Marcelo Ricardo Almeida

UMA HIPÓTESE AO DILEMA DA EXPECTATIVA DE APRENDIZAGEM
Aprendizagem escolar ou a transição de leitores ou ambos os títulos ou nenhum deles em salas de aula hoje e amanhã de manhã sob o sol de ouro de Maceió

Não houve, porque nunca haverá, o fim de leitores. O que há é a transição de leitores. Um dia, na História, o poder da leitura favorece a exígua fatia social. Outro dia, no Norte, o poder da leitura se disseminou.
O poder da leitura, mais tarde, migrou às terras ao sul do globo terrestre. A transitoriedade está em toda a parte; ela também chegou aos leitores. É na sala de aula que surge a motivação à leitura, a multiplicação de leitores em textos processados por software. Ninguém precisa ser taxonomista das ciências em salas de aula.
A aprendizagem é lenta e gradual. O ensino é paciente.
Ao acompanhar com o aluno o conhecimento do processo de aprendizagem, e exigir dele que o classifique e saiba descrevê-lo equivale ao castigo eterno imposto ao rei, equivalente ao trabalho de Sísifo que, antes de alcançar o tarefa, ao subir o morro com a pedra na cabeça, esta volta morro abaixo.
Aprendizagem tíbia, ou nenhuma aprendizagem, deságua na exótica distorção entre a faixa etária do aluno e o ano no qual ele se encontra matriculado. Ao ejetá-lo da gestação exótica ele é catapultado e cai na classe de aceleração, o que significa sugado pela progressão automática ou engolido pela distorção idadessérie com o argumento de que ele avance no ano de estudo mesmo, às vezes sem saber ler nem escrever, analfabeto em áreas básicas do conhecimento, sem domínio da tabuada, por exemplo. E, magicamente, dos mangás, dos gibis ou das tiras migra Mandrake da ficção à realidade; agora, está reduzida a distorção entre aprendizagem e ensino.
Conhecimento é conhecer o que se desconhece. Antes desconhecido, passa a fazer parte de quem conhece e pode ser ampliado, pensado, melhorado, refletido, transformado. Salas de aula, aliás, são lugares – quando têm histórias – nos quais alunos aprendem a pensar, apreendem conteúdos científicos. Sala de aula na qual não se pensa e não se reflete, e não se pergunta sempre, não há o que se falar em conhecimento.
Tornado o conteúdo como próprio, o conteúdo sofre conceituações, definições, redefinições, abstrações de acordo com a opinião de quem introjeta algum conteúdo antes desconhecido. Por que às vezes conhecimento é impregnado de sinônimo de aprendizagem? Outro mito. Conhecimento não garante a aprendizagem.
Aprendizagem não se associa a aprender bem, o que se gosta de aprender, e não aprender o que percebe e o que há dificuldade em aprender. Aprendizagem existe quando se aprende independente das dificuldades em aprender. Aprendizagem é aprender o que não se sabe.
É contrassenso falar em aprendizagem do que se conhece, senão pleonasmo. Toda a aprendizagem precede a necessidade de sua importância. Sem querer saber, sem desejar conhecer, não se aprende e tampouco se depreende.
Existe aprendizagem para se alcançar o outro lado da ponte. Atravessar a ponte de cordas exige aprender por ser necessário atravessá-la. Chegar ao outro lado é importante, ir além dos dois precipícios. Aprendizagem, metaforicamente, é atravessar precipícios.
Para que haja aprendizagem efetiva e exitosa cabe à didática encontrar meios de tornar a aprendizagem necessária e importante.
E como na feira se canta
o cantador de embolada
vai fazendo do improviso
seu ganha-pão e morada;
e nesses versos ligeiros
em soneto improvisado:
Por que o planejamento
aos exercícios docentes?
Quando tudo é permitido;
qualquer pão já alimenta;
Ninguém ri dum Polifemo.
Usa-se tão folgadamente
nas aulas para se ensinar
uns assuntos de repente.
Improviso em aula improvisada dificulta a aprendizagem e favorece a desordem. No improviso, a sistematização presente nos conteúdos de estudo é anarquizada e os resultados da aprendizagem aleatórios quando não inférteis.
Sem esta triangulação didática – clareza, concisão, correção – em salas de aula, dificilmente a aprendizagem consegue obter êxito. Esta triangulação didática, pois, – clareza dos assuntos em aula, concisão em lugar de enxurrada de conteúdos e a maneira correta desde o exemplo simples ao complexo no método adaptável – dos conceitos de estudo é propícia, e evita fracassos no rito processual das aprendizagens, que deve ser sempre lenta e gradual.
Não é quantidade que socorre aprendizagem, porém, como se sabe e está prescrito, é qualidade. Aprendizagem está no que se estabelece de necessidade e de importância em aprender.
O caráter político da aprendizagem, e nunca apolítico, está nas possibilidades transformáveis em quem aprende e possui segurança sobre o que se aprende. Quem não possui domínio sobre a tendência pedagógica que gesta a sua própria aula, como avalia quem se propõe a aprender?
Quando avaliação se trata apenas de mais um elo na corrente da opressão em salas de aula e do autoritarismo? Avaliação identifica, melhora, avança no processo dos elementos didáticos permeados pela tendência pedagógica adotada na estrutura educacional escolar. Avaliação não pode ser óvni caído por descuido em algum lugar remoto, na Terra. Avaliação, comum às ciências econômicas, na etimologia latina (valere) com sinônimo de valor; palavra (avaliação no sentido de valorar) circula nos negócios do comércio e da indústria. Palavra temida (avaliação) na educação formal porque se apresenta como verificação, teste, prova e, às vezes, surge de surpresa em sala de aula; ela aparece exigindo além da ética à escola. Avaliação adjetiva-se para se firmar. Avaliação investigativa: quando investiga. Avaliação apoia-se em adjetivo comum na linguagem dos detetives. E no processo de avaliação hospeda o rito processual das Ciências Jurídicas nas Ciências da Educação. Avaliação comum nos diagnósticos das Ciências Médicas.
Avaliação – salas de aula: como organizá-las? – segue em sua travessia de improvisada à planejada, de momentânea à duradoura. Avaliação (avalia + ação) da aprendizagem (aprendiz + agem=do aprendiz em ação) está presente nas diversas relações de quem se propõe a aprender e de quem se propõe a ensinar. Segue-se, processualmente, o avaliar reorganizando os trabalhos. Registram-se as atividades que façam sentido a quem se propõe a aprender e a quem se propõe a ensinar. Análise dos resultados e conclusão para confirmar ou invalidar hipóteses que são feitas sobre as atividades envolvidas na escola em seu leque de currículos.
Aprendizagem é um fenômeno. Como explicar a ocorrência do fenômeno? Na escola observa-se para definir problemas de aprendizagem, problemas de ensino, problemas de avaliação. Avaliação é uma pesquisa para descobrir novas informações.
Hipótese chama hipótese. Quando uma hipótese não funciona, usa-se outra.
Cada informação tem valor no trabalho de pesquisa; hipótese é o primeiro passo. E quase todos, ou todos, têm explicações, e talvez resposta, à solução dos problemas na escola; sugere uma causa ao efeito, baseia-se em conhecimentos prévios.
Todas as hipóteses surgem em salas de aula para serem testadas. Salas de aula adotam metodologias no estudo de temáticas curriculares. O que usar até as conclusões, testando as hipóteses? Quais as questões surgidas ao testar hipóteses? E quais – como, quem, usar o que, ler o que, quando? – as bases teóricas adotadas?
A avaliação educacional não é binária como querem os que sustentam na prova a sua análise teórica de avaliação escolar. A avaliação é múltipla, pois sempre é diferente e ao mesmo tempo é transdimensional porque vai além de saber e fazer.
O que esperam os passageiros de quem dirige um ônibus, por exemplo? Que o veículo seja conduzido com segurança. Alguém embarca numa aeronave e pergunta, só depois, sobre as condições técnicas e a equipe que conduz o transporte? Quando alguém entra em um elevador teme pela segurança?
Avaliar é iluminar escuros. Ou seja, saber a respeito dos avanços ou não sob as escolhas da tendência pedagógica adotada e didática no trabalho que se propõe a ensinar a quem se propõe a aprender. Hábito comum entre pessoas que conversam sobre qualquer assunto é uma perguntar à outra: Entende? Ensinar e avaliar não se separam, na escola; toda a avaliação isolada é incompleta. Sabe? Quem constrói a casa, constrói avaliando-a. Compreende? É no caminhar que se avalia o caminho, inconsciente ou não, se avalia onde pisa, aonde vai e como, e onde se encontra.
Paradigma do dia de exames no chão de incansáveis contendas ainda opta por avaliação inflexível em lugar de avaliação dinâmica? Ensino-avaliação-aprendizagem é uma composição indissociável, porque quando se ensina se avalia e se aprende e se avalia em ações imbricadas avançando no tempo e no espaço, na escola.
Há paradigmas que se mantêm por quê? Eles não conseguem se segurar em outro paradigma. Dia de exames na escola, por exemplo, é um paradigma escolar defendido com emoções múltiplas. Quem substitui o próprio tempo ainda é o tempo?
Substituir, na escola, avaliação fragmentadora por integralizadas. Compreender ensino-avaliação-aprendizagem numa composição que não se separa porque, quando se ensina, se aprende e se avalia elipticamente.
Na escola encontra-se o individualismo? A escola é selecionadora?
Enquanto são popularizados os recursos digitais na revolução tecnológica, observe, a escola tem dificuldade na aceitação de seu tempo. A escola não aceita o seu tempo por não o compreender?
Marcello Ricardo Almeida é autor do artigo científico Expectativa de Aprendizagem Refletida no Mito de Ensino (publicado na revista Saberes Docentes em Ação).
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