AUTOBIOGRAFIA

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2015

Crônica Nº 1.398

Clerisvaldo / Agripa / AABB (Foto: Arquivo)

Clerisvaldo / Agripa / AABB (Foto: Arquivo)

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo (Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antônio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966. Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol. Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida em Santos, no litoral paulista. Regressou a sua terra onde foi pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ─ IBGE. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde ─ AESA, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió ─ CESMAC, (2003).

Magistério 

Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas estaduais: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas e, nas escolas municipais: São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Social 

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco; foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor À Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA – Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: “Santana, Terra da Gente”; foi redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL; foi membro fundador e o 2º presidente da Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA. 

Literatura

Em sua trajetória literária, Clerisvaldo Braga das Chagas, escreveu seu primeiro livro, o romance Ribeira do Panema (1977). Daí em diante adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance – 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados – 2004); Ipanema, um Rio Macho (paradidático – 2011); Sebo nas Canelas, Lampião Vem Aí! (peça teatral – 2011); Santana do Ipanema, Conhecimentos Gerais do Município (didático – 2011); Negros em Santana (paradidático – 2012); Lampião em Alagoas (história nordestina brasileira – 2012). Colibris do Camoxinga; poesia selvagem – 2015. Maria Bonita, a Deusa das Caatingas (história nordestina brasileira – 2015); Deuses de Mandacaru (romance – 2015); Fazenda Lajeado (romance – 2015); Crônicas (mais de 1.300 em clerisvaldobchagas.blogspot.com – 208-2015); 228, História Iconográfica de Santana do Ipanema (2015); O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema (2015).

Em produção: Padre Cícero; 100 milagres inéditos

JUBILAÇÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2015

Crônica Nº 1.397

Clerisvaldo, finalmente jubilado. Foto (arquivo pessoal)

Clerisvaldo, finalmente jubilado. Foto (arquivo pessoal)

“TENHO A SATISFAÇÃO DE COMUNICAR QUE AUTORIZEI SEU ATO DE APOSENTADORIA POR MEIO DE DECRETO GOVERNAMENTAL PUBLICADO NA EDIÇÃO DO DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE ALAGOAS, DE 25 DE MARÇO DE 2015. TRANSMITO VOTOS DE CONGRATULAÇÕES POR SUA VALOROSA CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DO SERVIÇO PÚBLICO DE ALAGOAS, MERECENDO DESTAQUE O SEU COMPROMISSO FUNCIONAL NA LUTA POR UMA ALAGOAS MELHOR, O RESPEITO À CLASSE E À INSTITUIÇÃO.

CORDIALMENTE,

JOSÉ RENAN VASCONCELOS CALHEIROS FILHO

GOVERNADOR DE ALAGOAS”.

Há quase dois anos tramitando na burocracia estadual, finalmente o professor de Geo-História, Clerisvaldo Braga das Chagas, recebeu a comunicação acima.

Para quem vive na angústia sem fim pelo seu trabalho, aposentadoria deve significar “carta de alforria”, aquela mesma que declarava o escravo negro como cidadão livre a partir daquele momento.

Não é esse o caso do professor Clerisvaldo que não contou a História, mas fez parte ativa da sua dinâmica no Magistério na Terra dos Marechais. O prazer e a felicidade no quadro de giz estavam em educar milhares e milhares de brasileiros que hoje estão nas mais diversas profissões, servindo dignamente ao nosso país.

Vale salientar, entretanto, que esta aposentadoria faz parte das 40 horas em sala de aula. Vencida essa etapa, o meu xará vai iniciar agora nova tramitação pelas 20 horas restantes que ainda estão na ativa, nesse mesmo indomável estado de Alagoas.

Meu xará, porque Clerisvaldo Braga das Chagas é o professor e o cidadão. Este que escreve é Clerisvaldo B. Chagas, nome artístico da outra banda do EU.

Com a compreensão dos leitores amigos, ex-alunos, colegas e árvore da hierarquia, permitam que a crônica de amanhã seja a autobiografia das duas bandas: o professor e o escritor que estão livres para novos voos na Educação, Cultura e nas palestras. É apenas a grande alegria do jubilado pelo dever cumprido à Pátria, ao Magistério, à Consciência e a Deus.

RISCO NAS CADEIAS

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de março de 2015

Crônica Nº 1.396

SUÇUARANA (Foto: bichosbrasil.com.br)

SUÇUARANA (Foto: bichosbrasil.com.br)

“A eliminação do território de campos e florestas ─ por motivos como o avanço do cultivo de plantas e da criação de gado ou a construção de rodovias ─ aumenta cada vez mais o risco de extinção de diversos animais no Brasil, especialmente os grandes predadores de cadeias alimentares, como a onça-pintada e a onça-parda.

Uma onça adulta explora uma área entre 20 e 150 km2, dependendo da região e da quantidade de presas como ratos, capivaras, cutias, pacas, macacos, veados e porcos-do-mato.

Quanto menos presas disponíveis, mais as onças têm de caminhar. Na busca do alimento, elas podem topar com as fronteiras estabelecidas pelo ser humano. E o encontro com o ser humano pode decidir o destino do animal. Se as presas silvestres (que vivem em matas naturais, como florestas) tornam-se muito raras, as novilhas, as ovelhas e as aves domésticas podem representar uma ‘atraente’ opção alimentar. Então, entram em ação os tiros, as armadilhas e as caçadas. Embora ilegais, essas ações são alternativas ainda usadas para acabar com o ‘conflito’ de interesses.

O Brasil não tem ainda tradição e constância no investimento de recursos significativos para a conservação de animais silvestres e a pesquisa sobre eles, mesmo os ameaçados de extinção. A expectativa de sobrevivência para as onças, portanto, depende também de uma mudança de mentalidade. É preciso conscientizar as pessoas sobre a importância de ajustar-se à convivência com os predadores que vivem em nossas matas”.

Geisisky, Jaime. Onças cativas, Terra da Gente, ano 1, n. 12, abril de 2005, p.19-25. (Texto adaptado para fins didáticos.)

Barros, Carlos & Paulino, Wilson. Ciências; o meio ambiente. (6º ano). Ática, 4 ed. São Paulo, 2011.

A vegetação de caatinga também cabe perfeitamente no texto acima, acrescentado o problema da seca e da desertificação.

O FORRÓ DAS VEIAS

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2015

Crônica Nº 1.395 

Escultura em barro em Caruaru

Escultura em barro em Caruaru

Tardes de domingos desertas no rio Ipanema. As últimas cheias haviam desmantelado os campinhos de futebol do areado, ali no Minuino. Monotonia sem fim tomava conta da paisagem agreste, observada por mim do fundo das casas da Rua Antônio Tavares. Lá adiante está o rio, a subida das antigas olarias, a estrada de acesso às Cajaranas, ao sítio Curral do Meio, ao riacho João Gomes… Mas, na curva da estrada vai ter início uma animação diferente. Numa casinha imprensada no conjunto Eduardo Rita, ainda em formação, é chamariz para a meia idade o “Forró das Veias”.

Acho que foi após a música de Elino Julião, esgoelada por Cremilda:

Só tem veia

Só tem veia

No forró da Coréia 

(…) Eu fico lá 

Trocando ideia 

Mas na Coreia 

Eu não vou mais. 

No caso, a Coreia referida é uma região de Natal, no Rio Grande do Norte. Como em várias capitais nordestinas sempre tem lugares com o nome Coreia cada qual toma para si a música que tanto sucesso fez. 

E lá na ponte molhada do Ipanema, caminha um sexagenário, durinho, engomado, traje domingueiro: “Vai para onde compadre?”. E a firme resposta: “Vou para o Forró das Veia”. Não existe cota, nada cobra o sanfoneiro, o zabumba come solto. 

O bom, o simples, o barato, vai se desfazendo na tela do Minuino, que se esfuma com olarias, enchentes, sanfona dos tempos ricos da paz. Nunca se ouviu dizer que um só empurrão tivesse acontecido naquelas brincadeiras saudosas de ponta de rua. 

E nas inspeções saudosas, também domingueiras, pela periferia, vamos contando histórias para nós mesmo ou para os raros acompanhantes. O dedo indicador vai à frente:

“Era aqui O Forró das Veias”.

Cooperativismo

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2015

Crônica Nº 1.394

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

“É a doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em suas atividades econômicas. O associavitismo cooperativista tem por fundamento o progresso social da cooperação e do auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação desvantajosa de competição conseguem, pela soma de esforços, garantir a sobrevivência. Como fato econômico, o cooperativismo atua no sentido de reduzir os custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço, edificar instalações de uso comum, enfim, interferir no sistema em vigor à procura de alternativas a seus métodos e soluções”

“(…) (com teto mínimo, mas sem teto máximo): variabilidade do número de associados acima do mínimo, que é de vinte pessoas físicas (cooperativas singulares); limitação de valor das quotas-partes e do máximo de quotas-partes para cada associado, não podendo exceder a 1/3 do total; proibição de vender ou passar quotas-partes a terceiros; quorum (determinado número de membros presentes) para que Assembleia Geral possa funcionar e deliberar; indivisibilidade do fundo de reserva, mesmo em caso de dissolução da sociedade; voto único para cada associado, independente de suas quotas-partes; área de ação determinada no estatuto; distribuição proporcional dos lucros ou sobras”.

Os constantes documentários na televisão sobre setores rurais de cooperativas como a das quebradeiras de coco babaçu; a do aproveitamento do imbu no sertão baiano e outras mais para produção de alimentos e resistência são vistas como sucessos coletivos.

Não sabemos, então, porque um sistema que dá certos em outros lugares “bate fava no sertão de Alagoas”. Ou contamos nos dedos as cooperativas em atividade ou contamos essas atividades falidas. Quem saberá onde se encontra o “X” da questão?

AS NARINAS DO PAPA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2015

Crônica Nº 1.393

PAPA FRANCISCO. Foto (G1)

PAPA FRANCISCO. Foto (G1)

“A corrupção é suja”, disse o Papa. “E uma sociedade corrupta é uma porcaria”, afirmou. “Aquele que permite a corrupção não é cristão e também cheira mal”, disse o Papa. “A grande riqueza de vocês é que esta cidade produz uma cultura de vida que a ajuda sempre a levantar depois de cada tombo, de modo que o mal não tenha nunca a última palavra”, completou.

As palavras do Papa Francisco foram pronunciadas em visita a Nápoles e logo publicadas por todos os rincões da Terra. Sendo a cidade italiana considerada o berço de uma das máfias, recebeu o duro pronunciamento, estendido, sem dúvida para o mundo inteiro. Parecia até que Francisco falava diretamente para o Brasil, diante da vergonhosa situação em que vivemos.

Em Brasília, além da tapa na cara que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deu no povo brasileiro, querendo que paguemos as contas dos passeios da sua mulher e a dos outros de lá, surge mais ainda. Outra vergonhosa proposta de aumento exorbitante para as emendas dos parlamentares. Ainda bem que nesse ponto, surgiram pessoas com mais equilíbrio, no Senado, e assinaram pedido para que a presidente vete a proposta insultuosa à nação brasileira.

O corrupto fede e o cristão que participa do conluio fede também. E o fedor não fica somente entre deputados, senadores e grandes empresários. Em Alagoas mesmo, para não ir mais longe, é um botar de prefeitos para fora que não tem mais fim. Outros setores preferem exaltar os corruptos (veja o exemplo envolvendo Secretaria de Cultura/ ex-prefeita de Piranhas/ alto cargo e Ministério Público). Onde está o dinheiro que estava aqui? Pergunta o povo do Rio São Francisco.

Muitos ex-prefeitos estão podre de ricos, de um passado recente em que nada se apurava. Surgem como santinhos no interior, dando tapinhas às costas dos eleitores visando novas botadas daqui a dois anos. São os fedorentos que escaparam das grandes investidas que a juventude dessas águas novas da Justiça promove hoje. Deus inspire e dê cada vez mais coragem a esses promotores que vão chegando e querendo honrar o nome particular, o cargo e a Justiça num todo.

Mas, também nos lembremos de Deus e peçamos forte em nossas orações, seja qual for a Igreja, por Justiça divina para um Brasil limpo dessa lepra nojenta dos fedidos.

As narinas do Papa são semelhantes a todas às narinas dos homens de bem desse País.

PREPARANDO OS BORNAIS

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2015

Crônica Nº 1.392

Grupo Sertão Sertão. Foto (Clerisvaldo)

Grupo Sertão Sertão. Foto (Clerisvaldo)

À medida que a onda verde vai se espalhando pelo planeta, grupos e mais grupos de pessoas vão procurando o contato com a Natureza. Não existe mais idade e nem sexo como obstáculos importantes para esse novo despertar. Aumentam-se por todos os lugares as caminhadas, o ciclismo, o mergulho e muito mais passatempos, lazer e hábitos saudáveis. O homem vai se conscientizando que é preciso conhecer e preservar.

Diante dessa nova mentalidade foi que tivemos a satisfação em saber de uma bela caminhada em programação no sertão de Alagoas. Trata-se de uma boa subida pelo curso d’água, seco, Riacho Grande que banha a cidade de Senador Rui Palmeira. A referida caminhada será de trás para frente, ou seja, com os participantes iniciando a incursão penetrando pela foz do Riacho Grande que desemboca nas imediações de Pão de Açúcar, cidade ribeirinha do rio São Francisco. A caminhada entre o Alto Sertão e o Sertão do São Francisco, por certo será cheia de emoções. A área escolhida representa um vale, geograficamente, esquecido pelos estudiosos e que ajudou os primeiros desbravadores brancos no povoamento dessa parte sertaneja.

Segundo a ideia do ex-bancário Enaldo (atualmente prestando serviços à prefeitura de Santana do Ipanema) a subida pelo riacho que tem calha considerável, será até sua propriedade rural que possui reserva de caatinga entre Santana e Senador.

Como a nossa conversa foi rápida, estarei colhendo outros detalhes sobre essa nova aventura que promete e que me acho estimulado pelo convite. Sinto o cheiro de queijo e rapadura nos bornais das caminhadas antecedentes.

Não deu tempo também indagar ao agropecuarista Enaldo, quantos bois serão sacrificados após a chegada dos caminhantes em sua fazenda ecológica. Ele também não disse quantas horas vai haver de forró com sanfona pé de bode, triângulo e zabumba. Por enquanto, vamos se espelhando no “Ipanema, um rio macho”.

CANAPI, REBOLADO E O MATADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2015

Crônica Nº 1.391

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Fomos escalados para dá suporte a uma turma de pesquisadores de Maceió, em Canapi. Pessoal novato, jovens que nunca estiveram no semiárido, ganhando bem, eles iam trabalhando e se deliciando com as coisas do sertão. Juntamo-nos a eles. Notamos que o que mais causava prazer a essa turma, era comer passarinho torrado no óleo. Não era só rolinha, não. Era tudo que enfeitava os ares. Não havia ainda esses movimentos ecológicos de agora. Na ponta da rua, do lado esquerdo de quem chegava do entroncamento Carié, havia um barzinho que nem prateleira tinha. Os cabras descobriram ali que o dono prestava esse serviço e, era um devorar de passarinho que não tinha fim; até gavião (que come cobra) mastiguei com eles e achei bom.

Na outra ponta da rua que seguia para Mata Grande, havia uma fábrica de queijo. Mas a fábrica não conseguia atrair os jovens que preferiam o barzinho miserável no pé de um lajeiro.

Dali mesmo, nessa ou em outra ocasião, ainda no município de Canapi, fomos pesquisar em um lugar chamado Pilão do Gato. Entramos por um sítio chamado Baixa do Milho e fomos sair bem pertinho da divisa com Pernambuco. Ali tinha sido o lugar do primeiro tiroteio de Virgolino com a polícia, antes mesmo do apelido Lampião. No meio de tantos caboclos sertanejos semelhantes, surpreendi-me com uma bela fazenda muita plana e bem cuidada, dominada por homens brancos, altos, fortes e de olhos verdes.

Era como se de repente houvéssemos entrado no estrangeiro.

Havia um rapazinho gorducho apelidado pelos da fazenda de “Rebolado”. Coloquei o estranho apelido na cabeça.

Anos e anos mais tarde, escrevendo meu segundo romance, “Defunto Perfumado”, precisava de um nome ou apelido para um personagem negro, matador de aluguel. Quebrando e quebrando a cabeça, solucionei o caso. Fui buscar o vulgo do rapazinho de Canapi, sítio Pilão do Gato, “Rebolado”, que estava armazenado na cabeça e carimbei meu personagem.

Nunca mais andei para aquelas bandas. Não sei como está o sítio Pilão do Gato e nem se o rapazinho é vivo, mas imaginem a surpresa se eu fosse visitá-lo, contasse a história para ele e lhe mostrasse o personagem!

Canapi também participa de minha história de vida real e dos meusromances. Saudade daquela terra.

DIA DE SÃO JOSÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de março de 2015

Crônica Nº 1.390

SÃO JOSÉHoje é dia de São José. Um dia que de maneira alguma passa despercebido pelo agricultor, principalmente nordestino.

Lá na Bíblia, no Novo Testamento, estar escrito que José Foi esposo de Maria e pai de Jesus. As Igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, consideram o Santo padroeiro universal. São José ainda é padroeiro dos trabalhadores e das famílias, pela sua fidelidade a sua esposa e a dedicação ao filho, Jesus.

Contam que quando Jesus iniciou suas pregações, aos 30 anos de idade, o seu pai José já havia falecido.

Livros apócrifos falam sobre a sua morte e o que Jesus teria feito com o seu cadáver e recomendações para que sua alma fosse entregue no céu.

A finalidade, porém, desse trabalho é para lembrar, junto com os agricultores, a importância desse grande homem, humilde no caráter e no trabalho.

O seu dia é aguardado com grande expectativa, como um marco entre o fim do verão e as tão almejadas chuvas de outono. O agricultor tem fé em que chovendo no dia do santo, pode-se plantar que as próximas chuvas estarão garantidas. Caso se plante milho no dia de São José, o homem do campo estará colhendo e comendo milho maduro na noite de São João, diante da fogueira.

Pela religiosidade ou pela ciência, de fato existe “uma química” nesse dia, quando várias pessoas não trabalham. Acho interessante, compreensível e bonito a devoção de indivíduos chamados José que nessa data acende uma pequena fogueira à porta de casa, agradecem ao pai de Jesus e renovam seus pedidos, redobrando as esperanças.

A nação nordestina acolheu muito bem esse nome do esposo de Maria, sendo esse santo, talvez o mais festejado de todos.

Por aqui pelas Alagoas, a própria ciência já disse que o inverno será regular. Hoje São José estará de plantão, com certeza!

SENADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de março 2015 

Crônica Nº 1.389

Foto: Portal Maltanet

Foto: Portal Maltanet

Pelas calçadas ruas de Senador Rui Palmeira, não se tem como não se lançar um olhar crítico à falta de interesse e estratégia desenvolvimentista da cidade polo de Santana do Ipanema, na época. A inércia, o sono eterno, o acomodamento umbilical, deixaram escapar a oportunidade de asfaltar o município de Senador a Santana do Ipanema, pela grande região de Olho d’Água do Amaro, um dos trechos da zona rural mais rico de Santana. O sertão continua assim, com um desinteresse generalizado pelo desenvolvimento coletivo, com os dirigentes encastelados nos seus próprios feudos. Um sertão enfraquecido politicamente que a única coisa que reivindica, mesmo assim no individual, é o carro-pipa quando o homem do campo já não aguenta mais.

Senador é um município que pertenceu a Santana do Ipanema e tem uma área, aproximada de 359,667 km2. Originou-se de uma fábrica de corda de caroá, matéria-prima abundante naquele momento, típica do semiárido nordestino. A fábrica foi implantada por Antônio Afonso de Melo, vindo de Palmeira dos Índios, em torno de 1940. Com a instalação da fábrica, o lugar passou a ser chamado de Usina. No momento havia apenas alguns casebres de taipa pertencentes aos funcionários da fábrica. Cinco anos depois, foi instalado um alambique para produção e venda de cachaça, pelo cidadão José Rodrigues Fontes.

A característica principal desse futuro município foi a sua feira-livre iniciada mais ou menos em 1943 que se expandiu e, nos anos 60 atingiu o clímax, rivalizando com a feira da sede, cujo carro-chefe era o negócio do feijão. Inúmeras carretas do país inteiro movimentavam a grande, pujante e crescente feira do lugar, cuja denominação já era de Riacho Grande.

Emancipado de Santana do Ipanema com o novo título de Senador Rui Palmeira, o município ganhou asfalto, por outro trecho, deixando Olho d’Água do Amaro, Campo de Aviação, Várzea da Ema, João Gomes e inúmeros outros sítios santanenses “a ver navios”, isto é, poeira. O intercâmbio intensivo com esse município que despejava dinheiro em Santana foi canalizado para outras cidades beneficiadas pelo asfalto. Mais uma vez a inércia venceu a boa vontade.

A propósito, quem nasce na progressista cidade do Alto Sertão alagoano é conhecido como rui-palmeirense. Por lá vai passando o Canal do Sertão que até nisso Santana perdeu.