Fábio Leite

Um novo tempo para o CIGRES e para a gestão de resíduos sólidos no Sertão

O Sertão de Alagoas vive um novo tempo. Um tempo em que a gestão pública, antes marcada por carências estruturais e limitações técnicas, começa a dar passos firmes rumo à sustentabilidade e à modernização. Esse novo momento ficou evidente na última quarta-feira (08), com a realização do 1º Simpósio de Gestão de Resíduos Sólidos, promovido pelo CIGRES – Consórcio Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos do Sertão Alagoano, na sua sede em Olivença. O evento reuniu prefeitos, secretários e diretores de meio ambiente de vários municípios sertanejos, em um gesto de cooperação e de esperança.
Falar sobre resíduos sólidos é, inevitavelmente, falar sobre um dos maiores desafios da administração pública municipal. Durante décadas, o lixo foi um tema relegado a segundo plano, tratado apenas como um problema a ser descartado, e não como um elemento a ser gerido com inteligência e responsabilidade. Os lixões — abertos, irregulares e insalubres — se multiplicaram pelo país, contaminando o solo, os lençóis freáticos e degradando a dignidade humana daqueles que sobreviviam do trabalho informal da catação.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, trouxe um divisor de águas: determinou prazos para o encerramento dos lixões e criou diretrizes para a destinação ambientalmente adequada dos resíduos. Mas cumprir essa lei, especialmente nos municípios de pequeno porte, tem sido um desafio quase hercúleo. É nesse contexto que o CIGRES assume papel fundamental.
O consórcio nasceu da união de municípios sertanejos que compreenderam que agir juntos é mais eficiente e mais econômico. A gestão compartilhada permite diluir custos, otimizar recursos e alcançar soluções que seriam inviáveis de forma isolada. E o aterro sanitário de Olivença, mantido pelo CIGRES, é o coração dessa estrutura. Ele representa a superação do modelo precário dos lixões, substituindo o improviso por técnica, e o abandono por gestão.
Além disso, há um fator crucial de economicidade: a localização estratégica do aterro evita que os municípios precisem transportar seus resíduos por longas distâncias até outros aterros, o que encareceria enormemente a destinação final. Essa proximidade é um ganho logístico e financeiro que impacta diretamente nas contas públicas e reforça a importância de manter o CIGRES forte e estruturado.
É verdade que o consórcio atravessou momentos difíceis. A fiscalização dos órgãos ambientais revelou fragilidades e apontou a necessidade de adequações estruturais e operacionais no aterro. No entanto, o que se vê agora é uma gestão comprometida com a correção dessas pendências, buscando atender plenamente às exigências legais e ambientais. Esse movimento de reconstrução é um sinal de maturidade institucional — de quem reconhece os problemas e decide enfrentá-los com transparência e ação.
O 1º Simpósio de Gestão de Resíduos simboliza essa virada de página. Ao reunir lideranças municipais, o CIGRES se coloca novamente como espaço de diálogo, de formação e de planejamento. É o início de uma nova fase, em que o foco não é apenas a destinação final do lixo, mas toda a cadeia da gestão integrada dos resíduos, desde a coleta até a recuperação de materiais recicláveis e o fortalecimento da economia circular.
Muitos dos municípios consorciados já vêm implantando, ainda que de forma gradual, programas de coleta seletiva. Esse processo, embora lento, é transformador. Ele muda a cultura do descarte, valoriza o trabalho dos catadores e amplia a vida útil do aterro sanitário. A cada bairro, escola ou comunidade que passa a separar o lixo corretamente, o Sertão dá um passo adiante rumo a um futuro mais limpo e consciente.
Os desafios permanecem, é claro: é preciso investir em educação ambiental, em logística, em fiscalização e em inovação tecnológica. Mas o que se nota agora é que há vontade política e visão de futuro. A presença dos gestores municipais no simpósio demonstra que o tema deixou de ser apenas obrigação legal e passou a ser pauta estratégica de desenvolvimento.
O CIGRES, com seu aterro em Olivença, é hoje uma referência de superação e recomeço. Mais do que tratar resíduos, ele trata de dignidade, de cidadania e de sustentabilidade. É o exemplo vivo de que o Sertão pode e deve ser protagonista nas políticas ambientais de Alagoas.
Que esse novo tempo do CIGRES seja duradouro. Que o aprendizado dos erros fortaleça a caminhada. E que, pouco a pouco, possamos transformar os resíduos em oportunidades — de trabalho, de renda, de educação e, sobretudo, de respeito com o nosso território.
Parabenizo a gestão do prefeito de Olivença, Josimar Dionísio (Jó), atual Diretor-Presidente do CIGRES, pela coragem de conduzir esse processo de reconstrução com serenidade, compromisso e diálogo. Sua liderança tem sido essencial para devolver credibilidade ao consórcio e recolocar o Sertão no caminho certo da sustentabilidade.
O futuro sustentável do Sertão passa por aqui.
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