Fábio Leite
O que realmente ficou da COP30? Uma visão crítica do evento em Belém
Houve quem apontasse que, na prática, a conferência trocou profundidade por espetáculo político.
Enfim acabou a COP30, e com o encerramento dessa conferência realizada em Belém é inevitável revisitar a longa trajetória das COPs, desde sua criação até os acordos que marcaram a diplomacia climática mundial. A história começa lá atrás, na Eco-92, quando nasceu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). A partir dela, os países passaram a se reunir anualmente para negociar ações conjuntas, revisar compromissos internacionais e alinhar políticas ambientais.
O objetivo das COPs foi, desde o início, criar um espaço de governança global onde governos, especialistas e organizações pudessem discutir estratégias, estabelecer metas e propor caminhos para enfrentar os desafios ambientais que se materializam de maneiras distintas em cada região do planeta.
Ao longo dessas décadas, alguns marcos se destacaram. O Protocolo de Kyoto, em 1997, foi o primeiro acordo a propor metas formais para redução de emissões em países desenvolvidos. Já o Acordo de Paris, em 2015, trouxe uma nova lógica de compromissos nacionais (as NDCs), que cada país apresenta conforme suas capacidades e prioridades internas.
Também avançaram mecanismos de financiamento, como o Fundo Verde para o Clima e debates mais recentes sobre perdas e danos, buscando oferecer suporte a regiões vulneráveis. Esses instrumentos, embora cercados de expectativas, muitas vezes enfrentam desafios práticos na implementação, no repasse dos recursos e na compatibilização entre metas globais e realidades locais.
A importância da COP para os países participantes também se manifesta na diplomacia. Para nações em desenvolvimento, é uma oportunidade de reivindicar investimentos, parcerias tecnológicas e apoio a iniciativas que envolvem biodiversidade, recursos hídricos, florestas e agricultura.
Para as maiores economias, é a chance de reforçar sua liderança e influenciar a agenda internacional. Porém, com o passar dos anos, cresceu a percepção de que parte das discussões se tornou excessivamente abstrata, distante do cotidiano das comunidades que dependem de ações práticas, e altamente permeada por interesses políticos, econômicos e institucionais.
Nesse contexto, a COP30, realizada em Belém, tinha uma oportunidade simbólica e estratégica: colocar a Amazônia no centro da atenção global. A presença da conferência no coração da maior floresta tropical do planeta chamou os olhos do mundo para debates sobre desmatamento, bioeconomia, desenvolvimento regional, segurança hídrica, povos tradicionais, matriz energética e preservação ambiental.
No entanto, ao longo do evento, não faltaram críticas. Questões logísticas, tensões com movimentos sociais, acusações de falta de representatividade, conflitos entre discursos e práticas, além da forte presença de grandes grupos econômicos influenciando os rumos do debate, acabaram dominando parte das manchetes.
Houve quem apontasse que, na prática, a conferência trocou profundidade por espetáculo político, com muitos anúncios de caráter simbólico e pouca clareza sobre mecanismos reais de implementação.
Na minha avaliação, a COP30 mostrou que existe um descompasso crescente entre o discurso oficial e a capacidade real de resolver os problemas ambientais no ritmo necessário.
Quando um evento desse porte se torna mais um palco para demonstrações de imagem do que um ambiente de decisões objetivas, surgem dúvidas legítimas sobre sua eficácia. Ao ver tantas pautas complexas sendo tratadas sob forte influência de interesses institucionais e econômicos, e ao notar que decisões práticas continuam travadas por impasses diplomáticos e disputas de narrativa, torna-se difícil enxergar a conferência como o instrumento transformador que muitos defendem.
Não se trata de desacreditar a importância do debate ambiental — ao contrário, trata-se de questionar um formato que parece cada vez mais dependente de simbolismos, enquanto as soluções concretas seguem sendo adiadas.
A COP30 terminou, mas as perguntas permanecem: até que ponto essas conferências estão realmente orientadas para resultados tangíveis? Quantas decisões avançam de fato, e quantas servem apenas para alimentar uma sensação de progresso?
Enquanto esses questionamentos não forem enfrentados com seriedade, as COPs continuarão sendo grandes palcos internacionais — importantes, mas distantes da prática e repletas de promessas que dificilmente se convertem em ação.



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