ZUP NA ESTRADA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2014.

Crônica Nº 1144

Foto: Clerisvaldo Chagas

Foto: Clerisvaldo Chagas

O automóvel roda tranquilamente pelo litoral maceioense. Nem parece sábado de Zé Pereira na pista dupla entre os manguezais. Vamos fotografando as belas paisagens alagoanas entre o mar e a lagoa. Barracas às margens com suas guloseimas típicas, Massagueira, Barra Nova, Barra de São Miguel… Vai passando o mundo do mangue e entramos pelos canaviais que nos levam a São Miguel dos Campos. Nada de Carnaval. Resolvido o motivo da ida à cidade miguelense, após farto almoço na Zona da Mata, vamos seguindo rumo a Santana do Ipanema, encontrando o trânsito comportado como o de início da viagem, em Maceió.

Foto: Clerisvaldo Chagas

Foto: Clerisvaldo Chagas

A tarde ia caindo quando iniciamos uma sessão de fotos de crepúsculo, espetáculo entre a Mata e o Agreste sempre caprichado em amarelo vivo. No povoado Belo Horizonte, perto de Campo Alegre, nos deparamos com uma figura inusitada: um avião em cima de um poste. Lá vai máquina! Mas todos queriam mesmo era chegar ao Pé Leve, povoado que vende as comidas típicas populares, em barracas. Mas os barraqueiros haviam evoluído e transformaram as barracas em ótimas casas de alvenaria. Procuramos o tradicional ponto “Barraca da Galega” para comprarmos bolo de milho, broa, má casada, pé de moleque cozido na folha da bananeira e outras iguarias. Mas a galega não estava mais sozinha. Outros moradores tiveram a mesma ideia e o local tornou-se ótimo ponto de negócios devido ao intenso movimento por ali. Tocamos para Arapiraca. Queria anoitecer quando cruzamos o núcleo e continuamos rumo ao Sertão.

Nas imediações de Batalha, já noite firme, víamos relâmpagos assustadores ao norte. Calculamos que estivesse acontecendo trovoadas pesadas entre Palmeira dos Índios, Cacimbinhas e Pernambuco. Enquanto isso as guloseimas cheiravam que era uma beleza e não víamos a hora de chegarmos a Santana do Ipanema, para um cafezinho fresco com aquelas coisas trazidas do Pé Leve. Tudo consolidado. Nada de chuva em Santana e nem Carnaval pelas rodovias.

Pois é, enquanto uns pulavam o frevo por aí, nós ZUP NA ESTRADA.

A MEDIDA QUE MEDE O CANTADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2014

Crônica Nº 1146

 

A cabeça produz todo o repente

Dia e noite azeitando o maquinário

A produção independe do horário

Mas não pode ser isso tão somente

Vez em quando vem algo diferente

Escapando à rotina e o padrão

Nesse instante se rompe a vibração

E a estrofe triplica o seu valor

A medida que mede o cantador

É a cuia que mostra a criação

 

Não gosto de cantar uma cidade

Trânsito, avenidas e concreto

Baladas, teatros, mar aberto

Escolas, presídios, faculdade

Prefiro o furor da tempestade

A voz temerosa do trovão

O corisco que desce e fura o chão

A onça acuando o caçador

A medida que mede o cantador

É a cuia que mostra a criação

 

O verdume da mata é um calmante

A paisagem da seca é dor atroz

Carcará quando desce é mais feroz

O orvalho nas folhas é diamante

É mais ouro o sopé do horizonte

Os serrotes vigiam o meu sertão

Rasga-beiço protege o azulão

Entre galhos de espinho serrador

A medida que mede cantador

É a cuia que mostra a criação

 

Depois de um dia bem chovido

O sol pinta seus raios no poente

Pula o sapo no olho da vertente

O mocó passa as unhas no ouvido

O galho da jurema, retorcido

Baixa o dorso e balança o gavião

Um peba fugitivo cava o chão

O preá distancia o predador

A medida que mede o cantador

É a cuia que mostra a criação

 

Nas chapadas bonitas, colossais

Dobram hinos canários sem prisões

As serpentes protegem os paredões

Borboletas esvoaçam triunfais

Os macacos se coçam nos umbrais

Nas quebradas relincha o garanhão

O bico cortante do cancão

Silencia pra ver o sol se por

A medida que mede o cantador

É a cuia que mostra a criação

 

Vem à brisa varrendo o pó da terra

Semeando balidos de ovelhas

O zumbido nervoso das abelhas

Vai levando ferrões, lanças de guerra

O guará ardiloso desce a serra

Ergue ao vento o focinho de carvão

A cobra no terreiro morde o cão

Passa o ramo o velhinho curador

A medida que mede o cantador

É a cuia que mostra a criação

 

FIM

GUARDIÕES E GAZETA OUVEM O POVO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de fevereiro de 2014

Crônica Nº 1143

Guardiões e repórter próximos ao matadouro (Foto: Assessoria Agripa)

Guardiões e repórter próximos ao matadouro (Foto: Assessoria Agripa)

Mais uma vez os guardiões voltaram ao rio Ipanema, a convite da TV Gazeta de Alagoas. A reportagem da afiliada da Globo, procurava os problemas que impedem melhor qualidade de vida para os habitantes ribeirinhos e os danos causados ao meio ambiente. O centro da cidade, local conhecido popularmente como Ponte do Urubu, foi alvo das poderosas lentes da TV.

A Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA, representada pelo tributarista Sérgio Soares Campos e pelos escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto, descreviam o histórico de cada ponto tocado pela reportagem, sem no entanto, apontar culpados pelo que está acontecendo com o rio Ipanema e seus afluentes.

Sérgio Campos debulha antigos problemas ambientais (Foto: Agripa)

Sérgio Campos debulha antigos problemas ambientais (Foto: Agripa)

O Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues, situado na Cajarana, também foi alvo da reportagem da Gazeta. A região da Cajarana (por trás do hospital gigante) é a mais desprezada de Santana do Ipanema, onde a população vive sem água, sem calçamento, sem coleta de lixo e receptora de fezes e até de sangue que descem da fossa e lavanderia do hospital. Os moradores que vivem atolados na miséria reclamam constantemente, mas as soluções não conseguem descer a ladeira do Bairro Floresta.

A Secretaria do Meio Ambiente quer resolver o problema, porém, esbarra no serviço mal feito do saneamento de Santana e a CASAL não consegue coletar o material. Enquanto isso, o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues cura os pacientes na frente e adoece os moradores por trás. Seus dejetos descem atravessando o casario da Cajarana rumo ao riacho Salgadinho que despeja no rio Ipanema.

Escritor Clerisvaldo B. Chagas fala à Gazeta (Foto: Assessoria Agripa)

Escritor Clerisvaldo B. Chagas fala à Gazeta (Foto: Assessoria Agripa)

Ainda foi alvo da reportagem Gazeta de Alagoas, o matadouro público, grande poluidor do rio e que não oferece as mínimas condições de higiene.

Os guardiões do rio Ipanema sabem que esses problemas vêm se arrastando por décadas, mas que a partir do mês de março, vão intensificar suas vozes e suas efetivas ações junto às autoridades até que todos os problemas básicos do rio e de seus afluentes sejam resolvidos. Os guardiões prometem não dar sossego a quem estiver errado sobre os assuntos acima e os omissos que têm o dever de fazer e nunca fizeram.

Vamos todos, autoridades e sociedade lutarem juntos e mostrar ao mundo nosso exemplo em busca de vida sadia.

O ENIGMA

“Uma lenda sobre a fundação de Santana do Ipanema”

Era uma vez, três irmãos, Frederico, Lutero e Pedro. Três donatários de terras remanescentes, que se estendiam desde a serra do Ororubá na capitania de Pernambuco, até a freguesia de Porto da Folha, sob a égide de Nossa Senhora da Conceição, as margens do rio São Francisco. Pois bem, esses impávidos desbravadores viviam conforme as vicissitudes de que suas terras lhes propiciavam. Frederico, pecuarista, tirava o máximo de proveito da região de clima ameno, no alto sertão, onde assentou moradia. Lutero, agricultor, vivia alternadamente períodos de fartura e escassez, devido à região que ocupava o médio sertão. E Pedro a despeito de ocupar as margens do “Velho Chico”, era pescador, vivia da pesca.

Frederico praticamente nascera encima dum cavalo, sua mãe, mesmo na sua gravidez, já perto do menino vir ao mundo vivia nas caatingas do sertão, na lida com os bovinos. Mulher destemida, laçava, derrubava e ferrava boi no mato. Separava as novilhas que já estava em época de pegar cria. E conhecia as características dos garrotes com capacidade de cobertura. A vaca boa de leite, sabia que não era a de carcaça cheia, volumosa. Vaquinhas leiteiras eram as magrelas, pois tudo que comiam era pra transformar no precioso líquido lácteo.

Touro era tratado no capricho, garantia de boas coberturas. Rebanho bom era rebanho manso, que bovinamente pastava no cercado. Ora contido no curral, ora na canga do carro gemedor, ou ainda sulcando a terra no bico do arado Tudo isso Seu Frederico aprendeu na vivência com os servis bubalinos. Se quiser saber quem é que acorda o sertão pergunte ao vaqueiro. Quem pensar que são as aves, a pipilar, ou o galo com seu despertador có-có-ri-có, ou mesmo o bezerro mugindo a desmama, no curral, está enganado, quem acorda o sertão é o vaqueiro. E a boquinha da noite, todos se reuniam no alpendre, e rezavam uma reza, que pedia a Deus proteção, para os bois de arado, que não houvesse ali cavalo desertado, nem naquela casa morresse mulher de parto. Um dia Seu Frederico teve um sonho, muito parecido com aquele que o faraó teve lá no Egito, narrado nas escritas sagradas.

Seu Frederico sonhou com sete vacas gordas, e sete vacas magras, e sete espigas de milho. Só que, ao invés das vacas magras engolirem as gordas, aparecia um touro brabo, dez vezes maior que as catorze vacas, e investia contra eles. Bem cedinho, no raiar do dia, foi até o curral, e algo incrível ocorreu, um dos bois, o mais velho, começou a falar com Seu Frederico, com sua voz de boi velho e cansado, ele disse bem assim: “-Seu Frederico, eu sei o significado do seu sonho, porém só contarei se o senhor prometer me soltar na mata, pra que possa viver livre o resto dos meus dias.” Seu Frederico concordou. Então ele continuou: “-As sete vacas gordas que o senhor viu no sonho é o senhor com sua propriedade. As vacas magras é seu irmão Pedro pescador, com suas posses. As sete espigas, o seu outro irmão Lutero, o agricultor. O touro brabo que investe contra vocês é o poder do império, os três precisam se unir para não perderem o que tem.”

Lutero o agricultor, puxou a seu velho pai, amava a terra. Desde pequeno acompanhava a lida do campo, tinha consigo ensinamentos conservados do velho patriarca da família, que lhes ensinara os preceitos do Padre Cícero do Juazeiro, que dizia: “Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; Não toque fogo no roçado, nem na caatinga; não cace mais, deixem os bichos viver; não crie boi nem bode solto, faça cercado; não plante de serra à cima, nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra; faça cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva; represe os rios de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta; plante cada dia, pelo menos um pé de algaroba, caju, sabiá, ou outra árvore qualquer; aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como maniçoba, favela e jurema; tudo isso pode lhe ajudar a conviver com a seca.” E procurava seguir à risca o decálogo Ciceriano, sempre, sempre que podia. Bem como outras práticas que só quem vive vida roceira conhece. Controlar o registro da máquina de plantar pra deixar cair a quantidade certa de grãos de milho e feijão, por cova. No plantio da palma fazer com que a raquete ficasse com a face voltada pra sol nascente de um lado, e poente do outro. Regular bem o caititu pra descascar a mandioca. Repreender os pequenos quando descobriam entre a ramagem uma melancia ou abóbora, pra não apontarem com o indicador, senão os frutos paravam de crescer. E como gostaria de entender porque um pé de abacate só dava frutos se estivesse ‘olhando’ pra outro pé. Seu Lutero era homem sensato, fazia cilagem pra enfrentar os períodos de estiagem. Armazenava grãos nos vasos, e no dia da armazenagem, sabe-se lá porque, não podia ter mulher ‘naqueles dias’, ajuntando os grãos. E temente a Deus destinava a paróquia de sua igreja o dízimo de sua colheita. E quando era de tardezinha todos se reuniam embaixo do telhado, os homens tiravam os chapéus da cabeça e agradeciam a Deus, os frutos da terra. Um dia, Seu Lutero foi olhar umas armadilhas que colocara pra pegar preás, e encontrou uma nambu, enroscada na rede. Algo incrível ocorreu, a pequena perdiz, começou a falar com Seu Lutero. Disse-lhe que se ele a soltasse contaria um segredo, o camponês concordou. E a ave falou da ameaça que pairava sobre os três irmãos, que ele procurasse ir ao encontro dos outros. E ele assim procedeu.

Pedro tinha uma particularidade, só ia pescar, depois de consultar em que fase se encontrava a lua. Era ela, a mãe lua, que ditava os dias bons pra pesca. Fosse com rede de arrasto, que pegava peixe graúdo, Ou que dias de tarrafa, que trazia peixe miúdo. Os dias do jereré traziam camarão, e pitu. Do terreiro de sua casa dava pra ver o rio. O amanhecer ali era algo divino, contemplar as águas se acordando vindo encher os olhos. O sol se espreguiçando, lavando o rosto, se olhando no magnífico espelho d’água. E o rio amava o homem, que amava o rio. E era um amancebo tão sincero que se despiam um para o outro, sem pudores. E como se amavam. Tanto, a ponto de se sentirem um só, rio e homem. Um dia, melhor dizendo num cair de tarde, Pedro estava pescando com vara, sentado na barranca. E fisgou um peixe enorme, que de tão grande quase arrebenta a linha. Ao trazê-lo pra si, o peixe começou a falar, pedindo que se o pescador o soltasse lhe revelaria um segredo. Teria lembrado a Pedro um sonho em que ele, feito o profeta Jonas da Bíblia, fora engolido por uma baleia. Orientou que procurasse seus outros dois irmãos, e assim iria entender o que significava. Segredo revelado, o peixe foi solto.

E eis que os três irmãos se encontraram. De comum acordo decidiram ir à presença do rei, para saber se realmente havia interesse da parte daquele, de retomar suas terras, ou que outros planos o monarca arquitetava para com os três irmãos. Em sua presença revelariam os sonhos, os casos dos animais falantes, os segredos revelados. Na manhã do dia 02 de outubro de 1789, no porto de São Vicente, da capitania de igual nome, Frederico, Lutero e Pedro, decididos, viajaram em busca de se encontrar com o rei. A bordo do navio “Albatroz” sob o comando do almirante Francisco de Paula partiram em direção a Europa, foram ter com o rei que se encontrava numa reunião importante na França, dias depois da revolução.

Diante dos três, na presença de toda a corte, o rei disse o seguinte: “-Realmente, eu estava pretendendo retomar as terras devolutas daquela sesmaria. Por considerar que nenhum retorno trouxe até então, pra Coroa. Porém tenho uma proposta, farei a cada um de vocês uma pergunta se responderem acertadamente, voltarei atrás com meu plano, deixando tudo como está. Caso todos errarem, já sabem, levarei avante meu plano.” Pedro adiantando-se confabulou “-Digníssimo rei! Na minha humilde opinião, acho justo que caso, pelo menos um de nós acertemos uma de suas adivinhas, sejamos também merecedores de inquirir também o rei num enigma. Concorda?” O rei achou sensato. E tudo ia sendo transcrito pelos escribas. E o rei perguntou ao primeiro, dos irmãos: “-Que mulher sendo pequena na terra é grande no céu?”

Frederico respondeu: “-Maria, a mãe de Jesus Cristo!”. “-Errou!” disse o rei: “-Ana, seria a resposta certa. Ana, no céu e profetisa, na terra por conta de um acento, vira anã!” “-Que montaria é digna de um rei?” foi a pergunta dirigida a Lutero. “-O cavalo!” respondeu. “-Errou também. O jumento, foi a montaria que o rei dos reis, Jesus Cristo, usou quando entrou em Jerusalém!”

Finalmente a pergunta a Pedro: “-Responda-me: O que é, que mesmo sem sair do lugar, pode nos levar a lugares distantes?” E Pedro respondeu: “-Ó nobre monarca! Achas que irei responder o pensamento. Mas a resposta certa é o rio.” “-Oh!

Muito bem!” disse o rei. “-Afinal há alguém inteligente aqui! Pois bem meu rapaz agora chegou sua vez, pode fazer a sua pergunta!” Pedro então disse: “-Ilustríssimo imperador, quero primeiro dizer que esse enigma encerra uma terrível maldição, caso vossa alteza não acerte se transformará imediatamente num bicho!” O rei ficou aflito, no entanto não podia voltar a trás. E Pedro perguntou: “-O que é, o que é seu rei, que lhe pertence porém os outros usam mais que vossa senhoria?” O rei pensou, pensou, e finalmente disse: “-Ora! É o meu palácio!” Pedro esclareceu: “Não majestade! É o seu próprio nome.”

Imediatamente o rei, diante de todos se transformou num horrendo lobisomem, que fugiu dali pra montanhas. E Pedro daquele dia em diante, por sua arte em decifrar enigmas, ficou conhecido por Pedro Malasarte. Os irmãos retornaram a sua terra, decididos a prosperar. Fundariam uma vila que teria Senhora Sant’Ana como padroeira, um rio remanescente, e o jumento seria homenageado em praça pública.

AGRIPA NA JORNADA PEDAGÓGICA

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de fevereiro de 2014

Crônica Nº 1138

Foto: Assessoria Agripa

Foto: Assessoria Agripa

Convidada pela Secretaria Municipal de Educação, a Associação Guardiões do Rio Ipanema, fez-se presente ontem no Tênis Clube, em Santana.

Para falar sobre o rio Ipanema e apontar itens que poderiam ser trabalhados pelas escolas sobre esse acidente geográfico (o mais importante do Sertão alagoano) a AGRIPA enviou ao Tênis Clube Santanense, local onde está sendo realizada a Jornada Pedagógica para o ano de 2014, quatro guardiões.

 2º dia de Jornada Pedagógica no Tênis Club. Foto/Agripa.

Diante de uma plateia de quatrocentos educadores, os guardiões, didaticamente, dividiram a apresentação em quatro momentos, a saber: O guardião escritor Marcello Fausto falou, em síntese, sobre o rio Ipanema com informações gerais e rodou um filme bem ilustrativo sobre as duas faces do Ipanema, trecho urbano focando as belezas naturais ainda conservadas e a parte triste provocada pelo homem.

O guardião também escritor, Clerisvaldo Braga das Chagas, disse sobre a divisão da parte urbana do rio. Os seis trechos em que a AGRIPA dividiu o Ipanema para melhor ser trabalhado, vai desde o Poço Grande ou Poço do Boi (acima da grande barragem assoreada) até as Cachoeiras, após o Bairro Bebedouro.

Clerisvaldo, Renalda, Rafaela, Vilma, Ferreirinha e Ariselmo. Foto/Agripa.

À professora Maria Vilma de Lima, guardiã, coube falar sobre um projeto de arborização realizado pela Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, quando a própria Vilma de Lima era diretora daquela unidade do Bairro São José. Esse projeto foi premiado pelo estado de Alagoas, provando assim que é possível socorrer o rio Ipanema nessa situação difícil em que ele se encontra.

Na sequência apresentou-se o poeta, cantor, mateiro e guardião Cícero Ferreira Barbosa, descrevendo as propriedades medicinais de ervas, arbustos e árvores encontradas no leito seco do rio Ipanema ou às suas margens.

Marcello Fausto convida os professores para a luta ambiental. Foto/Agripa.

A guardiã Maria Vilma, ainda retornou para oferecer à plateia vinte e dois itens como opções de trabalho sobre o rio, pelas escolas de Santana.

Ainda fez parte da equipe como apoio, o guardião Ariselmo Melo e a mais nova guardiã, professora Lúcia Barbosa (Lucinha).

Enquanto isso, Manoel Messias, (atual Diretor Municipal de Meio Ambiente e também guardião) participava de encontro na Câmara de Vereadores, com o IMA, sobre resíduos sólidos.

O presidente da AGRIPA, Sérgio Soares Campos, não podendo comparecer aos trabalhos no Tênis, Foi representado pelo vice-presidente, Clerisvaldo Braga das Chagas.

Vale destacar a recepção e carisma da Coordenadora do evento, Rafaela, o empenho da equipe da Secretaria de Educação e a presença da Secretária Renalda Martins da Silva.

A HISTÓRIA BRASILEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2014

Crônica Nº 1138

 

Quando D. Pedro Segundo

Chegou com Matusalém

Compraram um jegue em Belém

Passaram um cheque sem fundo

Bem perto de Passo Fundo

Obama fazia a feira

Judas tinha tremedeira

Quando Lampião chegava

Minha avó tudo ensinava

Da história brasileira

 

Noé matou uma ema

Para comer com Jesus

O Papa fez uma cruz

Do miolo da jurema

Dilma pulou no Panema

Pelé viu a bagaceira

D. João caiu na ladeira

Pelas pingas que tomava

Minha avó tudo ensinava

Da história brasileira

 

Moisés chegou ao Brasil

Foi morar em Maceió

Herodes dançou forró

Levou bala de fuzil

Pilatos comprou três mil

Galinhas de capoeira

Enfrentando Zé Pereira

Felipe Massa tombava

Minha avó tudo ensinava

Da história brasileira

 

Sansão morava nos morros

Negociava com burros

Deu mais de seiscentos murros

Matou quinhentos cachorros

Lula comprou negros forros

Foi vender lá na Mangueira

Tiradentes na pedreira

Quebrava pedra e fumava

Minha avó tudo ensinava

Da história brasileira

 

 

Getúlio Vargas morreu

Pertinho do São Francisco

Foi um tiro de Corisco

Na hora que lhe prendeu

Bateram em José Dirceu

Com talo de macaxeira

Floriano a guerra inteira

Torrado do bom tomava

Minha avó tudo ensinava

Da história brasileira

DIA DO RIO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2014

Crônica Nº 1136

Coordenadora Katiúsia Mineli (Vigilância Sanitária) recebe presidente e vice-presidente da AGRIPA,  Sérgio Soares Campos e Clerisvaldo Braga das Chagas. (Foto: Assessoria / Agripa)

Coordenadora da Vigilância Sanitária, Katiúsia Mineli recebe presidente e vice da AGRIPA, Sérgio Campos e Clerisvaldo das Chagas (Foto: Ascom Agripa)

Guardiões com a Secretária da Saúde, Maria Petrúcia de Matos (Foto: Assessoria Agripa)

Guardiões com a Secretária da Saúde, Maria Petrúcia de Matos (Foto: Assessoria Agripa)

Coordenador da Vigilância Ambiental, Romenito de Melo e os guardiões (Foto: Assessoria / Agripa)

Coordenador da Vigilância Ambiental, Romenito de Melo e os guardiões (Foto: Ascom Agripa)

A TV Gazeta no seu programa Bom Dia Alagoas, edição de ontem (6) causou frisson em todo o município de Santana do Ipanema e região. O motivo foi uma reportagem sobre as Cachoeiras, paraíso ecológico no leito e margens do Ipanema, a cerca de três quilômetros do centro da cidade. As belezas das Cachoeiras foram descobertas pelo escritor Clerisvaldo B. Chagas e registradas no seu diário de viagem a pé das nascentes até a foz do Panema, em 1986. Em 2011, o Escritor Símbolo de Santana do Ipanema publicou o seu diário em livro com o nome “Ipanema, Um Rio Macho” complementando assim a identidade daquela cidade sertaneja. Recentemente as “corredeiras” foram mostradas aos seus colegas que se tornaram guardiões e guardiãs do rio e daí foi um pulo para serem divulgadas por todos os meios de comunicação.

Coordenador de Núcleo da CASAL, Paulo Jorge, explica o saneamento aos guardiões Manoel Messias, Sérgio Campos e Clerisvaldo (Foto: Assessoria / Agripa)

Coordenador de Núcleo da CASAL, Paulo Jorge, explica o saneamento aos guardiões Manoel Messias, Sérgio Campos e Clerisvaldo (Foto: Ascom Agripa)

Os Guardiões do Rio Ipanema, após a reportagem da TV Gazeta de Alagoas, e que também será motivo no Alagoas Rural, passaram a manhã de ontem atendendo celulares de inúmeras partes do município, povoados e de várias cidades do estado, com a palavra parabéns à frente. Entretanto, os membros da AGRIPA estão cônscios de que a responsabilidade da proposta social aumentou em gênero, número e grau. Tanto é que as visitas às autoridades continuam como cortesia, apresentação e entendimento prévio para o grande encontro que acontecerá entre AGRIPA e autoridades no mês de março. Daí em diante, toda Santana do Ipanema unida nos mesmos objetivos, poderá resgatar 6 quilômetros de lazer (rio Ipanema e afluentes) e agir em todos os setores para uma Santana ecologicamente correta.

Apoio assegurado da Câmara pelo presidente Zé Vaz (Foto: Assessoria  / Agripa)

Apoio assegurado da Câmara pelo presidente Zé Vaz (Foto: Assessoria / Agripa)

Anteontem e ontem a AGRIPA recebeu muito mais apoio dos órgãos públicos e da população em geral. É bom revelar que uma proposta foi levada pela Associação até à Câmara de Vereadores Tácio Chagas Duarte para que seja instituído o dia 21 de abril como “DIA DO RIO IPANEMA”.

O Medalhão de Ouro

Houve uma tarde, dessas em que um céu se havia em todo seu esplendor. E o silêncio de Deus vinha vindo e pairava sobre toda criatura. E o sol naquele instante dava de chegar, ao mesmo lugar do dia em que Jesus expirou no alto do madeiro. Mas somente aos espíritos elevados era permitido perceber isso. Visto assim o mundo parecia experimentar o preâmbulo da consumação dos tempos. Foi num momento como esse, que um táxi parou na porta do abrigo São Vicente de Paulo. Mais uma idosa acabava de chegar pra compartilhar um dos cômodos junto aos demais internos.

Assentado num barranco, de barro vermelho, no início da Rua São Vicente. Ao sopé do serrote do Pintado, pelo lado Sul, o Asilo para idosos São Vicente de Paulo, é uma construção de linhas simples. Um único bloco, retangular, ornado de janelas na parte externa. Na parte de dentro, um enfileirado de pequenos quartos, guarnecidos de varanda, com caída d’água pra um singelo pátio descoberto, ornado de plantas. Em tudo lembrando um pequeno convento. Ao entrar ali, os olhares convergiam pra capela e o refeitório, estrategicamente localizados. Onze almas de senis cristãos viventes, por aqueles dias, encerravam parte daqueles cômodos. Sete mulheres e quatro homens. Feitos passageiros, de uma nave chamada tempo, estranhamente navegavam, sem saber dia nem hora que iriam desembarcar. A cada quarto, camas de velhos colchões, uma pequena cômoda, um filtro de barro, um copo num pires. Um banheiro igualmente simples, com uma pia, um pequeno espelho quadrado. Um sabonete um rolo de papel higiênico, um lixeiro, um penico de estanho. Invadindo as narinas, forte cheiro de desinfetante, como se a dizer às moscas que ali não eram bem vindas. Porém insensíveis a tal informação, esvoaçavam e iam pousar onde bem entendiam. Em todos os cômodos uma característica comum, as malas dos seus ocupantes pareciam preparadas, prontas pra viagem.

Apoiando-se no braço da zeladora da instituição como se a muito a conhecesse, lá vinha dona Aureliana Feitosa, se deixando ser conduzida pela passarela. Acabava de chegar a décima segunda tripulante, da nave de gastar tempo. Tempo restante de vida. O chofer do táxi, um negro de boné bufante, as seguia levando a surrada malinha de couro preta, contendo tudo o que a velha senhora possuía. O jardim, as Cássias e espadas de São Jorge em rubro e verde tornado. As paredes pintadas, os telhados nada atraía a atenção, da nova hospede. Como se a única coisa que interessasse, naquele momento fosse apenas ir pelo passeio. Não se dava conta de que pra onde estava indo, não havia volta, não havia saída. Se quer dava-se ao trabalho de lançar um olhar aos demais idosos. Dali pra frente seus companheiros de viagem. Relegados ao ato de existir, era hora de estar ali e esperar, e esperar. O traje da tripulação, roupas de dormir. Como se numa máquina de sonho. E sob uma sonolência se permaneceriam, donde só deveriam acordar, quando chegasse o dia do desembarque, assim viviam. Os homens, sentados nas camas, nas cadeiras de balanço dos alpendres, se ocupavam com coisa alguma. Deles, deitados dormiam. As mulheres preferiam conferir os pertences das suas malas, dobrar roupas. A presença de estranhos, a chegada de uma nova companheira de viagem, nada atraía sua atenção.

Dona Aureliana foi conduzida pra um quarto onde havia duas outras mulheres, Benedita e Vicentina. Chegando ali, foi logo perguntando pela mala de sua irmã Clotilde. É preciso esclarecer que dona Aureliana vinha duma tradicional família de pecuarista. Seus pais era dono de uma das maiores propriedades rural, dos tempos em que a cidade ainda era vila. Aureliana tivera seis irmãs. E todas as sete se deram em casamento, constituíram famílias e envelheceram. À medida que iam ficando viúva, iam sendo conduzidas pelos netos e parentes, para o Asilo São Vicente onde permaneciam até morrer. Fazia apenas alguns meses que Clotilde havia morrido. Acontece que tem a história de um relicário, um medalhão de ouro, valioso, porém amaldiçoado. Aureliana botou na cabeça que o colar desaparecido, estaria ali, entre os pertences de sua falecida irmã Clotilde.

Pra contar a história do colar misterioso, vamos ter que voltar um pouco no tempo. Embrenhar-se na caatinga, ir até os idos de 1936 no sertão alagoano. Saber do cangaceiro José Benedito, conhecido na bandidagem, pelo apelido de “Zé Preto” que mantinha um caso com a cangaceira Rosemêire apelidada Sinhazinha. Essa parelha de crias do cangaço, em determinado ataque a fazenda Grota do Pombal, localizada nas imediações da Vila Entre Montes, às margens do “Velho Chico”, degolou friamente o casal de donos da fazenda. Antes de matar a mulher do fazendeiro, subtraíram-lhe um colar de ouro. Uma praga, um mau agouro foi rogado. Na agonia de morte a mulher teria lançado a maldição, do qual ela própria se dizia vítima, que passasse para quem se apossasse daquele colar. Sem entender do que se tratava a cangaceira passou a usar a jóia. Não demoraria muito e a Sinhazinha deu-se em coito com outro cangaceiro, Ao descobrir a traição “Zé Preto” matou o cabra safado que havia se deitado com sua companheira. A maldição havia se cumprido.

Como o colar teria ido parar nas mãos das irmãs Feitosa, é outra história. “Zé Preto” e Sinhazinha acabaram presos pela tropa de soldados do 3º Pelotão da Polícia Militar de Alagoas, cujo quartel ficava na cidade de Santana do Ipanema. Os despojos dos cangaceiros, armas, munições, a tal relíquia de ouro amaldiçoada, entre outras jóias. Tudo foi parar em cima do birô do comandante da brigada. O Coronel Albuquerque, na ocasião era amante justamente da mulher que um dia seria a mãe das irmãs Feitosa. Num de seus encontros amoroso teria presenteado-lhe o colar, o que implicava em perpetuar a maldição.

Dona Aureliana não encontrou a relíquia entre os pertences de sua irmã. O que incluía uma quantidade considerável de bonecas e calungas de pano. E esse mundo de meu Deus vagou, e vagou pelo mar do céu profundo. Feito a arca do dilúvio, a nave terra. Um dirigível tendo acoplado um bojo, o asilo, tripulado pelos anciãos do São Vicente, continuava sua viagem. Dias e dias, entremeados de noites se passaram. Um dia, melhor dizendo, uma tarde, parecida com aquela do início de tudo, em que Noé esperava um sinal de terra firme. E Dona Vicentina vislumbrou na imensidão do céu, uma pomba branca que vinha. Observando melhor viu que se tratava de um cavalo alado. Se destacando entre o azul vespertino, um alvo equino varão, feito nuvem, veio vindo. E se fazia montado por um homem maduro, de cavanhaque, trajado em vestes pretas.

“-Padre Vicente! O Senhor veio me buscar? Minha mala já está pronta! O senhor trouxe a coroa de ouro da rainha Margarida? E meu noivo, o rei Henrique da França, está esperando pra casar comigo? Vou me casar com o rei! Vamos ter quatro filhos: Três meninos e uma menina! Olhe essa boneca padre! Eu ganhei de Clotilde. Eu guardei pra dar a minha filha, que terei com o rei! Vamos padre! O seu cavalo, está machucando a grama do jardim!” Vicentina aos berros esbravejava, o que a um observador comum parecia um monólogo. No entanto se referia a um interlocutor não visível aos demais, e ele estava lá. Se Vicentina conseguisse viver aquele sonhado conto de fadas, seria interessante que não presenteasse sua filha com aquela boneca. Pra não acabar levando pro seu régio matrimônio, a maldição do colar, encerrado e costurado por Clotilde, nas entranhas da boneca.

Novos sócios e visitas da Agripa

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2014 –Crônica Nº 1135

Nilma

Nilma França, Secretária de Ação Social, Recebe os Guardiões Clerisvaldo e Sérgio (Foto/Assessoria Agripa)

Reunida em sessão extraordinária na última segunda-feira, a Associação Guardiões do rio Ipanema ─ AGRIPA, preparou-se para participar da Jornada Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, cuja palestra ficou para a próxima terça-feira. Agradecida pelo honroso convite feito por aquela Secretaria, a AGRIPA fica satisfeita pelo primeiro grande exemplo social santanense de apoio sobre o resgate do rio Ipanema e seus afluentes, um dos temas que será trabalhado pelas escolas durante o ano de 2014. A Associação irá enviar dos seus quadros os professores Marcello Fausto, Maria Vilma de Lima, Clerisvaldo Braga das Chagas e o conhecedor empírico da flora medicinal do rio Ipanema, cantor Ferreirinha. Os três primeiros, especialista em Geo-História, estarão ali muito mais como guardiões de que como professores.

Comercio

Josinaldo Soares (Associação Comercial) ouve Clerisvaldo, Ferreirinha e Sérgio Campos.( Foto: Assessoria/Agripa)

Durante a Ordem do Dia, novos candidatos a sócio da AGRIPA foram apresentados pelos seus respectivos “padrinhos”. O plenário discutiu, votou e aprovou o ingresso dos seguintes aspirantes: Antônio Manoel da Silva, Maria Lúcia Barbosa, Luiz Carlos dos Santos e o conhecido poeta Charles.

Adenenilson

Como os outros, Adenilson, Secretário de Obras promete apoio irrestrito (Foto: Assessoria/Agripa)

Ontem, terça-feira, uma comissão da AGRIPA, formada pelos guardiões Sérgio Soares Campos, Clerisvaldo Braga das Chagas e Cícero Ferreira Barbosa, foram designados para efetuar algumas visitas de cortesia aos órgãos públicos e sociais visando o encontro com as autoridades que ficou para o mês de março. Após o encontro, definido as estratégias, toda a sociedade irá participar sobre o resgate do rio Ipanema e seus afluentes, cuja manutenção após, será contínua. Todos os problemas do rio virão à tona como construção avançada, pocilgas e estábulos, lixo doméstico e comercial, entulhos, cercas no leito e avançadas, esgotos, fossas, óleo combustível e extração de areia.

É bom aguardar o que vem por aí. E quem estiver errado no rio Ipanema, é melhor colocar as barbas de molho. Rio e riachos limpos, cidade ecologicamente correta, tolerância zero e melhor qualidade de vida, assim espera há bastante tempo, o santanense.

Escritor não é de ferro

Foto: Ilustração

Foto: Ilustração

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2014.

Crônica Nº 1134

Todo mundo tem seus momentos de solidão, lembranças fortes do passado e melancolia. Sendo poeta ou com veia romântica, muito mais, como dizia o repentista Zezinho da Divisão: Todo poeta é sistemático. Então vêm aqueles momentos em que você canta no banheiro, escolhe um CD com música que lhe marcou, lembra até de acender um cigarro e sonhar ouvindo as suas prediletas. Quantas e quantas vezes a insônia toca em nossos nervos e coração! E lá dentro das horas mortas, enquanto os da casa dormem, vamos conversando com ela, a insônia, com cigarro ou sem cigarro no cinzeiro. Lá na geladeira escolhe-se a cerveja que está no ponto, o copo especial e, ouve-se o clique do abridor que acompanha uma dor-de-cotovelo dos anos 60. A cabeça vai à janela inspecionar o tempo, ver o quarto da lua, o desenho das nuvens, o reluzir das estrelas na madrugada. A música roda espremendo o coração, os olhos enchem-se d’água e uma saudade amarga e doce invade a alma.

Foi numa hora dessas que resolvi selecionar as 12 músicas preferidas, diante dessa zoadeira que tocam hoje, sem letra, sem melodia, sem inspiração, somente à base do barulho. Uma vez gravado o meu CD das 12 favoritas, para preencher as horas acima, distribuirei para os amigos mais chegados. Quase todas são músicas de serestas cantadas em Santana por mestres e mestras como Juca Alfaiate, Linda, Omir, Miguel Chagas, Cícero de Mariquinha e outras conhecidas feras santanenses. Vamos adiantar o CD: A PÉROLA E O RUBI, Cauby Peixoto; ABANDONO, Altemar Dutra; AI QUE SAUDADE DE OCÊ, Elba Ramalho; EU NUNCA MAIS VOU TE ESQUECER, Moacir Franco; LAMA, Núbia Lafayete; NINGUÉM CHORA POR MIM, Moacir Franco; NOITE DE INSÔNIA, Nelson Gonçalves; PENSANDO EM TI, Nelson Gonçalves; PERFUME DE GARDÊNIA, Waldick Soriano; RISQUE, Nelson Gonçalves ou Linda Batista; TARECO E MARIOLA, Flávio José; e VINGANÇA, Lupicínio Rodrigues.

O amigo curte essas coisas? Quer um CD? Desculpe aí, compadre, mas ESCRITOR NÃO É DE FERRO.