A importância do Dia do Rio Ipanema
21 abril 2014
Para alguns pode soar estranho comemorar o dia de “algo” que se apresenta de forma tão sujo e degradante. Até poderíamos considerar normal esse pensamento, levando em consideração o que nós santanenses permitimos que o nosso maior e mais belo acidente geográfico chegasse a situação na qual se encontra; pelo menos num pequeno trecho de cerca de três quilômetros, exatamente na área urbana da única cidade em que leva garbosamente o seu nome, Santana do Ipanema.
No entanto, para nós que vivemos bons e marcantes momentos das nossas vidas aproveitando tudo de benéfico que esse “algo” nos deu, como banho, pesca, lazer e reflexão: comemorar esta data é o mínimo que poderemos oferecer nesse momento ao nosso querido rio Ipanema.
O Dia do Rio Ipanema é apenas o começo de um alerta à população santanense, não apenas para lembrar o que ele nos proporcionou, mas o que ainda temos para compartilhar.
Enquanto o rio Ipanema oferece benevolamente aos seres vivos bens indispensáveis à vida, tais como a água, a flora, a fauna e o minério, recebe em troca dejetos, lixo de todas as espécies e o pior: o desprezo.
Em 10 de agosto de 2013 um grupo de pessoas preocupadas com a situação de um dos importantes afluentes do rio São Francisco se reuniu em Santana do Ipanema com a finalidade de discutir formas que viessem alertar a população a buscar soluções para a grave situação em que se encontra o que pode vir a ser o mais belo cartão postal da cidade. A partir daí nasceu a Associação Guardiões do Rio Ipanema – Agripa, que logo em seguida recebeu o apoio incondicional das mais diversas camadas da comunidade.
Um dos lemas da Agripa, totalmente voltada ao meio ambiente, é: “conscientizar para salvar”. Desde então, a associação, formada por ambientalistas de vários matizes, não para de trabalhar e receber adesões e incentivos, num só objetivo: VAMOS SALVAR O RIO IPANEMA.
A água salobra que em tempos idos matou a sede de muitos sertanejos, hoje, mesmo poluída, ainda serve para saciar a sede dos animais, bem como para a irrigação e a pesca, ainda que em pequena escala. Imaginemos então o rio Ipanema despoluído e sem cercas, onde crianças e adultos possam tomar banho sem medo de contrair alguma doença; ou os pescadores possam ter a certeza de que sairão de seus lares em busca de alimento e voltarão com as sacolas cheias de banbá, lambari, traíra, cará-zebu, caribola e no futuro o pitu, alimentos que já foram tão comuns nas mesas dos nossos ribeirinhos.
Seria demais imaginar os animais nativos voltando a beber água nas cacimbas ao longo do rio Ipanema? Tatus e pebas; teiús e camaleões; guaxinins, gatos-do-mato e raposas; jaçanãs, siricoras e tantas outras espécies que a ação devastadora do ser humano fez sumir desta região.
Quantos de nós já não precisamos usar alguma planta medicinal (meizinha) advinda deste rio? Pois bem, às margens do nosso rio Ipanema, mesmo com um descontrolado desmatamento, ainda podemos encontrar: jenipapos, mulungus, mussambês, velames, quinas-quinas, catingueiras, juremas pretas, angicos-de-caroços, melões-de-são-caetano, alenta-cavalos, aroeiras, imburanas-de-caboclo entre tantas outras plantas sustentadas pelas águas escassas deste surpreendente rio.
O rio Ipanema é um patrimônio da humanidade, mas que ainda precisa ser mais conhecido por aqueles que o vê chorando lágrimas de lama. Pois está com uma de suas partes ferida, sangrando e, portanto precisa ser tratada. Nos seus 220 km, de Pesqueira/PE a Belo Monte/AL, a parte mais degrada está localizada na zona urbana de Santana do Ipanema, do Poço Grande às Cachoeiras, cabendo a nós, legítimos guardiões do meio ambiente, assim outorgado pela Mãe Natureza, a responsabilidade moral e humana de tratá-la para que as futuras gerações não se envergonhem das nossas atitudes, ou da falta delas.
Desta forma, desejo do fundo do meu coração, neste dia 21 de abril, se não pelo estado em que te deixamos chegar, mas por terem se lembrado de ti “ó Velho Panema”, PARABÉNS RIO IPANEMA PELO SEU DIA.
XOTE DOS GUARDIÕES
Letra e música: Cícero Ferreira (Ferreirinha)
Velho Panema
Pelos índios batizado
Limpinho, cristalizado
Sertão abaixo corria
A sua água não oferecia risco
De Pesqueira ao São Francisco
A todo povo servia
…
Por isso agora
O guardião lhe convida
Para devolver à vida
Ao nosso velho Panema
E ver de novo
Aquelas velhas imagens
Bebendo nas suas margens
Lagartos, tatus e emas – Refrão
…
O bom carreiro
De diversas regiões
Da Marcela ou dos Torrões
Água potável trazia
Matando a sede
E outras necessidades
Que muitas celebridades
Tomavam banho e bebia
…
Por isso agora
O guardião lhes convida…
(Refrão)
…
Não se ver mais
Aquela paisagem bela
Flor vermelha e amarela
Simbolizando alegria
E nas ramagens
Dos velhos pés de ariús
Debaixo dos mulungus
Acabou-se a água fria
…
Por isso agora
O guardião lhes convida…
(Refrão)
…
Os mulungus
As grandes caraibeiras
Cortadas nas ribanceiras
Quem ver não sente alegria
Os juazeiros, jenipapo e catingueiras
Viraram tudo fogueira
A margem ficou vazia
…
Por isso agora
O guardião lhes convida…
(Refrão)
Queremos ver
Nossa cidade crescendo
E nossos rios correndo
Com paz e com harmonia
E os nossos filhos
Jogando bola, brincando
Gritando e tomando banho
Na transparência sadia.
Por isso agora
O Guardião lhes convida…
(Refrão)