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  • Santana do Ipanema, 12/10/2025
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Marcelo Ricardo Almeida

ESCOLA DOS SONHOS

Foto: ilustração IA
ESCOLA DOS SONHOS

No mundo desmontável, a compreensão do aluno desatento, indiferente, desrespeitoso não alcança a escola dos sonhos. Será que existe uma Escola dos Sonhos ou se trata tão-só de utopia pedagógica?

A pedagoga Eliane leciona a alunos da escola pública. A sala, na qual trabalha, está cheia; as demandas são multiplicadas. Semana após semana, mês a mês letivo, a professora constrói a Escola dos Sonhos.

Há veredas no grande sertão e um quadro de Vidas Secas, uma fotografia de Moby Dick e a escultura de Dom Quixote ao lado de Sancho Pança. A sala da professora Eliane tem as cores das capas dos livros de literatura indicados aos alunos do quinto ano do ensino fundamental.

Cabe ao mundo desmontável a prática da protoafetividade. Esta Escola dos Sonhos da professora Eliane ressignifica o vínculo afetivo entre quem se propõe a ensinar e quem se propõe a aprender.

Na escola pública, a professora Eliane concilia aprendências, ensinências de Matemática, de Língua Portuguesa, de Geografia, de História e de Ciências. E, vindo à aula, vê-la, vence-a. Ela percebe o outro pelas qualidades dos afetos conscientes.

Na Escola dos Sonhos são promovidas assembleias nas quais se discute a reorganização do espaço, um tapete com almofadas onde os alunos leem livros de literatura, são promovidas videoconferências com escritores e poetas e, nesta escola dos sonhos, alunos elaboram perguntas e interagem com os convidados. Na Escola dos Sonhos da professora Eliane, a sala de aula é reestruturada com intencionalidade pedagógica renovada.

As experiências são compartilhadas, na Escola dos Sonhos da professora Eliane, que prioriza a organização à heterogeneidade de compreensão. Promove assembleia com escuta valorizada. A sala de aula assim ganha com a docência compartilhada.

O espaço da sala de aula, na Escola dos Sonhos da professora Eliane, comunica que se reduz o tédio, não pela dopamina das brincadeiras, mas com a aplicação do currículo oculto com a vivência de um laboratório permanente de Língua Portuguesa e Literatura com tipos de texto e gêneros literários, associado ao Laboratório de Matemática, a experiência da escrita criativa, a frequência de empréstimos de livros de literatura na biblioteca da escola, a participação de todos no Clube de Leitura, o Passaporte Literário no qual o aluno escreve sobre as experiências com a leitura, a criação de um outro jornal com versões impressa e digital, a exemplo de Travessia das Marés, um grupo de teatro estudantil.

Entre os tipos de texto e os gêneros textuais, existe a admiração à poesia, à prosa e ao teatro, mas nem todos conseguem alcançar as suas figuras. Talvez possam entendê-las por meio da linguagem, as figuras são classificadas em dois pares de grupos. A saber:

As figuras de palavras, porque semânticas, se encontram nos significados como são METONÍMIA e METÁFORA; além das figuras de pensamento, estas se encontram na combinação de ideias como são IRONIA e HIPÉRBOLE. Há outro par que se inicia com figuras de sintaxe, e estas têm por papel ajudar a construir ao modo de quem versa o seu poema e produz alterações na estrutura gramatical dos versos como fazem ANÁFORA e ELIPSE; e se conclui com as figuras harmoniosas do som, estas valorizam a sonoridade das palavras como são ALITERAÇÃO e ONOMATOPEIA. São as figuras de semânticas que fazem novas associações: sinestesia ao unir o que se percebe ou o que se sente; metáfora substitui o que é explícito por implícito; catacrese dá nome próprio para designar objeto sem nome; metonímia encarrega-se em substituir ao falar de uma coisa quando se faz referência à outra. São as figuras de pensamento que apresentam conceitos, combinam ideias: ironia, cuja essência é criticar pelo viés do bom-humor, inverte o significado das coisas; eufemismo, cuja função é tornar menos grave, apresenta a ideia com um pensamento que não seja perturbador; hipérbole é o pensamento que provoca o exagero para fazer sobressair uma ideia; antítese aproxima com palavras ideias divergentes. São figuras de construção que alteram a sintaxe ([frase] palavra ou conjunto de palavras que tenham sentido, relações de concordância [harmonia verbal, nominal], de subordinação [oração {presença de um verbo ou, na locução verbal, um conjunto de verbos em uma mensagem  que se complete ou se comunique parcialmente, às vezes sem sujeito, embora haja predicado} principal independente e a subordinada dependente de um termo principal] e de ordem [o lugar da palavra na frase para enfatizar a mensagem e provocar influências, {em ordem direta: sujeito-verbo-predicado, ou indireta em nome do estilo que se quer usar}), estas figuras mudam os versos (na poesia), as frases (na prosa) e as palavras (no diálogo), omitem com mudanças na ordem. Entre estas figuras de construção se encontram anáfora, que usa a repetição; silepse, quer por gênero, pessoa ou número, a forma gramatical é substituída pela ideia; enquanto zeugma omite o que já foi referido, elipse, que omite para ser percebido pelo contexto. São duas as figuras que buscam a harmonia nos versos de cada estrofe para valorizarem o ritmo e a sonoridade. Nestas figuras de linguagem, uma delas é a aliteração que repete de maneira intencional idênticos sons sejam de vogais ou de consoantes, a outra é onomatopeia que imita os sons. 

Sala de aula: espaço encantatório em um mundo desmontável? Na pressa do tempo há o mundo desmontável, repleto de pequenas peças de reposição. E, no entanto, os espaços são encantatórios? A sala de aula que cria expectativas em seus frequentadores demonstra ter diferentes possibilidades.

Uma escola não é um balcão de negócios, como muitas aparentam ser e outras fazem questão em ser. O professor das primeiras horas da manhã é o mesmo do meio-dia? Há escolas, e são muitas, que exigem dos professores que ensinam uma parte a ter direito à fala; elas parecem ignorar que a aprendizagem depende mais de quem aprende do que de quem ensina.

Projetar, durante as aulas, que o principal bem jurídico é a proteção à vida humana, vale dizer que a aprendizagem é o bem maior na educação. Aprender, porém, não depende só de quem ensina, cabe antes a quem tem por finalidade aprender.

Mesmo no mundo desmontável, a aula não é o País de Alice cujos caminhos levam à fantasia. Antes de se ensinar o que se sabe, ensina-se a aprender; se não souber como aprender, não se aprende. Alguém consegue ensinar o que não sabe? Ou a escola acaba com a indiferença do aluno e do professor em ler textos literários ou a indiferença do aluno e do professor em ler textos literários acaba com a escola. 



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