Esta é uma medida extrema adotada pelos pecuaristas que já perderam boa parte do rebanho na seca mais severa dos últimos anos.
A seca está produzindo uma situação inédita no sertão de Alagoas. Uma espécie de invasão de agricultores pernambucanos. O porquê está na reportagem de Beatriz Castro e San Costa.
Os caminhões partem em comboio pelas estradas de terra. Esta é uma medida extrema adotada pelos pecuaristas que já perderam boa parte do rebanho na seca mais severa dos últimos anos.
“Tem que pegar a estrada, todos os dias, todos os dias”, diz o agricultor Robério Cordeiro Souto.
Os motoristas vieram da bacia leiteira de Pernambuco. Rodaram mais de 200 quilômetros atrás da palma, um cacto que é a salvação do rebanho no auge da seca. Nas fazendas pernambucanas, as plantações foram dizimadas por uma praga, a cochonilha do carmim, e os pecuaristas partiram em uma busca desesperada para conseguir a palma em Alagoas.
“Sem esta palma o gado morre de fome. Aí tem que batalhar para o gado sobreviver”, fala o agricultor José Orlando Lima.
Só em uma fazenda da região chegam entre 40 e 60 caminhões por dia. A jornada não para. De manhã até a noite tem gente colhendo palma de segunda a domingo, sem folga. E todos têm pressa porque a palma é sinônimo de sobrevivência para os rebanhos da bacia leiteira de Pernambuco.
O trabalho pesado para colher a palma envolve centenas de pessoas. Famílias, como a de Eurides da Silva, que não medem sacrifícios para salvar os animais do sítio.
“Desde os 7 anos que eu trabalho, agora nunca trabalhei como eu estou trabalhando agora. Nunca, nunca”, conta a agricultora.
Para o dono da fazenda, Antônio Simão Barbosa, o negócio inesperado é bastante lucrativo. Ele cobra entre R$ 150 a R$ 800 pela palma, de acordo com o tamanho do caminhão.
“Eu nunca vi vir caminhão de Pernambuco. Desse jeito, nunca chegou aqui para comprar palma não”, fala o pecuarista.
“Para o ano, não vai ter palma em Alagoas, Pernambuco, e o rebanho, o que será de nós? Redução de mais de 50% do rebanho produtor de leite”, aponta Saulo Malta, do Sindicato dos Produtores de Leite de Pernambuco.
Depois de quatro horas de viagem, a palma finalmente chega ao sítio de seu Robério. O gado faminto, não perde tempo. O alimento é disputado.
“Amanhã de novo, todos os dias, né? Senão a coisa é feia. Vai ser assim até chover. Ninguém sabe quando”, diz seu Robério.
G1.com