Para onde vão as palavras não ditas?

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Talvez as palavras não ditas fiquem entre a garganta e o estômago. Em estado de ânsia, passeando pra frente e pra trás. Às vezes, entre a garganta e a mente. Uma ou outra enxaqueca aqui, e ali. Uma mente barulhenta num vocal silencioso. Quem sabe fiquem por ali, entre a garganta e a ponta da língua. Mas, a um passo de sair, é escolhido o ato de sambar de volta pra garganta, como quem está num baile já bem cansado, mas não vai embora até a última dança. Em qualquer uma das formas, a passagem pela garganta em forma de nó é, quase, inevitável.

Vamos nos imaginar como uma máquina tecnológica de armazenamento de dados. Um smartphone, talvez . Temos uma memória RAM, e também uma nuvem para guardar informações importantes. A cada vez que nossa memória interna enche, o sistema nos avisa “favor, liberar espaço, armazenamento cheio”, e nós vamos deletando o que não serve e transferindo as informações que queremos guardar, para a nuvem. Em um dado momento, a nuvem nos manda a notificação “armazenamento cheio, deseja comprar um pacote de mais gigabytes?” — Conosco acontece o mesmo, uma hora ou outra, o valor a ser pago nos é apresentado.

Mais cedo ou mais tarde, as palavras que foram guardadas para não dizer, estarão se alastrando, e se alojando a cada vez que se acumulam. Elas estão na garganta inflamada, na virose, na gastrite e na má digestão. Elas estão nas pedras vesiculares, nos cálculos renais, na hérnia de disco e na hipertensão. As palavras não ditas vagam por aí. Na corrente sanguínea, e em cada bombear do coração. Elas ficam na insônia, na ansiedade, na angústia e na frustração. Como um câncer, toma conta de todo o nosso ser. Metástase.

Em algum momento de sua passagem por aqui, Sigmund Freud citou que “as emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem das piores formas mais tarde”. Quando tomamos consciência de que não nos soma em nada acumular o que deveria ser aliviado, passamos a organizar melhor o nosso armazenamento, guardando somente o necessário. Nos livramos da sensação de estar em constante afogamento em um mar de palavras.

Os excessos de qualquer coisa fazem mal, e com as palavras guardadas não seria diferente. Por tanto, libere o seu espaço de armazenamento, deixe que o seu sistema funcione e flua saudável. Ainda com as palavras de Freud, “o pensamento é o ensaio da ação”. Todo o controle é seu, tome-o em punho firme, e cuide, primeiramente, de você. Se o maquinário tecnológico humano chegar ao estágio de defeito, talvez já não se tenha jeito, nem com reparos, nem formatação. Disco corrompido por excesso de informação.

Escravidão

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Somos educados para crescer, estudar, continuar estudando até produzir, e chegar ao ápice de nossas vidas, que é viver da nossa produção. Seja lá qual a carreira profissional que escolhemos seguir (ou temos a oportunidade de conseguir), ela só nos basta se conseguirmos manter um status constante de produção.

É irrevogável que nós alimentemos o sistema. Precisamos ser máquinas ininterruptas, ou as próprias máquinas, produzidas por outros criadores, tomam conta de todo o espaço. E a nós, só resta produzir mais. Bater metas. Trabalhar, criar e produzir incansavelmente, até que todas as gotas de suor sejam devolvidas em forma de zeros à direita.

De maneira geral, a sociedade está cada vez mais frustradas, e com índices constantemente crescentes de depressão. Vez ou outra, observo grupos sociais distintos de uma mesma comunidade, e me questiono em um calculo que não fecha: quantos zeros à direita são necessários acumular, para um indivíduo extinguir a ideia (ou sensação) de ser um zero à esquerda?

O que quero dizer é que, quanto mais desenvolvida parece se tornar uma sociedade, mais os seus componentes trocam suas vidas para que este desenvolvimento aconteça. E quanto mais se produz, mais produção é cobrada, e mais números são almejados.

Os pequenos criadores, invencionistas, produtores, investidores, quanto maiores (e cito aqui um potencial financeiro) ficam, mais se tornam escravos de sua própria criação. A vida é vendida. Por mais que os resultados em uma conta bancária mostrem satisfação, a estabilidade se desestabiliza quando, ao tempo em que acumulamos, deixamos de viver.

Além do tempo que reservamos para comer, sem nem saborear a comida; dormir, sem qualidade e em curto tempo; suprir com as necessidades de higiene e/ou fisiológicas, geralmente feitas de forma automática, quanto tempo sobra? Você tem aproveitado o intervalo?

Nós vamos a um bar com os amigos, e não soltamos o celular onde está sendo marcada a próxima reunião. O almoço em família precisa ser rápido, pois seu chefe te espera às 13:00 horas em ponto, e não aceita atrasos. A viagem que você sonhou durante a adolescência inteira, não sai da utopia, pois agora que tem dinheiro, não lhe sobra tempo. Aquele esporte que te fazia bem, já não cabe mais na agenda… A frase mais falada dos últimos tempos se tornou também a desculpa pra tudo: “não posso, estou sem tempo”.

Por mais paixão que tenhamos a uma profissão, uma carreira acadêmica, ou quaisquer outros fatores como estes, se encarados com extremismo, transforma-se em um sentimento de curto prazo, e logo se esvai. Se fizermos das nossas ocupações, a nossa vida, chegaremos ao fim dela com acúmulos de bens que só servirão para pagar a nossa morada final. Mas e a vida, viveu?

É muito mais provável que você ouça anciões, contando com riqueza de detalhes sobre aventuras, experiências e histórias de vida incríveis. Enquanto que da geração coca-cola pra cá, os contos de vida sejam sobre o trabalho, a casa que conseguiu comprar, o condomínio, o carro do ano, a chácara com piscina que financiou, o restaurante de luxo… E quanto mais zeros à direita, mais vazios em essência.

Até que ponto vale a sua estabilidade, quando ela tira de você o seu direito de viver, e cobra a duras penas uma constante manutenção? O problema está na normalidade de tudo isso. O ato de sabotar a vida vai se tornar cada vez mais natural, à medida que você permitir. Logo, trocar o lazer por trabalho será corriqueiro. Estar estressado, cansado e infeliz, será uma condição natural. Não ter tempo, já é algo normal.

O tempo passa, os filhos crescem, os familiares se vão. A nova geração de criadores e produtores nascem, e você, se vê na terceira idade, sem mais conseguir produzir. É passado para trás rapidamente, por uma tecnologia anos luz mais avançada (das quais outras pessoas pararam de viver para desenvolvê-las), com uma conta bancária gorda, e um amontoado de bens e propriedades. E cabe aqui citar um breve pensamento de Friedrich Nietzsche: “O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso”!

Mas agora, já não pode gozar da vida. Está cansado demais. Produziu o bastante. Devolveu para o sistema tudo que esperavam de você. Foi, literalmente, uma máquina. Um criador, escravo da criatura. E agora, só consegue pensar em dormir todos os anos de insônia acumulados, e descansar todos os anos de falta de tempo. Se vê em uma bolha viva e nervosa, prestes a explodir para um despertar de vida, mas já não consegue contemplar o viver.

A vida está à venda. Quanto vale a sua?

A súplica dos likes

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Nos últimos dias me peguei fazendo uma autoavaliação no que diz respeito as redes sociais, então, na correria do dia a dia, me dei um prazo de meia hora de “descanso” das minhas atividades rotineiras para fazer uso de um aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos. Para a minha surpresa, os trinta minutos se transformaram em quase duas horas, sem que eu pouco percebesse a hora passar. Sentindo-me inquieta com isso, cheguei numa turma de amigos, e individualmente, perguntei para eles: “Ao longo do dia, quanto tempo você passa usando as redes sociais?”, e a resposta unânime, tão surpresa quanto esperada foi “o dia todo”.

Isso me fez pensar em várias situações corriqueiras, e todas elas me geraram um sentimento de escravidão mental. Nós estamos curtindo e compartilhando a nossa vida de verdade, ou fazendo isso somente superficialmente, estando dependentes de uma ferramenta tecnológica? Porque cá entre nós, estou vendo o mundo inteiro amarrado a uma constante alienação em um ciclo de postar, compartilhar e esperar curtidas e comentários. Agora imagine que você publicou uma foto, e absolutamente ninguém deixou lá o seu like, isso te deixaria triste de alguma forma? Se a resposta for sim, porque isso importa tanto assim?

Acredito que foge totalmente da minha ossada conseguir entender esse ponto em que chegou a humanidade. Ao mesmo tempo em que é maravilhoso poder compartilhar informações importantes e em segundos esta ter chego a um grande patamar de receptores, é aprisionador viver em função do que as pessoas do outro lado da pequena tela irão pensar, curtir ou comentar sobre a sua vida. Só pode haver uma pitada de insensatez de todos nós envolta nisso tudo. Porque, pare pra pensar, a sua vida deve importar a quem além de você?

Tem outra coisa que me deixa curiosa… Qual a necessidade das pessoas estarem provando o tempo todo que estão vivendo? Fotos da conveniência de posto de gasolina onde pararam pra tomar café da manhã, fotos do prato do restaurante classe média onde foram comer, fotos do jantar na orla a beira mar, vídeos daquele show bacana em que puderam ir, vídeos da BR com localização quando arranjam um jeito de viajar. Percebem o quanto estamos dependentes de nos mostrar ativos? Mas, mostramos somente a felicidade gratuita e o egocentrismo aflorando feito primavera. Porque, sejamos sinceros, os boletos a pagar, ou aquele fim de mês que só tinha feijão, farinha e ovo no almoço, eu ainda não vi ninguém tirar foto e postar.

Não contente com o simples ato de postar, as pessoas só se sentem, enfim, realizadas em sua vida virtual, se houver o feedback daquilo que foi posto. Afinal de contas, estamos postando aquilo que em nosso subconsciente é atrativo para quem está vendo. Mas o que acontece, é que estamos gastando o que não temos, alimentando a ideia de mostrar uma realidade que não nos condiz, para mostrar pra pessoas que pouco estão se importando com isso, gerando um ciclo sem fim de insatisfação.

Ainda há outro fator, “Li e concordo com os termos de uso”. Quando foi a ultima vez que você viu essa frase? E mais, você realmente leu, e realmente concorda com os termos de uso? Então, caro amigo, tenho uma coisa pra te contar hoje, e é melhor abrirmos bem os olhos, a propósito: “Você nos outorga uma licença mundial gratuita, não exclusiva (com direito a sublicenciar) para usar, copiar, reproduzir, processar, adaptar, modificar, publicar, transmitir, exibir e distribuir esse Conteúdo em qualquer e em todos os tipos de media ou métodos de distribuição” – e você realmente concorda com isso? Pois é, é isso que o twitter pede para que concorde, e você nunca leu. Mas, se você ficar atento, ficará surpreso com o que irá encontrar nas letras miúdas de todos os veículos que chamamos de redes sociais.

A propósito, quando você faz o download de um aplicativo, e no ato da instalação o mesmo pergunta “Você permite que nós tenhamos acesso aos seus contatos?”, qual a razão para isso? Porque um aplicativo qualquer teria que ter acesso aos meus contatos, ou a minha localização, ou as minhas fotos? Não te deixa intrigado que isso aconteça? Então vou te contar um segredo: isso é só mais uma forma de te manipular, e fazer com que você continue preso a essa corrente, afinal, existem informações importantes sobre você em seus arquivos, e tendo acesso a isso, fica muito mais fácil te atrair e te convencer a continuar nessa bola de neve constante e sem fim.

Agora te deixo a responsabilidade de fazer uma análise corriqueira, em seu dia a dia, você se pertence, ou pertence ao “sistema” se deixando manipular? Pode até parecer hipocrisia perguntar isso, até porque, se você está lendo isso nesse exato momento, você está fazendo uso da tecnologia para isso. Mas, a questão é: você tem filtrado aquilo que está constantemente acessando? Nós somos aquilo que carregamos conosco, sugiro que evite bagagens fúteis e angustias desnecessárias causadas pela grama do vizinho sempre verde, pois, como bem disse Shakespeare: “Não há arauto mais perfeito da alegria do que o silêncio. Eu sentir-me-ia muito pouco feliz se me fosse possível dizer a que ponto o sou.”

Quanto custa?

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Você tem sido você, ou só mais uma peça que compete ao sistema encaixar ao jogo? Tem sido prazeroso levar a vida que escolheu ter, ou a máscara está pesada demais para continuar sobre a face? Gostaria de saber um pouco mais… Queria poder te perguntar com franqueza: você se conhece? Apresente-se a mim. Ou melhor, apresente-se a si mesmo. Descreva-te pelos teus próprios olhos, dispa-se. Consegue se enxergar por inteiro, ou é só mais um reflexo infeliz no espelho do banheiro pela manhã?  

Você acorda satisfeito e vai à cozinha sorridente tomar seu café da manhã antes que as responsabilidades diárias comecem, ou você está sempre sufocado pela obrigatoriedade de levantar cedo, e insatisfeito pelas escolhas que tomou na vida? Por que, cá entre nós, se você está onde está, foi você que se colocou lá. E sim, eu entendo que algumas coisas são necessárias serem passadas para que, posteriormente, possamos alcançar aquilo que realmente almejamos. Mas, não deixa de ser uma questão de escolhas. 

Chegamos ao século divisor de águas da história. Enfim chegou a Era de podermos, no sentido mais amplo da palavra, nos permitir. É necessário desprender-se das correntes do julgamento alheio, desatar o nó. Libertar-se. O preço que se paga por viver a mercê dos padrões e do status, é incontavelmente maior que o valor de ser exatamente quem é. Não há sabor mais gostoso que um copo cheio de si mesmo. É agridoce. Inebriante. Faça o teste, esteja desnudo, em uma conversa entre você e você… 

Experimente tomar um porre de você, ainda não pôde ser encontrada uma ressaca tão cheia de quero mais. Vá mergulhando em si de dose em dose, aos poucos. Se deguste. Não haverá ânsias, náuseas, nem arrependimentos no dia seguinte. Mas, são grandes as chances de se tornar um viciado. Um dependente de si. E é bom deixar claro aqui: não existem tratamentos, nem reabilitações. É um caminho sem volta. Se pertencer, de verdade, é algo tão forte que uma vez alcançado, não há possibilidades de retorno. 

Chegará um momento em que ser você mesmo parecerá algo pesado. Alguns dias você se sentirá perdido, no meio do deserto, com sede de mudanças. Outros dias, talvez irá sentir-se numa assustadora escuridão, e olhará para dentro perguntando: quem sou eu, afinal? – e então, saberá responder? (Mas todas as mudanças são assim mesmo, não é?) Quanto será que tem custado ser você… Será que o preço a se pagar é justo? Avalie um pouco. Quando você vai a uma loja comprar algumas peças de roupa, você compra pensando em si mesmo, ou, no que as pessoas irão pensar ao vê-lo vestido? Sejamos sinceros, cada vez mais, as pessoas alimentam a fome do capitalismo, comprando coisas que não servem, para agradar pessoas que estão pouco se importando com as suas escolhas. 

Arrisque se entregar a si próprio, apenas. Haverá dias em que pessoas que não te conhecem te julgarão da maneira mais árdua que você possa imaginar. Chegam, te olham, e se fazem rasas ao tentar conhecer o seu universo, sem te mergulhar. Também haverá a possibilidade de pessoas próximas colocarem em teste tudo que encontrarem em você, pois, se já somos julgados em querer agradar o mundo, imagina se pararmos de viver em função de tudo e todos e começarmos a viver em função de nós? Esteja pronto para a viagem no seu infinito particular. 

Não desanime. Há uma pessoa, uma única pessoa, que aceitará sua imensidão sem questionar, e será o bastante. Não te julgará, e se julgar, será para o teu crescimento. Te fará mudar, te motivará a ser forte, te ensinará com os erros, e sempre, sempre estará lá. A pessoa que nunca se fará ausente, aquela que sempre será a primeira a chegar sem que você tenha que chamar. Consegue perceber quem é essa pessoa? Quando precisar dela, olhe para dentro de si e pergunte: você está aí? – Posso te garantir, irá ouvir de imediato: sim, eu estou aqui. – E não há sentimento mais puro que se pertencer, amar-se, ser presença, e o protagonista da própria vida. 

Em um mundo cheio de pessoas querendo mostrar umas às outras aquilo que não são, por motivos tão mesquinhos e banais, poder mostrar-se verdadeiramente, e não ter que sempre pensar duas vezes antes de agir, e simplesmente ser, ah, não tem preço… Desate o nó das amarras que te prendem, quebre as correntes, esteja liberto. Custa um preço alto demais viver uma vida da qual não te pertence, e não há como resgatar o valor perdido. Não compensa. Pague o preço de ser quem você quiser. Você é seu, e isso jamais pode estar à venda.

Um fio de esperança

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Na tentativa de iniciar com uma reflexão, me surgiu à mente uma pergunta: Você já parou pra pensar na diferença que pode fazer no mundo? – Ou, num sentido mais estreito e próximo, que diferença a sua existência tem feito em sua cidade, comunidade, rua, corpo acadêmico, escola, que seja… no pequeno e curto espaço de sua casa?

No decorrer dessa semana estive conversando com alguns amigos sobre os mais aleatórios assuntos possíveis, e em todos os momentos caíamos no mesmo questionamento em algum ponto do diálogo, sobre o que almejamos para o futuro. Desde o nosso futuro, ao futuro de nossas famílias, de nossa comunidade, e pensando em larga escala, no futuro do mundo.

Em contrapartida, refazendo algumas leituras de materiais de estudo de sociologia, me peguei pensando na quantidade de vezes que a humanidade se viu em declínio ao fracasso, e ainda assim, se reergueu, e se reconstruiu aparentemente sempre mais forte. Em um desses estudos vi um provérbio chinês que seria, talvez, a chave para todos os meus questionamentos: “Uma geração constrói o caminho pelo qual a próxima vai andar”.

É quase intrigante pensar que a dez anos atrás as coisas eram tão diferentes e que, mesmo assim, fomos nos moldando a todas as mudanças. Falo em linha cronológica de curtos dez anos, porque sei que todos terão fresca memória. Além do mais, é instigante pensar em dez anos à frente. O sabor do enigmático é agridoce. Temos uma perspectiva de nossas vidas para daqui uma década, e ao mesmo tempo, nem ao menos certeza da nossa existência até lá somos capazes de ter.

Pensando nisso, me questionei junto ao provérbio chinês, “o que estou produzindo para a próxima geração?”. É crucial e importante pensar em melhorias para si, mas, a individualidade é tão saborosa quanto egoísta. Olhar somente para o próprio umbigo tem feito de você um construtor do caminho, talvez pedregoso, de dez anos à frente? Como diria o genial e plausível Zygmunt Bauman, a sociedade está cada vez mais mecânica, tudo é líquido, rápido e fluido como água corrente.

Ao mesmo tempo em que me espanta a brusca mudança de dez anos atrás aos dias de hoje (podendo citar principalmente o avanço tecnológico), me conforta saber que as crianças de hoje não têm, nem de perto, o pensamento das crianças de uma década atrás. E o meu fio de esperança mora principalmente nesse quesito.

Os adultos de hoje, digo, de seus trinta anos à frente, que têm suas respectivas opiniões formadas a cerca de algo, por conveniência ou comodismo, dificilmente irão despertar para opiniões contrárias a sua, muito embora venham respeitando e se adaptando saudosamente as mudanças sociais dos mais variados tipos. Além disso, com toda sua experiência e conhecimento, continua construindo sua parte do caminho a ser trilhado.

Os jovens, por sua vez, estão em um período divisor de águas. Chegamos a uma Era em que não existe o impossível para quem quer tornar qualquer coisa possível. O que parece ser ótimo. A cada dia, um jovem sai da bolha, da zona de conforto, e desperta pra uma nova ideia. E talvez, e mais uma vez ressalto, talvez, o caminho a ser construído por esses venha a ter gigantesco impacto.

Agora, vamos ao fio de esperança. Se você tiver irmãos em fase de infância, ou filhos, primos, vizinhos, espere que uma turma delas se junte para brincar, e observe-os conversar. Não interfira, apenas observe. Tentei compará-las a minha turma de crianças de anos atrás, quando eu estava inserida a essa categoria, e nem de longe foi possível fazer isso. Mas, o que será que existe de diferente nessa nova geração?

Como dito, muitas foram as mudanças. A formação familiar, o contexto em que os pequenos estão inseridos, as mudanças na base da educação escolar, a inserção da tecnologia em suas vidas desde muito pequenos, e outra gama de fatores vêm construindo pequenos gênios. Mas, voltemos ao início. Estamos fazendo o nosso papel de construir a nossa parte do caminho para que o mundo venha a os receber?

Guarde essa pergunta e faça a si próprio todos os dias. Todos nós clamamos por mudanças, mas, ficar sentados clamando pra que as coisas mudem, é só gritaria desnecessária. Encerro dizendo uma passagem que muito me agrada de Mahatma Gandhi: Seja a mudança que você quer ver no mundo!