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  • Santana do Ipanema, 20/12/2025
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Marcelo Ricardo Almeida

O que é palavrarte? A dialética do ensinar e do aprender

Foto: Freepik
O que é palavrarte? A dialética do ensinar e do aprender

Ouvi dizer que há leitores de literatura que procrastinam o fim do livro e, por muito tempo, atrasam a derradeira página como uma atitude incomum que prolongue os acontecimentos narrativos. Uma sala de aula que festeja o fim da aula não pode ser comparada aos leitores que adiam o fim da história.

O ensinar parece sempre confrontar-se com o aprender. A receptividade do aprender se encontra na outra margem do riso se comparada a disponibilidade do ensinar. E o riso é sarcástico. Há um desrespeito repetitivo no riso.

O ensino tíbio não gera utopias na aprendizagem. As reflexões são geradas pela memória. A dialética do ensinar e do aprender é a realidade em sala de aula.

Há uma preguiça latente em sala de aula. Como uma aversão ao saber, ao querer saber, o porquê do que se sabe.

A leitura é sempre um suplício. A escrita de dois parágrafos é uma eternidade comparada a uma condenação injusta.

A perda da dialética do ensinar e do aprender escapa entre os espaços disputados entre todas as pressas e todas as satisfações instantâneas, quando se está diante da multiplicidade dos desinteresses em querer saber. A curiosidade epistêmica da qual falava Freire cambaleia na corda bamba da educação básica na realidade das escolas dos professores com os quais se conversa.

No vórtice da velocidade tudo perde o interesse no próximo segundo. Se não houver um caleidoscópio que promova uma satisfação que a alimente, a saciedade diante da informação sucumbe ao tédio.

É comum o cansaço em salas de aula substituído por brincadeiras violentas. Não existe uma racionalidade na história? Na sala de aula, segundo dizem, se presentifica, não raras vezes, o suicídio da busca pelo conhecimento por considerá-lo maçante, árduo, demorado, sem resposta rápida quão o acesso à internet.

O aluno é outro aluno, com o advento da Internet, porque cada avanço da tecnologia é um novo passo, quer resposta imediata e igualmente imediato resultado. Mas a aprendizagem é lenta e gradual.

A Pedagogia do Fingimento finge que não vê, o que não poderia ser diferente, quando vê, finge que não escuta, quando escuta, e finge que não fala, quando fala. Deixa a sala de aula como se encontra para ver aonde ela vai.

Só ensina quem sabe. Não se espera que alguém indique um dicionário, como um compilado de verbetes, quando quem indica desconhece o que são verbetes. Lembra Ribeiro o Pacto da Mediocridade, onde o faz de conta que se ensina é combinado com o faz de conta que se aprende.

Ensinar e aprender não sobrevivem na imagem de duas margens opostas. Não podem parecer duas margens que represam o riso cáustico, que derretem os interesses motrizes em realizar uma aula significativa.

Uma aula de Língua Portuguesa que trabalha com o ensino da gramática normativa está dentro da normalidade pedagógica. Quando a aula é sobre literatura há uma estranheza ou até repulsa ou desinteresse coletivo, porque o ensino de literatura parece subverter a normalidade do ensino da língua portuguesa.

Literatura é a alma de uma gente. O fim da literatura na praça do povo é o apagamento da aura, como os pontos sutis caracterizadores-chave do indivíduo presente na massa cujas memórias preenchem e completam o tempo e restauram a saúde do corpo a iniciar-se pela mente. Literatura não é gênero textual, mas palavrarte.



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