Artigo: O mercado promissor da cannabis medicinal

Fabrizio Postiglione* - colaboração

05 jun 2023 - 22:34


Foto: SeaweedJeezus / Pixabay

Ainda que fatores como a regulamentação restrinjam o avanço no desenvolvimento do setor, no Brasil a indústria da cannabis segue promissora para novas descobertas terapêuticas, assim como na criação de oportunidades de negócios e investimentos. De acordo com o  levantamento da empresa de inteligência de mercado, Kaya Mind, o país possui 180 mil pacientes registrados, estima-se que com a normalização deve-se gerar 117 mil empregos e, até 2025, movimentar mais de 26 bilhões de reais. 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Programa Institucional de Políticas de Drogas, Direitos Humanos e Saúde Mental, divulgou nota técnica a respeito de evidências científicas no tratamento de doenças com a adoção de medicamentos à base de cannabis, cujo objetivo é apresentar argumentos técnicos aos responsáveis em legislar e distribuir o uso da cannabis no mercado nacional. 

No Brasil o uso da cannabis medicinal e recreativo é proibido, exceto nos casos de recomendação médica. Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autorizou a produção e a comercialização de produtos à base de cannabis via prescrição médica. Hoje já são 80 empresas atuantes no mercado brasileiro, em sua maioria na fabricação de produtos derivados da planta, importadores, representantes da indústria farmacêutica e clínicas, segundo dados do Anuário da Cannabis no Brasil, produzido também pela Kaya Mind. 

Um mercado promissor, mas com restrições regulatórias

Empreender e investir no setor de cannabis medicinal requer conhecimento e entendimento da regulamentação vigente; assim como o impacto das restrições atuais ao modelo de negócio a ser investido. O setor cresce mundialmente e de forma gradual, conforme a regulamentação de cada país. Nesse sentido, observamos que, entre os países da América Latina, o Brasil demonstra maior potencial para investimentos. Um mercado novo e pouco explorado pela indústria local.

Países como o Canadá, os Estados Unidos, o Uruguai e Israel, que possuem menos restrições, oferecem produtos à base de cannabis e derivados para os setores da saúde, beleza, pet, alimentício e recreativo. À medida que mais pessoas descobrem os benefícios da cannabis, a demanda cresce e, com isso, pode acelerar a legalização e flexibilização da cannabis no mundo e no Brasil, incluindo produtos medicinais, recreativos e demais aplicações com base na planta e seus derivados. 

A diversificação de produtos é, também, uma maneira de ampliar portfólio e reduzir o risco de investir em um único setor ou ativo. Os avanços tecnológicos também têm contribuído com a indústria da cannabis desde o cultivo da planta aos serviços financeiros. Apesar do cenário favorável, no caso do segmento da cannabis medicinal, observamos os riscos atrelados à volatilidade do mercado, as mudanças regulatórias e a concorrência. 

Contudo, assim como em qualquer investimento, o risco é inerente ao negócio. O retorno ao investir em cannabis pode variar de acordo com o modelo de negócios. Investimentos em ações de empresas atuantes no mercado de cannabis com produtos já em comercialização podem apresentar retornos a curto e médio prazo, enquanto investimentos em operações, ainda, em desenvolvimento tecnológico de cultivo ou produção de produtos podem apresentar retornos a médio ou longo prazo.

No mundo vem crescendo o uso da cannabis medicinal como forma eficiente de terapia, apesar das restrições no Brasil, assim como em outras indústrias, os resultados obtidos em outros países devem influenciar o mercado interno e, dessa forma, impulsionar novas oportunidades, em especial, ao empreendedor brasileiro e investidores. Apesar de aqui  caminharmos a passos lentos, devido às muitas restrições, o fato é que trata-se de uma indústria em crescimento e em constante mudança.

*Fabrizio Postiglione é fundador e CEO da Remederi, farmacêutica brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a cannabis medicinal. Formado em Negócios e Economia pela Universidade de Plymouth, na Inglaterra. O executivo estuda a planta há mais de 10 anos e ao longo de sua trajetória profissional, atuou em todo o processo para produção e comercialização de medicamentos à base de cannabis nos Estados Unidos.

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