Sucateamento da educação em Alagoas

05 nov 2012 - 19:51


Desde 2005 não é realizado um concurso público para preencher as vagas na educação(Foto: Emanuelle Vanderlei/Sinteal)

Desde 2005 não é realizado um concurso público para preencher a carência na rede pública de ensino no estado; os problemas se agravam com a falta de mão de obra para o serviço de apoio

“Não sou apenas professor, tenho que ser psicólogo, serviçal, fazer a merenda dos alunos e até o banheiro da escola já limpei”. Essa é a realidade diária do professor de matemática Luciano Pedro, que há 12 anos enfrenta essa lida na rede estadual de ensino público em Alagoas. Segundo ele, o desvio de função se dá pela falta de servidores para os serviços de apoio. “É preciso fazer um trabalho pedagógico com os estudantes, tipo mutirão, se não ficaremos no lixo. Essa é a realidade que o sistema nos oferece e ainda temos que aceitar calados, caso contrário podemos sofrer perseguições por parte da Secretaria de Educação”, desabafa.

Luciano leciona na Escola Estadual Nossa Senhora da Apresentação, no município de Porto Calvo, a 98 km de Maceió (AL). A unidade de ensino não enfrenta apenas o problema da falta de mão de obra para o serviço de apoio – vigia, limpeza, merendeira – e administrativo, mas também a falta de professores que vêm sendo substituídos por monitores. Desde 2005 não é realizado um concurso público para preencher a carência que assola a rede de ensino em todo o estado. “Tem disciplinas que os alunos só têm no meio do ano, isso os desmotiva bastante e muitos deixam de se inscreverem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por não se sentirem preparados a concorrer com os alunos de escolas particulares”, avalia o professor, relatando que às vezes se sente impotente na sala de aula.

Em todo o estado, são dezenas de unidade de ensino espalhadas nos mais diversos municípios e povoados, que além de enfrentar problemas na estrutura física – mesmo após o decreto emergencial do governo que reformou 163 escolas, deixando mais de 10 mil alunos prejudicados – também enfrenta um processo de privatização dos servidores. Neste imbróglio, a Secretaria de Estado da Educação e Esportes prefere nominar com terceirização dos serviços administrativos e de apoio.     

Privatização

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal), o processo de privatização da educação começou pelos vigias das escolas. “Fica clara a intenção do governo de terceirizar toda a rede estadual de ensino”, destacou a professora Maria Consuelo Correa, presidenta do sindicato. “Começou pelos vigias das escolas, onde já temos um bom número atuando nas unidades, à noite, muitos deles armados, que estão em contato direto com jovens, adultos e familiares”, proferiu indignada a professora. Ela destaca ainda que “o governo já sinalizou que no concurso na área da educação, que está previsto não sabemos para quando, que não abrirá vaga para os cargos de vigia, merendeira, limpeza e administrativo. Substituindo o servidor público que aos poucos vai se aposentando, por prestadores de serviço de empresas privadas”.

Nossa reportagem teve acesso a um áudio de reunião do secretário de Educação Adriano Soares com os diretores das unidades de ensino. Nele, o secretário defende a terceirização dos vigias e destaca que será realizado um concurso, mas que tem suas dúvidas se contemplará todos os cargos administrativos e de apoio. “Tem alguns cargos que me parece extremamente problemático até para vocês diretores. Um deles é o de vigia. A relação do gestor é horrível e alguns de vocês são até ameaçados. Vocês querem colocar um vigia para trabalhar durante o dia, ele vai lá com um revólver nos quartos e diz que só quer ir à noite”, disse Soares aos diretores. “Funções assim estamos estudando a terceirização. Se algo não tá funcionando, se é estatutário ele olha para você dá de ombro e tá nem aí, mas terceirizado não. Então eu queria pedir a vocês esse apoio. A terceirização em alguns cargos é fundamental para a vida de uma escola”, continuou.

Não apenas os cargos de apoio e administrativo vêm sofrendo um processo de terceirização. Segundo Consuelo Correa, do Sinteal, a função de professor da rede estadual também está ameaçada. “Hoje o Estado adotou a política de colocar monitores em substituição aos profissionais. E conforme o professor vai se aposentando os monitores, que não têm o mesmo compromisso que um concursado, vão ocupando a vaga que deveria ser de um professor”, destaca. Segundo informações do sindicato – colhidas junto à Secretaria de Educação – aproximadamente 2.200 monitores estão lecionando no Estado.

“O governo joga sujo com a classe trabalhadora e coloca o sindicato contra os trabalhadores”, advertiu a sindicalista. “O senhor secretário diz em alto e bom som que defende a terceirização para os secretários de escola, iludindo os companheiros diretores contra o sindicato”, argumenta.

Nossa reportagem procurou a assessoria de comunicação da Secretaria de Educação para comentar as críticas, mas no decorrer de uma semana não se pronunciou.

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Railton Teixeira – Maceió (AL) – Correio do Brasil

 

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