um dos caras mais talentosos que conheci na vida. Bom estudante, inteligente, dotado de uma perspicácia fenomenal. Estudava no Conservatório Pernambucano de Música e tocava violão magistralmente. Eu não tenho qualquer formação musical, mas confesso que, dos músicos que conheci pessoalmente, Geraldo foi o melhor violonista que tive oportunidade de ouvir. Jaime já era mais comedido, característica que conserva até os dias de hoje. Praticante dedicado de caratê absorveu desta arte marcial não apenas os movimentos e golpes, mas acima de tudo os seus ensinamentos de respeito, disciplina, compaixão e ética, dentre outros.

Os anos foram passando e o meu círculo de amizades só aumentou, até que chegou o ano de 1979, o nosso último ano no Nóbrega. Deixar o colégio e ingressar na universidade era o grande objetivo de todos, mas essa tão desejada conquista significava também a perda do nosso saudável convívio e foi exatamente a combinação dos sentimentos de conquista e perda que gerou na Turma A um forte laço de união, o que fez o ano de 1979, um dos melhores anos da minha vida. Visando a aprovação no exame vestibular, estudávamos com afinco, pois naquela ocasião não se tratava apenas de aprovação no ano letivo, mas sim a obtenção de conhecimentos fundamentais na disputa pelas poucas vagas nas universidades pernambucanas. Mas, apesar da nossa dedicação, sempre que sobrava um tempinho aproveitávamos para nos confraternizar. Excetuando-se os finais de semana que antecediam as semanas de prova, tornou-se comum naquele ano, nos encontrarmos aos sábados ou domingos sob as mais diferentes desculpas. Às vezes era o aniversário de um, outras vezes era um almoço oferecido por um pai de algum colega e quando esse encontro se dava nas noites de sábado a nossa diversão era tomar uma bebida e ouvir Geraldo tocar violão.

Naquele tempo ainda vivíamos o período do regime militar e as músicas que estavam em moda eram as músicas de protesto, expressão brasileira do movimento mundial de folk music. Chico Buarque de Holanda era o mais conhecido artista deste estilo musical, mas as suas músicas refinadas exigiam dos seus seguidores técnica apurada para a sua execução e Geraldo as tocava como ninguém. Mas não era apenas nos finais de semana que nosso colega se tornava o centro das atenções. Nos dias de aula, na hora do intervalo, Geraldo com seu humor inteligente aglutinava os colegas ao seu redor com a garantia de boas risadas. Sempre tirando onda com a cara de alguém, trazia na mente um repertório infindável de piadas e histórias engraçadas e, dessa maneira, ele se tornou “O Cara” da Turma A. No auge desse período Geraldo surpreendeu a turma com uma genial poesia ao estilo das emboladas, estilo musical típico do nordeste brasileiro.

A embolada é uma arte caracterizada pela cantoria de músicas improvisadas de métrica perfeita, sendo cantada por dois cantadores que fazem versos de improviso. É comum neste estilo, como em outras modalidades musicais do nordeste, a disputa entre os poetas, onde cada um procura se mostrar melhor que o outro. Mas também é comum que estes usem suas habilidades para exaltar um personagem ou mesmo contar uma história. Ao contrário dos repentistas, os emboladores não usam a viola e sim o pandeiro para marcar o ritmo frenético de suas cantorias. Estilo musical praticado por artistas anônimos em praças e lugares públicos, a embolada atravessou as fronteiras regionais, de modo que também pode ser encontrada em algumas cidades de outras regiões, particularmente aquelas que têm uma representativa comunidade de origem nordestina. Apesar do seu aspecto de arte de rua, sem espaço nas grandes mídias, em 1993 a embolada emplacou um sucesso nacional com a música “Ladrão besta e o sabido”, obra da grande dupla de emboladores recifenses Caju e Castanha.

Pois bem, foi exatamente inspirado nessa arte popular que Geraldo compôs a primeira e provavelmente a única, “embolada de breque” da história. Ao estilo do samba-de-breque, sua declamação incluía, em determinados pontos da obra, pequenas frases que fugiam à cadência da embolada, mas dava-lhe uma graça e um charme bastante peculiar. Em alusão ao exame vestibular que se aproximava, Geraldo denominou-a de “Vestibulada” e sempre que a declamava os risos eram inevitáveis. O sucesso da “Vestibulada” foi tamanho que a turma se mobilizou e conseguiu imprimir a poesia no mesmo formato dos folhetos da literatura de cordel.

Há uns dias, remexendo numas coisas velhas, encontrei muito bem preservado o meu exemplar da “Vestibulada”. Peguei o velho folheto, reli suas páginas de um papel que já começa a amarelar, dei boas risadas e me lembrei dos meus tempos de colégio, da minha adolescência, me lembrei de Recife e dos meus velhos amigos e que saudade boa me deu. Lembrei-me de Geraldo que soube, formou-se em Direito e hoje é um conceituado professor das Ciências Jurídicas. No próximo dia 01 de dezembro irei novamente às terras mamelucas da “Veneza Brasileira”, vou participar do encontro anual dos colegas da Turma A. Lá vou encontrar Arnaldo, Bilu, Jonas, Maguila, Otaviano, Pontual e Riba que já confirmaram presença. Geraldo nunca compareceu, coisas do jogo da vida, mas eu continuo apostando que um dia vou reencontrá-lo, porque se “a vida também é um jogo”, “o bom jogador não se deixa abater”. Quem também confirmou presença foi Jaime que se dedicou com sucesso à atividade comercial e, de quebra, presenteia a todos nós com belos exemplos de cidadania e amor ao próximo, mas isso é outra história… Uma bela história.

Sempre que escrevo acalento o desejo de poder reencontrar cada um daqueles que tive a oportunidade de conhecer e conviver nas mais diversas paragens desse grande país. Aqui me despeço mandando a todos um grande abraço, aguardando a oportunidade de poder reencontrá-los e poder ouvir de cada um sua própria história.

Saúde, luz e paz

Virgílio Agra

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