Pesquisa do Ifal Arapiraca aborda riscos de choques e incêndios por falhas na rede Artigo referente ao trabalho foi publicado em livro que reúne experiências de pesquisadores para solucionar problemas cotidianos por meio da educação.

14 nov 2020 - 12:30


Foto: Assessoria

Alagoas é o estado do Nordeste que mais registrou incêndios por sobrecarga elétrica em 2019, de acordo com a Associação Brasileira Contra os Perigos da Eletricidade. Foram 40 casos, número considerado o sexto maior do Brasil. Além disso, 18 pessoas morreram por choques elétricos. Entre as causas, está a falta de informação sobre os riscos que a eletricidade oferece. A constatação foi feita por um projeto de Pesquisa e Extensão desenvolvido no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Arapiraca.

O trabalho do professor Augusto de Oliveira e da estudante Ana Beatriz Catonio de Vasconcelos começou a ser desenvolvido em 2017. O assunto dado em sala de aula no curso técnico de Eletroeletrônica motivou questionamentos e uma pesquisa, que foi feita em cerca de 70 casas de seis comunidades da zona rural de Arapiraca.

Foram encontradas instalações antigas, com fios aparentes, sem aterramento, sobrecarga nas tomadas, além de outras irregularidades. Muitos moradores relataram que já tinham sofrido choques elétricos em casa.

“Mas por que existem tais estatísticas em relação ao estado alagoano? A resposta é histórica: A questão da eletrificação no Brasil é algo de natureza social. A eletricidade chegou primeiro à área urbana (e nos grandes centros urbanos do país, localizados no Sul e no Sudeste) e só após muitas décadas ela foi levada ao Nordeste e às áreas rurais pelo Governo Federal, levando também a capacidade de aumentar a produtividade de propriedades agrícolas e de melhorar a qualidade de vida de quem é morador rural. A partir desse momento, a eletricidade torna-se um meio facilitador da vida do homem rural, mas desde cedo ela foi usada de maneira errada, sem muito cuidado ou preocupação, o que persiste até hoje: é comum o seu uso de forma incorreta, principalmente nas residências, nas quais são elaboradas instalações feitas sem consultas à concessionária de distribuição elétrica do estado e por pessoas não especializadas na área, que não têm conhecimento sobre as necessárias medidas de proteção”, afirmam os pesquisadores no projeto.

Após esse levantamento, informações sobre os riscos de acidentes de origem elétrica foram divulgadas para as comunidades e foram selecionadas residências em estado mais crítico. Em oito delas foram realizadas ações para corrigir os problemas das instalações elétricas e dar mais segurança aos moradores.

Foto: Assessoria

Artigo publicado

Um artigo contando todo o trabalho realizado foi publicado recentemente no livro “A Educação enquanto Fenômeno Social: Política, Economia, Ciência e Cultura 3”, do organizador Américo Junior Nunes da Silva. A obra reúne discussões de pesquisadores de todo o Brasil sobre a prática docente e novos olhares para problemas cotidianos que os mobilizam. São 25 artigos reunidos, que podem ser acessados em sua integridade pelo site.

“Após o projeto ser construído com conteúdos vistos em sala de aula, ter passado um ano sendo desenvolvido como projeto de Pesquisa, ter participado do Connepi [Congresso Norte e Nordeste de Pesquisa e Inovação], ganhado premiação em mostra científica com credencial para ir para Londres (infelizmente não fomos por motivos financeiros) e ter passado mais um ano em desenvolvimento como uma ação de Extensão na modalidade Propeq, tenho orgulho em divulgar o resultado de todo nosso esforço, a publicação do nosso artigo. A indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão é totalmente viável”, comemora o professor Augusto de Oliveira.

Para Ana Beatriz, que hoje cursa a graduação e de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas, a experiência foi importante para a vida acadêmica, mas também por dar a ela conhecimentos que não se resumem à sala de aula. “O projeto começou como uma pesquisa, como curiosidade sobre as instalações elétricas nas comunidades rurais que eu conheço. A modalidade de Pesquisa com certeza me ajudou a amadurecer nas situações da vida acadêmica, como aprender a escrever artigos, aplicar a metodologia, entre outras coisas, até porque era tudo ainda muito novo para mim. A modalidade de Extensão veio trazer uma nova fase para o projeto, com mais desafios e estes muito gratificantes porque nós teríamos que mudar a situação social de algumas daquelas pessoas. Na Pesquisa nós procuramos soluções, na Extensão nós fazemos as soluções. E isso traz muita paz quando vemos o resultado final, mesmo que não seja da forma que pensamos no início”.

O trabalho dos pesquisadores mostra que a situação elétrica das residências ainda é um assunto que precisa ser amplamente debatido pela sociedade, como medida de prevenção a acidentes. “Não só nesse estado, mas em todos os lugares do país há residências com instalações precárias, que não têm atenção como deveriam ter e que, por causa disso, todos os anos causam mortes devido a pequenos erros que poderiam ser facilmente resolvidos”, concluem.

Por Assessoria

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