A ABÓBORA DAS ARÁBIAS

Seleção da Arábia Saudita foi goleada pela anfitriã (Foto: RFS RU / Fotos Públicas)

Há uma porção de tempo em Maceió, um sujeito levou uma piniqueira para à praia, durante a noite. Após a aventura noturna, pagou a cuja e deu a sentença: Tome, Fulana, “tu é mais ruim do que abóbora de lixo”.

Grande expectativa se fez com a abertura da copa, na Rússia. E o próprio estado sede que não ganhava jogos a uma série deles, gerava desconfiança entre seus próprios habitantes. Apesar da região do Oriente Médio ainda estar engatinhando em relação ao futebol de outras partes do mundo, esperava-se um bom jogo, pelo menos com bastante velocidade. No início da partida chegamos até a prever a vitória da Arábia. Foi uma decepção! Completo vexame, em se vê aqueles pernas de pau, completamente perdidos em campo.

Ah, cabra velho! Não teve jeito para ficarmos sem apontar os nossos times amadores de outrora: “Se o São Pedro, o Ipiranga ou mesmo o Asa de Arapiraca tivesse no lugar da Arábia Saudita, teria feito muito mais bonito”. Mas bonito até porque a Rússia não era de nada, nem de “fritar bolinhos”, como diria a música de forró. Ganhou porque praticamente não encontrou adversário em campo. E verdade seja dita, o resultado só agradou de verdade aos donos da casa que passaram de torcedores agonizantes para eufóricos galegos das arquibancadas. Mas também ficaria difícil para o todo poderoso de lá se a seleção vermelha perdesse no terreiro, não! Com o ânimo restabelecido, pode ser que os russos partam também para endurecer as partidas que virão.

Existe da nossa parte um respeito muito significativo pela Arábia Saudita, ponto de equilíbrio atual na Geopolítica do Oriente Médio. Inclusive, é um país que aos poucos vai abrindo espaço para as conquistas sociais das mulheres. Assim torcemos também para que o seu futebol e o de toda a região evoluam para nivelar para cima o esporte mundial. Portanto, sem desprezo algum, elogiando até o empenho para chegar à Copa, mas falando francamente sem nenhuma fantasia sobre o jogo de ontem com a Rússia, lembramos o cabra de Maceió:

 “Tome, ‘minha fia’, mas você é mais ruim do que abóbora de lixo”.

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2018

Crônica: 1.923 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

JOGO DE BOTÃO

Jogo de Botão (Foto: Portal do Professor)

Depois de 60 anos do modismo, o jogo de botão voltou à tona nos últimos anos como ilustrador dos comentaristas da Rede Globo.  Mais ou menos nos anos de 1950, surgiu no sertão alagoano o tal jogo de botão. A princípio ele justificava mesmo o nome, pois o jogo era feito por botões de vários tipos de roupas. Os melhores botões eram aqueles usados em casacos de frios e paletós, principalmente. Eram grandes e tinham boa declividade para o deslizar da palheta. Primeiramente eram mesmo somente botões que entravam em campo. A meta era formada por duas caixas de fósforos. Só havia dificuldades quando não se encontrava uma superfície plana, boa e ampla para o pleno lazer da criançada.

As pessoas mais criativas descobriram uma coisa interessante: o botão de quengo de coco. Procurávamos o quengo do coco nos lixos. Tinha que haver muita habilidade para fazer o corte do tanto que se queria, sem rachar aquela superfície dura. Depois se saía lapidando até chegar ao tamanho ideal. Em seguida ralava-se a peça nas calçadas até chegar ao botão ideal, belo e eficiente. Alguns “tecnicos” chegavam a envernizar a peça de coco deixando-a belíssima. Dava gosto se jogar com as peças de coco, porque elas corriam bem e tinham chutes potentes. Mesmo com essas modificações o lazer continuou a ser chamado jogo de botão.

Tempos depois surgiu na praça, onde se podia comprar em casas comerciais, o jogo de botão, arrumadinho. Não eram mais botões e sim, plástico rígido arredondado, tendo ao meio a imagem pequena de um jogador com a camisa do seu time. Palheta, trave, caixa para guardar tudo e nome do time preferido do torcedor mirim. Nenhum desses modelos superou em eficiência a peça de quengo de coco. A Rua Antônio Tavares (primeira de Santana do Ipanema) e a Rua de São Pedro era uma jogatina só.

A diversão é muito boa e qualquer marmanjo pode voltar à infância sadiamente e sem culpa. O nome permanece aceso: JOGO DE BOTÃO.

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.922

PAU DE ARARA

 

Foto: Blog Conversa Franca / Aquiles Emir

“O principal meio de transporte utilizado pelo homem para escapar das paragens comburidas pelo sol intenso, era, antigamente, a caminhada exaustiva, sobretudo para os mais pobres. Hoje em dia, com o advento do caminhão, os habitantes utilizaram-nos na sua fuga e, em consequência desse novo estado social, são denominados de “paus de arara”, dada a analogia entre eles e as araras e papagaios do Sertão, que vemos voejando em torno da galhardia contorcida da vegetação local, fazendo aquele característico alarido; e como os sertanejos emigram nestes, aos magotes, a observação popular comparou-os com aqueles psitacídeos, dando, ainda outro significado à palavra – o pauperismo dos que mais sofrem o rigor das secas.

Notamos que ainda não está definida, nem vitoriosa a ação do Governo contra a seca, pois os açudes que se espalham em Alagoas e no Nordeste em geral, favorecem, apenas, a pequenos grupos populacionais. Além desse aspecto desfavorável, muitos secam, necessitando-se, por conseguinte, do desenvolvimento de um plano mais objetivo de trabalho – perfurações de poços tubulares e instalação de uma rede de irrigação capaz de favorecer o reflorestamento de muitas áreas. Somente assim tornar-se-á uma realidade, como consequência lógica e natural, a fixação do Homem no Polígono das Secas”.

Lendo este belo texto, publicado no livro Geografia de Alagoas (1965), do professor Ivan Fernandes Lima, lembramos o trabalho que estamos realizando sobre os topônimos dos nossos sítios. Discordamos, porém, do saudoso Mestre quanto à origem do apelido ainda em uso: pau de arara.

Em nossa opinião, O vulgo faz analogia às araras e papagaios vendidos em um pau. No caso do caminhão, compara-se ao modo do acomodamento dos passageiros sentados em tábuas horizontais, intercaladas e presas às grades da carroceria. E concordando com Ivan, Para a época, o caminhão representava o progresso e salvou milhares de pessoas nordestinas, da fome e da morte, mesmo sendo apontadas como paus de arara.

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2018

Crônica 1921 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

CACETE NOS ÍNDIOS

Índios reivindicam escola em Palmeira (Foto: Tribuna do Sertão)

Vejamos uma notícia de Palmeira dos Índios, a “Princesa do Agreste”, em Alagoas. A reportagem é do site Tribuna de Alagoas, matéria de ontem (11):

“Os índios da aldeia Mãe Serra Capela estão neste momento na sede da Secretaria de Estado da educação (Seduc) reivindicando mais uma vez a construção da Escola Estadual Indígena Cacique Alfredo Celestino.

De acordo com o povo indígena Wakonã Xucuru Kariri, há 15 anos que o estado não cumpriu com a estrutura física solicitada.

‘Temos mais de 300 alunos indígenas distribuídos nos três turnos. Eles estudam de maneira improvisada, em vários locais espalhados pela própria comunidade. Essa situação vem se arrastando ao longo desses anos’, conta um representante da aldeia”.

A situação em Palmeira dos Índios é repetitiva em todos os estados da federação. Pense como sofrem brancos e negros na luta por um simples posto de saúde ou uma escola decente em suas comunidades. E se brancos e negros padecem desse mal, quanto mais os indígenas que são mais isolados em aldeias. Os quilombolas, isto é, os descendentes de escravos negros, também são os últimos no recebimento de benefícios governamentais. Todos nós brasileiros sabemos para onde vai o dinheiro de imposto do cidadão. E os pontos mais vulneráveis da sociedade vão alimentando os ladrões de gravata que sempre se aperfeiçoam nos dribles garrinchianos da corrupção. No caso de quilombolas e indígenas, estão sempre nos poços das precisões.

Os indígenas de Palmeira dos Índios arrasaram na novela da Rede Globo em cenas no Velho Chico. E se nota máxima fosse à nota mil, eles mereceram muito mais do que isso, quando emocionaram a plateia brasileira através da telinha. Pareciam atores verdadeiros e bem treinados. Ah, só por isso já mereciam essa escola para 300 alunos que reivindicam há 15 anos, quanto mais por outras e outras coisas que honram a “Princesa do Agreste”. Esperamos que o governo do estado se sensibilize com o pedido do povo Wakonã Xucuru Kariri e construa sua escola. Será que é precisa fazer aniversário tal o rabo do jumento de Santana do Ipanema?

É complicado…

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2018

Crônica 1.920 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

FUTEBOL: UMA ESPERANÇA

Gabriel Jesus no jogo Brasil e Áustria em Viena (Foto: Lucas Figueredo / CBF)

Nesse momento de aflição em que passa o nosso país, a Seleção Brasileira de Futebol, parece um alento, um refúgio para fugir dos complicados problemas cabeludos. Não é preciso gostar de esporte para entender que um gol lá fora, alivia a alma aqui dentro. E João vai vibrar comendo pipoca. Maria quer o resultado, lá da pia da cozinha. E até mesmo o assaltante grita eufórico com os tentos nacionais. Não é que a Seleção vá prender corruptos e soltar inocentes, mas por enquanto vai garantindo um longo sorriso verde e amarelo que abre porteiras. O importante é um tronco para se pegar, um arbusto, uma saliência… Um garrancho. E é nesse papel de fuga o que representa a Seleção, mesmo naquela antiga desconfiança com a Alemanha.

Analisando o jogo de ontem, o apito foi buscar longe a esperança que ainda estava sem miolo, perdida e sem alento. Bater a Áustria lá dentro da casa foi um feito e tanto, sem nenhuma dúvida a declarar. Um dos países mais ricos do mundo, vindo de três vitórias importantes na bola, inclusive, batendo o nosso algoz, Alemanha, curvou-se ante o Brasil mulato. E assim vamos prosseguindo a jornada com o treinador psicólogo, filósofo e observador, no momento o melhor do mundo. Falando antes do jogo dissemos que o Brasil, ganhando ou perdendo, estava com o que tinha de melhor em campo. E de fato, para quebrar uma retranca daquela só sendo mesmo “tampa de crush” como diz a linguagem da nossa juventude.

E para provar que Jesus estava conosco, ele mesmo fez o gol que desmantelou o ferrolho. No primeiro tempo não nos agradou a falta de concentração de alguns que perderam muitos passes bestas. Mas o segundo tempo ferveu bem o sentimento nativista brasileiro, pois mostrou descontração, destemor e alegria eficiente, voltando às épocas do nosso auge futebolístico. Mais para frente, no verdadeiro “pega pra capar”, Não queremos ver a surpresa na Rússia de tudo virar ruço. Afinal, no meio de tantas lindas russas, queremos trazer a beldade mais formosa de todas que dizem se chamar: Taça do Mundo. Assim repetimos a pergunta do mote cordelista: O Brasil ganha ou não ganha/sem Pelé na Seleção?

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2018

Crônica 1.919 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

A TV ACABA OU PERMANECE?

Antiga sede da TV Tupi (Foto: Prefeitura / Divulgação)

As perguntas se sucedem sobre o futuro da televisão. Será substituída? Evoluirá mais ainda? Continuará sendo a companheira da dona de casa em sua novela preferida? Foi em 1950 quando no Brasil governava no seu último ano, o presidente Eurico Gaspar Dutra, popularmente presidente Dutra, que surgiu a televisão brasileira. A primeira emissora foi a TV Tupi de São Paulo. Até parece nome de marca de enxada. Ela foi fundada pelo dono de rede de jornais “Diários Associados” e da revista “O Cruzeiro”, Assis Chateaubriand. Na época, o Rádio já estava no auge e revelava muitos cantores e outros profissionais, além da própria gente do Rádio. Assim, esses profissionais foram chegando à televisão.

Naquela época somente o rico podia comprar um aparelho para se divertir com programas musicais humorísticos, esportivos e telejornais. Houve a inauguração da TV Tupi, mesmo com apenas cinco aparelhos particulares em São Paulo. Entretanto, o dono da TV Tupi, Chateaubriand, comprou televisores e os distribuiu em pontos da cidade. Nos anos de 1960, a TV foi sendo desejada por todos. Os profissionais do Rádio pensavam até que o Rádio desapareceria com a concorrência. Com a continuação, em 1970, a TV já fazia parte definitiva na casa dos brasileiros.

A evolução da sua qualidade chegou até os nossos dias, quando a população procura cada vez mais uma imagem mais perfeita. Mesmo sendo popular como a geladeira e o fogão, o preço continua alto. Mas o aperfeiçoamento do celular, hoje com várias denominações, ameaça o uso constante do televisor e mesmo o do computador de mesa. Como o homem não para de inventar e aperfeiçoar seus inventos, ainda irão chegar coisas que o cão duvida. Aliás, muitas já chegaram, deixando de boca aberta o próprio usuário.

O Rádio continua trabalhando ao lado da televisão e dos sites que engoliram os jornais impressos. Parece não ter sofrido nada até agora. Mas, a televisão sobreviverá? Pelo menos até a copa de 2018, sim.

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho de 2018

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.918

O MOTEL DE SÃO JOSÉ

12 anos de abandono (Foto: Clerisvaldo)

Perdão, amigo. Não quisemos dizer que o motel pertence a São José, mas ao Bairro São José. Até porque o pai de Jesus sempre foi citado como um homem trabalhador, cidadão de bem e merecedor do seu papel na história. E quando falamos em Bairro São José, estamos nos referindo ao bairro humilde, zona oeste de Santana do Ipanema, Alagoas. O lugar teve início com um conjunto habitacional da COHAB, onde havia uma vasta plantação de agave, em algumas regiões denominada sisal. Do agave se faz a corda, bastante fabricada e em uso nos interiores. Com a expansão do bairro surgiu o Posto de Saúde São José que atende também às pessoas do Clima Bom, Barragem e Camoxinga. Atualmente o posto funciona em prédio particular onde aguarda há 12 anos a conclusão do edifício próprio, seu vizinho.

Foi essa espera de 12 anos que o tempo fez cobrir de mato, trazendo, cobras, ratos, baratas e mosquitos para o terreno. Enfrentando esses bichos todos, a marginalidade fez do prédio um motel clandestino e esconderijo arretado, onde o lixo fazia a proteção.

Ontem, para surpresa da comunidade, homens e máquinas trabalhavam no prédio abandonado. Enquanto uns extirpavam o matagal, outros rebocavam o muro externo, trazendo uma expectativa alentadora de sertanejo: “agora a coisa vai”, diziam os passantes.

Na verdade, além da extirpação da mazela que provoca insegurança a todos, o Posto de Saúde São José poderá trazer mais dignidade aos moradores da região. Médicos e funcionários precisam de um lugar decente para atendimento. A clientela precisa o mínimo de conforto enquanto aguarda a sua vez.

O Posto de Saúde poderá também ser ponto de referência importante, tanto para a Medicina quanto para o orgulho/cidadão. Irá se juntar aos outros nomes de peso no Bairro, como a Escolas Professora Helena Braga, Durvalina Pontes, Corpo de Bombeiros e à própria Igreja de São José.

 

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de junho de 2018

Crônica 1917 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

ONDE ESTÃO OS BIÓLOGOS?

Barragem, Campo de Pesquisa (Foto: Clerisvaldo B. Chagas)

Com a construção da rodagem representante da BR-316 – trecho do Sertão – veio também um arrojado empreendimento para Santana. Foi erguida uma longa ponte sobre o rio Ipanema, tão bem feita que nunca aconteceu um reparo desde 1951. Tornou-se obsoleta porque é estreita, murada baixa e perigosa com alto relevo para passagem de pedestre (um de cada vez) estreitinha e caduca. Ali foi concluída também uma barragem para abastecer Santana do Ipanema. Com a chegada da água encanada do rio São Francisco, a barragem ficou completamente abandonada. Tanto é que o assoreamento tomou conta e surgiu uma compartimentação vegetal que ocupa toda a área da barragem antiga e sobe o rio em cerca de 2 km de extensão.

Estes vegetais se adaptaram bem à areia grossa e água salobra onde estabeleceram ali o jardim particular no leito seco do rio Ipanema. A continuidade do assoreamento nas cheias esporádicas e o movimento das máquinas na exploração mineral imprensaram os canais em que se divide o rio. Prolifera na área a vegetação rasteira, arbustos e árvores de consideráveis tamanhos. Além da vegetação adaptada, a fauna se apresenta com inúmeros animais como formigas, besouros, aranhas, lagartas, sapos, rãs, teiús, raposas, serpentes e um sem número de aves que frequentam árvores e poços. Não seria a Barragem um laboratório espetacular para biólogos, estagiários, geógrafos e outros pesquisadores?

Comadre, verdade seja dita, nunca encontramos um professor de Geografia, um só biólogo, nem sequer um estudante pesquisando na área. Será que eles preferem o Canadá, a Alemanha, os Estados Unidos? Assim a Natura sertaneja se apresenta com serras, riachos, lagoas, banhados que gritam todos os dias por esse povo, em vão. Quem sabe se não encontrariam novas espécies, animais raros, descobertas espetaculares… Se os cabeças não convidam, não há discípulo. As quatro paredes continuam acorrentando talentos.

Compreendemos que existem outras coisas mais importantes, mas não é crime indagar: onde estão os biólogos?

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de junho de 2018

Crônica 1.915 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

APA: ANTES TARDE DO QUE NUNCA

Trecho da serra da Caiçara em Poço das Trincheiras (Foto: Extraída do livro inédito: Repensando a Geografia de Alagoas – B. Chagas)

Entre a modernidade devastadora e a cumplicidade ignorante, vai o Sertão com o Brasil perdendo sua vegetação nativa. Aqui, acolá se ouve sobre a ação benéfica do homem, como um pedido de oração que demora. Um socorro que poucas vezes ou nenhuma vem à frente do problema, mas sempre chegando por trás como galo de terreiro. Sem contar com o incentivo governamental que ocorreu nos anos 60 sobre o desmatamento.

Mas como tudo em nosso país é devagar e troncho, anuncia-se a criação da APA da serra da Caiçara, cuja parte do lombo mais significativo encontra-se no município de Maravilha. Ainda bem que pelo menos se conserva o antigo nome Caiçara, já chamado de serra da Maravilha.

A serra da Caiçara possui 839 metros de altitude e só perde para a serra da Santa Cruz e a serra da Onça, novo ponto culminante de Alagoas, também no Sertão. A criação da Área de Proteção Ambiental – APA visa proteger o que ainda resta da área da serra do citado município e áreas dos municípios vizinhos como Canapi, Ouro Branco, Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema.

Com esta ação do IMA, poderá acontecer a proteção tanto da fauna quanto da flora ainda existente, extensiva aos mananciais e sítios arqueológicos. Quando existe total proteção do estado o empreendimento é bem-vindo, mesmo em muitos casos de desmatamentos que arrasam o bioma caatinga. Antes tarde do que nunca.

Outras serras sertanejas são mais modestas e giram em torno dos 500 aos 700 metros de altitude. Entretanto, são montanhas importantes e arrojadas que exercem no bioma as mesmas funções da serra da Caiçara. Possuem as últimas reservas de caatinga, refugiam os animais, são nascentes de riachos, pulmão verde das cidades próximas e fontes de pesquisas para inúmeras áreas do Saber. Algumas são usadas pelo homem para instalação de  aparelhos de comunicação e possibilidade de usinas eólicas.

Atualmente, as serras do Sertão vão aos poucos sendo descobertas para caminhadas, paisagismo e escaladas que não sendo sob controle, podem afetar ainda mais a situação ambiental.

E sobre a serra da Caiçara, o tempo trará os resultados.

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de junho de 2018

Crônica 1.915 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

O RABO DO JUMENTO

Artesão conserta estátua do Jumento (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)

O que estar acontecendo em Santana do Ipanema? É a cidade que quer virar capital? É a evolução da cidadania no município? É a consciência política que estar chegando às praças? Será um momento de lucidez coletiva ou um caos que tomou conta da “Rainha do Sertão”? Estamos estarrecidos nos logradouros públicos, no ambiente de trabalho, nas ruas, nos becos, nas avenidas. Denúncias e mais denúncias ganham as manchetes na mídia da cidade todos os santos dias e logo a partir das seis da manhã. Na expressão sertaneja: “O cacete come” no sistema radiofônico desde o amanhecer do dia até a bendita hora do almoço. É tanta denúncia da mídia e do povo que até fica difícil se concentrar no trabalho.

Denúncias sobre o hospital atraso de pagamento, anúncio de greve, movimentos reivindicatórios nas ruas, paralisação de transportes e até mesmo, pasmem os senhores, convite de aniversário para churrasco de ofício! Sim, isso mesmo, aniversário de um ofício que alguém enviou ao poder público sobre o conserto do rabo da estátua do jumento. Um ano sem resposta… Povo convidado a comer churrasco diante do jumentinho, nosso irmão. E se houve churrasco, houve cerveja, quem já viu churrasco sem a “lourinha”? A semana passada, compadre, Santana quase vira Maceió ou mesmo o Rio de Janeiro, com um rasgar de goela por tudo quanto é lugar. E se esta semana o barulho todo acontecer com a mesma intensidade, é capaz de haver muitas mãozadas por aí.

Não sabemos quais serão os resultados de tantas e tantas pancadarias virtuais ou não, saídas de todos os recantos do município: do Malembá a Divisão, da Lagoa Bonita a foz do riacho Jenipapo. Entre as inúmeras cacetadas da semana, tenta-se proteger o jegue, pelo menos o rabo do jegue. E a estátua do “babau” volta a ser polêmica. Antes do churrasco prometido, artesãos correm para salvar o “inspetor”. Dizem que agora vai haver bolo de chocolate pelo atendimento tardio. Com certeza estar faltando à presença do Coronel Ludgero e sua trupe. Acho que ele não teria perdido o churrasco proposto e faria imediatamente sua exigência de “coroné”:

“Você disse que é brabo, Nascimento

Você cortou o rabo do jumento

Eu não quero pagamento, Nascimento,

Quero é outro rabo no jumento”.

Clerisvaldo B, Chagas, 4 de junho de 2018

Crônica 1.914 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano