Lançamento de documentário sobre crime da Braskem é feito por movimentos sociais Exibido no bairro do Pinheiro, filme dirigido pelo argentino Carlos Pronzato contou com cerca de 200 espectadores, dando novo fôlego à luta do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem por justiça acerca do caso.

07 ago 2021 - 15:16


Igreja cheia para a estreia do mais novo documentário de Carlos Pronzato (Foto: Divulgação)

Na noite desta quinta-feira (5), a Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, serviu de sala de exibição para a estreia do documentário “A Braskem passou por aqui: a tragédia de Maceió”, dirigido pelo cineasta argentino Carlos Pronzato.

Entre as duas sessões promovidas, cerca de 200 espectadores puderam participar de um bate-papo sobre a produção do filme e os próximos passos da luta contra a mineradora com o assistente de direção do longa-metragem, Benival Farias, e membros do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB). Ao fim da exibição, o filme foi aplaudido de pé e ovacionado por cerca de um minuto.

“60 mil pessoas têm muita voz, mas essas vozes são abafadas por uma multinacional que não sabemos sequer a face que tem. Um documentário com essa qualidade que se propõe a fazer ecoar essas vozes nos enche da esperança de que vamos conseguir reorganizar nossa luta”, declarou o pastor Wellington Santos, que trabalha na igreja há quase três décadas.

Nesse sentido, o pastor fez reverência ao MUVB, que luta para mitigar as injustiças impostas às vítimas pela Braskem e o poder público. “Chega de movimentos sociais quererem desacreditar o movimento único, pois quanto mais a gente se divide mais a Braskem se fortalece.”

Lideranças do MUVB e assistende de direção do filme em bate-papo com o público (Foto: Chico Brandão / Assessoria)

Cássio Araújo, liderança do MUVB, fez elogios ao longa-metragem, ressaltando que o filme revela a natureza do crime cometido na capital alagoana.

“O documentário retrata bem a tragédia que o povo de Maceió sofre atualmente, abrangendo vários aspectos. Um ponto importante é que fica claro que a instalação da indústria petroquímica aqui rendeu progresso econômico para um setor muito minoritário.”

O ativista do MUVB, porém, esclarece que o grande problema da mineração na cidade foi a negligência da empresa e das autoridades públicas. “É claro que a industrialização do país é importante, mas o que esse crime mostra é que tudo deve ser feito de forma responsável”, esclareceu.

Morador do bairro Pinheiro por 45 anos, Marcos André Ferreira esteve no evento de estreia do filme e também elogiou a divulgação do caso através das lentes de Carlos Pronzato. “Eu acho que as nossas maiores dificuldades se iniciaram a partir do acordo firmado entre a Braskem e os órgãos públicos, que nos deixa na situação de não saber quanto, quando nem como iremos receber nossas indenizações. Foi muito importante o documentário tocar nessa questão”.

Marcos André, que perdeu o pai devido a um problema cardíaco desencadeado no dia da realocação de sua família, ainda ressaltou a importância do longa-metragem na busca por justiça. “Eu acho que é importante a gente estar atento a todos os registros referentes a esse grande crime, a fim de obter respaldo para continuar a luta. Nesse sentido, o documentário representa bem nossa dor e consegue mostrar uma visão completa da tragédia.”

Outro espectador, Aguinaldo Almeida, de 61 anos, nascido e criado no bairro Bom Parto, também demonstrou encarar o documentário como uma espécie de luz no fim do túnel. “Com esse filme, eu sinto que nós começamos a furar essa bolha imposta pela Braskem aqui em Alagoas. Pouco se fala sobre a questão criminal, coisa que o documentário traz. Alguém tem que ser punido por esse crime ambiental!”, disse.

Aguinaldo Almeida também ressaltou o teor de crueldade presente no processo de realocação dos bairros destruídos pela mineração criminosa. “Esse crime da Braskem extrapola a questão material, porque envolve a questão afetiva. De repente, eu me vi coagido a abandonar a minha casa depois de 61 anos.”

Por Assessoria

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