Três macacos guaribas-de-mãos-ruivas são trazidos a Alagoas para reintrodução e conservação

As matas alagoanas ganharam três novos moradores nesta terça-feira (14). Com pelos ruivos e olhar curioso, os macacos-guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul), espécie símbolo da fauna nordestina, desembarcaram em território alagoano após uma operação cuidadosamente planejada pelo Programa Pró-espécies do Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL), em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/CPB), o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), o Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas (BPA/AL), o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA) e a entidade SOS Caatinga. A chegada dos animais representa uma mensagem de esperança para a conservação da vida silvestre.
Os três guaribas chegaram seguros e saudáveis e, a partir de agora, passarão a receber a atenção e os cuidados necessários em seu novo lar, localizado em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Usina Coruripe, no litoral sul do Estado, criada por meio de ação do Projeto Pró-reservas do MPAL. O local foi escolhido por abrigar um fragmento de mata nativa que oferece as condições ideais para a aclimatação e futura reintrodução desses primatas na natureza.
O Programa Pró-espécies e a atuação do MP em Alagoas
A atuação do Programa de Ação Ministerial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção em Alagoas (Pró-espécies) nessa operação reafirma a missão constitucional do Ministério Público de Alagoas de proteger o meio ambiente, promover políticas de conservação e garantir o direito das presentes e futuras gerações a um planeta equilibrado e saudável. O trabalho foi coordenado pelos promotores de Justiça Alberto Fonseca e Lavínia Fragoso, das 4ª e 5ª Promotorias de Justiça da Capital, respectivamente, que têm atuado na defesa da fauna e flora, na promoção de políticas públicas ambientais e na articulação de ações integradas entre órgãos de proteção e pesquisa. A promotora de Justiça Ilda Reis, titular da Promotoria de Murici, onde já foram vistos indivíduos da mesma espécie, também integrou a comitiva que foi buscar os animais em Pernambuco.
E essa ação faz parte de uma iniciativa maior, o Programa de Manejo Populacional para a Conservação da Espécie, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (ICMBio/CPB) desde 2001. O programa integra as diretrizes do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas do Nordeste (PAN/PRINE) e envolve instituições de todo o país comprometidas com a proteção e o manejo responsável das espécies ameaçadas.
A logística
O transporte dos animais entre Pernambuco e Alagoas envolveu uma logística detalhada, realizada de forma segura, com o acompanhamento técnico das equipes do ICMBio e apoio operacional do BPA e do IMA. Para o MPAL, que coordenou essa logística, tal integração entre instituições demonstra que a preservação da fauna é uma tarefa coletiva, que exige cooperação entre órgãos ambientais, entidades de pesquisa e o poder público. “A chegada dos guaribas simboliza um novo marco na atuação ambiental do MPAL. Cada um desses animais representa uma vitória contra a extinção. A reintrodução em Alagoas mostra que, quando ciência, política pública e compromisso ambiental caminham juntos, é possível mudar o destino de uma espécie e inspirar uma nova forma de pensar nossa relação com a natureza”, afirmou Alberto Fonseca.
Um elo entre ciência e órgãos de proteção
De acordo com Mônica Montenegro, analista ambiental do ICMBio e coordenadora do Plano de Ação Nacional dos Primatas do Nordeste, as duas fêmeas de vida livre resgatadas em situação de risco na Paraíba e o macho nascido no Zoológico do Parque Estadual Dois Irmãos, em Pernambuco, formam o primeiro trio de guaribas a ser reintroduzido em Alagoas. “Antes de voltarem completamente à vida livre, os animais permanecerão em um recinto de aclimatação, em Coruripe, onde serão observados por especialistas em comportamento e adaptação ambiental. Esse processo é essencial para que o grupo desenvolva as habilidades necessárias para sobreviver e se reproduzir em ambiente natural, fortalecendo, assim, a população da espécie no Estado”, detalhou.
Para a bióloga do Zoológico do Parque Estadual Dois Irmãos, Juliane Silva, que também acompanha todo esse processo desde o princípio, o momento é histórico. “A primeira aparição dessa espécie data de 1648, ainda na época de Maurício de Nassau. Hoje, os guaribas-de-mãos-ruivas estão vulneráveis devido à caça e à fragmentação do habitat. Essa reintrodução é mais que um ato técnico, é uma iniciativa de compromisso com o futuro. É a chance de garantir que esses animais continuem existindo, equilibrando ecossistemas e contando sua própria história nas florestas do Nordeste”, explicou ela.
“As florestas de Alagoas voltarão a ter voz”
Esse mesmo sentimento de celebração tomou conta da equipe da Usina Coruripe, local que abriga a reserva onde os guaribas vão viver e se adaptar ao novo ambiente. Para Bertholdino Teixeira, gerente de Sustentabilidade da empresa, o momento tem um simbolismo especial para o Estado. “Para a gente é um dia histórico, um dia extremamente importante porque estamos retornando com esses animais às florestas de Alagoas. A gente sempre brinca que as florestas silenciaram, e agora, com a vinda deles, essas matas vão ter voz novamente com o belo canto dos guaribas. Estamos felizes e empolgados em fazer parte desse acontecimento”, declarou.
Novos moradores, nova esperança
Com a chegada dos guaribas-de-mãos-ruivas à RPPN da Usina Coruripe, Alagoas se torna parte de um esforço nacional pela conservação de primatas ameaçados. Os três indivíduos inauguram uma nova fase do projeto, que visa formar uma população estável e autossustentável no Estado, contribuindo para o equilíbrio ecológico e o fortalecimento da biodiversidade nordestina.
“Os guaribas terão um novo lar, uma nova chance de perpetuação da sua espécie e uma nova história para contar, uma história construída com ciência e responsabilidade ambiental. E o Ministério Público de Alagoas seguirá nessa missão de preservação de ecossistemas, lado a lado com a natureza, reafirmando seu papel de guardião do meio ambiente e defensor incansável de todas as formas de vida”, afirmou Lavínia Fragoso.
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