ENTERRANDO OS SINOS

Torre da Igreja Matriz de Senhora Santana (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)

Conversando com amigos a respeito da potência dos sinos de Igreja Nova e da Matriz de Senhora Santa Ana, de Santana do Ipanema (Alagoas) entramos em parte da história do sino no mundo.

Dizem que foi na China que teve início a história do sino, no ano de 3000 a.C. A Igreja tinha o sino como coisa pagã e só foi reconhecê-lo no decorrer do século II d.C., para anunciar os Evangelhos e chamar os  fiéis para as reuniões. No século VI os monges missionários introduziram os sinos na Europa Central.

Fabricar sinos desde os enormes aos simples sininhos de bois de carro, sempre foi uma arte. Foi a partir do ano de 1600 que surgiu a técnica de produzir determinados timbres, notas e até melodias. Falam que a partir daí, foi possível fazer soar vários sinos ao mesmo tempo sem dissonância.

Quanto ao fabrico, é fantástico o ritual. O sino é composto de 20% de estanho e 80% de cobre, levando-se em conta a espessura, o timbre que se quer, o preparo da matéria e o escorrimento do material fundido para dentro da forma. Além disso, vem o misticismo: tem que se fazer silêncio e uma prece a Deus. Para que a forma não seja destruída ao atingir a temperatura de 1.150 graus, ela é enterrada no chão da oficina e o líquido incandescente escorre em sua direção por canais de tijolos. O sino só é desenterrado, quatro dias depois, com a temperatura normal. O molde é retirado e o timbre testado.

Um sino excelente soa a quilômetros de distância. Nas guerras antigas os inimigos invasores procuravam em primeiro lugar, calarem as vozes dos sinos que davam o alarme para os defensores. Muitos sinos, com o advento do canhão, foram transformados em canhões, pelos inimigos. Sinos foram derretidos para obtenção do estanho, durante as duas Grandes Guerras, no século XX.

Em Santana do Ipanema (AL), o quilombola apelidado “Major”, podia até não entender de fabrico de sinos; mas foi o Mestre dos mestres dos sineiros do município e da região.

Major é major, pois não.

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de dezembro de 2017

Crônica 1.803 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

ARBORIZAÇÕES SERTANEJAS

Craibeira na zona rural (Foto: Manuella de Melo Queiroz)

O Sertão voltou a pegar fogo e a cor cinza estar predominando no semiárido, nas serras e nas baixadas, como se as árvores fossem simples garranchos. A temperatura dos últimos dias aperreou muita gente no Médio e Alto Sertão e no Sertão do São Francisco.

O Sol abrasador no asfalto e no calçamento das ruas faz subir uma temperatura que pode até comprometer a saúde de pessoas, principalmente, as mais vulneráveis. Daí a necessidade de uma melhor qualidade de vida através da arborização.

Com a realidade vivida no semiárido, toda a vegetação arbórea no entorno das cidades sertanejas, deveria ser preservada e transformada em parque protegido (pulmão verde) para amenizar a temperatura desses núcleos urbanos, coisa que se atinge até em média de 2 graus.

A arborização de ruas e avenidas é uma necessidade e coisa fácil de fazer, inclusive implantar os parques verdes dentro também das próprias cidades, tantos quanto for o tamanho da cidade.  Alguns núcleos possuem bastantes árvores, mas é tão importante arborizar quanto realizar a poda obedecendo a calendário com orientação de agrônomo.

Os galhos da poda poderiam ser levados para local apropriado e ser transformado em humos, gerando riqueza para o homem e para a terra. Além das sugestões acima, para diminuir as temperaturas das cidades, ainda se podem estimular os plantios de árvores frutíferas nos quintais disponíveis, com distribuição de mudas e campanhas educativas.

Segundo Larissa Costa e Samuel Roiphe Barreto: Água para vida, água para todos: livro das águas:

(…) Quando a chuva cai em uma região arborizada, escoa lateralmente pelos troncos e folhas das árvores e alcança o solo de forma suavizada, diminuindo o impacto da gota ao cair no chão. Uma parte desta água é evaporada ou absorvida antes de chegar ao solo (…). Quando retiramos a cobertura vegetal de um lugar, deixamos o solo desprotegido. A capacidade do terreno de reter a água da chuva é diminuída e esta passa a escorrer muito rápido, arrastando a camada superficial do solo. Além de se iniciar um processo de erosão e de perda de fertilidade do solo, os materiais arrastados com a água, vão se acumular no fundo dos rios, lagos e fontes, deixando o leito do rio cada vez mais raso, ocasionando o seu assoreamento.

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de dezembro de 2017

Crônica 1.802-Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

RIQUEZA NO BOACICA

Igreja Nova (Foto: Flávio de Queiroz)

 

Bons fluidos no Baixo São Francisco, no referente ao cultivo do arroz, antiga vocação das várzeas do município de Igreja Nova. É que o vale do rio Boacica costumava ser invadido pelas águas que se espalhavam pelas baixadas, muitas vezes prejudicando a safra de grãos.

Para controlar os ímpetos do rio Boacica, afluente do São Francisco, foi construída uma barragem que mediará às cheias com o distrito irrigado. Em pleno funcionamento, a barragem está cheia e controlando a quantidade de água para o cultivo do arroz.

Os rizicultores afirmam que a safra deste ano será de boa qualidade e terá um aumento na produção de cerca de 28%. O arroz sempre esteve presente nas lagoas formadas pelo rio São Francisco, a partir de Pão de Açúcar até as terras de Penedo e Piaçabuçu.

Antes da hidrelétrica do Xingó, o rio solto invadia as terras baixas marginais formando as lagoas que, além da produção do arroz, possibilitava pesca abundante e complemento seguro da nutrição ribeirinha. Quando as águas baixavam, as várzeas de lagoas proporcionavam outros cultivares e alimentação para o gado.

Agora mesmo, em Igreja Nova – que também tem as suas lagoas naturais – aproveita a barragem de controle para a criação de peixes. A piscicultura em gaiolas assume um compromisso no complemento alimentar e na venda do produto, melhorando a renda familiar daqueles trabalhadores.

A propósito, Igreja Nova é um dos mais antigos municípios de Alagoas e tem uma população um pouco maior do que 20.000 habitantes. Basicamente vive do setor agropecuário, sendo um dos maiores produtores de arroz do estado. Sua igreja formidável deu nome ao município e domina a vastidão das várzeas no dobrar dos sinos tão famosos como a própria igreja.

Atualmente desenvolve projetos de piscicultura em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e do Parnaíba – CODESVASF, que encontra no município um laboratório natural. Ali estão instaladas a Usina Marituba (setor sucroalcooleiro), do Grupo Carlos Lyra e, a Usina de Beneficiamento de Arroz do Grupo Santana.

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2017

Crônica 1.801 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

A VIOLÊNCIA DO PILAR

Pilar (Foto: Valderi Melo)

É de se ficar de boca aberta com as notícias de violência ocorridas no município de Pilar, região metropolitana de Maceió. Isso vem ocorrendo há cerca de dois anos quando a cidade lacustre começou a chamar atenção dos órgãos noticiosos, sobre diversos assassinatos. Outrora cidade pacata, bela e acolhedora, sempre mostrou ao visitante suas belezas naturais baseadas na laguna Manguaba, cujo nome também já foi denominação do núcleo.

Hoje o Pilar tem pouco mais de 30.000 habitantes e já foi ilustre na economia alagoana com seus engenhos de cana-de-açúcar e um indispensável  sistema aquático de transporte para o porto de Maceió, além de sediar fábrica de tecidos. O município é originário de o Engenho Pilar, um dos que povoaram as suas terras. Vale dizer que na hidrografia, a laguna Manguaba foi formada e continua sendo alimentada por um dos dois rios mais importantes de Alagoas: o rio Paraíba do Meio. A cidade do Pilar também ficou famosa na gastronomia, pelas suas peixadas de bagres, conhecidos como bagres do Pilar.

E se formos diretamente para a história brasileira, iremos encontrar na terra da Padroeira, Nossa Senhora do Pilar, o último ato oficial de enforcamento no Brasil.

Ainda temos a história da padroeira que possui duas versões. Uma delas diz que a santa foi encontrada em um pilar, por um pescador. Levada para uma capela, a santa desapareceu de lá e voltou para o pilar. O fato teria acontecido por algumas vezes. Outra versão fala que a santa teria vindo da Espanha.

Pois aí está um município repleto de histórias desde que Alagoas pertencia a Pernambuco. Os estudiosos pesquisam nas ruínas de engenhos em seu território. As rodovias modernas engoliram muita tradição do Pilar que perdeu a importância antiga dos transportes aquáticos. Sem engenho, sem fábrica de tecidos, a cidade tem muito que contar a quem quiser se debruçar sobre seu passado.

Mas a violência que se tornou notícia constante pode afugentar os que procuravam o lugar como opção de lazer.

A propósito, Pilar já foi tema de música de alguns compositores alagoanos. Qualquer dia irei buscar na cidade uma foto da foz do rio Paraíba do Meio que ficou faltando para o livro “Repensando a Geografia de Alagoas”.

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2017

Crônica 1.780 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

SERTÃO CERCADO

Cerca na Caatinga (Foto: Sergio Campos / Alagoas na Net)

Esperamos que as informações abaixo sejam bastante úteis aos que pesquisam sobre Agricultura, Pecuária e o semiárido em geral. Não sabemos sobre os sertões de todos os estados nordestinos, mas em solo alagoano, tivemos cinco fases de proteção das terras da caatinga. 

A primeira fase, não mostrava nenhum tipo de cercas nas propriedades rurais, grandes ou pequenas. No tempo do cangaço a caatinga ainda se encontrava completamente aberta. Mas vale salientar que ainda hoje em grande parte dos estados nordestinos, encontramos imensas extensões de terras abertas.

A segunda fase teve início em Alagoas com as cercas de arame farpado e estacas de madeira da própria caatinga, em um só tamanho. Foi grande a novidade para o sertanejo, trazida pelo agrônomo Otávio Cabral de Vasconcelos, em 1924. Com a cerca veio o arado de aiveca, o fomento do algodão e outras novidades que fizeram a revolução no campo.

De Alagoas, Santana do Ipanema, a novidade alastrou-se para Pernambuco, através de Águas Belas, ganhando outros estados nordestinos. O doutor Otávio Cabral, com ampla passagem pelos Estados Unidos, chegou até ser prefeito/interventor de Santana do Ipanema em 1932, por alguns dias ou meses. Foi assassinado no Sítio Sementeira, estação agrícola experimental do governo (O Boi, a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema).

A terceira fase, década de 1960, foi a de grande desmatamento da caatinga, inclusive, financiada pelo governo. O sertão pelado, então, preencheu os limites das propriedades já cercadas com estacas e arame ou não, com uma planta chamada aveloz ou labirinto, trazida não se sabe de onde.

O aveloz virou moda e o sertão alagoano fechou-se com ela, fazendo com que nas longas estradas não fossem vistas mais as fazendas, somente os longos túneis de labirinto que se formavam pelo plantio em ambos os lados das estradas e se tocavam no alto.

Nativo da África, o aveloz é um arbusto que produz uma seiva tóxica e cáustica, capaz de cegar. Seu nome científico é Euphorbia tirucalli (hoje pesquisada contra o câncer e para fabrico de cola). Os seus aparadores usavam máscaras, nos sertões.

A quarta fase, foi a retirada gradativa dos aveloz das cercas, limpando o horizonte das paisagens rurais. Voltamos apenas para as estacas de madeira e arame farpado.

Finalmente a quinta fase do Sertão Cercado, estar utilizando cercas de arame com farpas, mas com estacas de cimento. Isso devido à falta de estacas de madeira de boa qualidade e das leis ambientais.

Mesmo assim, encontramos ainda o uso de estaca de madeira e áreas de terras que nunca viram uma cerca de espécie algumas.

Esse é o meu Sertão Guerreiro.

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de dezembro de 2017

Crônica 1.799 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

A BORRACHA E OS PNEUS

ESTÁTUA AO SERINGUEIRO. BELTERRA (PA) (Foto: Rodrigo Bertolloto)

O recolhimento de pneus velhos nas cidades, por parte do governo estadual, é digno de louvor. Além de o pneu ser pesadão, serve bem para o mosquito da dengue, entulho e lixo e, praticamente, para nada mais. Entretanto, ainda não entendemos se o recolhimento acontece em todas as cidades alagoanas e se existe um calendário para isso. O pneu velho tornou-se matéria-prima importante para pavimentação.

E por falar em pneu, lembremos os primórdios da borracha no Brasil. Foi a partir dos meados do século XIX que teve início na região Amazônica a extração do látex, matéria-prima para a produção de borracha. A seringueira, árvore da qual se extrai o látex, passou a ser alvo dos exploradores.

O ciclo da borracha no Brasil estava ligado à necessidade de produção para os mercados internacionais. Na época estava sendo iniciada a indústria de pneus e de automóveis norte-americana e europeia.

A extração do látex trouxe grandes mudanças econômicas e sociais. Inúmeros nordestinos migraram para a Amazônia para o trabalho da borracha. As secas prolongadas no Nordeste e as promessas sobre o látex atraíram famílias inteiras para a região da Floresta Equatorial.

O chamado ciclo da borracha teve seu declínio com a exploração de florestas do sudeste da Ásia que tomaram o lugar do Brasil na produção. Muitas famílias retornaram às origens, outras permaneceram no lugar. Modernamente várias comunidades, empresas e órgãos governamentais atuam na Amazônia de acordo com os princípios de desenvolvimento sustentável.

 O apresentado refresca um pouco a memória da história brasileira da borracha, o valor dos pneus, o descarte correto por um órgão credenciado de recolhimento e destino das carcaças.

Estamos ainda atrasados e sem opções no recolhimento não só de pneus, mas também de pilhas e lâmpadas queimadas. O nosso município sempre anda a reboque das medidas ambientais de proteção à Natureza.

Pelo menos, abrem-se os olhos.

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de dezembro de 2017

Crônica 1.798 – Escritor Símbolo de Santana do Ipanema

O “BOOM” DA LAGOA DO JUNCO

Vista para a Lagoa do Junco (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net / Arquivo)

Nas irregularidades do relevo, surgiram na parte mais elevada, algumas casas que se foram emendando e formado uma rua. No fundo esquisito do terreno, a lagoa temporária repleta de juncos. Foi assim que surgiu o bairro ainda não reconhecido como tal, Lagoa do Junco.

Os juncais que havia em Santana, surgiam também, naturalmente, no rio Ipanema. Na época o junco servia de matéria-prima para o fabrico de colchões, muito antes da chegada dos colchões de mola e de espuma. Havia na cidade três ou quatro fabriquetas de colchões de juncos, inclusive, a do Júlio Pezunho, à Rua Antônio Tavares.

Mas o interessante é que os humildes habitantes do início da Lagoa do Junco, não fabricavam colchões. Parte dos homens trabalhava fora em profissões subalternas. Das mulheres saíram muitas empregadas domésticas para as casas do pessoal do centro. O homem que não trabalhava fora virava quebrador de pedras para calçamento de ruas.  

Assim, o lugar ficou conhecido pelos quebradores de pedra. A expansão do pequeno núcleo se deu para o lado esquerdo em direção ao açude do Bode e, outra parte, subiu o morro (único de Santana, habitado) à custa deles mesmo até chegar ao topo e prosseguir em linha reta pela lombada em direção leste.

Pouquíssimas pessoas do centro de Santana conhece a subida e as ruas que se formaram no cimo do morro do Quebra-Pedra. É um cenário muito bonito, mas como já falamos antes, nenhum mirante santanense é explorado ou divulgado.

Em nosso livro, “O Boi, a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema”, falamos do riacho sem nome que sai da Lagoa do Junco, atravessa a BR-316, durante o inverno, e vai despejar no rio Ipanema, no lugar Maniçoba.

Atualmente, o lugar inteiro estar ganhando calçamento, coisa que assanha danadamente os caçadores de votos. Toda a região abaixo do Bairro São Vicente, chamamos Lagoa do Junco, muito embora a parte da UNEAL e Batalhão de Polícia seja chamada ainda por alguns antigos moradores de Bairro Bebedouro, que antes era completamente longe, ligado à BR-316, apenas por um corredor de aveloz.

A parte antiga da Lagoa do Junco ganha calçamento e, a parte nova, loteada, vai se sofisticando com UNEAL, Escola Piloto, Batalhão de Polícia, Complexo da Justiça, fábricas e casas comerciais em estilos modernos, que ajudam no embelezamento do bairro e da saída da cidade com direção a Maceió. Esperamos que o nome Lagoa do Junco seja conservado com a tradição e não mudado em nome de qualquer um.

Enquanto isso o povoado AREIAS BRANCAS, recebe tremenda injustiça de ser chamado AREIA BRANCA, coisa fictícia de quem não teve o que fazer, pois. “O Boi, a Bota e a Batina,…” traz a história profunda e bem pesquisada de AREIAS BRANCAS e de Dois Riachos.  NADA DE AREIA BRANCA, NADA, NÃO EXISTE. Apelamos para o Departamento de Cultura para corrigir a ABERRAÇÃO. Você sabe como surgiu o nome do povoado Óleo? Temos o seu histórico.

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de dezembro de 2017

Crônica 1.797 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

O MUSEU THÉO BRANDÃO

 

Museu Theo Brandão (Foto: Setur / Arquivo)

Hoje vamos abrir espaço sobre o Museu Théo Brandão, situado na Avenida da Paz, em Maceió. O seu nome é uma homenagem ao grande folclorista do município de Viçosa, Zona da Mata de Alagoas.

“O prédio do Museu Théo Brandão não foi construído para ser uma instituição museológica, mas para servir de residência, em época em que a Avenida da Paz era preferida pelas tradicionais famílias alagoanas. Entre o Centro e Jaraguá, sua localização facilitava o acesso ao comércio atacadista e varejista, sendo ponto preferido pelos comerciantes para fixarem residência, até o início do século passado.

O primeiro proprietário, Eduardo Ferreira Santos, construiu o imóvel na década de 1930 e, em seguida, o vendeu a Artur Machado, que logo cuidou de reformá-lo. Sua arquitetura eclética teve a decoração acrescida de novos elementos por dois esmerados artesãos portugueses. Provavelmente, foi dessa época o acréscimo das varandas encimadas por cúpula de inspiração mourisca que deram uma nova e sofisticada feição ao prédio. Logo a residência passou a ser conhecida por Palacete dos Machado.

Depois de outras ocupações, o imóvel foi adquirido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para servir de residência universitária feminina e, em seguida, sede do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, reunindo expressivo acervo da cultura popular nordestina.

A mais recente restauração, concluída em 2001, recuperou parte da decoração da fachada, da pintura original da entrada e as grades que contornavam o pátio, perdidas em reformas anteriores, foram recompostas, fazendo alusão à tipologia do museu, com desenho de motivos folclóricos concebidos pelo artista plástico Getúlio Mota.

Como a edificação, em suas diversas ocupações, perdera algumas divisórias e características ornamentais no interior, a montagem do circuito privilegiou principalmente as peças em exposição, com uma instalação atraente, rica em cores, fotografias e informações”.

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2017

Crônica 1.796 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

GRANIZO, PREJUÍZO E FESTA

Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas

Como o granizo voltou à moda no Brasil, ultimamente, vamos ver um pouco sobre ele. Sua definição tem algumas variedades, mas tudo dentro do mesmo fenômeno atmosférico. Vejamos uma das dezenas de definições. Granizo é a forma de precipitação que consiste na queda de pedaços de gelo. Conforme o lugar se diz: chuva de pedra, granizo, chuva de gelo.

Esses glóbulos de água congelada podem medir entre 5 e 200 milímetros. Existe certa diferença oficial sobre tamanho e denominação, mas não vamos cansar o leitor com as inúmeras minúcias dos institutos meteorológicos. Normalmente o granizo se origina de nuvens denominadas convectivas (que se formam verticalmente) como cumulo/nimbus.

Granizo pode causar danos, principalmente para automóveis, aeronaves, telhados e até mesmo em quengo de gente. Nos sertões do Nordeste esse fenômeno chamado chuva de pedras, não é tão raro assim. De vez em quando nos deparamos com ele, principalmente, em tempos de trovoadas, novembro, dezembro e janeiro. Então, podemos dizer que já estamos no período dessas ocorrências.

Durante as famigeradas trovoadas sertanejas, o tempo se fecha com nuvens muito escuras, causa alegria às pessoas, mas também muita apreensão. As chuvas são rápidas, mas ligeiras e encorpadas seguidas de relâmpagos pavorosos e trovões terrificantes. Aqui acolá o também chamado “toró”, pode trazer as não descartáveis pedras de gelo. Mesmo assim nunca tivemos notícias de estragos feitos pelo granizo, em nossa região e que sempre foram à diversão da meninada após a sua queda.

As comparações dos tamanhos dos glóbulos de gelo, feitas pelo povo, são as mesmas em todos os lugares do país: “do tamanho de um ovo de galinha; de uma ervilha; de um caroço de feijão…”. Porém, quando as pedras de granizo excedem 13 mm de diâmetro, pode danificar seriamente os aviões. E se esse granizo se acumula no chão, também pode ser perigoso para o pouso das aeronaves. Numa região onde uma chuva de granizo é muito forte, pode danificar seriamente plantações como trigo, milho e fumo que são mais sensíveis a esse tipo de fenômeno.

É interessante o estudo do granizo que daria páginas e páginas de detalhes. Aqui no nosso Sertão alagoano, após o festival de pancadas diferentes nas biqueiras, nós, os meninos, íamos apanhar as pedras, comparar os diâmetros e chupá-las gostosamente “que nem” picolés.

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de dezembro de 2017

Crônica 1.795 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

RONINHO E SUAS ARTES NA ARTE

Foto: Reprodução

Artesão é aquele que trabalha com artesanato. Artesanato, por sua vez, é uma técnica manual utilizada para produzir objetos feitos a partir de matéria-prima natural. Normalmente os artesanatos são confeccionados por famílias ou por um só indivíduo, dentro de sua própria casa em uma pequena oficina. A técnica é praticada desde o período antigo denominado Neolítico, quando o homem polia as pedras para utensílios. O artesão é considerado um artista, pois seus produtos são verdadeiras obras de arte. A valorização comercial do artesanato é coisa ainda recente, desde que os europeus descobriram e mostraram interesse pelos trabalhos artesanais do nosso país. Foi assim com o valor nutricional da rapadura e da chamada Literatura de Cordel.

Em Santana do Ipanema existem exímios artesão que trabalham com as mais diferentes matérias como: madeira, ferro, zinco, tecido, palha, couro, osso, sola, vidro, barro, além de outros. Ultimamente está em evidência o artesão Roninho, morador do Bairro São José, cuja oficina tomou o espaço do antigo Bar do Bacurau, que foi ponto de encontro de literatos, músicos, cantores, cineastas, artesãos e desenhistas. Fiz uma visita de cortesia ao amigo Roninho, especialista na arte de produzir cenas do Nordeste seco na pobreza dos sertões, com ênfase em figuras de cangaceiros. O artista deixou um pouco de lado, as pinturas em tela e passou a trabalhar também reproduzindo figuras do cangaço em ferro, pesquisando, descobrindo e criando técnicas próprias dessas peças de variados tamanhos.

Há muito podemos classificar o artesão de mestre. O seu trabalho ganha fama por todos os lugares e o mestre também é chamado para reproduzir até casa de taipa e restaurar estátuas de vias públicas e de santos de oratórios caseiros. Roninho atua bem na região de Piranhas onde os turistas se encantam com o seu trabalho, compram e fazem encomendas. Roninho conquistou o seu espaço, atua em todo o estado de Alagoas e, atualmente no Sertão tornou-se estrela de primeira grandeza no que produz. Agora está fazendo, ainda, peças em ferro de caricaturas de pessoas famosas, sob encomendas.

Esse é o único trabalho que eu não quero que ele faça para mim. Nem de graça. Santana do Ipanema acha-se de parabéns pelo talento seco do MESTRE RONINHO.

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de dezembro de 2017

Crônica 1.794 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano