Sobre Clerisvaldo Chagas

Romancista, historiador, poeta, cronista. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano.


AS CAGADAS DE SANTANA DO IPANEMA

27 novembro 2017


 

Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net

Na segunda metade do século XX, surgiu em Santana do Ipanema – Médio Sertão alagoano – o modismo de degustar carne de Jabuti, também chamado cágado, nessa região. Com certeza havia por aqui, as duas espécies brasileiras, o jabuti-piranga e o jabuti-tinga. O primeiro é encontrado nas cinco regiões brasileiras, o segundo, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Não sabemos quem foram os primeiros trucidadores dos quelônios, mas havia um comércio restrito aos apreciadores da iguaria. Eles eram capturados na caatinga do Alto Sertão e comprados por alguns mercadores santanenses, geralmente transportados em caçuás. Não havia ainda a proibição de hoje. Pessoas compravam para criar nos quintais por prazer ou para vendas aos apreciadores. Geralmente, os que compravam cágados, gostavam de beber.

Poucas pessoas se aventuravam a matar o bicho. Destacavam-se nessa nauseabunda e horrível empreitada, o Cassiano, morador da Rua Prof. Enéas, perto do Poço dos Homens, e Filemon que residia perto do Aterro. Os convidados para a farra denominada “cagada”, eram os filhos de Santana ausentes que visitavam a terra em tempo de Semana Santa ou forasteiros ilustres.

De fato, uma delícia a “cagada” de Santana do Ipanema. Os cágados eram criados comendo a mesma comida de porcos, palma e banana. Com o tempo, a tradição foi se firmando até que as leis começaram a inibir toda a cadeia produtiva até o consumidor. Antes mesmo do término do século XX santanense já não procurava cágados no comércio que se tornara perigoso.

Voltamos ao prato típico comum nos sertões nordestinos: a buchada de bode ou de carneiro. É permitido criar animal selvagem com autorização, mas quem vai criar jabuti que leva 200 anos para crescer? Devido ao rigor da lei, ficou proibida a escandalosa “cagada” de Santana do Ipanema. Nos tempos mais modernos o ato foi parar em setor tão perverso e desgastado que é melhor nem apontá-lo com o dedo.

Bons ou maus tempos em que o último vendedor de cágados, o Bebé, andava oferecendo o bicho vivo nas esquinas da “Rainha do Sertão”.

Até logo, comadre. É vapt-vupt!

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de novembro de 2017

Crônica 1.788 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

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