Nem tudo são flores e canções

Quando eu entrei no salão nobre da AABB pela primeira vez, tocava no sistema de som “gradiente” do clube a belíssima canção “He ain’t heavy, he's my Brother”. Mas, sem entender inglês, não sabia da sua mensagem. Hoje, com a tradução disponível em videoclipes, reafirmo também a importância da sua letra: uma ode à empatia e ao compromisso fraterno. (Clique para assistir)
Essa música compõe o repertório do LP Década Explosiva Romântica (1976), que contribuiu imensamente para a divulgação de grandes melodias. Hoje, o álbum está disponível no YouTube e nas plataformas de streaming, preservando sua magia.
Aquele instante, embora aparentemente trivial, ficou marcado em mim como um momento único e inesquecível. Era a novidade de estar ali — recém-associado — misturado às emoções e descobertas da adolescência. Tudo permanece gravado como uma tatuagem que não se apaga nem envelhece. Às vezes, penso que só sei sentir… e que me faltam palavras para traduzir.
A canção diz: “Ele não é pesado, ele é meu irmão.” Interpretada originalmente pela banda The Hollies, em 1969, celebra o amor e a responsabilidade compartilhada, mesmo em estradas longas e sinuosas.
Fundada em 08 de julho de 1957 por Alberto Mário Buarque de Paiva, contador da agência local do Banco do Brasil, a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) de Santana do Ipanema nasceu como mais um clube social. O réveillon inaugural, realizado com pompa, movimentou a sociedade santanense e virou assunto na cidade. (Carvalho, 2016)
Desde então, gerações de bancários voluntários se revezaram nos cuidados e na evolução do clube em benefício de todos. O clube cresceu em número de associados e na promoção cultural e esportiva. Nos anos 1970, oferecia até uma biblioteca. No canto da sala, um piano Fritz Dobbert descansa em silêncio, aguardando mãos musicais que o desperte e reviva os tempos áureos das cantatas.
Na mesma década, Ulisses Braga (1944–2017) nos instigou a sonhar com o cinema. As sessões semanais eram um portal: minha paixão por filmes era a necessidade de mergulhar em outros mundos, entender o humano sob novas lentes, sentir o impacto das narrativas que moldam pensamentos.
Nos anos 1980, o clube brilhou nos esportes, sendo campeão estadual de futebol de salão e nos anos 1990, campeão estadual de futebol society. Nesse período, integrei a diretoria e passei por todos os cargos com dedicação.
Ainda na década de 1990 realizamos várias edições das Feiras de Arte e Cultura que reuniam apresentações musicais, palestras, exposição fotográfica, literatura e estandes de artesãos e artistas visuais. Infelizmente, elas foram interrompidas quando seus líderes mudaram de cidade por motivos profissionais.
Em 2005, a FENABB promoveu o concurso literário nacional Aconteceu na minha AABB. O então presidente, Luiz Euclides dos Santos, conquistou o terceiro lugar com a crônica “O Lugar Mais Seguro da Cidade”.
Mas — como nada é perfeito — hoje nos entristece ver o clube fechado, agonizante. O passado glorioso não paga as contas. E há a possibilidade cruel do encerramento definitivo. Luzes que se apagam… como diz a canção.
Os clubes precisam de gestão profissional: os tempos mudaram, os hábitos também. Redes sociais, telas individuais, jornadas de trabalho intensas… Tudo exige mais estratégia e motivação, algo que nem sempre os voluntários conseguem manter.
Vivemos uma era de culto ao individualismo. A degradação do pensamento coletivo e do espírito comunitário é evidente. Os gestos altruístas rarearam, e tudo o que foi construído por décadas pode ser abandonado sem hesitação, como se fosse um capricho do tempo.
O mesmo acontece com o Tênis Clube Santanense, fundado em 10/01/1953. Fechado há anos, assiste ao seu próprio declínio. Sem intervenção urgente, corre o risco de desabar. E então, eu me pergunto: O que está acontecendo com a sociedade? Onde estão os líderes que passam pela sua calçada, olham, silenciam, baixam a cabeça e seguem insensíveis?
A decadência coletiva é fruto da omissão individual. Precisamos honrar o legado de líderes que, por meio da união, trouxeram energia elétrica, estação repetidora de tevê, adutora e expansão telefônica para a cidade.
Nós não nascemos para a singularidade, mas para a pluralidade. Somos a soma dos encontros e influências ancestrais e descendentes, conhecidos e esquecidos. Somos feitos dessa gente e nossa vocação maior é para ela retornar.
Precisamos acreditar que o apoio mútuo, a solidariedade e a cooperação podem superar os maiores problemas de uma sociedade. Podemos tudo, podemos mais. E se não formos capazes de enfrentar o que vem pela frente, que a história nos sirva de recomeço e faça brotar em outros corações, onde a esperança ainda floresce.
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