Curta alagoano “O Mapa em que Estão os Meus Pés” é selecionado em Gramado
Com incentivo do Governo de Alagoas, obra de estreia do diretor Luciano Pedro Jr. está entre os 12 curtas escolhidos entre mais de mil inscritos no prestigiado festival

O curta-metragem alagoano “O Mapa em que Estão os Meus Pés”, dirigido por Luciano Pedro Jr., fará sua estreia mundial no 53º Festival de Cinema de Gramado, que acontece entre 13 e 23 de agosto de 2025, na serra gaúcha. Produzido pela La Ursa Cinematográfica, em coprodução com a Fumaça Azul Neon, o filme é uma das 12 obras selecionadas entre mais de mil curtas inscritos em todo o Brasil para a competição.
Para Luciano Pedro Jr., diretor estreante, a seleção representa um sonho realizado. “É de fato acreditar que estamos num lugar de honra e de acreditar que esse filme tem algo muito especial, e que precisa de uma grande janela de cinema para ser exibido ao público. Só tenho a agradecer à curadoria por abraçar o filme e ter dado essa possibilidade de a gente nascer da melhor forma possível”, declarou.
“O Mapa em que Estão os Meus Pés” foi inteiramente rodado em película Super-8, com filmagens nas cidades de Barra de Santo Antônio, Porto de Pedras e Maceió, no litoral alagoano. A escolha pela bitola, segundo o diretor, se deu pela sua relação com a fotografia analógica. Luciano também é responsável pela direção de fotografia do filme.
No elenco, conta com a atuação do ator Igor de Araújo, que dá voz ao protagonista Sebastião. A direção de produção é de Rafhael Barbosa, com produção assinada por Renata Czarny e pelo próprio diretor. A equipe ainda inclui Albert Victor Damasceno na assistência de produção, Jasmelino de Paiva na assistência de direção, e Gabriela Araújo na direção de arte, com assistência de Lucas Cardoso. A captação de som é de Leo Bulhões, com mixagem e desenho de som de Lucas Coelho, e montagem e edição de som de Matheus Farias. A correção de cor ficou por conta de Octávio Lemos.
Inspiração pessoal
O enredo do curta resgata uma história improvável vivida por Sebastião, bisavô de Luciano, um pescador e agricultor que passou a vida inteira numa vila de pescadores em Porto de Pedras. Lá ele formou família com sua esposa Edna e mais de 10 filhos. No filme, Sebastião é interpretado pelo ator alagoano Igor de Araújo (“O Agente Secreto”), responsável pela voz que conduz a narrativa.
Segundo o diretor, o coração de Sebastião sempre permaneceu conectado com o lugar onde ele nasceu. “Ele sempre quis voltar lá. Então, com 84 anos, ele sumiu por seis dias. Procuramos ele em todos os lugares possíveis, inclusive na cidade natal dele, mas não o achamos. No sexto dia, à noite, lembro até hoje, depois de uma reza na casa de minha avó, recebemos a ligação informando que ele tinha sido achado por um grupo de crianças. Ele tinha sido achado lá, no lugar que ele sempre se sentiu pertencente. Sempre perguntávamos como ele havia feito esse trajeto de 127km, e ele sempre ria e desconversava”, relata Luciano.
Sebastião acabou falecendo três meses e sete dias depois, e morreu com esse segredo guardado. “Ficou uma lacuna na história da minha família. Cada pessoa tinha sua versão. Eu cresci pensando qual seria a minha possibilidade dessa história, quando pensei que tinha algo a criar através disso, comecei a roteirizar, e aí decidi fazer um filme sobre, principalmente porque achei lindo o fato de um senhor da idade dele perseguir o próprio desejo do coração de retornar ao seu lugar de origem, ao seu lugar no mundo”, diz ele.
A primavera do cinema alagoano
A participação em Gramado também evidencia o momento de visibilidade do cinema alagoano, reconhecido pela crítica como uma das cenas mais expressivas do audiovisual brasileiro contemporâneo.
“Apenas no último ano tivemos projetos alagoanos no Festival de Cannes, no Festival de Tiradentes, no Olhar de Cinema, no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro, no Cine PE, no Cine Ceará, no Curta Cinema, no Kinoforum, entre muitos outros. Nossa produção tem marcado presença e garantido prêmios nas principais janelas do mercado nacional e internacional. Isso é reflexo dos editais e políticas de fomento que mudaram a realidade do nosso setor nos últimos anos. Atualmente Alagoas possui 19 longa-metragens, 3 séries, 9 telefilmes e mais de 100 curtas-metragens em produção”, celebra o produtor Rafhael Barbosa.
“O Mapa em que Estão os Meus Pés” foi realizado com recursos do Prêmio Pedro da Rocha, do Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) e também contou com recursos da Lei Paulo Gustavo, através de edital lançado pela Secult, para sua finalização. O filme também conta com o apoio da prefeitura de Barro de Santo Antônio e da prefeitura de Porto de Pedras.
“O sucesso do curta reforça como os investimentos públicos em cultura são fundamentais para revelar talentos, preservar memórias e ampliar o alcance da produção artística alagoana. Quando o Estado garante políticas de fomento estruturantes, como os editais da Secult e a aplicação efetiva da Leis, como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc, estamos não apenas financiando filmes, mas construindo pontes entre as histórias locais e os grandes palcos do cinema nacional e internacional. É uma conquista coletiva, que reafirma o lugar de Alagoas no mapa do audiovisual brasileiro contemporâneo”, disse a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas.
Sobre o diretor
Luciano Pedro Jr. é um ator, diretor e roteirista alagoano, de 27 anos, que se formou em Teatro pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem trabalhado no audiovisual há 6 anos, atuando e colaborando com cineastas como Renata Pinheiro, Caio Dornelas, Rafhael Barbosa, Ulisses Arthur, Pedro Severien, Cacá Diegues, Marcelo Lordello, entre outros. Agora, roteirizando e dirigindo, prepara-se para estreia em Gramado do seu primeiro curta “O Mapa em que Estão os Meus Pés” e também para a distribuição em festivais do seu outro curta “Brincadeira de Criança”. No momento, o diretor alagoano encontra-se roteirizando seu próximo trabalho, o curta “Meu lado esquerdo”, uma animação sobre uma mulher que teve AVC e seu processo de recuperação.
Sobre a produtora
Criada em 2015 pelos realizadores alagoanos Rafhael Barbosa e Felipe Guimarães, a La Ursa Cinematográfica vem ampliando sua atuação nos últimos anos, desbravando caminhos junto com o movimento do cinema alagoano contemporâneo. Além da produção de curtas-metragens premiados internacionalmente, festivais e atividades formativas, atualmente a produtora realiza três longas-metragens em produção, além de projetos em desenvolvimento. O longa-metragem desenvolvimento “Filhas do Mangue”, de Stella Carneiro, foi selecionado pelo programa Factory no 78º Festival de Cannes em 2025.
Entre os principais lançamentos está o curta-metragem “A Barca”, de Nilton Resende. A produção inspirada na obra da escritora Lygia Fagundes Telles participou de mais de 100 festivais em 20 países, entre eles a Mostra de Tiradentes e Festival de Havana, além de ser um dos finalistas do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. A Barca venceu 39 prêmios, e foi licenciado para o Canal Brasil e para a plataforma Itaú Cultural Play.
Em 2021, a La Ursa lançou o documentário “Cavalo”, seu primeiro longa-metragem, no circuito de cinemas, em parceria com a Descoloniza Filmes. Mesmo diante do período pandêmico, o lançamento teve uma boa repercussão junto ao público e imprensa especializada, estreando em 25 salas das principais capitais brasileiras. O filme teve lançamento simultâneo nas plataformas digitais e foi licenciado para o Canal Brasil.
Os projetos da La Ursa atualmente em produção são os longas de ficção “Olhe para Mim” (em finalização) e a animação “Utopia” (em produção), ambos dirigidos por Rafhael Barbosa; “Ed. Lygia” (em pré-produção), de Nilton Resende, além de “Filhas do Mangue”, de Stella Carneiro.
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