O TEATRO DE VOVÔ PENEDO

Falar sobre cultura do núcleo de Penedo é dizer sempre a mesma coisa, mas de vez em quando espoca foguetório que corta os céus do estado e do Brasil. Afinal a cidade ribeirinha foi a primeira fundada em Alagoas, colecionando história e cultura forte que até hoje reflete e guia esse seguimento na Terra dos Marechais. E a cidade que tem centenas de anos comandou a colonização do vale do São Francisco e das cidades sertanejas. Agora Penedo lança a notícia que soa mundialmente no patrimônio físico da humanidade. Trata-se da reinauguração do seu teatro que estava sendo restaurado. O “Teatro 7 de Setembro” que teve sua pedra fundamental implementada em 08/09/1878, foi inaugurado seis anos depois em 07/09/1884 com o magnífico sobrado, ostentação e a peça “O Violino do Diabo”.

Nem sempre uma obra tombada tem os devidos cuidados governamentais por mil motivos conhecidos. Todavia, o tema negativo não conduz o presente momento para o palco reluzente (italiano) no formato de ferradura do teatro em questão. Foi o Teatro 7 de Setembro o primeiro a ser construído nas Alagoas da Província. Foco de grandes companhias europeias de teatro e centro de arte e cultura de toda a região. Descrito inúmeras vezes, o monumento possui estilo Arquitetônico Neoclássico, planta italiana e fachada encimada por quatro estátuas de louça representando deusas da Música, Poesia, Pintura e Dança. O seu interior disponibiliza ao público 353 lugares; é composto de auditório, camarotes, frisas, galerias e o salão de público.

E se nós, sertanejos, tivemos Traipu como pai, viemos do avô Penedo que mais uma vez demonstra sua força para salvar o tesouro histórico que lhe pertence. Invadido pelos holandeses, soube lutar pela expulsão somando mais essa fase de luta detalhada ao seu acervo cultural que orgulha o povo alagoano. Visitar a Penedo turística exige tempo e paciência para levar o mínimo de informações de seu casario, ruas, culinária, Geografia, Cultura Viva e História, muitas histórias que os séculos acumularam para o visitante exigente.

VIVA O “NOVO” TEATRO 7 DE SETEMBRO!”.

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de setembro de 2017

Crônica 1.743 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Aliviando os trancos

Machu Picchu (Foto: Mundo Crux)

Como os noticiários atuais estão insuportáveis, iremos aliviar a alma  num introito ao mundo mágico entre o tempo, a fantasia e a crença. Vamos cavalgar o vento e chegar às altíssimas montanhas do Peru na lenda contada pela escritora Antonieta Dias (referência abaixo). Sendo bela e serena a narrativa, adaptamos o texto da autora.

 “Os incas diziam que o Sol era o pai dos seres humanos. E ele, o Sol, certa feita convocou o filho Manco Copac e a filha Mama Acllo para lhes dá uma tarefa: reunir as tribos e ensinar a elas a vida civilizada. O casal, então, partiu da Ilha do Sol, no lago Titicaca para cumprir a missão determinada. Manco levava um bastão de ouro e Mama um fuso de prata. Ambos cruzaram o lago em barca de ouro. O Sol havia pedido que a fixação das tribos se desse onde o bastão penetrasse fácil à terra. Isso aconteceu no vale de Cuzco, que significa “umbigo do mundo”. O bastão entrou com facilidade na terra e  desapareceu. Manco instruiu os homens no trabalho de agricultura. Mama às mulheres a fiação da tecelagem.

Os caciques quíchuas se diziam descendentes de Manco Copac e Mama Acllo. Denomiram-se incas. Existiram treze incas, a partir daí tornaram-se imperadores”.

Adaptado de: Moraes, Antonieta Dias de (org.). Contos e lendas do Peru. São Paulo: Martins Fontes, 1989. P. 23-24.

Deixando a lenda, portanto, caindo na realidade do cotidiano, os incas foram bambas na arquitetura. Desenvolveram várias construções gigantes à base de pedras como templos, casas e palácios . Chama atenção a cidade de Machu Picchu – descoberta em 1911 – que revela toda a eficiente estrutura daquela sociedade. Também a agricultura era bastante desenvolvida. Plantavam em degraus formando terraços nas inclinações das montanhas. Tinham como base o feijão, milho e batata. O milho era considerado alimento sagrado e a ele era dada toda atenção. Mas os incas também construíram canais para irrigar suas terras cultiváveis, até desviando cursos de rios para as  aldeias. Mas não somente isto, eram hábeis artesãos com o ouro, a prata, tecidos e joias. Domesticam também a lhama, alpaca e vicunha. Usaram a lhama como meio de transporte além de se utilizarem da lã, carne e leite desse animal.

Que povo formidável!

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2017

Crônica 1.742 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo B. Chagas: Estação da Luz

Foto: Webysther Nunes / Wikimedia Commons

Nelson Gonçalves canta o tango de Herivelton Martins e David Nasser:

“Estação da Luz, depois da meia-noite,

Uma tragédia em cada rosto refletida,

Dois estranhos que se afastam, a chuva cai,

No silêncio da cidade adormecida…”

O tango bate bem dentro da alma da gente! Que saudade danada, que nostalgia imensa da Estação da Luz na São Paulo que eu não conheci!

É o nome de uma estação de trem da cidade de São Paulo. Ocupa um espaço de 7.500 metros quadrados no antigo Bairro Jardim da Luz. Foi projetada pelo Barão de Mauá para suceder a primeira estação datada de 1867. Sua edificação ocorreu entre os anos de 1895 e 1901 com matéria- prima vinda da Inglaterra e sob a supervisão do engenheiro James Ford. Sua incumbência era abrigar a nova Companhia São Paulo Railway, natural da Bretanha. A linha que atravessava a Estação da Luz fazia o trajeto Jundiaí (interior) e o Porto de Santos (litoral) num serviço de importação de tudo que São Paulo precisava e de exportação do nosso principal produto à época, o café.

O seu relógio era uma grande referência na magnífica construção, servindo para os ajustes de relógios dos transeuntes. Nada mais deslumbrante do que a Estação da Luz. Em 1946, foi vítima de um incêndio que quase a destruiu, mas foi restaurada, inclusive, nesse período teve início o declínio das ferrovias no Brasil. Hoje faz parte da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô de São Paulo. Sua importância arquitetônica levou ao tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico – Condephaat – em 1982. Passou por várias restaurações e foi anexada ao Museu da Língua Portuguesa, fundado em 2006.

E a nossa imensa curiosidade que pouco se explica é a origem do nome Estação da Luz: O nome vem de Nossa Senhora da Luz, um dos títulos da Virgem Maria, venerada pelos fundadores do bairro.

“Antigamente um ponto de referência no dia a dia da cidade, um ponto histórico de grande importância, hoje a Estação da Luz tem a oportunidade de resgatar seu lugar como ícone urbano, junto à Pinacoteca do Estado e ao próprio Museu da Língua Portuguesa”.

Foi imortalizada na música pela voz de Nelson Gonçalves. Pesquise a letra completa e a interpretação do cantor. É DE ARREPIAR.

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2017

Crônica 1.741 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo B. Chagas: Asas no Alfabeto

Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil

Você sabia que o nosso alfabeto veio de muito longe? Estamos devendo isso aos fenícios e aos gregos. Vamos a uma ideia sobe os primeiros? Os fenícios eram um povo que vivia entre montanhas do atual Líbano e o mar. Como suas terras férteis eram poucas, optaram pelo comércio navegante através do mar Mediterrâneo e conseguiram a grandeza em ambas as coisas. Para melhor se comunicar com outros povos, desenvolveram um alfabeto com 22 letras consoantes.  A este, os gregos acrescentaram as vogais. Assim o alfabeto fenício foi à base para o grego no qual se baseia o nosso. Os fenícios possuíam cidades e colônias. Destacaram-se também como artesãos em tecido, joias, perfumes, artefatos de pedra, marfim, metal e cerâmica.

Temos os fenícios ainda como inventores do vidro transparente. Possuíam cidades separadas, mas não formavam um estado. Cada cidade tinha o seu governo como Ugarit, Biblos, Beritos, Sídon e Tiro (esta muito famosa na história maçônica). Houve muita prosperidade com elas entre 1400 e 700 anos a. C. Entre suas colônias estavam Chipre, Sicília, Cádiz e Cartago (famosa pelas guerras defensivas contra os romanos). Aproveitando as poucas terras férteis, plantavam cedros (madeira de lei) e negociavam suas toras, bem como cereais, algodão e oliveiras das quais extraíam o azeite. Pelo Mediterrâneo, vendiam seus produtos, trocavam, além de comprar e vender mercadorias de outros povos; como exemplo, compravam papiro aos egípcios e vendiam aos gregos.

A palavra FENÍCIO vem de PÚRPURA, uma cor vermelho-escura, espécie de tinta extraída das glândulas de um molusco chamado múrex. A tinta era usada para tingir tecidos que tinham grande aceitação no mercado. Inclusive, no império romano a púrpura demonstrava destaque, pois era usada por elevadas autoridades.

A história dos fenícios é um compartimento da História Antiga muito agradável. Um povo que dominou a navegação e o comércio pela necessidade. Seguiram o ditado popular: “Quem não tem cão, caça com gato”. Lembra agora das origens do nosso ALFABETO? Alegria.

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de setembro de 2017

Crônica 1.740 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo: Monte Sinai, sagrado e inóspito

Foto: Bispo Eliel Luna

De certa forma há uma lembrança particular, espiritual e doída sobre o Monte Sinai, relembrada pela reportagem da Record do último dia 10. Com mais algumas informações abaixo o objetivo maior deste trabalho é muito mais geográfico de que religioso.

Talvez não exista monte com maior destaque literário na Terra do que o Monte Sinai, no Egito, também chamado de Monte Horeb. E diante de tanta fama imaginamos uma serra igual a um paraíso como foram em nosso município as serras do Poço e do Gugi.

Nada disso, porém, é verdade. O Sinai é um pico de granito com uma altitude de 2.285 metros que segundo a tradição judaica Moisés teria recebido do Senhor as Tábuas da Lei.

A primeira vista são vários montes como se tivesse sido no passado apenas um que houvesse sofrido longo processo de erosão e ficasse repartido em montes menores. A desilusão, todavia, é com sua estrutura física completamente rochosa e inteiramente fragmentada com pedras de todos os tamanhos e formas.

Pode-se dizer: um grande amontoado de rochas peladas, sem beleza nenhuma. Quando aparece alguma espécie vegetal é de forma solitária, em pés pequenos, imprensado em frestas. As pedras são ligeiramente róseas e, a subida até o cimo leva horas até para quem tem boa forma física. Um monte sagrado, feio, horrível e inóspito.

Estar o Monte situado no Egito, no sul da Península do Sinai. Para quem não sabe, península é uma grande porção de terra que avança pelo mar. O local é sagrado para o cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Muito abaixo do pico existe uma plataforma onde Aarão e os 70 sábios aguardaram Moisés na recepção as Tábuas da Lei.

Existe uma caverna onde Deus falou com Elias, após a caminhada de 40 dias pelo deserto. Ali perto, um monte onde viveu São Gregório e, logo abaixo desse monte, a planície de ar-Raaha onde os israelitas aguardaram Moisés e depois foi erguido o primeiro tabernáculo.

Enfim, a região está repleta de histórias as mais diversas, principalmente porque a religiosidade é disputada pelas três religiões. Muitas certezas, quase certezas e bastantes controvérsias irradiadas em solo egípcio.
Interessou-se pelo assunto? Pesquise mais. É um tema sem fim.

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de setembro de 2017

Crônica 1.739 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo B. Chagas: A Pedra do Padre Cícero

Foto: Ailton Cruz

Em todos os recantos nordestinos estão às marcas indeléveis do Padre Cícero Romão Batista. Em Alagoas entre manifestações ao sacerdote – falecido em 20 de julho de 1934 – estão as procissões, associações, novenários e romarias. São milhares e milhares de devotos que ainda procuram o Juazeiro do Norte em busca de curas para os seus males, baseados na fé ao amiguinho Padre Cícero. Templos, praças e devoções ganharam espaço nesta nação nordestino dos litorais aos sertões honrando à memória daquele que tanto fez pelo seu povo. Nem queremos aqui entrar em discussões e acusações estéreis como ainda hoje acontece com o próprio Jesus, o Cristo.

Entre todos os movimentos em prol do padre do Juazeiro, um deles chama atenção e encontra-se localizado no município sertanejo de Dois Riachos. Tudo teve início quando o agricultor José Antônio Lima alcançou uma graça de promessa feita ao padre Cícero, em 1956. Agradecido, aproveitou um Boulder (bloco rochoso) que havia às margens da BR-316, para erguer um oratório em homenagem àquele que concedera a sua graça. Segundo a viúva do sertanejo, Maria, o seu esposo nunca revelou qual foi a graça alcançada. Com o passar do tempo e o aumento crescente de visitas ao local, o oratório foi reformado e a escada de madeira que leva ao topo, foi substituída por uma rampa de concreto. E os padres, por não conseguirem celebrar missas no cimo da escadaria, fizeram surgir uma igreja perto da rocha.

Anualmente acontece a celebração de morte do padre Cícero, todo dia 20 de julho. Já são milhares de romeiros que chegam à festa do dia 20. Eles vêm a pé, a cavalo, em automóvel, vans e ônibus que preenchem os terrenos vizinhos como se estivessem na própria Juazeiro. Além de gente de todas as regiões alagoanas, são inúmeros os devotos de Sergipe e Pernambuco. Do centro de Dois Riachos à Pedra do Padre Cícero, não deve dar mais de 2 km.

Dois Riachos, em Alagoas, é uma cidade pequena e ficou conhecida nacionalmente por ser a terra da jogadora Marta. Possui a maior feira de gado do Nordeste; é banhada pelo riacho Dois Riachos – afluente do rio Ipanema – tem famosa vaquejada anual e mostra o gigantesco açude no povoado Pai Mané. Seu acesso é fácil estando em qualquer lugar em solo alagoano..

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de setembro de 2017

Crônica 1738 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo B. Chagas: Surrealismo e Futuro

Foto: Governo da Noruega / Divulgação

A inteligência humana encontra-se em todas as partes do mundo e em  todas as áreas do conhecimento. Voltando-se para a engenharia podemos apontar os engenheiros das obras de Paulo Afonso, da estrada São Paulo a Santos, da ponte Rio – Niteroi e, em Alagoas, do Canal do Sertão.

Mas muitas outras realizações deixam no topo da área a engenharia brasileira. Voltamos às aulas do velho mestre Alberto Nepomuceno Agra falando das “reentrâncias e saliências” dos fiordes da Noruega: Fiorde é uma grande entrada de mar entre montanhas rochosas.  Seu franjeado têm origem na erosão das montanhas devido ao gelo.

Agora a Noruega iniciou um trabalho nos fiordes, chamado pelo mundo de absurdo, futurista, surreal.

É que a Península Stad, por ser aberta, sofre muitas tempestades, pondo em risco seus barcos que por ali atravessam. Para não enfrentar o mar aberto, a ideia é navegar pelos fiordes fazendo túneis entre eles. Mas esses túneis  não são qualquer tipo imaginado antes. O primeiro túnel será construído debaixo de uma montanha e terá uma extensão de 1.7 quilômetros de comprimento e 36 metros de largura.

“De acordo com os planos da Administração Pública de Vias da Noruega, os túneis submarinos ficarão a cerca de 30 metros de profundidade e serão formados por dois cilindros paralelos de concreto, uma para cada direção da rodovia. Cada um destes cilindros terá duas pistas: uma para o trânsito comum e outra para véiculos de emergência e reparo. Em locais onde os túneis não forem viáveis  serão construídas pontes com pilares flutuantes – alguns deles suspensos com cabos de aço (…)”.

Esse é um projeto único no mundo, sonho, loucura e desafio da capacidade de engenharia. Bilhões serão gastos na audaciosa empreitada que divide opiniões de seus próprios moradores. A Noruega é rica, mas ninguém tem certeza se o repto valerá à pena. Obras fantásticas são vistas em todo o planeta que, encaradas pela primeira vez, parecem até de um mundo inexistente. Mas o pacote que a Noruega quer entregar ao Globo, parece coisa de anjos e demônios em parceria.

Ô mundo doido!

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de setembro de 2017

Crônica 1.737 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo: Um cabra de Lampião

Cangaceiro por Mestre Vitalino (Foto: Reprodução)

Vaga-Lume era um cangaceiro moderado e muito querido no bando. Há mais de cinco anos estava sob a chefia de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Recebera o apelido por enxergar bem à noite e guiar os companheiros pelas trevas. Mas certo dia houve mal-entendido por causa de um ataque de força volante e um invejoso disse para o chefe que o culpado havia sido Vaga-Lume.

Lampião estava furioso e considerava a suposta falha do denunciado extremamente grave. Depois de muito pensar, resolveu eliminar Vaga-Lume como castigo, muito embora o cabra afirmasse que não tivera culpa nenhuma no caso. Lampião, entretanto, não levou suas palavras em consideração e convocou a todos para assistir a morte do cangaceiro.

Depois de mandar recolher as suas armas, Lampião fez uma meia-lua com os seus homens, deixando a futura vítima a vinte metros na frente. Ordenou: “Vaga-Lume, se prepare para morrer daqui a cinco minutos”. O condenado nada disse e começou a cantar várias modinhas que aprendera no bando, todas exaltando Lampião. A reação nunca vista antes, pegou todo mundo de surpresa.

Aquilo bateu diferente no peito do chefe. Passados quatro minutos, Lampião aproximou-se e disse: “Agora faça suas recomendações que eu vou mandar atirar em você”. Vaga-Lume, serenamente, começou a fazer as recomendações a Nosso Senhor e à Mãe de Deus, em voz alta, pelo alma do chefe. Compassadamente e de forma clara, cercou Lampião de todas as proteções possíveis. Para si mesmo, não fez recomendação nenhuma. Lampião ficou atônito e há quem tenha visto uma lágrima descer do seu olho defeituoso.

Depois, o chefe respirando fundo, virou-se para os companheiros e indagou ensarilhando o mosquetão: “COMO POSSO MATAR UM HOMEM DESTE?”.

Sei que os fanáticos adoradores de cangaceiros irão dizer que nunca existiu cabra com o nome de Vaga-Lume. Que a cena jamais existiu. E eu com isso! Foi assim que gostosamente sonhei. E desde então, tenho também recomendado à Santa Mãe de Deus e ao Mestre por aqueles que tentaram e tentam me deter pela inveja, indiferença proposital, astúcias e montes de pedras no caminho.

Tenho acompanhado sem muita atenção os resultados.

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2017

Crônica 1.735 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerivaldo: o peste do Guiné

GUINÉS (Foto: Sitiocolírio)

Quando o meu amigo agricultor se referiu a um político local e o apelidou de guiné, chamou-me atenção. Apesar de conhecer algumas façanhas dessa ave, não conhecia a semelhança do apelido levado ao sujeito.

Como criávamos muitos guinés sempre tivemos a melhor impressão possível da ave. No sertão alagoano ela também é chamada capote e tô-fraco, mas em outras regiões recebem denominações como galinha-d’angola, cocá, galinha-do-mato, faraona, sakué, pintada, picota, fraca e cakuê. Essa ave, extremamente arisca, é originária da África e introduzida no Brasil pela colonização portuguesa. Cria-se guiné no terreiro, em bando e, por mais grãos de milho que se dê, a fêmea está sempre a cantar, o canto que se entende por: tô-fraco. Existem ainda outros nomes correspondentes ao animal. Algumas religiões africanas gostam do guiné para oferenda a certos orixás.

Essas aves possuem nove subespécies e gostam de esconder os ovos no mato. A fêmea põe em um lugar e vai cantar em outro para despistar os predadores. O ovo de guiné é pequeno, tem casca dura, gema muito amarela e uma delícia de paladar. Se estiverem divididos em grupos, cada grupo tem seu líder. Na canela ninguém consegue pegar o bicho; só na espingarda ou à noite na dormida. Quando se descobre uma ninhada de ovos, está quase sempre acima de 40, pois as aves gostam da postura no mesmo ninho. São tão nervosas que o líder do bando fica vigiando na hora da comida e só come por último se tiver tudo bem. O cavalheirismo faz inveja a muitos marmanjos, não!

A sua carne é saborosa e exótica. Nas feiras do interior sempre se encontra ovos de guiné à venda, mesmo em quantidade mínima, assim como a própria ave. Os apreciadores fazem encomenda e nada melhor para se oferecer como almoço a um visitante da capital. Ainda existe àquela dureza no conselho que a carne é carregada. E se você acha que não foi carregada e sim comprada, tenha cuidado com as coisas que não deseja revelar.

Voltando a empolgação do amigo, ainda não descobri porque ele chamou o político de guiné. Mas conforme as informações postadas, você mesmo descobrirá. Só sei dizer que o companheiro estava irado e disse: “Fulano! Aquilo é um guiné da peste!”. Como Polícia Federal descobre tudo…

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2017

Crônica 1.735 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Blog do Clerisvaldo: a baleia subiu o poste

Baleia Jubarte (Foto: Christopher Michel/Wikipédia/Wikimedia Commons)

Surpreendeu o povo alagoano, o número exagerado de baleias que surgiu em suas praias, nos últimos dias. O que estaria acontecendo com a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) em nosso mar? Estaria sendo vítima de pescadores? De desorientação? De bancos de areia? Afinal um mamífero que atinge a média de 12 a 16 metros não pode passar despercebido nas praias  mais bonitas do Brasil. E ao mesmo tempo em que os biólogos tentam explicar o fenômeno, o pensamento corre para a iluminação pública no Brasil antigamente.

No século XVIII não havia iluminação no país. Na Europa se usava o óleo de oliva e que era muito caro. Só no século XIX foi iniciada em alguns lugares a iluminação pública no Brasil. Mas pelo alto preço do óleo de oliva, o Brasil começou a usar o óleo de coco e de mamona. Óleo de mamona, esse mesmo usado no eixo do carro de boi para que ele fique cantador. Foi, então, que a baleia subiu nos postes através do seu precioso óleo, para as célebres lâmpadas de óleo de baleia. Rio de Janeiro iniciou sua iluminação em 1794 e usava óleo vegetal e animal. São Paulo em 1830 iluminava-se com óleos. E foi ele quem primeiro usou o gás no período 1854 até 1936. E mesmo com o surgimento da luz elétrica, algumas cidades usavam tanto a eletricidade quanto o gás.

Em Santana do Ipanema, interior de Alagoas, usava-se nos postes a iluminação com óleo, provavelmente, com os dois tipos, tanto de mamona quanto de baleia. E só em 1922 – com a elevação de Vila à Cidade – Santana do Ipanema passou a utilizar a eletricidade por força Motriz e a baleia desceu dos postes.

Volta-se ao surgimento dos grandes mamíferos nas areias do litoral alagoano. Os estudiosos  afirmam que as baleias não estão encontrando  alimentos por uma série de fenômenos e ações dos homens. Morrem em alto mar e são trazidas às praias pelas correntes marinhas. E se muitos fenômenos físicos são provocados pelo homem, indiretamente é o próprio homem o culpado das mortes das baleias. Nesse caso os gigantescos mamíferos dos mares são apenas a continuação dos atos irresponsáveis dos “pernas de calça” de várias partes do mundo. 

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2017

Crônica 1.734 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano