Versos selvagens

16 mar 2012 - 07:21

Por cima dos tocos, na base de outeiros,

Os versos matutos trajando gibões,

Rompem o mato, a urtiga, os pés de pinhões,

Facheiros, favelas, belos marmeleiros;

Guindastes de troncos, folhas de pereiros,

Pedaços de serras, clarões de luar,

Cheiro de imburana, mormaço do ar,

Riachos de areia, colinas sedosas,

Coroas-de-frade, perfumes de rosas,

Marchando garbosos pra beira do mar.

Lá se vão às estrofes, rolando enxurradas,

Bebendo em barreiros, andando em cercados,

Beijando as encostas, deitando nos prados,

Correndo os serrotes, varrendo as estradas;

Tangendo as abelhas, dormindo em latadas,

Soprando a jurema para balançar

Os galhos mais finos que ficam a chorar,

No orvalho sadio, nas tardes dengosas

Nos seios da noite, ó morenas formosas

Quem me dera ir com elas, pra beira do mar.

Os versos arribam nas cores da aurora,

Na furna esquisita onde mora a pintada,

Desenham montanhas, cortejam a chuvada,

Rompendo a caatinga, escrevem na tora;

Soluçam nas grimpas, tangem a sericora,

Limpando terreiros nesse colear;

Abraça os velames, resvalam no par

De aves que dormem na palha do ninho,

Cortejam as corolas vermelhas e vinho

Que mandam perfume pra beira do mar.

Eu monto nos versos que vão disparados

Nas asas dos ventos que invertem papéis,

Ligeiros, correndo, fazendo viés,

Suspiros de amor, beijos sossegados;

Pelos horizontes, tão longe, azulados,

Queixumes profundos, poetas em fráguas,

Por sobre o destino, repleto de máguas,

Despejam tudinho na beira do Mar.

· Do livro inédito: “Colibris do Camoxinga; Poesia Selvagem”.

Notícias Relacionadas:

Comentários