Intercâmbio estudantil impulsiona formação internacional

07 jan 2013 - 08:28


Alagoano realiza mestrado múltiplo na Europa após experiência de mobilidade acadêmica na graduação.

Willian Talvane Silva começou sua história na Universidade Federal de Alagoas e não demorou muito para conquistar o mundo com seu conhecimento e sua determinação. Aos 25 anos, o alagoano se prepara para a conclusão da dissertação do mestrado múltiplo, realizado em universidades da Alemanha, da Suécia e da França, que também inclui o desenvolvimento de pesquisas na Harvard University, nos Estados Unidos. A oportunidade é fruto de experiências anteriores com bolsas de intercâmbio estudantil, quando Willian ainda era aluno da graduação em Biologia, no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS).

Natural de Arapiraca, município do Agreste alagoano, Willian Silva é a prova de que nada é impossível para quem tem dedicação. Doze anos após seu ingresso na Ufal, em 2006, o jovem já conheceu mais de doze países devido a experiências em programas que visam à internacionalização do conhecimento. Aos 18 anos de idade, em seu primeiro ano de graduação, Willian não imaginava que em pouco tempo seria colecionador de bolsas de estudos em diversas partes do mundo.

A professora Tereza Cristina Calado, orientadora do pesquisador na graduação, lembra-se do calouro que já demonstrava a paixão pela pesquisa. De acordo com a docente, ele insistiu para ser estagiário em seu laboratório ainda no primeiro período do curso. “Eu dava aula de Metodologia da Pesquisa e ele queria muito participar da produção científica, vivia pedindo estágio. Então, ele começou como voluntário e no ano seguinte foi bolsista Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica], na área de Carcinologia [estudo dos crustáceos]. Ele pesquisou o Ocypode Quadrata, conhecido popularmente como ‘Maria Farinha’”, lembrou.

Dos laboratórios do ICBS, em Maceió, para os laboratórios da Universidade de Gonzaga, em Washington, nos Estados Unidos, foi questão de pouco tempo. Seleção promovida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em parceria com o Fund for the Improvement of Postsecondary Education (Fipse), em 2008, teve como objetivo recrutar alunos da Química e da Biologia para estudos referentes às duas áreas e ao meio ambiente. Para o programa, foram ofertadas apenas quatro vagas, sendo uma delas destinada a Willian Silva. O convênio rendeu ao alagoano a sua primeira viagem internacional e uma bolsa de seis meses na universidade estadunidense, onde ele teve a oportunidade de participar de vários cursos e de pesquisas relacionadas à histologia das salamandras.

Para o pesquisador alagoano, a experiência foi primordial para a sua formação acadêmica e também apresentou impactos em sua trajetória pessoal. “Foi a primeira vez em que fiquei longe dos meus pais e do Brasil. Isso foi muito bom para eu aprender a ter mais tolerância. Ao vivenciar as diferenças entre as culturas, nós deixamos de reclamar e aprendemos a viver com pessoas distintas. Além disso, há um grande aprendizado científico, pois existe um modo de fazer pesquisa aqui e outro modo lá. Então, nós precisamos nivelar os dois lados”, pondera.

Segundo Willian, as principais diferenças entre os dois países, em termos de produção cientifica, estão nas relações humanas e no aparato tecnológico. “A principal diferença é a relação entre os professores e os alunos. Aqui [no Brasil], a relação é mais familiar e os alunos sentem conforto ao lado dos professores. Por outro lado, lá [nos Estados Unidos] a vantagem é a tecnologia, que permite mais facilidades para a execução das pesquisas”, enfatizou.

América Latina

Após a primeira experiência em solos estrangeiros, Willian Silva não parou de correr atrás de novos desafios acadêmicos. Em 2009, o jovem retornou ao Brasil, ministrou palestras sobre as pesquisas desenvolvidas na universidade estadunidense e conquistou mais uma bolsa, dessa vez como monitor da disciplina de Biologia dos Cordados. No mesmo ano, ele foi o único brasileiro selecionado para participar, gratuitamente, de evento realizado na Escola Latinoamericana de Evolução da Universidade da República, no Uruguai. Na ocasião, Willian apresentou parte de sua monografia, intitulada A evolução dos membros nos tetrápodes: origem, desenvolvimento e adaptações.

As oportunidades não pararam para o estudante alagoano. Em 2010, antes de concluir o curso de graduação, o universitário concorreu a mais uma bolsa internacional. Willian foi selecionado para o programa Erasmus Mundus e assegurou um semestre na Universidade de Barcelona, na Espanha, com todas as despesas pagas. Na Europa, ele desenvolveu pesquisas na área de Biologia do Desenvolvimento e Evolução, também conhecida como “evo-devo”.

Além da graduação

Para Willian, saber agarrar as oportunidades que surgiram ao longo da graduação não foi o suficiente. Apaixonado pela pesquisa científica e pelo contato com diferentes culturas, o alagoano logo procurou inscrições em programas de pós-graduação do Brasil e do mundo. Na mesma rapidez, as portas de universidades de várias localidades do globo se abriram para o jovem nordestino com sede de conhecimento e de experiências. O recém-graduado foi selecionado para bolsas de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e na Universidade de Wageningen, na Holanda, cuja aprovação obedeceu a critérios que envolveram currículo; histórico acadêmico; carta de recomendação; carta de apresentação; e fluência em inglês.

No entanto, com vasta lista de aprovações e de conquistas acadêmicas, o alagoano conquistou o que para muitos brasileiros é considerado o “impossível”. Willian ganhou a bolsa Master in Evolutionary Biology, da Erasmus Mundus, e comprovou que determinação e esforço são fundamentais para quem busca sempre o melhor. O investimento é fornecido pela União Europeia e permite que o candidato desenvolva mestrado múltiplo em mais de uma universidade da Europa. No caso do egresso da Ufal, os destinos foram as universidades de Uppsala (Suécia); de Montpellier (França); e de Munique (Alemanha).

O programa também possui parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde Willian tem desenvolvido estudos sobre a evolução dental dos anfíbios em salamandras. Na Alemanha, o mestrando também participa de atividades no Instituto Max Planck, organização cientifica sem fins lucrativos e mundialmente conhecido pela prática de estudos sobre Evolução.

O curso stricto sensu começou em agosto de 2011 e sua conclusão está prevista para agosto de 2013. Após o término dos trabalhos, Willian ganhará 3 diplomas de mestrado, referentes às universidades europeias, e um certificado geral da Erasmus Mundus, que inclui os estudos desenvolvidos na Universidade de Harvard.

Em meio a tantos estudos, o jovem pesquisador tirou uma “folguinha” para aproveitar o Natal e o Réveillon com a família, em Alagoas. Mas, o brasileiro não perdeu a oportunidade de conferir a programação nacional na área das pesquisas em Biologia. “Como eu estava com viagem marcada para o Brasil, aproveitei para conferir o que estava acontecendo por aqui. Terminei sendo selecionado para participar da Escola de Verão em Biologia Matemática, da Unesp [Universidade Estadual de São Paulo], durante as duas últimas semanas de janeiro. Todas as despesas serão pagas pela instituição”, revelou.

Um mundo de conhecimento

Por meio de investimentos em educação, Willian Silva já conheceu mais de dez países. No giro pelo mundo do conhecimento, o alagoano encontrou motivos para continuar sua formação acadêmica com foco e seriedade. “São experiências diferentes, em que a gente aprende a ter mais respeito, tolerância e determinação. A gente sente vontade de fazer a diferença”, declarou.

Para a professora Tereza Calado, o sucesso do estudante não é uma surpresa. “Ele sempre foi um aluno brilhante. Eu sempre disse que ele não precisaria dizer que é bom, porque os outros iriam reconhecer isso. Enquanto os outros alunos fofocavam na internet, ele usava a ferramenta para estudar. Todas essas conquistas são frutos do que ele procurou: os estudos, as pesquisas. Hoje, ele faz o que eu gostaria de fazer se no meu tempo de estudante existissem oportunidades de intercâmbio, de mobilidade acadêmica”, destacou orgulhosamente.

Próximos passos

Antes mesmo de concluir o mestrado múltiplo, Willian Silva não para de planejar seu futuro profissional e já tem feito inscrições para concorrer a bolsas de doutorado em Harvard e em universidades de Viena e da Suécia.

Por Ascom UFAL

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