Sei não senhor

Muito embora não tenha vivido a época, mas vi registrado em vários lugares, sobre uma limpeza em Alagoas. O jornalista Pedro da Costa Rego, ou simplesmente Costa Rego, assumira o governo alagoano para a gestão, junho de 1924 a junho de 1928. Nessa época, mandava os coronéis, geralmente com o título vindo da Guarda Nacional ou apenas como apelido dado pelo povo por causa da boa situação financeira reconhecida. Na maioria, os coronéis sertanejos eram senhores proprietários de terras, fazendeiros que gostavam do criatório e adoravam matar gente. Suas fazendas abrigavam, às vezes, até mais de vinte homens armados sempre às ordens para qualquer empreitada sinistra do latifundiário. O coronel tinha prestígio de sobra com os sucessivos governos. No dizer do povo, mandava em tudo na sua região. Casava, batizava, prendia, soltava, dava conselhos, pisas, mandava torturar e matar de acordo com as circunstâncias. Sua cabroeira, capangada, ou jagunçada, garantia o seu sucesso. O coronel, às vezes, media forças com outro, acoitava criminosos e demais tipos de bandidos na fazenda. (mais…)

Laranja azeda

Tive satisfação de visitar parte das obras que estão sendo trabalhadas em Maceió. As avenidas que estão sendo construídas para desafogar o trânsito na capital chamam a atenção pela pujança e beleza que se vão delineando. Falam os operários que as obras estão em fase de conclusão e que serão abertas ao tráfego ainda este mês. São elas as Avenidas Márcio Canuto e Pierre Chalita. A Avenida Jornalista Márcio Canuto interligará o bairro do Farol, através da Avenida Rotary ao Barro Duro. Dá gosto contemplar a obra que tem três quilômetros de extensão e mais de dez metros de largura com passeios, jardins laterais e uma ciclovia com três metros de largura. Já as obras da Avenida Pierre Chalita, também não ficam atrás. A Avenida será a ligação entre o Conjunto José Tenório, na Serraria, às imediações da loja Hiper Comercial com outra ligação pelo Sítio Jorge, aliviando assim o trânsito pela Via Expressa. Em breve o maceioense estará aplaudindo as inaugurações importantes e dignas de louvor que transformará em beleza aqueles trechos. Não somente o tráfego ganhará com isso, mas a possibilidade de novas habitações em lugares que atualmente ainda são extensos matagais, principalmente na segunda avenida. (mais…)

O amargo do açúcar

O tempo continua sua marcha inexorável para frente, Alagoas insiste em notícias para trás. É cada coisa que aparece na mídia que o alagoano baixa a cabeça envergonhado. Quando sai alguma coisa boa na imprensa parece até um favor que alguém quer fazer para agradar, para amenizar um pouco as situações vexatórias que não nos abandonam. Recentemente foi divulgado como chacota para o Brasil inteiro que um preso acusado de crimes graves, usando tornozeleira, iria assumir uma delegacia como delegado. O ridículo da Justiça estadual foi alvo de gozação dentro e fora do território, com piadas as mais grosseiras possíveis. Essa, entretanto, não foi notícia isolada, pois continuamos a fabricar o absurdo do cotidiano em todas as esferas sociais. Agora é a vez da incoerência em forma diferente. Um grande monumento orgulho de Alagoas e da nossa medicina, o Hospital dos Usineiros, conhecido também como o Hospital do Açúcar, vive uma situação de pobreza e miséria que faz baixar a crista até do galo da madrugada. (mais…)

Fale fiado

Vou pagar o objeto comprado, quando o comerciante se anima e puxa conversa. Conversar às vezes atrasa, às vezes adianta e nem sempre traz proveito. Mas de uma maneira geral, ensina e descobre. Mesmo um papo ligeiro com um cabra embriagado pode render para o pensamento alguma coisa boa, uma inspiração para um poema, uma piada para o humor adiante, uma reflexão profunda e mesmo até um palpite para o jogo do bicho. Quer dizer, então, que falar em “jogar conversa fora”, pode ser de muito proveito se a conversa vem de fora para dentro. Diz o comerciante, “entrando por uma perna de pato saindo por uma de pinto” que o homem deve estar preparado para todas as ocasiões. Quer dizer que você não sofrerá impactos significativos numa brusca situação difícil como um assalto, um acidente, um insulto ou uma notícia de que arrebatou sozinho o prêmio da loteria. Será mesmo que isso funciona? E se funciona, marca certo em qualquer ocasião ou somente em algumas? Isso faz lembrar o professor universitário que deu aula a um jumento. Embora as pessoas contem as coisas já embaralhadas e o original perca-se de boca em boca, disseram mais ou menos assim, em compra terceirizada: (mais…)

Ibiapina

Os verdadeiros valores de duas pernas às vezes caem no esquecimento, uns para sempre, outros hibernando. Só há pouco tempo, nós do Nordeste ouvimos falar em frei Galvão. Em um canal de TV, uma pessoa palestrava sobre a vida do santo, fazendo-me lembrar do cordel lançado por Manoel Monteiro, sobre a vida do padre Ibiapina. Esse personagem também é lembrado com insistência no livro da escritora alagoana Luitgard Oliveira, sobre o cangaço. Segundo o autor cordelista, nasceu José Antonio Pereira Ibiapina, em uma fazenda de Sobral chamada Morro do Jaibara, em 05 de agosto de 1806. O pai havia se metido na política e foi fuzilado, um irmão foi para o degredo em Fernando de Noronha e, a mãe de Ibiapina morreu. Os seus planos de se tornar sacerdote foram adiados para que ele pudesse tomar conta dos irmãos. Ibiapina mudou-se para Pernambuco, ingressou em um Curso Jurídico e, em 1828, saiu formado em Direito. Aos 26 anos, o jovem estava para casar quando a moça fugiu com um primo. José Antonio foi ainda Delegado e juiz em Quixeramobim. Após pelejar no campo jurídico, Ibiapina abandonou tudo e dedicou-se à Igreja aos 47 anos de idade. (mais…)

O homem gelado

Quando o assunto é futebol, o torcedor brasileiro tem acompanhado a Seleção com olhares de jacaré, quando muito como os de hipopótamos. A euforia típica da nossa pátria foi desaparecendo com as decepções que se acumulam, deixando a pergunta rolando no espaço qual folha de algodão seda. O algodão seda é uma planta típica do sertão nordestino, pequena, esverdeada e feia que nasce em lugares mais degradados pelo homem. Além de bastante frágil, apresenta um rolos parecidos com jenipapo ou legítimos papos de peru. Daquele complexo no meio do cercado, desprende-se o tal algodão seda, quase transparente que é levado pelo vento brando; ora sobe, ora desce e voa para todos os lados conforme os caprichos da aragem. Pois assim vai se sentindo o torcedor da amarelinha, muitas vezes, além da decepção, revoltado com a peste da frieza do treinador. Sentimos que do jeito que vai a coisa, vamos ficando cada vez mais distante da liderança mundial da redonda. A incerteza corrói há muito a segurança do fanático, do comum, do esporádico. Escolheram um homem para comandar a equipe brasileira que parece sem emoção, sem sangue e sem assunto. (mais…)

Fogo no gelo

Quem contava as maravilhas da Antártida, era o meu professor que depois se tornou famoso, Douglas Apratto Tenório, no Colégio Guido de Fontgalland, em Maceió. Apontador na mão escorregando pelo mapa do “Continente Gelado”, Apratto, discorria em complemento ao meu velho “mestre-enciclopédia” Alberto Nepomuceno Agra, do casarão Ginásio Santana. Certo de que falava para uma turma pequena, mas interessada, Douglas mantinha uma linha séria e agradável para os amantes da natureza. Víamos o branco do gelo nas palavras do professor e sentíamos a ambição do mundo pelos recursos do subsolo daquele continente. O professor casava suas aulas de Histórias com as da Geografia; na verdade, exibia ambas as matérias apaixonantes, uma vez que o casal há muito já existia. Falava no acordo entre os países exploradores da Antártida, da dificuldade de funcionamento dos motores na baixa temperatura, da fauna marítima, da participação do Brasil nos estudos científicos na base que assegurava sua fatia de pesquisas. (mais…)

Mendigando força

Mais uma vez o esquema de segurança de Alagoas decepciona, frustra o cidadão do interior sem chance nenhuma para se defender. De vez em quando sai à propaganda que não deixa de ser verdadeira, sobre novas aquisições de viaturas, coletes, armas para a polícia. O leigo pensa, então, que o que faltava já foi preenchido e agora a eficácia do policiamento será nota mil. Puro engano! Parece que o quadro real da Briosa ainda está longe da modernidade exigida nos dias atuais no combate ao crime que surge de toda natureza. Num estado territorialmente pequeno como Alagoas, ainda se reclama de efetivo curto. Batalhão em Maceió, Arapiraca, Santana do Ipanema… Mesmo assim não se encontram policiais na hora da precisão como foi o caso do assalto em Mata Grande, região serrana do alto sertão. Segundo foi noticiado, os bandidos ─ apenas para uso da expressão popular ─ deitaram e rolaram com um bando de vinte homens armados de fuzis e metralhadoras. O que iria fazer em uma cidade tradicional que já botou Lampião para correr, um soldado apenas de plantão? (mais…)