Mais um forrozeiro pra animar as festas juninas do céu

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Ilustração: Genildo

Neste dia, 23 de julho, o Brasil, em especial o Nordeste, se despede de um dos maiores ídolos musicais. José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, que faz a grande “viagem”.

A palavra nesse momento é saudade. No entanto também se reflete em alegria; alegria pelo seu legado.

Dominguinhos foi uma daquelas figuras em que Deus nos enviou para, em muitos momentos, nos tirar das tristezas. Com a sua música inconfundível, ele levou o contentamento a milhões de corações mundo a fora.

Falar em morte nesse instante é desconhecer a vida; é ignorar que suas melodias e seu sorriso revigoraram tantas almas e acalentou muitos espíritos.

Dominguinhos se junta no céu, neste momento, ao seu mestre na Terra, Luiz Gonzaga, o maior de todos os artistas; aquele que lhe orientou a tomar o rumo dar alegria ao seu povo. E como um bom discípulo Dominguinhos seguiu direitinho o seu Mestre, mesmo buscando a sua própria identidade artística.

Entre tantas boas composições, eu poderia citar, por exemplo: “Quem Me Levará Sou Eu”, “Isso Aqui Tá Bom Demais”, “Abri a Porta” (parceria com Gilberto Gil), “Eu Só Quero um Xodó” (parceira com Anastácia), mas a música que mais me marcou, do eterno Dominguinhos, foi composta com Nando Cordel, “De Volta Pro Aconchego”. Nesta composição Dominguinhos junta bela melodia com letra inteligente.

Certa feita assisti ele disse que tinha feito esta música numa mesa de bar de São Paulo. Num momento de angustia, em que sentia saudades de casa. Pegou um guardanapo e rascunhou umas palavras e passou pra Nando, e ai surgiu uma das mais belas músicas do artista que hoje completa sua missão aqui na Terra.

Tive a satisfação de assistir Dominguinhos se apresentar em Santana do Ipanema, no Largo do Maracanã.

Quem sabe um dia poderei ter a permissão de puxar um banquinho e assistir a um show do dueto Dominguinhos/Gonzagão, se apresentando pra Antônio, João e Pedro, no arraiá do céu. E ainda ter como participações especiais: Jackson do Pandeiro, Sivuca, Lindu e Zinho.

Que Deus receba de volta esse seu filho que disseminou, por onde andou, a paz através da musicalidade.

QUAL É O PÓ CIBALENA OU CIBAZOL?

Nos velhos tempos, depositados no passado de nossa infância, vivida, na praça do Monumento (atual praça Dr. Adelson Isaac de Miranda), a gente soltava o verbo. Palavrões corriam soltos na boca dos maloqueiros. Pra dominar a língua a palmatória “comia no centro”, fosse das educadoras, ou de pais e genitoras.

Recordo-me que um de nós, era “mestre” com relação aos cacoetes da nossa língua “mãe”. Era Juarez Carvalho. Foi dele que admirados ouvimos pela primeira vez, a pronúncia do nome completo de um dos maiores vultos históricos de nossa história: “o nome completo de Dom Pedro I, era Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon”. Confesso que recorri ao Yahoo.com.br/perguntas, pois não decorei.

Mas estripulias com as palavras, por parte de nosso amigo, não parava por aí, ele descobriu, por exemplo, uma das maiores palavras da nossa língua, encontrou na bula do envelope do comprimido “Cibalena”: acho que era assim: Dimetildilaminofenildimetilpirazolona. E desse analgésico surgiu uma interjeição criada pelos maloqueiros lá da praça:

“QUAL É O PÓ CIBALENA OU CIBAZOL?

E tinha as velhas cacofonias em que se perguntava, por exemplo:

“-Você conhece Seu Cuca? A qual se imediatamente, o próprio interlocutor respondia:

-“Seu Cuca é eu!

Pra isso Juarez teve uma saída de mestre, dizia:

“-Também Seu Cu(ca) é todo mundo!”

“A maior palavra da língua portuguesa, registada num dicionário, é pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, com 46 letras, A palavra ganhou registro oficial pela primeira vez em 2001, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e aparece descrita como uma doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas, é de referir que esta palavra foi inventada por Everett M. Smith, presidente da National Puzzlers’ League, para ser a mais longa palavra de língua inglesa e que apesar de ter sido transposta para a nossa língua o nome cientifico da doença a que a mesma se refere é a silicose, o que implica que na nossa língua esta palavra seja considerada uma palavra fictícia. A palavra de 29 letras anticonstitucionalissimamente é considerada a maior palavra portuguesa não técnica, e descreve algo que é efectuado de maneira muito anticonstitucional, ou seja, que é oposto à constituição.” (Fonte: Wikipédia.com.br)

Durante o programa católico Bem-vindo Romeiro, da TV Aparecida, o clima era de paz & harmonia quando o padre apresentador chamou a simpática “moça do merchan” para entrar no ar. Ela até que estava indo bem ao descrever todas as qualidades de um produto que parece fazer milagres. Mas acabou errando o texto e, indignada, soltou um palavrão (A moça teria dito “-Mas que Bosta!”) não muito adequado ao programa, ao horário, à família brasileira, enfim. A reação do padre é o melhor momento do vídeo.16.07.13(Fonte revista veja.sp.com.br).

No passado de nossa cidade, passou pela paróquia de Senhora Santana um pároco chamado padre Bulhões. Certa ocasião fora minha saudosa avó Amância (mãe da minha mãe) confessar-se com o dito cujo. Ao perguntar àquela velha senhora:

“-Conte seus pecados!”

“-O senhor pergunte…”

Aí o padre perdeu a compostura. O palavrão comeu soltou, começando por:

–Essas pestes!…

Fabio Campos 17. 07.2013

No fabiosoarescampos.blogspot.com o Conto: “Davi: “O Rei do DVDs”

2º Churrasco Fura Olho – Festa VIP durante a 51º Festa da Juventude

2º Churrasco Fura Olho – Festa VIP durante a 51º Festa da Juventude fura olho Depois do sucesso da primeira edição do Churrasco Fura Olho, uma nova e maior edição foi preparada para a 51ª Festa da Juventude. Segundo os organizadores Felipe Azevedo e Túlio Bastos foi  feito uma grande estrutura para melhor, atender os convidados, com animação da  Banda de Pagode Plenitude e do Paredão SS. Para complementar a festa foi servidos petiscos de churrasco e feijoada até durar todo o estoque. Para este ano contratamos tendas, segurança particular, banheiros químicos e disponibilizaremos um bar para compras de bebidas, tudo isso pensando em garantir conforto e segurança para todos os participantes, afirmou o organizador Felipe Azevedo. O nome do evento surgiu em meio a furadas de olho (ficar com a paquera ou ficante do amigo), em uma festa de aniversário no dia 17 de Janeiro de 2009. Na oportunidade estavam presentes os amigos de farras e de vida Danylo Bezerra, Felipe Azevedo, Pablo Ramon, Rodrigo Vilela e Túlio Bastos, que a partir daquele dia passaram a compor a equipe, hoje referência em todo o estado de Alagoas. Já o churrasco Fura Olho, surgiu no 2012 com o intuito de reunir os membros da equipe, que no corrente ano já contava com um número superior a 30 participantes, e juntar seus amigos que vinham das cidades vizinhas prestigiar a tradicional Festa da Juventude.

Lampião em Palmeira dos Índios

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de julho de 2013.

Crônica Nº 1047

Na tarde da última quarta-feira, eu e o professor Marcello Fausto, chega-mos a Palmeira dos Índios para auspiciosa missão. Fomos recebidos cordial-mente pelo professor de História, Wellington Lopes de Albuquerque, que logo nos proporcionou ligeira incursão pelos pontos turísticos da cidade, inclusive o Cristo do Goiti. Tivemos o privilégio de contemplarmos os arredores dos 700 metros de altitude na belíssima paisagem que o relevo serrano nos oferece. Após significativo descanso e preparativos, estávamos nós “enfrentando” a seleta plateia acadêmica da UNEAL, Campus III, sob a batuta do festejado pro-fessor Wellington. Lançamos o livro “Lampião em Alagoas” e partimos para uma palestra e mesa redonda com o tema: “O cangaço lampiônico nas plagas alagoanas”. Auditório lotado com acadêmicos da região, alguns professores e balaios de perguntas inteligentes, nos levaram à ocasião agradabilíssima. Mitos do Nordeste como Lampião, Padre Cícero, Frei Damião, Luiz Gonzaga, Sinhô Pereira e outros, foram amplamente citados. Passamos pelo geral sobre Virgolino, suas estripulias, organização de volantes, até desembocarmos no riacho da grota dos Angicos.

O livro “Lampião em Alagoas” – que também será lançado em outras ci-dades – é esclarecedor, interrogativo, equilibrado e polêmico como todos os livros sobre o cangaço. Várias passagens inéditas foram apresentadas, estimu-lando a pesquisa em História, Geografia e Sociologia, notadamente. Com a gentileza e desdobramentos do anfitrião, professor Wellington Lopes, quanto pela qualidade do evento, educação e maturidade dos presentes, surgiu im-pressão de retorno dos autores para outros temas relíquias do Nordeste. O Cristo do Goiti (derivado de oiti, oitizeiro), com certeza abençoou a nossa jor-nada até os seus pés, iluminando o evento que se aproximava com o pano molhado da noite.

Pela manhã retornamos da Terra dos Xucurus, de Graciliano, Luiz B. Tor-res, Adalberon Cavalcante Lins, Valdemar de Sousa Lima, para Santana do Ipanema, agradecendo a todos os que fazem a UNEAL, Campus III. Acho que bem deixamos LAMPIÃO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS.

Por uma sociedade de sustentação de toda a vida

Prof-Marcus OliveiraMarcus Eduardo de Oliveira

A dinâmica do modo de produção capitalista, em sua íntima relação com a economia, centrada numa visão egoísta (pois privilegia a acumulação individual) e antropocêntrica, na qual o homem pode tudo, inclusive sobrepujar às leis da natureza, produziu um tipo de crescimento econômico dilapidador dos sistemas ecológicos da Terra, da biodiversidade, agredindo os principais serviços ecossistêmicos (água limpa, ar puro, regulação do clima, polinização das flores, semeação do solo, fotossíntese etc).

O que poderia ser um crescimento agregador, não fosse à voracidade mercadológica, consubstanciou-se num tipo de economia que, via sistema de preços, transformou absolutamente tudo em mercadoria (incluindo a vida humana, com o tráfico de pessoas e de órgãos humanos). Resultou disso um foco de tensão dicotômico entre “crescer” (sistema econômico) e “preservar o meio ambiente” (sistema ecológico).

Como a ordem que impera no mercado de consumo recomenda sistematicamente políticas de crescimento econômico exponencial, preservar o meio ambiente e a biota (conjunto de seres animais e vegetais de uma região) acabou se transfigurando numa condição que foi relegada a escanteio, de pouca relevância.

Na atualidade, a consequência disso é o severo desastre ambiental: um planeta doente, uma Terra cansada, uma economia socialmente desequilibrada, cujo retrato desse descaso ecológico/econômico se expressa na morte de espécies (uma espécie desaparece por dia), na pobreza e fome crônicas que acomete quase 1 bilhão de estômagos vazios e bocas esfaimadas (14% da população mundial) e na desertificação e desflorestamento (já foram destruídas mais de 40% das florestas tropicais).

Se a tentativa era melhorar o mundo via crescimento econômico, o que presenciamos no transcorrer dos dias é uma piora acentuada do espaço que habitamos: lixo radioativo, chuva ácida, poluição urbana, maré vermelha, excesso de dióxido de carbono (a cada minuto, 10 mil toneladas são lançadas na atmosfera) são alguns dos “elementos” de nosso atual convívio. O fato concreto é que o “homem-econômico”, no afã em saciar sua sede de consumo, estreitou relações e se entregou abertamente ao modo de produção em larga escala ora vigente nas economias de ponta, esquecendo-se, contudo, que ao patrocinar esse superconsumo abastecido por uma superprodução de mercadorias artificiais (na maioria das vezes fúteis) somente fez arrebentar os mais elementares serviços ecossistêmicos, comprometendo, sobremaneira, os processos naturais que sustentam a vida.

Isso explica, ipsis litteris, o posicionamento crítico de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU que, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos (2011), chamou esse modelo aqui descrito de “pacto de suicídio global”.

De fato, estamos todos propensos a esse “suicídio global” uma vez que, dentro da espaço nave Terra, somos todos pilotos e passageiros ao mesmo tempo, já que estamos “inseridos” na natureza. Leonardo Boff, a esse respeito, assevera que “no universo e na natureza, em todas as circunstâncias, tudo tem a ver com tudo, afinal, somos todos feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas”.

Da terra tiramos nosso sustento e à terra devolvemos dejetos do processo produtivo (resíduo, poluição, matéria dissipada). É assim que age o sistema econômico: usa e explora os limitados recursos naturais (input) e devolve lixo (output) à natureza. Quanto mais crescimento (econômico), maior é a agressão (ecológica). Assim, aumenta a tensão entre essas correntes. Esse processo é tão agressivo que, de acordo com estudos recentes, 60% dos serviços ecossistêmicos estão degradados. Por isso crescer economicamente é sinônimo de poluir assoberbadamente.

Dito de outra maneira, produzir é também sinônimo de destruir. Não por acaso, a etimologia da palavra “consumir” (a razão de ser da produção) significa “destruir”.

Lamentavelmente, as economias modernas têm aperfeiçoado os mecanismos dessa destruição, esgotando em várias frentes o patrimônio natural (biomassa das florestas, solo arável, disponibilidade de água etc).

Na Carta da Terra, um dos mais importantes e sérios documentos elaborados pela inteligência humana, lê-se que “os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosse entre ricos e pobres está aumentando”.

No visor do relógio econômico, os ponteiros marcam um crescimento destruidor da natureza, cuja poluição e depleção dos recursos naturais talvez sejam as faces mais evidentes. É chegada a hora, portanto, de frear esse processo.

Dado o pouco espaço aqui para uma contextualização mais aprofundada, o que dissemos fica apenas para efeito da seguinte reflexão: até quando esse tipo de crescimento econômico que provoca mortes e destruição continuará vigorando? Será que, como bem pontuou o filósofo Sigmund Kwaloy, não está na hora de promover-se a passagem de uma sociedade de crescimento industrial para uma sociedade de sustentação de toda a vida?

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com mestrado pela (USP)

CAMPEÃO DE QUE?

Família - 1943Colegas de todas as facas

Há algumas semanas o presidente do Supremo Tribunal Federal disse durante uma palestra para estudantes que “nós (os filhos desta pátria mãe gentil) temos partidos de mentirinha”. Durante vários dias a notícia foi amplamente divulgada na imprensa, entrevistas com parlamentares foram realizadas, cientistas políticos fizeram análises quase que freudianas sobre o acontecido e eu, assistindo a tudo isso, tinha uma única pergunta na mente: Porque tanta polêmica sobre uma verdade tão antiga.

Pode parecer coincidência, mas eis que na mesma cadeira em que assisti a reportagem sobre a declaração do ministro, estava debruçado sobre um livro de crônicas de Olavo Bilac, presente do meu primo Gaspar Guimarães, com apenas 899 páginas, quando de repente leio um texto do ano de 1890 em que o autor questiona as ações contra a liberdade religiosa empreendidas pelo recém instituído governo republicano. Frisando que a república foi proclamada sob o pretexto de liberdade que supostamente o regime monárquico não proporcionava, o grande poeta e jornalista brasileiro finalizou sua crônica fazendo alusão à Guerra do Paraguai, em que o governo brasileiro, na época uma monarquia, arrasou o país vizinho proclamando o discurso da liberdade.

O texto de Bilac dizia assim:

“Tenho na minha modesta panóplia uma faca paraguaia. Valente lâmina! Deu-ma um velho militar que a trouxe do Paraguai em 70. Na folha há a seguinte inscrição: Libertá! – e o velho militar dizia-me sempre: “Todas as facas no Paraguai têm essa inscrição; veja você que diabo de divisa foi arranjar um povo sem liberdade!”

Agora, que todas as bocas e todos os jornais, depois de 15 de novembro, andam cheios aqui dessa palavra – liberdade – eu começo a desconfiar de que o Brasil está se parecendo muito com uma faca paraguaia.”

O descompasso entre o discurso, ações e intenções da classe política deste grande país é tão antigo quanto sua própria existência e tentar descobrir uma solução é algo tão difícil quanto caminhar num terreno movediço. É por isso que eu prefiro me deter nos aspectos mais pitorescos que tal prática nos proporciona e vocês hão de convir que é bem menos doloroso.

Refletindo sobre a declaração do presidente do STF, veio à memória a figura do meu avô Gaspar Wanderley, figura marcante da minha infância. Gaspar era um homem de baixa estatura e franzino, mas de atitudes dignas de um gigante. Como era comum naquele tempo tirava o seu sustento da agricultura e da criação de gado, mas também mantinha no compartimento da frente de sua casa uma pequena mercearia, uma “venda” como era chamada. Na venda de Gaspar tinha alimentos como milho, farinha e feijão, além de ferrolhos, dobradiças, pregos e parafusos. Tinha também uma seção de “fiteiro” onde se encontrava sabonete, perfume e brilhantina Glostora e outra de armarinho onde se encontravam lenços, meias e outras peças de uso pessoal. No conceito de hoje tinha o sortimento equivalente a um mercadinho, mas o atendimento era no balcão onde, além de confeitos e uma diversidade de pastilhas, também se vendia cachaça, vinho de jurubeba e Genebra ou Zinebra uma espécie de cachaça composta com zimbro. Bebida originária dos Países Baixos, a Zinebra foi muito difundida no nordeste brasileiro, mas hoje em dia é raramente encontrada. Tinha um alto teor alcoólico e trazia a fama de ser medicinal. Mamãe me contou que muita gente comprava a bebida para misturar com cebola e tomar como um remédio para dores de barriga. Ela e minhas tias Gasparina, Auxiliadora e Olávia ajudavam na “venda” e cada uma tinha uma gavetinha onde eram colocados os pagamentos das vendas efetuadas por cada uma delas. Ao final da semana Vovô contava o apurado de cada uma e lhes pagava alguns tostões pelo serviço realizado. Naquele tempo o trabalho dignificava e educava, hoje em dia… Os conceitos são outros.

Percebendo a concentração de pessoas durante as festas de reis e de São Sebastião, em sociedade com Manoel de Sulia, até hoje vivo lá pras bandas da cidade do Recife, Vovô construiu um carrossel de madeira que naquela época era chamado de “curre” e isso eu já contei para vocês. O curre de Gaspar era armado na rua em frente à sua casa e tanto gerava uma renda extra no período das festas como também atraia a freguesia para sua “venda”. Na década de 50, Vovô deu uma lição de empreendedorismo e ousadia quando resolveu comprar uma caldeira a lenha para a geração de energia, sendo portanto o pioneiro da eletrificação de Poço das Trincheiras no tempo em que a localidade era apenas um distrito do município de Santana do Ipanema.

Com o temperamento que tinha não deu em outra, um dia, finalmente, ele entrou para a política. Naquele tempo as disputas muitas vezes eram resolvidas na bala, mas uma boa combinação entre um discurso afiado e algumas precauções permitiu que ele atravessasse esta etapa da vida sem que seu nome fosse associado a ações de violência. Foi desse tempo uma história que me foi contada várias vezes por Aderval Wanderley Tenório, homem de grande inteligência e exímio advogado. Aderval ingressou na política e rapidamente galgou o posto de deputado estadual. Objetivando garantir o seu espaço político procurou estabelecer uma boa rede de aliados e, ciente das disputas existentes no Poço das Trincheiras procurou o apoio do meu avô. Naquele tempo, devido a precariedade do aparelho de estado, cargos públicos que hoje são acessíveis apenas através de concurso eram preenchidos por cidadãos comuns, mas que demonstravam aptidão para a respectiva função, podendo ser indicados pelos membros da comunidade ou então pelo próprio governador do estado. Eu sei que a coisa não funcionava tão bem como se gostaria, mas foi nesse contexto que Aderval conseguiu para Gaspar o cargo de Delegado de Polícia do Distrito de Poço das Trincheiras. A ideia era conter o poderio dos adversários e ressaltar a imagem de uma gestão séria e enérgica.

Uma vez empossado, o novo delegado começou a mostrar serviço. Tudo ia bem até que, um dia, um indivíduo aprontou algumas e entrou na sua mira para uma estadia no xilindró. Não sei exatamente que tipo de infração o sujeito cometeu, o certo é que, percebendo que não seria possível escapar das garras da lei sua mãe resolveu procurar Aderval. Com uma conversa melosa e uma convincente promessa de fidelidade eleitoral a mulher conseguiu que ele aceitasse intervir no caso para que o cabra não passasse uns dias vendo o sol nascer quadrado. O deputado escreveu um bilhete e orientou-a que apresentasse o rapaz à delegacia e entregasse o bilhete ao delegado. Confiante no peso político do seu “padrinho” a mulher fez exatamente como lhe fora recomendado. Retornando ao Poço das Trincheiras, pegou o filho pela mão e foi à delegacia. Quando Gaspar viu o sujeito já ia mandando que o detivessem quando a mulher então mostrou-lhe o bilhete que começava dizendo “Caro primo Gaspar”, passava por uma recomendação de condescendência e terminava com a assinatura “Do Aderval”. O delegado leu a mensagem, leu mais uma vez, olhou bem para o papel, olhou para a cara do sujeito e, dirigindo-se ao policial que estava a postos, ordenou:

– Prenda esse vagabundo agora mesmo.

Não deu em outra, o cabra foi para detrás das grades e o delegado foi exonerado poucos dias depois.

Com atitudes incompatíveis com a expectativa do seu partido político e perseguido pelos seus adversários a carreira política de Gaspar Wanderley foi um verdadeiro desastre. Ironicamente, as duas únicas coisas que ele obteve desse período da sua vida têm valores completamente opostos: a derrocada financeira e o respeito de muitos dos seus adversários. Fatos contraditórios, mas por incrível que pareça verdadeiros.

Falando em contradições, vejam os pitorescos exemplos abaixo:

Primeiro: A polícia não consegue proporcionar uma política de segurança pública. No entanto, esbanja força contra manifestantes que reivindicam seus direitos ou protestam contra o mau uso dos recursos públicos.

Segundo: Vereadores que ganham mais de R$ 10.000,00 por mês aprovam uma lei que reduz o salários de professores para menos de R$ 900,00. No entanto bilhões de reais são gastos na construção de estádios de futebol.

Terceiro: A seleção brasileira ganhou de 3 X 0. Será que a palavra “Campeão!” será a escolhida para a versão brasileira da “faca paraguaia”? Só precisamos definir, campeão de que?

É colegas a situação deste grande país está tão complicada que a única política que venho praticando ultimamente é a da boa vizinhança. Um grande abraço a todos.

Saúde, sabedoria e paz.

Virgílio Agra

OBS: A crônica “Liberdade” de Olavo Bilac foi publicada no livro “Bilac, o Jornalista”, de Antônio Dimas, pela Editora da Universidade de São Paulo.

Na foto de 1943, Vovô Gaspar e Vovó Lindalva. Em pé Tia Gasparina e Tia Auxiliadora e o bebê é Tia Zélia.

As edições anteriores das Saudações Caetés estão no blog saudacoescaetes.blogspot.com

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O MODELO DIÊGO FARIAS

DIÊGO FARIAS jovem, natural de Arapiraca- Alagoas, modelo, já foi Mister Arapiraca 2010, Mister Alagoas 2011, em 2012 foi escolhido para representar o Brasil no Peru, hoje vem sendo sucesso nas passarelas da moda.

CELEBRIDADE IN FOCO Como surgiu a idéia de você ser mister?

DIÊGO FARIAS Na verdade, nunca teve vontade de ser mister, mais através de um convite de um olheiro, fui fazer um texto e até hoje estou no ramo da moda.

CELEBRIDADE IN FOCO Como você vê esse sucesso hoje? Depois de tornar uma pessoa muito famosa no Estado de Alagoas?

DIÊGO FARIAS – (RISOS) Bom, realmente a jornada não foi fácil, mais graças a Deus, hoje tenho sim feito baste sucesso, não só em desfiles, como também em festas de aniversários de 15 anos, entre outras.

CELEBRIDADE IN FOCO Quais os projetos para 2013?

DIÊGO FARIAS – Em 2013, tenho muitas novidades, para quem gosta do mundo da moda e do mundo mister, concursos nacionais, um dos meus planos  será estudar odontologia, e representar o Brasil em outros países.

CELEBRIDADE IN FOCO E seu amor pela profissão de como surgiu?

DIÊGO FARIAS (risos) Bom como eu falei no início, recebi um convite para desfilar em concurso, um olheiro me convidou, a partir daí eu vi que realmente eu me identificava com a passarela ou modelar de alguma forma, observar, imaginar as pessoas trabalhadas, analisar o perfil me atraia e me fascina até hoje, é na verdade um exercício prazeroso.

CELEBRIDADE IN FOCO Aproveitar a oportunidade e fazer um convite para você participar conosco da nossa Festa da Juventude 2013.

DIÊGO FARIAS – Será um prazer, estarei sim com vocês, tanto no desfile da Rainha da Juventude 2013, como também durante toda festividade. Desde já agradeço pelo convite.

CELEBRIDADE IN FOCO Deixe uma dica para quem quer seguir nesse mundo.

DIÊGO FARIAS Bom primeiro precisa ter foco, saber se é isso realmente que a pessoa quer, pois não é uma carreira fácil como muitos imaginam, no início sofre bastante, precisa adquirir experiência, mas quem pretende seguir a dica é persistir bastante, participar de concursos que tiver uma credibilidade boa, cuidar do corpo, estar sempre pronto (a) nunca esperar para se preparar quando a oportunidade bater na porta, por que pode ser tarde.

ENTREVISTA EXCLUSIVA: Administradora do grupo Ciências Criminais no Facebook fala da sua história e temas das Ciências Criminais

 

 

Guerreiros, hoje temos outra novidade aqui no Assim Passei, uma entrevista com a administradora do Grupo Ciências Criminais do Facebook, que hoje tem mais de 10.000 membros, conta com a participação de grandes juristas brasileiros e com certeza desenvolve o melhor trabalho em debates sobre questões penais.

 

Obrigado por terem aceito o nosso convite, é muito bom receber vocês, acompanho esse grupo desde o começo e gosto muito.

Com a palavra, Larissa.

 

Gostaria de agradecerprimeiramente à Deus, por tudo que fez e o que continua fazendo para a concretização deste projeto. Eu gostaria de agradecer o convite para esta entrevista, agradecer a parceria do blog “Assim Passei”, pela oportunidade, agradecer o Lucas R. de Ávila, por sempre está a disposição nos ensinando a cada dia mais e mais e com essa iniciativa brilhante, que o mesmo teve para elaboração desse blog como apoio para o pessoal de OAB e concursos públicos. Essa equipe é simplesmente maravilhosa, estão de parabéns.

Muito obrigada mesmo.

 Não há o que agradecer, vamos às perguntas:

 1 – Quando e porque vocês pensaram em criar o grupo?

A iniciativa nasceu no final de janeiro deste ano, quando o advogado criminalista João Carlos Pereira Filho, e eu (Larissa), decidiu criar um ambiente virtual para “democratizar o mundo criminal e tudo o que ele abrange”. A ação cresceu graças à capacidade de organizar essas informações e difundi-las em um só lugar. “Antes, esse conteúdo ficava espalhado por sites, livros jurídicos e publicações segmentadas, o que gerava um custo a quem queria conhecer mais das ciências criminais e era excludente”.

 2 – Quantos são hoje administrando o grupo? Afinal, são mais de 10.000 pessoas, não deve ser fácil administar isso tudo. Foram sempre vocês ou isso mudou durante o tempo?

 Então, hoje conta apenas com a minha administração, realmente não é fácil mais dou meus “pulos” e consigo. Não tenho que me preocupar muito o pessoal respeitam então fica até mais viável a administração.

O grupo visa investigar os sistemas jurídico-penais contemporâneos a partir da análise crítica do direito penal e processual penal, verificando em seus fundamentos as diferentes formas de violação/proteção dos direitos da pessoa humana.

 3 – Muitos juristas importantes do Brasil estão entre os membros, como vocês vêem isso?

 Vejo que o “Grupo Ciências Criminais” tem uma credibilidade muito grande, nosso pulso firme na administração, onde atraem esses juristas. O tema de “Ciências Criminais” é um tema que realmente chama atenção, pois engloba assuntos polêmicos. Temos Roberto Delmanto, Edson Knippel, Tânia Faga, Rogério Montai, Damásio de Jesus, Alice Bianchini, Flavio Martins, Flavio Cardoso, Guirlherme Nucci, Flávio D’Urso, Luiz Flávio Gomes, Luiz Flavio D’Urso entre outros.

 3 – Os debates envolvendo questões relacionadas ao tema proposto pelo grupo Ciências Criminais normalmente são polêmicos, é difícil controlar as discussões entre membros? Alguma vez foi necessário tomar medidas de controle? Se sim, quais?

 Um pouco difícil, pois temos que ficar atentos. Sim, tomamos por várias vezes, membros que não sabia respeitar a opinião do outro e falava palavras inapropriadas e sempre que alguém infringiu as regras do grupo, nos expulsamos do grupo. Queremos um grupo com harmonia e com a credibilidade que sempre teve.

 4 – Os participantes utilizam o grupo só para debater questões criminais ou tem ganhado novas utilidades, digamos assim?

 O Grupo Ciências Criminais é somente para debatemos questões criminais o nosso foco é somente esse e quando alguém começa a colocar outros assuntos, avisamos a pessoa e em seguida excluímos as mensagens.

 5 – Para finalizarmos, recentemente questões como o aborto, a lei seca, ficha limpa e outras dessa ordem têm sido discutidas pelo STF e pelo legislativo do nosso País, qual a opinião de vocês sobre isso? Houve um avanço? Ainda há resistência na abordagem dessas questões? Como vocês veem isso?

 Vamos lá por partes, em relações em decisões algumas na minha opinião o STF acertou outras não.

Em relação ao aborto em minha opinião:

 a) aborto de fetos anencefálicos:

 O direito à vida, conforme reza a Constituição Federal, antecede todos os outros, não podendo ser minimizado por um direito subjetivo da mãe que enseja abortar. Vale lembrar ainda que o artigo 4º do Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, assegura o direito à vida desde a concepção e tem força de emenda constitucional imutável, cláusula pétrea. Também o artigo 2º do Código Civil dispõe que “a lei põe a salvo dos direitos do nascituro desde a concepção”.

A questão da anencefalia desdobra-se também sobre a hipótese de não haver expectativa de vida da criança, ou seja, vida em potencial. Ora, expectativa ou probabilidade de vida há, curta, mas há. Outra questão se depreende do fato de que há entendimentos no sentido de que o feto portador de anencefalia não é considerado vivo por não ter o cérebro totalmente formado o que não configuraria ilícito penal a prática do aborto, um vez que este consiste na cessação da gravidez de um ser humano vivo. Mas seria correto afirmar que um bebê apesar de anencéfalo, mas cujo coração e respiração funcionam independentemente de meios artificiais, esteja morto?

Alguém tem o direito de matar? Ao nascer você sabia quantos minutos, dias ou anos viveria? Seus pais sabiam? Ainda que seja um minuto de vida, digamos sim à vida, sempre!

Eu sou totalmente contra a decisão do STF.

 b) Em relação a LEI SECA na minha opinião:

 O direito penal deve ser aplicado como ultima ratio, ou seja, o Estado deve esgotar todos os meios possíveis para lançar mão do Direito Penal. Melhor seria se o Estado apreendesse o veículo do infrator, só liberando mediante o recolhimento de uma multa alta, com o fim de inibi-lo a voltar a dirigir embriagado. Ademais, no caso da Lei Seca, o legislador acreditando que a criminalização da conduta de dirigir alcoolizado iria resolver o alto índice de homicídio no trânsito, se precipitou e esqueceu-se do Código de Processo Penal, o qual dispõe que crimes punidos com pena de detenção são afiançaveis na esfera policial. Com isso, gerou o seguinte problema: quem é pego dirigindo embriagado, após constatado a alcoolemia por instrumento próprio (bafômetro), ou exame de sangue, é autuado em flagrante, e em seguida, após pagar fiança, é posto em liberdade. Significa dizer que o legislador apenas trouxe mais trabalho à Autoridade Policial e ao Poder Judiciário.

Não é A LEI que conseguirá diminuir a imprudência, a desordem, a irresponsabilidade no trânsito — mas a fiscalização e a consciência dos motoristas.

Milhares de pessoas morrem anualmente no trânsito devido a condutores irresponsáveis que abusam do álcool, estamos fartos dessa realidade, porém cabe lembrar que HÁ MUITO TEMPO dirigir embriagado é infração gravíssima e acarreta suspensão do direito de dirigir (art. 165 do CTB). Pergunta-se: por que a punição prevista no CTB não vinha sendo aplicada como nestas últimas semanas? Por que, agora que a atitude de “invocar os rigores da Legislação” fora tomada, resolveram anexadamente fechar o cerco e apertar a vistoria ?

Sou totalmente a favor da decisão , mas tem que ser realmente aplicada e para todos, pois em alguns casos ela não se aplica.

 c) Ficha Limpa na minha opinião:

 Decisão acertada, pois nada há de inconstitucional no estabelecimento de inelegibilidade mediante condenação por órgão colegiado, desde que se entenda enquanto tais os tribunais, a partir da segunda instância. O argumento, da pena insuspeita do Ministro Celso de Melo, no sentido de que a lei seria incompatível com o disposto no art. 15, III, da CF, que exige o trânsito em julgado de condenação criminal para a perda ou suspensão dos direitos políticos, é facilmente contornável. Basta ver se valerá mesmo, pois já estamos aguardando a anos e o resultado é insatisfatório.

Espaço para você dizer algo que queira, se quiser.

 Como complemento ao que é debatido nas redes sociais, surgiu o blog Grupo Ciências Criminais. No espaço, são publicados temas que requerem maior profundidade, como, por exemplo, revisões de questões aplicadas em provas de concursos públicos e decisões polêmicas do Supremo Tribunal Federal.

 E queria deixar uma mensagem para os concurseiros e os oabeiros.

 Pessoal, eu sempre digo: não tenho medo de ser reprovado, e sim de perder a motivação para continuar estudando!

 “A maior glória não é ficar de pé, mas levantar-se cada vez que se cai”.

 Muito obrigado pela oportunidade e conte sempre conosco.

 Larissa, nós é que agradecemos a sua disponibilidade, foi um prazer, o seu trabalho merece o sucesso que está tendo, essas suas palavras vão de encontro a filosofia do nosso blog.

Pessoal, espero que tenham gostado da entrevista, estamos com outras em vista. Se vocês ainda não participam do grupo Ciências Criminais, recomendo que deem uma passadinha lá, considero indispensável para quem gosta de se manter informado sobre as questões que cercam o tema.

Blog: http://grupocienciascriminais.blogspot.com.br
Twitter: 
@ccriminais
Grupo no Facebook: 
Grupo Ciências Criminais.

 

 

Fonte:  Blog Assim Passei

Se não há meio ambiente, não há economia

No caminho da prosperidade, as economias modernas devastaram boa parte dos recursos naturais. Em nome do crescimento econômico, a atividade industrial dilapidou os serviços ecossistêmicos (responsáveis pela manutenção da biodiversidade), desfigurando a natureza em várias frentes. Indiscutivelmente, mudanças climáticas foram – e estão sendo – provocadas pelo “homem-econômico”. O objetivo? Fazer a economia crescer exponencialmente produzindo em excesso para atender o consumo exagerado. O resultado? O ambiente ameaçado pelo consumo excessivo. A consequência? Depleção ambiental.

Inequivocamente, produção econômica implica destruição e degradação do meio ambiente. Por si só, isso já é o bastante para orientar à tomada de decisão rumo à elaboração de um novo paradigma econômico voltado às ordens ecológicas; não às mercadológicas.

Se não mudarmos o atual paradigma econômico é a própria economia que cada vez mais se joga no abismo da destruição, tendo em vista que, como bem lembrou Lester Brown, “a economia depende do meio ambiente. Se não há meio ambiente, se tudo está destruído, não há economia”.

Nessa mesma linha de análise, Clóvis Cavalcanti nos diz que “não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”. “Sem recuperar o meio ambiente, não se salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio ambiente”, contextualizou o ecologista norte-americano Berry Commoner (1917-2012).

Embora em seus modelos convencionais a economia tradicional faça questão de não contemplar a moldura ou restrições ambientais, pois a visão predominante do sistema econômico como um todo enaltece loas ao fluxo circular da riqueza, imaginando, com isso, uma economia como sendo um sistema isolado, como se fosse um corpo humano dotado apenas do aparelho circulatório, não há como negar o enorme grau de dependência da economia em relação ao ecossistema natural finito (meio ambiente), uma vez que a natureza fundamental da economia é extrair, produzir e consumir.

É intensa a relação da economia (atividade industrial) com o meio ambiente. Não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema aberto que troca energia com o ambiente. Nessa troca, recebe energia nobre (limpa) e a devolve de forma degradada (suja).

Portanto, metaforicamente, se a economia é um corpo humano, o aparelho digestivo está aí contemplado, uma vez que recebe da natureza matéria e energia e devolve lixo, dejetos. Reafirmando essa ideia, convém resgatar uma passagem de Nicholas Georgescu-Rogen (1906-94): “o sistema econômico consome natureza – matéria e energia de baixa entropia – e fornece lixo – matéria e energia de alta entropia – de volta a natureza”.

Diante disso, é de fundamental importância subordinar o crescimento aos limites ecossistêmicos, uma vez que crescer além do “normal” é altamente prejudicial ao meio ambiente.

Por isso, o novo paradigma econômico precisa convergir com a ecologia, uma vez que dependemos dessa para nossa própria sobrevivência. O desafio é ímpar: produzir mais (bem-estar) com menos (recursos naturais). Produzir mais qualidade (desenvolvimento), e não quantidade (crescimento).

Decorre daí a máxima de que somos, pois, dependentes do meio ambiente, contrariando assim o discurso de René Descartes (1596-1650) de que “somos senhores e dominadores da natureza”. Por essa ideia do filósofo francês, a economia dilapidadora dos recursos naturais, manejada pelo “homem-econômico”, estaria agindo de forma correta em propagar destruição, poluição e degradação ambiental, uma vez que para gerar riqueza gera-se antes destruição natural.

O futuro da vida – e especialmente, da vida humana – na Terra, dependerá do rumo que se der hoje à economia. Se nosso objetivo maior for pela continuidade da vida de nossa espécie devemos seguir o receituário propugnado por Georgescu-Rogen: “(…) um dia a humanidade terá de compatibilizar desenvolvimento com retração econômica”. Caso contrário, pereceremos.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista, especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP).

prof.marcuseduardo@bol.com.br

Conversa fiada, afiada (ou jogando conversa fora)

As vezes a gente só quer mesmo é jogar conversa fora (conversa pra boi dormir, o famigerado miolo de pote). Amanheci com a palavra “Parte” embolada dentro da boca. Em vão tentei mastigá-la, degluti-la, digeri-la. Mas, às vezes, palavras não são comestíveis. Algumas intragáveis, indigestas, insolúveis. E delas que são insalubres, inodoras, insípidas Outras tantas causam dissabores. Filosoficamente falando, às vezes é melhor calar do que falar!

Existem palavras camaleônicas. Delas que perfeitamente se camuflam! Travestem-se, de modo a nos confundir. Por exemplo, a palavra “desnudo” em qualquer dicionário significa “indivíduo sem roupa, nu, despido”. Neste caso o sufixo “des” não teria sentido lógico! Uma vez que estamos acostumados a encontrar o sufixo “des” no sentido de negação: “desprezado” aquilo ou aquele que não se preza; “desligado” aquilo ou aquele que não está ligado. “Desnudo” a priori deveria significar vestido! Aquele que não está nu!

Não sei se já um dia aconteceu com você aí, que ora lê-nos. Ouvimos determinada música toda vida, na voz de determinado intérprete. De repente na voz dum outro cantor, aquela mesma canção, determinadas palavras, pronunciadas com mais ênfase faz-nos “despertar” pra uma outra realidade.

A palavra “parte” no pai dos sábios (dicionário) tem vários significados: “(s.f.) Parte, porção de um todo; lote; fração; banda; lado; lugar; litigante; comunicação verbal ou escrita que numa peça de música ou teatro compete a cada voz, instrumento ou ator; pl. qualidades; prendas; insinuações, manhas; astúcias; melindres.”

“O carro parte em alta velocidade.” no sentido de sair (verbo partir); “O aniversariante parte o bolo.” no sentido de fender (idem); “O todo às vezes é parte, bem como a parte pode ser o todo” (substantivo). “É da parte de quem?” no sentido de origem, procedência.

Já ouviu falar na colocação “católico praticante”? Muitos padres são contra tal expressão, alegando que é imprópria, redundante, ambígua. Além de traduzir-se numa “falsidade ideológica”. A palavra católico, já possui o caráter universal, de sua abrangência.

Encontramos nosso amigo José Malta Neto, esta semana que confidenciava-nos entre um misto de surpreso e atônito, que ao ministrar uma palestra para estudantes, no momento de uma oração, surpreendeu-se com um jovem que pediu para se ausentar, pois declarava ser ateu. No dicionário “Ateu: (s.m.) Diz-se de, ou aquele que declara que não crer em Deus.”

O pragmático padre Timóteo, que esteve na paróquia de Senhora Santana, trazido pelas irmãs holandesas, lá pelos idos dos anos setenta, era também professor. Um estudante curioso quis saber:

– Padre, qual é o feminino de ateu?

Em cima da bucha:

-À toa!

Fabio Campos 01 de junho de 2013

No blog: fabiosoarescampos.blogspot.com Conto inédito Breve: “O Gato no Espelho”