Título Mundial na Suécia completa 55 anos

29 jun 2013 - 13:16


Neste sábado, dia 29 de junho, o primeiro título mundial do Brasil completa 55 anos.

Campeonato Mundial de Futebol de 1958 na Suécia

Seleção brasileira de 1958 (foto: Agência Estado)

Para que o caneco viesse, foram fundamentais os dribles de Garrincha, os gols de Pelé e Vavá e a raça de Zagalo. O título representou mais do que uma conquista futebolística, mas ajudou na criação de uma também ajudou a criar uma identidade nacional, como mostram as crônicas do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues.

Antes da Copa do Mundo, o Brasil ainda carregava as chagas de duas derrotas traumáticas: a perda do Mundial de 1950, no Maracanã, diante do Uruguai, e a da Copa de 1954, diante da Hungria, nas quartas de final.

Nelson Rodrigues via esses revezes como derrotas emocionais. “Para nós, o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas puramente emocionais. (…) só um Freud a derrota do Brasil frente à Hungria, do Brasil frente ao Uruguai, e, em suma, qualquer derrota do homem brasileiro no futebol ou fora dele”, escreveu Nelson ao Manchete Esportiva em 7 de abril de 1956.

Nelson era um nacionalista convicto e achava que o Brasil ainda não havia vencido uma Copa do Mundo por uma combinação de excesso de humildade, mansuetude e por não acreditar em seu potencial. “Qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir aqui ao que poderia chamar de ‘complexo de vira-latas’. Por complexo de ‘vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”, escreveu Nelson, em sua crônica ao Manchete esportiva no dia 31 de maio de 1958.

Segundo Fátima Antunes, socióloga da USP, pesquisadora ligada ao LUDENS (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas, entidade que congrega pesquisadores de diversas universidades e áreas) e autora do livro “Com brasileiro não há quem possa – futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues”, Nelson tinha muita fé no Brasil: “Ele (Nelson) achava que o Brasil tinha potencial não apenas no futebol, mas em todas as áreas. E achava que o país chegaria ao triunfo e ao desenvolvimento por vias próprias – e não copiando o estilo de outros países”, explica a pesquisadora .

E isso finalmente aconteceu em 1958, ano no qual duas figuras foram muito importantes: Pelé e Garrincha. Este, de acordo com Fátima, aparecia nas crônicas de Nelson Rodrigues como um reflexo do homem brasileiro, feio, torto, mestiço, mas acima de tudo genial, com uma capacidade de improviso sem par. Já Pelé, então com 17 anos, já era um monarca para o dramaturgo. “E Pelé leva uma vantagem sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem enxota, como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”, escreveu Nelson ao mesmo jornal, em 8 de março de 1958.

Com as grandes exibições dos dois, a taça foi parar em terras brasileiras. Para Nelson, uma conquista que ultrapassava o campo e que era capaz de afirmar o orgulho da nação brasileira nos cidadãos. “O brasileiro tem de si mesmo uma nova imagem ; ele já se vê na sua generosa totalidade de suas imensas virtudes pessoais e humanas. Vejam como tudo mudou. A vitória passará a influir em nossas relações com o mundo”, escreveu ele ao periódico supracitado em 12 de julho. E mudou mesmo.

Ansa Brasil

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