Sobre Djessyka Silva

Djessyka Silva é servidora pública, atuando como Educadora Social em Santana do Ipanema. Bailarina e amante de todas as artes. É Assistente Social e graduanda em Ciências Biológicas pela Uneal


NÃO SEJA UM GATILHO

26 agosto 2019


Foto: Gerd Altmann / Pixabay

Em uma pesquisa rápida é possível constatar dados alarmantes quanto aos índices de depressão, e de suicídio decorrente da mesma. De acordo com os dados da Organização PanAmericana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), atualizados em 2018, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo, além de cerca de 800 mil pessoas morrerem por suicídio todos os anos. Segundo este levantamento, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

Diante disso, muito se fala na doença do século, no mal da nova Era, mas, de maneira geral, pouco se faz. É claro que existem políticas públicas que buscam prevenir e tratar, podendo ser citado aqui, o programa de saúde mental da própria OMS, “que fornece aos países orientação técnica baseada em evidências para ampliar a prestação de serviços e cuidados para transtornos mentais e de uso de substâncias” (OPAS). Em seu plano de ação de Saúde Mental de 2013-2020, seus membros buscam e têm por objetivo, reduzir as taxas de suicídio nos países em pelo menos 10%. Mas, quando eu coloco aqui que pouco se faz, me refiro, principalmente, às nossas atitudes corriqueiras, das quais praticamos espontaneamente, às vezes (na maioria delas), sem perceber.

Fui pega de surpresa esses dias quando abri um aplicativo de mensagens, e em alguns grupos, diferentes pessoas haviam encaminhado a mesma mensagem, com os seguintes dizeres:

“Depressão = excesso de passado

Ansiedade = excesso de futuro

Estresse = excesso de presente

– Se livre dos excessos.”

Após observar que a quantidade de pessoas que compartilhavam da mesma ideia só crescia, me coloquei a questionar se as coisas haviam chegado a tal ponto por que as pessoas andam com “excesso” de falta de empatia e falta de informação. Muito se julga, pouco se busca saber. Com isso, a cada julgamento, a cada dedo apontado por meio do nosso pré conceito sobre outrem, nos tornamos os principais culpados. Nós somos as pedras que existem sob a ponte, somos a corda, a imensidão após o penhasco, a navalha que autolesiona e automutila. Somos o gatilho.

É muito mais fácil menosprezar um problema quando este não é um peso nosso. Assim, nós reproduzimos atitudes das quais fazem com que as pessoas que já compõe uma lacuna de pré-disposição ao suicídio sejam impulsionadas a plantar essa semente em seus subconscientes. E nós, somos a irrigação à umidificá-las dia após dia.

Quando menos esperamos, uma notícia é compartilhada: “alguém tirou a própria vida”. Parte das pessoas que a conhecia lamenta, parte procura culpados, enquanto outros se culpam, e parte simplesmente ora se questiona, ora julga. E agora, já não se pode tentar ajudar, tentar ouvir, tentar compreender. Estivemos ocupados demais com prioridades de nossas vidas, que  na maior parte do tempo, diz respeito ao nosso ego inflado, seja ele um componente da nossa vida real, ou da vida virtual (perfeita) que fazemos as outras pessoas idealizarem.

Imagine se os seres que compõe a sociedade fossem um tanto mais humanos, a demasiada quantidade de caos que poderia ser evitada. E não só relacionado a depressão, ansiedade, suicídio ou todos os fatores que os envolvem, mas sobre todo o universo de coisas que nos fazem, de fato, humanos. Ora, somos a “raça superior”, os racionais e evoluídos.

Superior? Até que ponto?

Todos os meus estudos à cerca das ciências sociais, questionamentos filosóficos e estudos biológicos quanto à evolução humana, chegam diante dos meus olhos e caem por terra, ao perceber que o egoísmo humano pesa muito mais que uma outra vida. Ainda assim, prefiro acreditar que a alucinação de Belchior era uma previsão para um bem que ainda está por vir logo adiante, onde todos despertem para a ideia de que “amar e mudar as coisas me interessa
mais”.

Que nós sejamos tão evoluídos ao ponto de parar de reproduzir situações gatilho. Alcancemos o mais alto nível de capacidade de inteligência humana, e usemo-los da forma mais, de fato, humana que consigamos ser: altruístas.

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