Sobre Sérgio Campos

Sérgio Soares de Campos, nasceu em 11 de novembro de 1961, em Santana do Ipanema, Alagoas. Possui crônicas publicadas em sites e livros como: À Sombra do Umbuzeiro e À Sombra do Juazeiro. É membro idealizador e cofundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa). Criou o projeto musical Canteiro da Cultura, lançado dia 14 de dezembro de 2019.


A importância do Dia do Rio Ipanema

21 abril 2014


RIO IPANEMA E A ETERNA FESTA DOS URUBUS (Foto: Sergio Campos / Alagoas na Net / Arquivo)

Para alguns pode soar estranho comemorar o dia de “algo” que se apresenta de forma tão sujo e degradante. Até poderíamos considerar normal esse pensamento, levando em consideração o que nós santanenses permitimos que o nosso maior e mais belo acidente geográfico chegasse a situação na qual se encontra; pelo menos num pequeno trecho de cerca de três quilômetros, exatamente na área urbana da única cidade em que leva garbosamente o seu nome, Santana do Ipanema.

No entanto, para nós que vivemos bons e marcantes momentos das nossas vidas aproveitando tudo de benéfico que esse “algo” nos deu, como banho, pesca, lazer e reflexão: comemorar esta data é o mínimo que poderemos oferecer nesse momento ao nosso querido rio Ipanema.

O Dia do Rio Ipanema é apenas o começo de um alerta à população santanense, não apenas para lembrar o que ele nos proporcionou, mas o que ainda temos para compartilhar.

Enquanto o rio Ipanema oferece benevolamente aos seres vivos bens indispensáveis à vida, tais como a água, a flora, a fauna e o minério, recebe em troca dejetos, lixo de todas as espécies e o pior: o desprezo.

Paulão

Lixo em um dos acessos ao rio Ipanema (Foto: Sérgio Campos)

Em 10 de agosto de 2013 um grupo de pessoas preocupadas com a situação de um dos importantes afluentes do rio São Francisco se reuniu em Santana do Ipanema com a finalidade de discutir formas que viessem alertar a população a buscar soluções para a grave situação em que se encontra o que pode vir a ser o mais belo cartão postal da cidade. A partir daí nasceu a Associação Guardiões do Rio Ipanema – Agripa, que logo em seguida recebeu o apoio incondicional das mais diversas camadas da comunidade.

Um dos lemas da Agripa, totalmente voltada ao meio ambiente, é: “conscientizar para salvar”. Desde então, a associação, formada por ambientalistas de vários matizes, não para de trabalhar e receber adesões e incentivos, num só objetivo: VAMOS SALVAR O RIO IPANEMA.

Rio

Ponte de acesso a cidade de Olho d’Água das Flores (Foto: Alagoas na net/Arquivo)

A água salobra que em tempos idos matou a sede de muitos sertanejos, hoje, mesmo poluída, ainda serve para saciar a sede dos animais, bem como para a irrigação e a pesca, ainda que em pequena escala. Imaginemos então o rio Ipanema despoluído e sem cercas, onde crianças e adultos possam tomar banho sem medo de contrair alguma doença; ou os pescadores possam ter a certeza de que sairão de seus lares em busca de alimento e voltarão com as sacolas cheias de banbá, lambari, traíra, cará-zebu, caribola e no futuro o pitu, alimentos que já foram tão comuns nas mesas dos nossos ribeirinhos.

Delmiro

Crianças se divertindo às margens do rio Ipanema (Foto: Sérgio Campos)

Seria demais imaginar os animais nativos voltando a beber água nas cacimbas ao longo do rio Ipanema? Tatus e pebas; teiús e camaleões; guaxinins, gatos-do-mato e raposas; jaçanãs, siricoras e tantas outras espécies que a ação devastadora do ser humano fez sumir desta região.

Quantos de nós já não precisamos usar alguma planta medicinal (meizinha) advinda deste rio? Pois bem, às margens do nosso rio Ipanema, mesmo com um descontrolado desmatamento, ainda podemos encontrar: jenipapos, mulungus, mussambês, velames, quinas-quinas, catingueiras, juremas pretas, angicos-de-caroços, melões-de-são-caetano, alenta-cavalos, aroeiras, imburanas-de-caboclo entre tantas outras plantas sustentadas pelas águas escassas deste surpreendente rio.

Planta

Vegetação nativa (Foto: Sérgio Campos)

O rio Ipanema é um patrimônio da humanidade, mas que ainda precisa ser mais conhecido por aqueles que o vê chorando lágrimas de lama. Pois está com uma de suas partes ferida, sangrando e, portanto precisa ser tratada. Nos seus 220 km, de Pesqueira/PE a Belo Monte/AL, a parte mais degrada está localizada na zona urbana de Santana do Ipanema, do Poço Grande às Cachoeiras, cabendo a nós, legítimos guardiões do meio ambiente, assim outorgado pela Mãe Natureza, a responsabilidade moral e humana de tratá-la para que as futuras gerações não se envergonhem das nossas atitudes, ou da falta delas.

Ponte dos Canos

Imponente e desafiando os percalços, o Ipanema segue rumo ao São Francisco (Foto: Sérgio Campos)

Desta forma, desejo do fundo do meu coração, neste dia 21 de abril, se não pelo estado em que te deixamos chegar, mas por terem se lembrado de ti “ó Velho Panema”, PARABÉNS RIO IPANEMA PELO SEU DIA.

Blog do Sérgio Campos 

XOTE DOS GUARDIÕES

Letra e música: Cícero Ferreira (Ferreirinha)

Velho Panema

Pelos índios batizado

Limpinho, cristalizado

Sertão abaixo corria

A sua água não oferecia risco

De Pesqueira ao São Francisco

A todo povo servia

Por isso agora

O guardião lhe convida

Para devolver à vida

Ao nosso velho Panema

E ver de novo

Aquelas velhas imagens

Bebendo nas suas margens

Lagartos, tatus e emas – Refrão

O bom carreiro

De diversas regiões

Da Marcela ou dos Torrões

Água potável trazia

Matando a sede

E outras necessidades

Que muitas celebridades

Tomavam banho e bebia

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Não se ver mais

Aquela paisagem bela

Flor vermelha e amarela

Simbolizando alegria

E nas ramagens

Dos velhos pés de ariús

Debaixo dos mulungus

Acabou-se a água fria

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Os mulungus

As grandes caraibeiras

Cortadas nas ribanceiras

Quem ver não sente alegria

Os juazeiros, jenipapo e catingueiras

Viraram tudo fogueira

A margem ficou vazia

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Queremos ver

Nossa cidade crescendo

E nossos rios correndo

Com paz e com harmonia

E os nossos filhos

Jogando bola, brincando

Gritando e tomando banho

Na transparência sadia.

Por isso agora

O Guardião lhes convida…

(Refrão)

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