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  • Santana do Ipanema, 23/07/2025
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Marcelo Ricardo Almeida

MÉTRICA NA POESIA DE CORDEL


MÉTRICA NA POESIA DE CORDEL Foto: Inteligência Artificial

VERBETES EM UM GLOSSÁRIO

Conjunto de termos usuais na Poesia de Cordel. Verbetes favorecem à compreensão da métrica (silabação poética, que difere da silabação gramatical). Neste glossário, termos específicos desta maneira de narrar por versos rimados.

Alusão/Elipse – Na figura de linguagem, é referência indireta ao que se conhece. Ex.: O próprio Corisco.

Cesura – Enfatiza a pronúncia de sílabas, com interrupção ou pausa, que favorece o ritmo ao se dizer a sílaba tônica (forte). Na oxítona, a sílaba forte é fé em café; na paroxítona, a sílaba forte é lá em lápis; e, na proparoxítona, a sílaba forte é pá em pássaro. Oxítona, na última sílaba; paroxítona na penúltima sílaba; proparoxítona, na antepenúltima sílaba.

Consoantes – Letras do alfabeto latino com exceção de A, E, I, O, U, em alguns casos W, Y, H.

Cordel – Referência a um livro 10,5X15cm comercializado em bancas, nas feiras do Nordeste, cujo miolo tem oito páginas, ou seja, uma folha A4 dobrada duas vezes, e uma capa com cor diferente com um desenho (xilogravado) que se refere aos 32 versos escritos, mais ou menos, de seis versos cada, como exemplo mais comum. Popular gênero literário brasileiro. Esta palavra (cordel) refere-se à cordão, corda fina, barbante onde livretos são comercializados nas toldas dos feirantes. Livretos publicados em papel-jornal de baixa gramatura e baixo preço.

Cordelista – Autoridade no gênero literário Poesia de Cordel.

Derradeira vogal tônica > consonantais ou vocálicos – Os tipos de sons ao serem falados. Na Linguística, a Fonética é o estudo da produção dos sons humanos acústicos, auditivos e perceptuais ou a maneira articulatória. Em Língua Portuguesa, quando se avizinham vogais numa sílaba e/ou não, há ditongo (mãe) e há tritongo (desiguais), o hiato (poeta=sílabas po-e-ta) separa as vogais. Encontro vocálico é o encontro de vogais ou de semivogais (pronúncia fraca das vogais i e/ou u; encontro consonantal é o encontro de consoantes; encontro vocálico é o encontro de vogais. Vogal tônica é a vogal que se pronuncia de maneira mais forte.

Dissílabo – Palavra que contém duas sílabas. Ex.: Li-vro.

Divisão – O verso (linha escrita), verso na estrofe (grupo de versos), métrica no verso (as sílabas fortalecem as narrativas poéticas), a rima nas sílabas (coincidência de fones/sons).

Elisão – Ocorre quando uma vogal é elidida, suprime-se som de A, E, I, O, U quando se encontram e se preserva o ritmo na métrica. Omite-se a pronúncia no final ou início da sílaba.

Ênfase – Recurso fonológico adotado na pronúncia de alguma sílaba comparada às anteriores. É o acento prosódico ao dizer a Poesia de Cordel; assim, a prosódia recebe uma pronúncia tônica (forte) no interior das palavras nos versos.

Escansão – Contagem da silabação poética (métrica) difere da silabação gramatical; enquanto a primeira se faz pelo som das sílabas – onde se realça o ritmo –, a segunda segue todas as regras da Gramática Normativa.

Estrofe – Unidade dentro de um poema; orienta o ritmo do verso na estrutura de uma quantidade de versos separada de outro grupo de versos. Assemelha-se ao parágrafo, no texto escrito, que organiza uma mensagem.

Estrutura em versos e rimas – Arrumação da narrativa.

Formato de folheto – Impressão física.

Hemistíquio – Divisão de verso em duas partes. Um exemplo: Versos dodecassílabos/alexandrinos, que vai de um a seis, e de sete a doze. Ex.:                                                                               

Faz/sa/li/var/em/BO/cas – quei/ma/noi/te in/cen/DEIA O/dia

1     2  3 4    5    6               7     8    9   10    11   12

História narrada em versos – Reúne personagens, conflito e enredo, tempo e espaço, na voz de um narrador poeta, e há o início, o desenvolvimento e a conclusão.

Linguagem popular – As palavras usadas no dia a dia em um bate-papo.

Métrica – A arte do poeta ao medir os próprios versos.

Monossílabo – Uma só sílaba.

Número específico de sílabas poéticas pré-definidas – Vai do verso monossílabo (1) ao verso dodecassílabo (12). Isto é, monossílabo, dissílabo, trissílabo, tetrassílabo, pentassílabo é a redondilha menor, hexassílabo, heptassílabo é a redondilha maior, octossílabo, eneassílabo, decassílabo, hendecassílabo e o dodecassílabo ou alexandrino, há também outros versos classificados como bárbaros (além de 12 sílabas).

Oralidade – Uso falado dos versos, na Poesia de Cordel.

Poema – O texto de um gênero literário.

Poesia – Um gênero literário.

Repertório – Multiplicidade temática na comunicação contemporânea, históricos de fatos etc.

Rima – Coincidências de sons agrupados em palavras entre os versos. Isto ocorre entre as rimas externas que se escreve no final de cada verso, rimas internas, rimas emparelhadas se são alternadas ou na sequência dos versos, na estrofe, rimas interpoladas (a última palavra do primeiro verso faz rima com a última palavra do quarto verso, a última palavra no segundo verso faz rima com a última palavra do terceiro verso), rimas mistas ou misturadas, rimas perfeitas conhecidas como rimas consoantes por haver correspondência final entre consoantes e vogais, rimas imperfeitas ou também chamadas assoantes ou toantes ao usar sons parciais, rimas masculinas ou agudas com o uso de oxítonas cuja derradeira sílaba é tônica, rimas pobres se as palavras pertencem à mesma classe, rimas ricas se as palavras pertencem a classe gramatical diferente, rimas raras ou preciosas se as combinações são incomuns.  

Ritmo – Combinação de sílabas que proporcionem cadência.

Sinérese – Vogais, que são ditas separadas, ditas como uma só sílaba.

Verso – Composição literária com a versificação silábica.

Xilogravura – Entalhe em madeira de uma gravura em relevo, usada como matriz na impressão das capas de cordéis. Com uma estética própria, coincide com a narrativa poética. 

1º ASPECTO: A ESTROFE

Em versos de 12 sílabas   

Canta o alfaiate a sua canção este velho Escansão

Se vogais e ditongos sequenciam: soam juntas!                                                  

Versos alexandrinos só são criados na ambrosia.

O amor deita ditongo, faz vogais uma só sílaba,                                                   

Faz salivar em bocas queima noite, incendeia o dia

Juntas vogais na cama sílabas cantam ritmo.

2º ASPECTO: A SILABAÇÃO GRAMATICAL

Can-ta o al-fai-a-te a su-a can-ção es-te ve-lho Es-can-são

Se vo-gais e di-ton-gos se-quen-ciam: soam jun-tas!                                                  

Ver-sos a-le-xan-dri-nos só são cri-a-dos na am-bro-sia.

O a-mor dei-ta di-ton-go, faz vo-gais u-ma só sí-la-ba,                                                   

Faz sa-li-var em bo-cas quei-ma noi-te, in-cen-dei-a o di-a

Jun-tas vo-ga-is na ca-ma sí-la-bas can-tam rit-mo.

3º ASPECTO: A MÉTRICA

       [elisão]    [elisão]               

Can/ta o a/lfaia/te a/sua/CAN/ção – es-te/ve/lho/Es/CAN/são

1      2       3      4     5     6                7   8  9   10   11 12

                                       [sílaba tônica]                     [sílaba tônica]

Se/vo/gais/e/di/TON/gos – se/quen/ciam:/so/am/JUN/tas!

1   2   3     4  5 6                 7   8       9       10 11  12                                                

                                                            [elisão]   

Ver/sos/a/le/xan/DRI/nos – só/são/cri a/dos/na am/BRO/sia.

1    2     3  4 5     6               7   8    9      10   11       12 [rima ext. inv.]

O a/mor/dei/ta/di/TON/go – faz/vo/gais/uma/só/SÍ/la/ba,

1     2     3   4  5   6              7    8    9    10   11  12                                                        

                                                                             [elisão]   

Faz/sa/li/var/em/BO/cas – quei/ma/noi/te in/cen/DEIA O/dia

1     2  3 4    5    6               7     8    9   10    11   12      [rima ext. inv.]

Jun/tas/vo/gais/na/CA/ma – sí/la/bas/can/tam/RIT/mo.

1     2    3  4      5   6             7  8  9   10    11    12

O CONTEXTO

 Trecho do conto:

O MOTE, A GLOSA E OS ALEXANDRINOS 

No mês passado, o solstício de inverno havia chegado a Santana do Ipanema, Alagoas. Corria um vento gelado na boca da noite; ela bocejava e tinha fome. As estações foram reduzidas em invernos curtos e verões prolongados. O batuíra-bicuda batia as asas. As chuvas rarearam e o milho foi colhido e levado às fogueiras de São João. Um trinta-réis-róseo fazia canto e o maçarico-rasteirinho o acompanhava. Abraçou o céu a asa branca, o azulão coloriu o dia. O periquito-da-caatinga e o cardeal-do-nordeste trocavam as suas mágoas. Um tico-tico pousou no mourão na velha cerca comida por cupins. E os galos-da-campina tomaram o ar úmido da tarde.

Alfaiate Alexandrino Escansão, cordelista cego, residente no beiço da Rua da Cadeia, pai da costureira Elipse e irmão do Padre Velho, criava motes a serem soltos na rua e correm em sílabas métricas em dupla de hemistíquios separada por cesura. A sua velha máquina de costura recebeu o nome de Dodecassílabo; os carretéis, ele os chamava Divisão; às linhas de costura, o alfaiate deu o nome de Ênfases. Abria voz o alfaiate em sua tarefa diária – ma...goa...do [levava -goa à sinérese, fazia do hiato ditongo, arregaçando-o – numa competição à própria voz de canário; dava rasteira em sinalefa, engolindo as vogais no mesmo verso, como uma viagem no tempo, uma experiência desconhecida na Rua da Cadeia, em Santana na primeira metade do século XX.

O alfaiate Alexandrino Escansão tocou a linha com a ponta dos dedos, como se atravessasse um portal, elaborou um aplicativo híbrido, entre as diversas linguagens, Alexandrino o desenvolveu com versos dodecassílabos:   

        [elisão]    [elisão]               

Can/ta o a/lfaia/te a/sua/CAN/ção – es-te/ve/lho/Es/CAN/são

1      2       3      4     5     6                7   8  9   10   11 12

                                       [sílaba tônica]                     [sílaba tônica]

Se/vo/gais/e/di/TON/gos – se/quen/ciam:/so/am/JUN/tas!

1   2   3     4  5 6                 7   8       9       10 11  12                                                 

                                                            [elisão]   

Ver/sos/a/le/xan/DRI/nos – só/são/cri a/dos/na am/BRO/sia.

1    2     3  4 5     6               7   8    9      10   11       12    [rima ext. inv.]

O a/mor/dei/ta/di/TON/go – faz/vo/gais/uma/só/SÍ/la/ba,

1     2     3   4  5   6              7    8    9    10   11  12                                                       

                                                                             [elisão]   

Faz/sa/li/var/em/BO/cas – quei/ma/noi/te in/cen/DEIA O/dia

1     2  3 4    5    6               7     8    9   10    11   12         [rima ext. inv.]

Jun/tas/vo/gais/na/CA/ma – sí/la/bas/can/tam/RIT/mo.

1     2    3  4      5   6             7  8  9   10    11    12

Na frente da casa do alfaiate cego, a jovem D. Xântipe, quando não estava nas barbas do Panema, lutando com outra trouxa suja de roupas alheias, ficava nos fundos de casa onde fazia sabão caseiro. Juntava gordura da matança, cujos marchantes desprezavam nas cercanias de Santana, misturava a gordura ao sal em tachos de água fervente, usava óleo de coco, cachaça, bicarbonato de sódio, fragrância de flores do jardim de casa, mexia, acrescentava soda cáustica. O seu caçula admirava a mãe trabalhar. O velho cansado, o pai, marceneiro de muletas agarrado a tábuas e toras de madeira, serrote e martelo, a boca cheia de pregos e lhe corria o suor sob o chapéu de palha de ouricuri.

Ninguém sabe o dia de amanhã? O dia amanhã, plena escuridão ao meio-dia, seria de cortar a facão. Na origem dos tempos, quando reinava sobre a terra o poder dos dinossauros, o caçador primitivo não imaginava que o Tiranossauro Rex, no futuro, regressaria à mesa do jantar em espetinhos de frango.

(...).



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