Sobre Diógenes Pereira

Diógenes Rodrigues Pereira é Psicólogo Clínico, Terapeuta Cognitivo Comportamental, Especialista em Avaliação Psicológica, Palestrante, Consultor Pessoal e Organizacional. Formado pelo Centro Universitário Cesmac (Maceió).


Por que os artistas se suicidam?

28 abril 2019


Foto: Лечение Наркомании / Pixabay

O suicídio e suas consequências é um dos temas mais comentados atualidade, principalmente pelo fato ser causa de morte de pessoas comuns, assim como de figuras públicas (famosas), e vem se tornado cada vez mais visível nas mídias sócias e nas paginas jornalísticas.

No cenário mundial, o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte na faixa etária entre 15 e 19 anos, com gráficos ainda mais elevados em alguns países. A cada 40 segundos uma pessoa tira sua própria vida em algum lugar do mundo, chegando aproximadamente a 1 milhão de mortes por ano.

Para que esse número de pessoas tenha conseguido se suicidar, estima-se que mais de 10 milhões tenham tentado em todo o planeta.  No Brasil, cerca de 32 pessoas morrem por dia vítimas de suicídio. Segundo pesquisa realizada pela Unicamp, 17% dos Brasileiros em algum momento, pensaram seriamente em pôr um fim em sua própria vida. E desses, cerca de 5% elaboraram um plano para isso.

De cada suicídio, de 6 a 10 outras pessoas são diretamente impactadas, sofrendo sérias sequelas difíceis de serem reparadas. No Brasil é em média de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, sendo abaixo da média mundial que é de 13 a 14 mortes por 100 mil pessoas.

O que mais preocupa é que, enquanto a média mundial permanece estável, no Brasil esse número tem crescido nos últimos anos, principalmente entre os jovens, aja vista as estatísticas mostram que pessoas de todas as idades e classes sociais comentem suicídio.

O maior número de tentativas está entre as mulheres, muito embora os homens morram mais por suicídio, isso é devido aos homens utilizarem métodos mais eficazes nas estratégias de suicídio.

Ter pensamentos suicidas uma vez ou outra é natural no ser humano. Eles são parte do processo de desenvolvimento normal da passagem da infância para a adolescência, à medida que se lida com problemas existenciais no processo de compreensão da vida, da morte e do significado de existir no convívio social.  

Os pensamentos suicidas se tornam anormais quando a realização desses pensamentos parece ser a única solução dos problemas da criança ou adolescente. A partir daí surge um alto risco de tentativa de suicídio.

O suicídio foi e continua sendo um TABU entre a maioria das pessoas. O assunto é proibido de ser conversado em alguns ambientes por violar várias crenças religiosas. O preconceito também se sustenta por que muitas pessoas culturalmente veem o suicida como uma pessoa fracassada, ou como alguém com falta de “Deus” no coração. Historicamente, nós seres humanos não somos preparados para falar sobre MORTE. Com isso, o assunto é sempre evitado, causando desconforto e mal-estar social sempre que vem à tona.

Assim como acontecia com outros temas nas décadas passadas, por exemplo, com as doenças sexualmente transmissíveis ou câncer, a prevenção passou a surtir efeito quando as pessoas passaram a conhecer os impactos da doença, saber as principais causas, e claro, souberam como prevenir.

Com o suicídio só vai funcionar se houver divulgação e campanhas com instruções de prevenção. Nós seres humanos devemos ser menos egoístas, pois em muitas situações não nos atentamos para o perigo quando o acontecimento é com o vizinho, e achamos que nunca acontecerá em nossa família. Não espere acontecer com sua família para se prevenir, contribua na divulgação, busque conhecer os fatores do suicídio.

Recentemente vários casos de suicídio entre crianças e adolescentes ganharam destaque em todo o mundo, o famoso jogo “Baleia Azul” e outros com a mesma finalidade, promovidos nas mídias sociais vitimaram inúmeros jovens, escancarando a fragilidade e a vulnerabilidade emocional dessa faixa etária.

Os pais precisam ser mais atenciosos e afetuosos com os filhos, para que a relação familiar não se torne vazia, sendo terceirizada pelos equipamentos tecnológicos.  

Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para ofertar ajuda seja ela voluntária ou profissional. No Brasil o CVV – Centro de Valorização da Vida – atua nesse sentido a mais de 50 anos. E faz atendimento via ligação telefônica pelo número (188) com atendimento 24h. São pessoas preparadas para ouvir e dá um apoio emocional no momento de conflito psicológico.

Quem está com ideações suicidas apresenta vários sinais de que não está bem. Na atualidade essas pistas ficam visíveis também nas redes sociais com as postagens “indiretas” tipo: Frases de desistência, como se a vida não tivesse mais sentido.

  • Só trago problemas
  • Sou um perdedor
  • Eu preferia morrer
  • Minha vida não tem sentido
  • Quero dormir e não acordar mais
  • Ninguém vai sentir minha falta
  • Não encontro saída para meus problemas

Em muitos casos ocorrem mudança repentina no desempenho das atividades, falta de interesse, isolamento, consumo de álcool e outras drogas, fragilidade emocional. Podendo ter alguns agravantes em pessoas que tenham históricos de tentativas anteriores, casos de suicídio e/ou quadros depressivos na família. São os chamados quatro “DÊS”: Depressão, desespero, desesperança e desamparo.

Tentativas de Suicídio que deram entrada com vida no HGE

Essa tabela mostra quantas pessoas deram entrada no HGE após tentativa de suicídio, vale lembrar que não estão nessa tabela, os que de fato conseguiram tirar a sua própria vida; os que deram entrada em outras unidades de atendimento; os que não procuraram atendimento. Fica claro que o problema suicídio é muito maior do que as estatísticas mostram, muitos casos nunca são divulgados.

O primeiro passo para prevenir é conscientizar a população sobre o suicídio, ao identificar alguém com indícios e comportamentos suicidas, o ideal é estabelecer uma comunicação de confiança com a pessoa que está em sofrimento psíquico, que na maioria das vezes só precisa ser ouvido.

Uma pessoa com pensamento suicida busca por ajuda e na falta de apoio, de atenção, de oportunidade de ser ouvido a tentativa de suicídio acontece. É necessário deixar claro os acessos de apoio que a pessoa tem disponível a ela.

Ao abordar alguém com características suicidas, não se preocupe em dar conselhos e opiniões, não rotule seus atos, não existe palavra mágica para mudar a dor que ele sente. Apenas transmita segurança mostrando que quer ajudar, se a pessoas se sentir confiante com seu apoio, ela vai externalizar o que a incomoda e a você apenas se permita ouvir sem preconceitos.

Os serviços gratuitos de apoio que vão desde números telefônicos como o 188 do CVV – Centro de Valorização da Vida, que as pessoas podem ligar em crises emergenciais, ou mesmo buscar centros de atendimento psicológico presencial, com profissionais especializados que estão à disposição para o acolhimento. Eles precisam saber que não estão sozinhos.

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