O interior ultrapassou a capital

7 março 2013


Prof MarcusO potencial de consumo dos lares brasileiros tem agora um novo líder. A região do interior do estado de São Paulo ultrapassou a Capital e a Região Metropolitana de São Paulo (38 cidades) e se converteu no maior mercado consumidor do país.

Os números que representam esse cenário são ilustrativos. Em 2012, os mais de 22 milhões de habitantes das 607 cidades do interior paulista gastaram pouco mais de R$ 380 bilhões, ao passo que os moradores da capital e da Região Metropolitana gastaram R$ 379 bilhões em alimentação, habitação, saúde, transporte e lazer.

Essa pujança consumista do interior paulista está intimamente relacionada a alguns segmentos produtivos. O fato proeminente é que a “interiorização” da economia transformou o mapa do desenvolvimento do Estado ao colocar na agenda de investimentos o agronegócio (respondendo hoje, por exemplo, com mais de 63% da produção nacional de açúcar, 60% da de álcool, 95% do suco de laranja exportado e 13% do gado abatido), além dos segmentos de petróleo e gás. Esses três segmentos, em conjunto, permitiram levar novas tecnologias ao interior, facilitando a geração de empregos e o aparecimento da renda, estimulando como consequência o consumo.

Em 2011, a região do interior paulista absorveu 44% dos empregos gerados no Estado. Esse percentual representa 13% de toda a geração de empregos no País. Um ano antes, em termos de valores, os investimentos foram de quase R$ 50 bilhões no Estado de São Paulo, sendo que o interior abocanhou mais de R$ 21 bilhões desse montante. Já em 2011, o Estado de São Paulo somou em investimentos a importância de quase R$ 84 bilhões. Desse montante, mais de 50% tomaram as estradas rumo às cidades do interior.

Com geração de emprego e renda em alta, melhoram-se consideravelmente as condições de vida da população. Tomando como base o Índice de Desenvolvimento Municipal que mede o desenvolvimento dos municípios a partir das quantidades de emprego formal, matrícula infantil, consultas pré-natais e mortalidade infantil, dos 100 melhores do Brasil 73 estão em São Paulo (dados de 2012).

Os dez melhores índices nacionais são cidades paulistas, localizadas a mais de 430 km da capital, com destaque para as duas primeiras: Indaiatuba e São José do Rio Preto.

Esse avanço econômico do interior paulista se conecta ao intenso processo de descentralização que a economia brasileira tem vivenciado. Quando uma região absorve empresas com potencial tecnológico, como é o caso dos segmentos mencionados acima, leva-se junto toda uma cadeia de novas empresas do setor de serviços e, principalmente, de comércio. Isso dinamiza e pulveriza a atividade econômica, pois permite o surgimento de novas demandas, estimulando mais ainda o consumo em todas suas vertentes.

Não por acaso, há mais shoppings-centers no interior do que na Grande São Paulo. Ilustrando melhor essa situação é oportuno dizer que 80% de toda a produção de cosméticos e eletrônicos, por exemplo, é consumida no interior paulista.

Nesse pormenor, os principais destaques ficam para Campinas, Sorocaba (que possui mais de 1,5 mil indústrias no segmento de manufatura), São José dos Campos e a Baixada Santista.

Junto aos investimentos em paralelo aparece o consumo. A renda per capita de cidades como São José dos Campos e Campinas, por exemplo, é de R$ 34 mil e R$ 27,7, respectivamente. Esses valores são superiores à média nacional que é de R$ 19 mil.

Em 2011, o interior paulista contava com um PIB de US$ 146 bilhões, valor superior a toda a produção de bens e serviços da Nova Zelândia. A força econômica do interior paulista supera a produção de vários países, dentre eles o Chile (que produz 10% menos).

Esse potencial decorre do fortalecimento da infraestrutura da região interiorana. Uma região que contém o maior porto do país (Santos), uma importante hidrovia (Tietê-Paraná) e alguns bons aeroportos facilitando o escoamento de cargas (Viracopos, em Campinas, p. ex.) sempre será fortalecida em relação a lugares cuja infraestrutura ainda carece de investimentos.

Não obstante a isso, vale mencionar o exemplo da região do Vale do Paraíba que abriga a quarta maior indústria mundial de aviões de uso comercial, a EMBRAER, em São José dos Campos.

Em termos de valores científicos, o interior paulista conta com importantes polos universitários: Campinas (UNICAMP), Ribeirão Preto (USP), São Carlos (USP), São José dos Campos (ITA) e Piracicaba (ESALQ) são modelos de produção intelectual, uma vez que respondem por ¼ de toda a produção científica do país. Tudo isso permite o fortalecimento econômico, cultural e também político do interior.

(*) Economista, com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela (USP).

prof.marcuseduardo@bol.com.br

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