Pandemia e isolamento aumentam procura por cultivo de plantas em casa Além de embelezar a casa, atividade pode ser terapêutica.

17 abr 2021 - 12:00


Melissa Carmelo gosta de presentear amigos e parente com mudas de sua casa (Foto: Acervo Pessoal / Melissa Carmelo)

Em isolamento social, as pessoas tendem a sentir falta de sair e do contato com a natureza, por isso, ter plantas em casa e cuidar delas pode ser um alívio e um passatempo que pode facilmente ser incorporado à rotina.

Manter plantas em casa exige cuidados simples que podem ser feitos por qualquer pessoa, sem a necessidade de contratar um profissional. Além do contato com um pouco de natureza dentro de casa, o cultivo de plantas ainda é uma atividade terapêutica, como cita a jornalista Melissa Carmelo, de 30 anos. Ela conta que sempre gostou de plantas, mas a lida e a convivência diária com as plantas vieram para ficar durante a pandemia de covid-19, em agosto de 2020.

“Assim como muitos brasileiros, desenvolvi um quadro emocional de ansiedade e pânico, e durante uma sessão de terapia foi que as plantas surgiram como forma de resgate de memórias acolhedoras da infância e como uma atividade segura que me permite a abstenção do momento presente. Acompanhar o desenvolvimento de uma plantinha acaba nos colocando em contato com nossos próprios processos e ideias, além de criar um vinculo de aprendizado e cuidado, o que pra mim foi essencial”, detalhou Melissa, que já havia tentado corte e costura, modelagem, musicoterapia e outras atividades para lidar com a ansiedade.

Melissa, que tem nome da planta, começou com quatro vasos de renda portuguesa (Davallia fejeensis), uma samambaia nativa das ilhas Fiji, de origem da Austrália, e que pode ser cultivada nos mais diferentes ambientes. “Na hora não entendi porque havia escolhido esta plantinha entre tantas. Depois, me recordei. Minha avó Beatriz, a quem sou muito apegada, sempre cultivou a planta e foi a forma inconsciente que encontrei para trazê-la para perto. Quinze dias depois eu já tinha samambaia, diversas begônias, heras, jiboias, azaléias, bromélias, avencas, costelas de adão, lágrima de cristo, primavera… Atualmente tenho umas 20 espécies diferentes e mais de 30 vasos”.

Para a jornalista, além do efeito visual na decoração da casa e terapêutico, o cultivo das plantas se tornou uma forma de troca para fazer o outro feliz. “Na era do compartilhamento, fomos pegos de surpresa por um vírus que nos impede de ir e vir e nos questiona sobre respeito ao próximo, política, planos e escolhas. Descobri que me faz bem poder compartilhar com familiares, amigos e vizinhos, vasinhos ou mudas das minhas próprias plantas como forma de aproximação emocional. E a onda pega. Em meados de março me infectei pelo coronavírus e como forma de amor, minha avó me enviou um vaso com uma muda de avenca que havia sido plantada pelo meu falecido avô anos atrás. Meu coração transbordou de felicidade e serviu como um acalanto durante minha recuperação”.

Melissa afirma que, quando o isolamento social acabar, o passatempo vai ficar: “Pretendo levar para a vida e continuar a usar como forma de atividade terapêutica. Também tenho interesse em me envolver mais em questões do meio ambiente, projetos sociais que protegem o verde. Faz um bem sem igual estar perto da natureza, mesmo que simbolizada em vasos de plantas”.

Apesar do espaço restrito, Melissa tem mais de 30 vasos em casa (Foto: Acervo Pessoal / Melissa Carmelo)

Já a dona de casa e trader Thaís Doblado Prodomo, de 46 anos, cultiva plantas há 17 anos. “Quando eu morava em apartamento,  comecei cultivando um tipo de suculenta em três vasos na sacada, depois comprei sementes de coléus para outro vaso e plantei três jardineiras com kalanchoes (flor-da-fortuna) floridos. No decorrer dos anos, me tornei colecionadora de suculentas, comprei e ganhei também várias folhagens”.

Quando a quarentena começou, e já morando em uma casa, toda vez que precisava ir ao supermercado ou à loja de construção, Thaís voltava com novas mudas de suculentas. “Mantenho esse costume até hoje, porque o isolamento social me causa muito desconforto e tristeza, e o cultivo de plantas é uma terapia para mim, fazendo com que eu me sinta melhor. Há dez anos eu me mudei para uma casa e atualmente tenho 25 jardineiras médias, 7 vasos grandes e 239 vasos de tamanhos variados, com suculentas, orquídeas, folhagens com e sem flores e um vaso com carnívora drosera, distribuídos na garagem, na sacada da suíte da frente, na cozinha e nos banheiros.

Ela afirma que este é um passatempo que pretende manter por toda a vida. “Além de me servir como terapia contra estresse e depressão, embeleza a minha casa, torna os ambientes aconchegantes, traz alegria e conforto para minha família, além de alegrarem os vizinhos que passam pela minha porta e muitas vezes, ganham mudinhas, que ofereço com muito gosto”.

Para começar a cultivar

Para quem ainda não começou e pretende manter plantas e flores em casa, pode aproveitar este sábado (17), Dia Nacional da Botânica, para iniciar o cultivo. Quem dá as dicas é a Regina Bazani, especialista em plantas e flores ornamentais da MilPlantas (perfil do instagram: @milplantas), uma das maiores referências em plantas e flores ornamentais em São Paulo.

“Iniciei com espécies como cactos e suculentas. Elas podem estar em vasos ou em arranjos plantados. São espécies que precisam de cuidados menos intensos. Você pode também ter filodendros como a Jibóia, Orquídeas e ir testando lugares da casa, seu tempo para cuidado e se será possível dispor de mais tempo para outras espécies.”

Ela aconselha pesquisar sobre a espécie que se pretende comprar: “primeiro deve-se pesquisar a espécie que você quer ter e quais os cuidados que ela necessita: a rega correta para cada espécie; o adubo que lhe é mais indicado; um lugar iluminado, mas não diretamente no sol. [É importante] o olhar constante nas folhas e caules para ver se existe parasitas. E um segredinho pra saber se está na hora de regar é colocar o dedo na terra, se ele sair sem terra, está seca e deve ser regada”.

Segundo a especialista, para quem mora em casa ou mesmo apartamento, as plantas mais indicadas são:

Cróton – Esta espécie chama a atenção por suas folhas coloridas e grandes. Brilhantes e um pouco retorcidas, elas surgem em tamanhos variados e podem mesclar tons de vermelho, amarelo, verde ou laranja, formando lindas combinações. A folhagem exuberante somente será mantida se a planta receber bastante sol direto. “Por isso, posicione o vaso próximo a uma janela. Dicas importantes: ela não se adapta a locais com ar condicionado; ao manipular a planta, utilize luvas, pois sua seiva pode provocar irritações na pele”, aconselha Regina.

Orquídea – Campeã no uso interno, ela pede poucos cuidados. Uma das espécies mais comuns é a phalaenopsis, cujas flores arredondadas variam entre o branco, o rosa, o amarelo e a púrpura. Por ser bastante delicada, é melhor escorar sua haste em um apoio. “Vale a pena substituir os vasos de plástico pelos de barro, pois são porosos e drenam melhor a água. Deve ser cultivada à meia-sombra, recebendo iluminação indireta. Preste atenção na coloração da folhagem: se estiver escura, mude a orquídea de local”, diz a especialista.

Suculentas – São plantas que apresentam raiz, talo ou folhas engrossadas, característica que permite o armazenamento de água durante períodos prolongados. Bastante fáceis de cuidar, elas costumam “avisar” do que precisam, basta prestar atenção aos detalhes. “Se as folhas começarem a murchar, aumente gradativamente a quantidade de água; se as folhas da base começarem a apodrecer, diminua. Se ela ficar fina e perder muitas folhas, não está recebendo a quantidade necessária de luz. O ideal é proporcionar pelo menos quatro horas diárias de sol para que elas sobrevivam com saúde”.

Lança de São Jorge – É uma das espécies de plantas mais indicadas para cultivo dentro de casa. Além de ser uma planta fácil de cuidar – exige poucas regas e quase nada de adubação – a Lança de São Jorge se desenvolve muito bem em ambientes de baixa luminosidade, sendo ideais para aquele cantinho da sala sem muita luz.

Cacto – Ótima opção para quem não tem tempo ou jeito para cuidar de plantas, a espécie gosta de muitas horas de luminosidade direta e pouca água. Quanto mais sol seu cacto receber, mais robusto e bonito ele ficará. Quando plantado em vasos, ele estaciona seu crescimento ao perceber que o espaço acabou.

Bromélias – Com vários tipos diferentes de flores e folhas, a bromélia pode apresentar as mais variadas cores e complementar a decoração de qualquer ambiente. A luz direta pode queimar suas folhagens, portanto prefira mantê-las na sombra. Lembre-se também de molhá-la a cada dois dias.

Palmeira Ráfia ou Rápis- Esta é uma planta perfeita para ter dentro de apartamento: muito bonita e fácil de cuidar, esse tipo de palmeira é ideal para ser cultivada em salas de estar, por conta do seu tamanho mais avantajado. Deve ser mantida protegida do sol, mas em um ambiente com boa qualidade de luz natural.

Já quem deseja ainda ter uma horta em casa deve iniciar da forma mais simples, aconselha Regina: “comece comprando vasos plantados e deixe na sacada ou em seu quintal. Veja como funciona a dinâmica e aí você pode investir em um espaço para horta plantada em casa ou em vasos, inclusive até com os modelos auto irrigáveis”.

Espécies que devem ficar longe de crianças e animais

Em casas com crianças e animais domésticos, é preciso ter um cuidado especial, já que algumas espécies desencadeiam processos alérgicos ou são venenosas. Conheça algumas espécies que devem ser evitadas:

Antúrio – Todas as partes da planta possuem oxalato de cálcio, cujo princípio ativo oferece riscos a saúde dos animais. Os sintomas são vômitos, diarreia, salivação, asfixia, inchaço da boca, lábios e garganta, e edema de glote (uma reação alérgica tratada com adrenalina).

Azaleia – A adromedotoxina, encontrada principalmente no néctar da planta, ao ser ingerida pelo cachorro pode causar distúrbios digestivos e alterações cardíacas.

Bico-de-Papagaio – “Esta planta é perigosa até para nós humanos”, explica Regina. “Quando seu látex leitoso entre em contato com os olhos causa irritação, lacrimejamento, inchaço das pálpebras e dificuldades na visão”. Mas com os animais domésticos o perigo é ainda maior. “Apenas o toque na planta é suficiente para causar lesões na pele e conjuntivite canina”. Em caso de ingestão, pode causar náuseas, vômitos e gastroenterite (inflamação que afeta o estômago e o intestino), adverte a especialista.

Espada-de-São-Jorge – Produz substâncias como glicosídeos prenúncios e saponinas esteroidais, que são tóxicas tanto para humanos quanto para animais. No caso de ingestão, essas plantas podem irritar a mucosa, levando a dificuldade de respiração e de movimentação, além de salivação intensa nos pets.

Lírio – Todas as partes da planta são tóxicas. Após serem tocadas ou ingeridas, os animais podem apresentar irritação oral e coceira na pele ou mucosas, irritação ocular, dificuldade para engolir e respirar, alterações nas funções renais e neurológicas.

Hortênsia – Possui uma princípio ativo chamado hidrangina, que a torna venenosa. Sua ingestão pode causar náuseas, irritação na pele, dor abdominal, letargia e vômitos. “Não é preciso jogar a flor fora, apenas certifique-se de mantê-la fora do alcance de crianças, que podem se atrair pela cor forte e por sua exuberância”, observa Regina.

Tinhorão, Comingo-ninguém-pode e Copo-de-leite – A ingestão delas provocam reações como inchaço de lábios, boca e língua, sensação de queimação, vômitos, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia. Em contato com os olhos, elas podem provocar desde irritação até lesão na córnea.

Begônia – Sua ingestão pode provocar irritação na boca, língua e lábios, dificuldade em engolir e sensação intensa de queimadura.

Dama-da-Noite – Suas partes tóxicas são os frutos imaturos e suas folhas, que se ingeridos pelos pets podem causar náuseas, vômito, agitação psicomotora, distúrbios comportamentais e alucinações.

Hera – É tóxica por inteira, o seu óleo urushiol irrita principalmente mucosas, causando coceira excessiva, irritação nos olhos, irritação oral, dificuldade de deglutição e até mesmo de respiração.

Por Ludmilla Souza / Agência Brasil

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