AGRIPA PARTICIPARÁ DO COMDEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2014

Crônica Nº 1.212

Ariselmo, Manoel, Ferreirinha e Clerisvaldo, Guardiões do Rio Ipanema (Foto: Agripa/Assessoria)

Ariselmo, Manoel, Ferreirinha e Clerisvaldo, Guardiões do Rio Ipanema (Foto: Agripa/Assessoria)

Em Santana do Ipanema, Alagoas, estar sendo criado o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente ─ COMDEMA. A organização tem no comando o senhor Manoel Messias F. Santos, que ocupa hoje o cargo de Diretor do Meio Ambiente e que faz parte da Secretaria de Agricultura.

A AGRIPA, convidada a participar, indicou um dos seus guardiões para ocupar um dos doze lugares do futuro COMDEMA. Informou ainda o senhor Manoel Messias, que após a fundação do Conselho, será criado o novo código ambiental do município, atualizado e eficiente. Daí em diante, continuou Manoel, “Santana será forte em defender a natureza”.

Na última sessão da AGRIPA, realizada quarta-feira (18), também foram apresentados sete desenhos de logomarcas, representando a AGRIPA, para a escolha pelos guardiões, confeccionadas por artistas da terra. Uma delas foi escolhida por unanimidade.

A sessão da quarta foi presidida pelo guardião Clerisvaldo Braga das Chagas, pela ausência do titular Sérgio Soares de Campos. Vários assuntos foram tratados, inclusive reunião especial para estudar os caminhos que levarão ao registro da AGRIPA no Ministério da Justiça.

Diversos setores da sociedade têm procurado a AGRIPA para palestras e pesquisas sobre o rio Ipanema, a estrutura e os objetivos da Associação. Após os festejos de junho e julho, no município, a AGRIPA terá que parcelar seu pequeno contingente para atender a demanda do mês de agosto, inclusive, além fronteiras municipais.

O interesse em defender a natureza vai tomando conta das escolas de diversos níveis e começando a influir nas opiniões de adultos, antes destruidores e agora defensores dos nossos recursos naturais. Todos os objetivos da AGRIPA serão alcançados mais cedo ou mais tarde, concordam todos os Guardiões do Rio Ipanema.

A AGRIPA já tem patrono, símbolo e logomarca, faltando apenas um “slogan” que poderá sair da cabeça dos nossos leitores.

Devido aos festejos, do mês, os guardiões estarão reunidos novamente em sessão ordinária no próximo dia 26, às 17 horas, na Escola Professora Helena Braga das Chagas, Bairro São José.

MORDIDA NAS NÁDEGAS

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2014

Crônica Nº 1.211

Foto: Getty image / G1

Foto: Getty image / G1

Antes do grande embate de Fortaleza, bem que o técnico da Seleção Brasileira de Futebol, dizia da partida difícil que o Brasil teria que enfrentar. Claro que nenhum brasileiro ligado em futebol poderia dizer o contrário. O México, nos últimos anos, parece que resolveu tomar o lugar da Argentina como o nosso principal adversário nas Américas.

Todos aceitaram o prenúncio de dificuldades. E mesmo sabendo que jogo é jogo, que são onze contra onze, que a zebra anda sempre em busca de oportunidades, o empate com o México teve sim um sabor de derrota, o gosto acre da frustração. Não adiantou nada a filosofia inteligente do técnico do Brasil em dizer que os outros também querem ganhar.

O Brasil não esteve coeso na parada, pareceu entrar de salto alto sem disciplina e tática. Vimos um monte de jogadores correndo desordenadamente, talvez acreditando apenas na individualidade, dessas que caracterizam as peladas de várzea. Lances individuais do craque Neymar já eram esperados, a garra característica dos zagueiros também, mas nada disso convenceu.

Um time milionário cheio de estrelas e repleto de mordomias, jamais poderia empatar com o México. Nessas alturas, amenize o empate quem quiser amenizar com o chavão do povo: “Me engana que eu gosto”. Mas, o Brasil não está matematicamente assegurado para a próxima fase.

Do jeito como as coisas andam, Felipão tem que descobrir como fazer para que não passemos vexame diante do mundo. As suas substituições durante a partida não funcionaram. E também não poderiam ter funcionado se não havia segurança nenhuma no plano tático. É como se o técnico tivesse dito: “Vou jogar vocês em campo, cada um se vire como puder”.

O brasileiro tem um negócio de dizer que “o bicho vai pegar”. Podemos até dizer, compadre, que o bicho não pegou de cheio, mas que fez estrago fez. Não adiante nem passar a mão na cabeleira. Se o bicho não pegou em cheio, mas pelo menos abocanhou carne à vontade com voraz MORDIDA NAS NÁDEGAS DA SELEÇÃO.

ALTO SERTÃO QUASE MATA ESCRITORES

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2014

Crônica Nº 1.210

Foto: Edson Vieira

Escritores Marcello e Clerisvaldo no Cava Ouro (Foto: Edson Vieira)

Cangaceiro Marcello e seu cachorro guarani (Foto: Edson Vieira)

Cangaceiro Marcello e seu cachorro guarani (Foto: Edson Vieira)

Tudo aconteceu no último sábado (14), no bioma caatinga do alto sertão alagoano. O cenário do verde exuberante ao pé da serra do Talhado e a paisagem de fundo com a famosa serra do Taborda formaram um quadro perfeito para um dia triunfal da cultura nordestina. Ali, no sítio Cava Ouro, lugar acostumado a eventos de amor a terra, foram homenageados os escritores “lampiônicos”, Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto, autores do livro “Lampião em Alagoas”.

Numa iniciativa do fazendeiro Edson Vieira, diretor de escola e, seu filho Edson Vieira Júnior, professor, essa fazenda do Sítio Cava Ouro, município de Senador Rui Palmeira, lançou o livro citado acima, quando dezenas de exemplares foram vendidos e autografados pelos autores santanenses. Logo cedo teve início os festejos com muita música pelos convidados cantores Ferreirinha e Manezinho, o “Imperador do Forró”. Familiares, parentes e amigos do senhor Edson Vieira, demonstraram que a área rural do município de Senador Rui Palmeira está completamente integrada à cultura e aos diversos movimentos sociais que mobilizam a região.

Secretário da Agricultura, Edimário Rodrigues entre os escritores (Foto: Edson Vieira)

Secretário da Agricultura, Edimário Rodrigues entre os escritores (Foto: Edson Vieira)

Após o lançamento do livro “Lampião em Alagoas” e saboroso almoço com cardápio típico regional, a festa prolongou-se pelo dia inteiro com viola, triângulo, pandeiro e zabumba zoando pelo raso de caatinga, lembrando as paradas festivas do cangaço.

Entre os presentes estava o senhor Edimário Rodrigues, secretário da Agricultura do município que antes se chamava Riacho Grande.

O livro apreciado por todos, também descreve um episódio acontecido quando o povoado Riacho Grande pertencia a Santana do Ipanema. A investida do bandoleiro Virgulino Ferreira, o Lampião, sobre a família Wanderley que habitava o povoado, a fuga dessa família e o assassinato por Lampião do vaqueiro Pedro Breba.

No mês de agosto os escritores também lançarão livros na própria cidade de Senador Rui Palmeira, capitaneados por Edimário Rodrigues, o secretário de Agricultura.

Autores em dia de autógrafos (Foto: Edson Vieira)

Autores em dia de autógrafos (Foto: Edson Vieira)

Diante da impagável recepção dos Vieira, elogios, páginas musicais e sinceridade por um dia completo, o alto sertão de Alagoas quase mata os escritores de carinho e emoções.

Durante o retorno, à boquinha da noite, somente muito tempo depois de cruzarmos o Riacho Grande ─ ribeira criativa irmã do nosso rio Ipanema ─ foi que a ficha caiu.

O sítio Cava Ouro sai na vanguarda rural da realidade literária.

MENINOS, EU VI

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2014

Crônica Nº 1.209

Foto: G1

Foto: G1

Ontem, dia 12 de junho, pela primeira vez o Dia dos Namorados ficou escondido. Cadê condições de sair do esconderijo se as cores do Brasil não permitiam. Os comerciantes e marqueteiros que promoviam Santo Antônio como chefe de compras para movimentar o comércio, deixaram o amigo protetor à parte. Não se falava em outra coisa nos quadrantes brasileiros, cobrindo-se essa nação de verde, amarelo, azul e branco.

Após a criativa festa de abertura, a bola rolou sob inúmeras vozes narradoras do mundo, entre elas a conversa chata de Galvão Bueno. No conforto da poltrona, pouco me importava conversa de homem da cobra, mas procurava perceber claramente como se comportaria a Seleção Brasileira de Futebol. Assisto jogo com meus próprios olhos e não com a opinião alheia, pois chega de “Maria vai com as outras”. Televisão não é rádio onde você somente ouve sem oportunidade de apreciar.

Logicamente no início do jogo Brasil X Croácia, os brasileiros da Seleção estavam visivelmente nervosos, permitindo constantes ataques croatas. Todavia, todos estavam prevenidos sobre o que a Croácia iria fazer no início. Não tem justificativa, portanto, do Brasil em ficar encurralado tomando cascudos o tempo todo.

No geral, contudo, o time de Felipão firmou-se e deu um espetáculo de garra e determinação. Quanto ao brilho, o próprio treinador já dizia que o time não estava 100%, mas na casa dos 80%, o que acabou sendo confirmada as palavras prévias do técnico brasileiro.

Deu para empolgar, o jogo Brasil X Croácia, principalmente porque o Brasil conseguiu sair de uma situação adversa em relação ao placar. Se o pênalti apontado foi verdadeiro ou não, fez parte do jogo, cujo Brasil marcou um de quebra para que as línguas não amarrassem na questão do pênalti.

No que observei pessoalmente, todos jogaram com fibra, mas os destaques ficaram para o meia/atacante Neymar, naturalmente; David Luiz, extraordinariamente e Oscar, inspirado. Apesar dos gols de Neymar, tenho como o zagueiro David o gigante da partida. Venho acompanhando o zagueiro desde a sub-20, impressionado com a elegância do moço em campo, aliada à segurança.

Namorados e namoradas que me perdoem, mas ontem deu somente mesmo para a Seleção Brasileira e aquela onda amarela que tomou conta do estádio. MENINOS, EU VI.

SECA VERDE AMEAÇA O SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2014

Crônica Nº 1208

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

As chuvas voltaram ao sertão velho de guerra, após uma prolongada estiagem considerada como uma das maiores do Nordeste. Entretanto, a água que veio do céu chegou um pouco mais cedo em relação ao outono/inverno da tradição regional. Tão cedo que o sertanejo ficou sem entender se eram as trovoadas que antecedem o período chuvoso ou se já era inverno mesmo, como se chama por aqui.

O sertão está muito bonito e ornamentado com o verde e seus matizes, canto de pássaros, zumbidos de abelhas e paisagens exuberantes das planuras às serranias.

O ponto de tristeza, entretanto, para o homem do campo, é que até agora os reservatórios d’água continuam praticamente vazios. Não houve chuvas o suficiente para fazer crescer a lavoura e nem armazenar água em barreiros e açudes. Em muitos lugares a lavoura se encontra sem forças para o desenvolvimento.

Quem passa pelas estradas e rodovias do sertão alagoano sente o agradável cheiro do mato e se encanta com o verde que descansa a vista de qualquer viajante.

Por enquanto, contudo, estamos dentro da famigerada seca verde que engana por fora e maltrata por dentro. Não afirmamos que essa situação possa continuar assim. Dependendo do Criador, as chuvas podem retornar com maior intensidade, uma vez que os meses mais chuvosos sempre foram junho, julho e parte de agosto. De qualquer maneira, o agropecuarista está mais desconfiado do que burro da pestana branca. Chuva demais e frio intenso também podem prejudicar a lavoura do feijão e milho, produtos básicos da sobrevivência.

Seca verde não representa a dor insana de uma estiagem de dois anos, mas aperta também o agricultor imprensando-o contra a parede rodeada de mandacarus. Como ainda vamos navegando na metade de junho, dá tempo fazer elevar as preces aos santos do mês contra A SECA VERDE QUE AMEAÇA O SERTÃO.

AGRIPA E POVO QUER RESGATE JÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2014.

Crônica Nº 1.207

GUARDIÕES EM SERVIÇO. (foto: Arquivo/Agripa)

GUARDIÕES EM SERVIÇO. (foto: Arquivo/Agripa)

Dando continuidade à luta pelo resgate urbano do rio Ipanema e seus afluentes, abandonados pelas autoridades desde os anos 60, a AGRIPA aperta o cerco.

Na sessão da última segunda-feira, a Associação recebeu em ofício da Prefeitura, a Lei Nº 922/20.05.2014, sancionada como homenagem permanente ao principal curso d’água que banha e dá nome ao município de Santana, como “Dia do Rio Ipanema”.

Agora a AGRIPA começa a fazer pressão diante dos órgãos que têm o poder de resgatar o rio. Diante disso, o diretor do meio ambiente Manoel Messias e o presidente da Câmara de Vereadores, José Vaz, estão procurando juntos criar o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente e aplicar as leis já existentes no Código Municipal, criado na gestão Genival Tenório e ainda atualizadas.

Já foi entregue pela AGRIPA ao senhor prefeito, o calendário de limpeza de lixo e entulhos no rio, ficando todas as primeiras terças dos meses de julho a dezembro de 2014.

A Secretaria de Ação Social e da Saúde, com os seus anexos, estão sendo, pela segunda vez, convidadas a prestar esclarecimentos à população através da AGRIPA, sobre a omissão ou não desses órgãos nos problemas apontados pelos guardiões. As titulares não compareceram ao debate do último dia 21 e nem enviaram representantes. A AGRIPA promete mover ações amargas contra órgãos pagos com o dinheiro do povo, que se recusem a esclarecer o que a população tem direito em saber.

Por sua vez, a CASAL também não enviou a AGRIPA o relatório prometido, o que poderá levar os guardiões a tomar outras iniciativas, pois o maior poluidor são os dejetos descidos dos esgotos.

A fossa do hospital Clodolfo Rodrigues, a fossa do antigo hospital dentro do Ipanema, pocilgas, estábulos, lava a jato, construções debaixo de ponte, construções nos leitos de riachos e rio, cercas de arame, extração de areia e pesca predatória, são problemas dos órgãos acima citados.

Em breve os omissos terão novidades.

OS PÉS DE JULIETA

A história de que mentira tem pernas curtas, quem somos nós pra refutar tal adágio. Podemos sim arvorar-nos na premissa, que a dita cuja talvez tenha sim, quanto ao mentiroso, nem sempre. Consideremos a existência de variado tipo de mentiroso. Existindo inclusive aquele que não convence nem a si próprio. Caso engendre-se nossa história de fantasiosas lucubrações. Deixaremos a cargo de quem lê-nos os auspícios das próprias conclusões.

O matuto verdadeiro. O homem do sertão com suas particularidades. Em essência é aquele que vive matutando. Se entre um colóquio e outro dá de falar de alguém que já passou dessa pra melhor, costuma dizer “-Que Deus tape as “oiças” lá onde ela estiver, pra não ouvir o que hei de dizer a seu respeito!” Julieta tinha nela dois defeitos. Pernas curtas e tortas, por conta de uma poliomielite, e mentia que era uma beleza. Num tempo que a gente haveria de chamar tempos idos. A ilustre figura, juntamente com sua família, fora vizinha de minha vó materna. Julieta era assim, cabocla, criada com leite de cabra. Nascida nas brenhas do sertão de Belém do Cabrobó. Trazendo no sangue linhagem Iatê-Tapuio. Da calada da noite tirou a cor dos cabelos, da casca do angico tirou a morenês da pele. Apesar do nome de personagem do clássico literário inglês uma Tiêta agrestina. Aliás, depois de saída da infância, assim que se entendeu de gente, Julieta dedicou-se com ferocidade de animal predador, a caçar o seu Romeu. Arremedo de pavão, bonita somente dos pés pra cima, ao atingir maturidade, buscou com sagacidade um homem pra chamar de companheiro. Desde a infância tornou-se amiga dos familiares de minha vó. Vizinho naquele tempo era adjetivado de “parede e meia”. Os matutos do mato, aos poucos iam se chegando a urbanidade. Atraídos pela concentração de luzes dos quixós, quando a copa da noite dava a cobrir o vilarejo. E as casinhas de taipa iam sendo construídas umas encostadas nas outras, pareciam meninos buchudos quando iam pra feira. Tímidas se espremiam na barra da saia da cidade.

Animado, igual pinto no lixo, assim se apresentava o sertão naquele ano. As promissoras trovoadas vieram no tempo certo. E o dezenove de março chegou encimado na carroceria dum caminhão Ford. E lá foram pra procissão, e a última noite do novenário das festas de São José da Tapera. Dona Amância, sentada na calçada da comadre Aurélia botava cuidado nas meninas. Os corrupios eram como chamavam o carrossel. Uma sombrinha gigante girando alucinadamente. Um engenho de cana adaptado, movido a tração humana, remetia no ar meia dúzia de moleques afoitos sentados em cadeirinhas. Nos apoios das mãos, patinhas grosseiramente pintada. Uma ruma de gente regozijava só de olhar. Jamais se atreveria a tal aventura! Melhor era mesmo olhar! Lá vinha o Mateu, mais enfeitado que santa cruz de beira de estrada. Estalando um relho, assoprando álcool, num apito de caçar “Fogo-pagô” enchia o oco da noite de lúgubre silvo. Jovens casais tentavam a sorte num Laça-laça enganoso. Tacos de madeira que não se deixavam laçar facilmente exibiam cédulas tentadoras. Uma estranha pescaria, peixinhos feitos de lata de óleo, enterrados num tacho cheio de areia. Se pescados a cauda exibia um número que indicava o prêmio ganho: um sabonete “Alma de Flores”, uma calunga de pano, uma carteira de cigarro Astoria, Chesterfield, Continental.

Depois de muita correria, os meninos dirigiam-se pras barracas de comidas, iam recuperar o gasto energético. E das algibeiras de seus calções tiravam suas tão bem guardadas moedas. A menina antes de sair de casa, praticamente implorara: “-Ô mãe! A senhora não tem tanto dinheiro! Me dê uma moeda!” E se fartariam de pão doce com suco composto de mel, groselha ou caldo de cana, rolete de cana num gancho de catingueira, a desbotar os dentes. A luz dos caandeiros alumiava as prendas do leilão: uma ancoreta de cachaça, frangos fritos, vários perus na pena. Um luzeiro mais potente, abastecido com óleo diesel, garantia claridade pra imagem do santo e pro altar. A missa campal elevava aos céus, hinos de louvores ao santo padroeiro. O cântico glorioso se diluía na fumaça dos estrondosos estampidos dos bacamarteiros. E os foguetes subiam deixando pra trás um rabo de fogo. E o fedor de pólvora esturricava nas ventas do trio de zabumbeiros.

Julieta era irmã de Zefinha costureira. Na noite da festa do padroeiro, as meninas conheceram um rapaz que ficou interessado por uma delas, que infelizmente não fora nossa personagem. Então ela armou seu laço de língua. Teria dito à irmã, que sua amiga tinha arranjado um noivo na festa e que ela providenciasse a confecção de um vestido bem bonito para um próximo encontro, que haveria entre eles. O tecido foi providenciado, o cochicho correu solto. O nome do suposto namorado também foi inventado, um padeiro da panificação São José, sem nada saber entrou na história de cochicho de mulher mexeriqueira. Numa tarde em que estavam brincando Julieta confidenciou à amiga: “-Minha amiga! Como você tem pés tão bonitos! Já os meus…” Doeu até hoje, nada podia fazer.

E o sol depois de um dia de trabalho. Cansado e enfadado, começou a escorregar por detrás das telhas dos quixózinhos, dos cristãos, cristãozinhos! Daquela terra de Deus, meu Deuzinho! Zé Costa chegava por ali, se constava na beira do fogão de lenha de minha vó. Davam de iniciar uma prosa morna, cheirando a milho assado. E iam molhando as palavras com café quente. E falaram de Mariazinha coitada que tinha asma. E estudavam: Mariazinha, Julieta, a sua melhor amiga, e uns meninos dos Abreus, outros do Gavião e do Pedrão. Um dia chegou uma professora nova, pra conhecer seus alunos inquiriu-os. Dirigindo-se a um deles perguntou: “Qual é a sua graça?” Todos riram. Não sabiam o que significava “Sua graça”. Mariazinha cansada, cansada: na hora de soletrar, soletrava: “C-a: cá, c-é: cé, c-ó: c-ó…Ô Julieta? Como é essa aqui pertinho do cú? Zé Costa e minha vó riam, e riam, a balançar a pança como fazia padrinho Pizeca.”

“- Ô Zé! Por acaso, tu soube da história que lá no grotão, no olho d’água, depois que anoitece, deu de aparecer aos homens, uma mulher nua, que vai tomar banho? Dizem que o cabelo é tão grande, mas tão grande, que passa das suas partes! Mas ninguém consegue se aproximar, ela simplesmente some.” Não sabia dessa história. Sabia de outra mais interessante: “-Tá correndo por aí uma história de, Ave Maria! Ave Maria! (se benzia) De Lampião. Mês passado, o bando do cangaceiro andou por aqui perto, passou no Capim e teve no barraco de Zé Banca, se abasteceu de um tudo. O bandido deixou o homem quebrado. Foi embora, mas deixou um recado, que o vendilhão, não dissesse (não “dixésse”, era assim que pronunciava) pra ninguém que ele tinha passado ali. Mas foi só o bando sair do seu terreiro. Correu Zé Banca, foi dizer ao delegado. Ah! Minha filha! Lampião quando soube, voltou lá no Capim, e praticou miséria. Zé Banca coitado foi amarrado num pé de babão. Deram uma pisa de urtiga no cabra, nu. Pra encurtar a história cortaram a língua do desinfeliz, e enfiaram no fiofó do miserável!” -Vixe Maria! “

Julieta ficou velha. Também velha tornou-se sua melhor amiga. Um dia, velhinhas tornaram a se encontrar. Na casa da viuvez da amiga, se encontraram. Aquela que arranjou namorado na festa de São José. Namorado de mentira que se tornou verdade. Agora tudo era motivo de risos. Com aquele, a amiga constituiu família, tiveram filhos. E tornaram a ri, riram, e riram lembrando de Mariazinha, que era doente de asma, que não sabia soletrar o c-a: cá! Mariazinha que já morrera. E padrinho Pizeca que ria tanto a balançar a pança. E se despediram, sem saber Julieta que era a última vez que via a melhor amiga.

Fabio Campos

ESCOLA HELENA BRAGA NO OCO DO MUNDO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de junho de 2014

Crônica Nº 1.206

FOTOS DO HELENA 020

FOTOGRAFIA DO HELENA II 016Ontem, nos turnos matutino e vespertino, os estudantes da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas caíram no oco do mundo. Usando o projeto didático pedagógico: “Estudando a Cultura dos Países Participantes da Copa do Mundo 2014”, os alunos daquela unidade educacional, disseram bem das ações do Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE.

Começou muito cedo a animação escolar, com as diversas turmas mostrando o que cada país representado na copa tem como atrativo em seu território. Culinárias, músicas, danças típicas, aspectos paisagísticos, dados históricos e geográficos, tudo foi esmiuçado pelos estudantes sob os olhos atentos de professores e orientadores.

Com o aproveitamento de países de todos os continentes ─ menos a Antártida ─ no Brasil, os alunos caíram no oco do mundo no sentido de pesquisas que enriqueceram de conhecimento a si e aos companheiros que encheram as salas da Escola Helena.

Após as apresentações e a merenda, os estudantes deixavam a unidade iniciando recesso relativo aos jogos da Seleção Brasileira de Futebol.

FOTOS DO HELENA 016

À medida que os alunos se retiravam, ficava o vazio nas salas de aulas ornadas com motivos da copa. Cartazes das apresentações, traços de tintas, eco de palavras… Deixavam professores, funcionários e direção com o orgulho do dever cumprido nessa fase cultural/festiva.

FOTOGRAFIA DO HELENA II 017O diretor da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, professor Marcello André Fausto Souza, dizia se sentir feliz em dirigir a escola do Bairro São José que tanto cooperava com diversas comunidades, até mesmo do Bairro Barragem e fatia da zona rural. “Sinto-me completamente satisfeito dirigindo a escola que leva o nome da minha saudosa e querida professora de infância, Helena Braga”. E ainda complementava o diretor: “Em ver os alunos progredindo, a escola completamente conservada após reforma que aconteceu a mais de um ano, um corpo docente focado e coeso na missão do Ensino… Muitas vezes me emociono e agradeço a Deus a confiança em mim depositada em comandar e elevar esse educandário à sociedade alagoana”.

Com a chegada do recesso, todos os que fazem a Escola Helena Braga das Chagas ficaram com o peito azul, branco, verde e amarelo, após uma excursão pensativa pelo OCO DO MUNDO.

ESCRITOR, PREFEITO E AGRIPA NO MEIO AMBIENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 09 de junho de 2014

Crônica Nº 1.205

11 -AGRIPA NO POÇO.

Na tarde da última sexta-feira houve um grande movimento sobre ecologia no município de Poço das Trincheiras, Alagoas. A coordenadora do meio ambiente Maria Aparecida Wanderley de Brito culminou os seus movimentos com uma caminhada de alunos, pelas ruas da cidade, seguida por carro de som e grande animação do alunado. Dirigida a caminhada em direção ao clube de cultura, ali, professores e alunos, encerraram as atividades do dia, em cima da hora do jogo do Brasil. Mesmo assim os alunos não arredaram pé e assistiram à palestra sobre o meio ambiente, com ênfase para o rio Ipanema, ministrada pelo escritor alagoano Clerisvaldo B. Chagas, representando a Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA.

03 - AGRIPA NO POÇO.

Naquele momento, os guardiões Cícero Ferreiro Barbosa e Manoel Messias F. Santos, também cantores e, dando apoio ao escritor guardião Clerisvaldo B. Chagas, ilustraram a palestra cantando o “Xote dos Guardiões”, página musical representativa da entidade, e outras relativas ao tema dos festejos.

05 AGRIPA NO POÇO.

Com o clube completamente lotado, falou também encerrando o evento, o prefeito Gildo Rodrigues, numa tarde inspiradíssima e repleta de jovens. Gildo fez questão de exaltar o rio Ipanema, curso d’água que banha em Alagoas as cidades de Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras e Batalha, cujo nome também influiu na segunda. Disse dos tempos em que o rio abastecia a população e os tempos de hoje, esquecido por causa da água do rio São Francisco.

O intercâmbio cultural estabelecido entre AGRIPA e prefeitura do Poço das Trincheiras, trouxe luzes à juventude e, outros eventos poderão acontecer para enriquecer mais culturalmente as cidades sertanejas.

10 - AGRIPA NO POÇO.

Em breve o escritor Clerisvaldo B. Chagas estará lançando seus últimos três livros naquela bela cidade interiorana.

Encerrado o evento no Poço das Trincheiras, os guardiões Ferreirinha e Manoel Messias, comemoraram no salão de festas de Santana, quando esses representantes da AGRIPA comandaram um grande show à Rua Delmiro Gouveia.

* Fotos de Ferreirinha.

ARMAZÉM USINA: AGRIPA EM NOITE DE ÊXTASE

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de junho de 2014.

Crônica Nº 1203

Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net

Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net

Durante a premiação do Instituto do Meio Ambiente – IMA, aos destaques do ano, em relação ao meio ambiente, a Associação Guardiões do Rio Ipane-ma deu um verdadeiro show à parte e que roubou todas as cenas daquela noite festiva. Apenas quatro entidades ou pessoas iriam ser premiadas na noite de ontem – dia do meio ambiente – quando de repente vem à surpresa de que um grupo de pessoas do sertão alagoano com a denominação de AGRIPA – Associação Guardiões do Rio Ipanema, ganha destaque natural.

Naquela noite de gala, no Armazém Usina, Bairro de Jaraguá, em Maceió, com toda a organização dirigida para os prêmios destaques, constavam inúmeras autoridades alagoanas de reconhecido prestígio. Após a abertura dos trabalhos e homenagem especial ao seu dirigente, foi chamada para a entrega do prêmio destaque os representantes da Associação Guardiões do Rio Ipanema. A chamada, à apresentação dos premiados, ficou por cota de Liara Lima, conhecida apresentadora da TV Gazeta de Alagoas. Ali estavam o presidente da AGRIPA, Sérgio Soares de Campos e sua esposa, pedagoga Sueli Malta de Campos; o vice-presidente Clerisvaldo Braga das Chagas e sua esposa, professora Irene Ferreira das Chagas; o orador Ariselmo de Melo e sua esposa….. Birim; o segundo tesoureiro, cantor Cícero Ferreira Barbosa; a guardiã conselheira, professora Edilma Gomes e a guardiã, professora Maria Lúcia Barbosa.

Chamados para o recebimento do prêmio, dirigiram-se ao palco Sérgio Campos, Clerisvaldo Chagas e Ferreirinha. Sérgio agradeceu o reconhecimento alagoano, erguendo bem alto o troféu; Clerisvaldo pincelou algumas curiosidades em linguagem poética ao rio Ipanema e, Ferreirinha recitou o Xote dos Guardiões. A plateia, desacostumada com sertanejos no foco, aplaudiu delirantemente os guardiões.

Após as premiações, os guardiões do rio Ipanema, novamente alegraram o salão em um movimento incomum de fotos com várias personalidades da noite, roubando todas as cenas somente para eles.

Foi solicitado do escritor Clerisvaldo B. Chagas, os livros “Ipanema um rio macho” e “Lampião em Alagoas”, para a Biblioteca do IMA, o que foi concedido na hora. Liara Lima fez elogios aos guardiões e anunciou para breve a reporta-gem da TV Gazeta, sobre o rio Ipanema, no programa Terra e Mar.

A Imprensa virtual santanense, sob a batuta de Lucas Malta, do site “ala-goasnanet”, deu toda a cobertura, assim como outros segmentos da imprensa alagoana presentes, o que deixou os guardiões completamente em casa.

Ainda em êxtase pela retumbante vitória em Alagoas, os guardiões retor-naram a Santana chegando às quatro horas da madrugada.

Logo mais à tardinha, o escritor Clerisvaldo B. Chagas estará ministrando palestra em clube cultural na cidade de Poço das Trincheiras e levando parte dos guardiões para a logística do evento.