Pesquisadores da Uneal descobrem alimentação animal alternativa no Sertão

25 jul 2015 - 06:00


Preservar as áreas de Caatinga da região também é um dos propósitos do estudo.

Pesquisador José Crisólogo explicou que, até o momento, já foram descobertas plantas com 14% a 28% de proteína bruta (Foto: Arquivo Pessoal)

Pesquisador José Crisólogo explicou que, até o momento, já foram descobertas plantas com 14% a 28% de proteína bruta (Foto: Arquivo Pessoal)

Buscar alternativas economicamente viáveis para a alimentação animal e ainda preservar o meio ambiente do Semiárido. Estas são as principais preocupações de uma pesquisa coordenada pelo professor da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), José Crisólogo de Sales Silva, no Sertão alagoano.

Com foco na bromatologia, que estuda as propriedades nutricionais das plantas para vários fins, o docente tem realizado diversos trabalhos no Campus II da Uneal, em Santana do Ipanema, com o auxílio de estudantes das graduações. O projeto atual estuda o consumo de plantas típicas da Caatinga, ou adaptadas, com potencial para suprir as necessidades alimentares dos animais.

José Crisólogo explicou que, até o momento, já foram descobertas plantas com 14% a 28% de proteína bruta, como a caatingueira, a jurema preta, a mororó, a malva branca e a otrapiá. Isso significa que elas possuem alto potencial nutritivo para os animais que costumam ser alimentados com milho, cereal que possui apenas 9% de proteína, e é importado de outros estados do Brasil.

Os estudantes Alex Romualdo Gomes de Oliveira, do curso de Zootecnia, e Danívia Maria Ferreira de Moura, de Ciências Biológicas, são bolsistas de iniciação científica no projeto. Eles relatam como é a rotina de trabalho e a satisfação de poder levar a teoria vista em sala de aula para o campo, trocando conhecimentos com os produtores rurais. “Saímos às seis horas da manhã para o campo, onde fotografamos e colhemos as plantas para serem analisadas”, explicou Alex Romualdo.

O material, coletado nas duas fazendas acompanhadas pelos pesquisadores, em São José da Tapera e Santana do Ipanema, já foi analisado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação do pesquisador Adibe Luiz Abdalla; e no Laboratório de Nutrição Animal, no Campus Areia da Universidade Federal da Paraíba, com o pesquisador Ariosvaldo Nunes de Medeiros. “Ficamos 30 dias na USP onde fomos recebidos por uma equipe que nos auxiliou nas análises do material”, lembrou o estudante.

O produtor rural, Elpídio de Oliveira, que cursou Zootecnia na Universidade, é um dos agricultores que cede a propriedade, em Santana do Ipanema, para que os pesquisadores possam observar os hábitos alimentares dos caprinos. “É quase uma extensão da Universidade”, afirmou o agricultor.

Para ele, é uma vantagem ter esse contato com a pesquisa científica. “É interessante porque a gente passa ter conhecimento de quais plantas o animal consome. Por exemplo, as cabras comem velame, uma espécie de planta daninha. Não porque estão sem alimento, mas porque tem disponível em um período de tempo”, destacou Elpídio de Oliveira.

O professor José Crisólogo frisou, ainda, que as pesquisas também visam reduzir o desmatamento da Caatinga na região. “Nossa proposta é mostrar para os agricultores que eles podem utilizar as plantas do bioma, que possuem valor nutricional maior ou equivalente aos que eles compram fora do Estado, e, com isso, incentivar a preservação da Caatinga”, disse.

Socializando o conhecimento

As descobertas da pesquisa serão compartilhadas com os produtores rurais em oficinas e cursos, coordenados pelo professor José Crisólogo Sales. Além disso, já foi publicado um livro com resultados parciais dos estudos e será confeccionada uma cartilha para mostrar aos agricultores as possibilidades de alimentar os animais com as plantas do Semiárido, sem custos adicionais, de acordo com a aparição ao longo do ano, como trabalho de extensão da Uneal na região. 

Por Clau Soares / Agência Alagoas

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