Marcelo Ricardo Almeida

A EXPERIMENTAÇÃO DAS FORMAS COM OLHAR CALEIDOSCÓPICO

Se as partículas permitem a existência do todo, a unidade escolar enxerga o que há em volta? Uma rede de ensino é formada por escolas etc. As escolas atendem a grupos matriculados em determinada etapa escolar – para ficar na moldura da Educação Básica – fundamental ou médio. Quantas turmas de 7º, 8º, 5º anos na mesma escola? Professores diferentes em turmas diversas matriculadas no mesmo ano letivo.
Na escola, os professores regentes de 5º anos Eliane, Matheus e Sandra, e com estes os de área, a exemplo de Língua Portuguesa e Literatura, cuja direção os associou ao Quarteto Fantástico. Estes três 5º anos participam conjuntamente na criação de jornais, gêneros textuais e tipos de texto, charge, contos e HQs, reportagens e poemas. É a prática de fazer e aprender o que está prescrito na sequência didática à luz do currículo oculto, para além das saídas de estudo, seminários, teatro, exposições no refeitório da escola. Abordagens pedagógicas que protagonizam a presença do aluno em sala de aula por jogos de trilhas com história e geografia locais, os sinais de pontuação como ativa aprendizagem da gramática prescrita.
Não há convivência possível no mesmo quadro da realidade se as partes, que compõem o todo, não permitem o existir dos resultados. O sentimento e o sentido se estabelecem com o ato da mudança. O que está feito é desfeito à procura de outra organização segundo os afetos que movem as mudanças. Uma sala de aula, na prática pedagógica, é desmontável para ser remontada.
Ouve-se frequentemente a voz de alunos que vêm à escola impulsionados pela engrenagem, pelo sentido de regras que alimentam a obrigatoriedade. Estudar por que se tudo está disponível em centros de dados? Não existe o que não se encontra em centros de dados. Equivale a caminhar na calha arenosa do rio sobre o ouro e, por não saber garimpar, não o reconhece porque só quem sabe pesquisar apreende o que pesquisa.
Nas aulas do professor Matheus, diante da realidade desmontável na qual a escola está inserida, é adotada a pedagogia do diálogo, a pedagogia escutatória. Com a pedagogia da atenção se quer uma escola melhor do que essa que se conhece, com a qual se convive, da qual se ouve falar, a escola que conviveu, a escola da próxima aula.
Os afetos conscientes nas aulas do professor Matheus, que trabalha com alunos do 5º ano no Ensino Fundamental as disciplinas de Língua Portuguesa, História, Matemática, Geografia e Ciências, nota-se haver a experimentação das formas com olhar caleidoscópico de quem se dedica à Pedagogia. As suas aulas adotam outra dinâmica na sala com a mudança dos alunos. A sala de aula do professor não é a mesma a cada dia, que se inicia com uma frase no quadro. A realidade em sala é desmontável. E a pedagogia do professor vivencia o que a experiência humana tenta comprovar que a vida é a corda que conecta precipícios.
O ato de desmontar é praticado para que haja luz onde a escuridão teima em persistir. Com o olhar caleidoscópico da experimentação de formas, o professor Matheus muda as mesas, os lugares – atento à disruptura das vidas no cotidiano, carências, aprendências, ensinências.
A aprendizagem é lenta e gradual. Há um processo de maturação, de aceitação, de conhecimento e reconhecimento do outro. A aprendizagem difere de uma ferramenta mecânica. Se a dança que se dança não coincide com a música escolar, cada professor, ao fechar a porta, dança a sua música, o seu ritmo. A realidade desmontável é vivida primeiro na família e, por óbvio, é vívida na escola, que alimenta a rotatividade dos professores.
Cabe à semiótica os signos e as significações. A linguagem se presentifica na semiótica. Entre as diferentes pedagogias, a Pedagogia-Feijão-Com-Arroz é a que alimenta e combate à desnutrição e enfermidades advindas pela falta de responsabilidade com a aprendizagem e a ausência de zelo ao ensino. A palavra, resultado de fonemas, como se sabe, é desmontável e, quando remontável, se permite outra classificação.
O que está pronto chega à completude por permiti-la as partes. Tudo o que existe ou possa existir é feito em partes; a unidade existe porque as partes lhe permitem existir. O universo existe como a eternidade por partes.
Experimentar é o que energiza a experiência da mudança em busca de sentido e intensidade ou aceitação. Cria-se um mito em torno da realidade para suportá-la. Isto ocorre para dar sentido ao cotidiano da atividade na qual se encontra inserido.
É a escolha que se faz ao praticar ações que movem os corpos nas proposituras das montagens e desmontagens para se evitar possíveis rebeliões, a recusa em participar da aprendizagem que exige atenção, comprometimento, escuta e responsabilidade, evitar os desencontros, as perdas, os conflitos, a violência, as mudanças permanentes e, principalmente, o amornamento do interesse ou das atenções que atestem o trabalho pedagógico como árvore sem frutos.
Há realidades que surpreendem o próprio campo da trajetória pedagógica. Caso não se tenha observado a experimentação das formas com olhar caleidoscópico, a realidade continua o seu trajeto e permanece apenas a luz do que a escola viu e não percebeu.
Objetos interestelares erram entre estrelas. A escola não desenvolve tecnologia para identificar professores com padrões que transformam a realidade escolar. E os professores existem, e eles passam pela escola a exemplo do 3I Atlas.
COMENTÁRIOS