Sobre Djessyka Silva

Djessyka Silva é servidora pública, atuando como Educadora Social em Santana do Ipanema. Bailarina e amante de todas as artes. É Assistente Social e graduanda em Ciências Biológicas pela Uneal


Para onde vão as palavras não ditas?

17 abril 2019


Foto: Christopher Ross / Pixabay

Talvez as palavras não ditas fiquem entre a garganta e o estômago. Em estado de ânsia, passeando pra frente e pra trás. Às vezes, entre a garganta e a mente. Uma ou outra enxaqueca aqui, e ali. Uma mente barulhenta num vocal silencioso. Quem sabe fiquem por ali, entre a garganta e a ponta da língua. Mas, a um passo de sair, é escolhido o ato de sambar de volta pra garganta, como quem está num baile já bem cansado, mas não vai embora até a última dança. Em qualquer uma das formas, a passagem pela garganta em forma de nó é, quase, inevitável.

Vamos nos imaginar como uma máquina tecnológica de armazenamento de dados. Um smartphone, talvez . Temos uma memória RAM, e também uma nuvem para guardar informações importantes. A cada vez que nossa memória interna enche, o sistema nos avisa “favor, liberar espaço, armazenamento cheio”, e nós vamos deletando o que não serve e transferindo as informações que queremos guardar, para a nuvem. Em um dado momento, a nuvem nos manda a notificação “armazenamento cheio, deseja comprar um pacote de mais gigabytes?” — Conosco acontece o mesmo, uma hora ou outra, o valor a ser pago nos é apresentado.

Mais cedo ou mais tarde, as palavras que foram guardadas para não dizer, estarão se alastrando, e se alojando a cada vez que se acumulam. Elas estão na garganta inflamada, na virose, na gastrite e na má digestão. Elas estão nas pedras vesiculares, nos cálculos renais, na hérnia de disco e na hipertensão. As palavras não ditas vagam por aí. Na corrente sanguínea, e em cada bombear do coração. Elas ficam na insônia, na ansiedade, na angústia e na frustração. Como um câncer, toma conta de todo o nosso ser. Metástase.

Em algum momento de sua passagem por aqui, Sigmund Freud citou que “as emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem das piores formas mais tarde”. Quando tomamos consciência de que não nos soma em nada acumular o que deveria ser aliviado, passamos a organizar melhor o nosso armazenamento, guardando somente o necessário. Nos livramos da sensação de estar em constante afogamento em um mar de palavras.

Os excessos de qualquer coisa fazem mal, e com as palavras guardadas não seria diferente. Por tanto, libere o seu espaço de armazenamento, deixe que o seu sistema funcione e flua saudável. Ainda com as palavras de Freud, “o pensamento é o ensaio da ação”. Todo o controle é seu, tome-o em punho firme, e cuide, primeiramente, de você. Se o maquinário tecnológico humano chegar ao estágio de defeito, talvez já não se tenha jeito, nem com reparos, nem formatação. Disco corrompido por excesso de informação.

Comentários