Após 19 cidades, festival exibe obra em Alagoas

15 fev 2013 - 19:58


Sessão competitiva acontece na segunda-feira (18), no Museu da Imagem e do Som de Alagoas

Desde sua estreia em outubro o curta-metragem alagoano O que Lembro, Tenho vem somando participações em mostras e festivais, porém o que mais impressiona em sua carreira é a emoção que o filme tem despertado no público.

Em todas as sessões realizadas a plateia foi tocada pela história de Maria (Anita das Neves), idosa que vive num apartamento de classe-média aos cuidados da filha Joana (Ivana Iza). Os sintomas de demência senil transportam Maria no espaço e no tempo, obrigando-a a reviver episódios de sua vida no interior alagoano.

A identificação com a temática de alcance universal é uma das possíveis explicações para a recepção do público. A delicadeza da abordagem é uma das características do filme mais destacadas pela imprensa, ao lado da qualidade técnica de dos ótimos desempenhos de Anita das Neves e Ivana Iza. Estreante no cinema, Dona Anita inclusive foi escolhida a melhor atriz na última edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Apór receber seis prêmios “em casa”, agora o curta compete com 37 filmes brasileiros no Festival do Júri Popular. O evento que acontece desde o dia 28 de janeiro já passou por 19 cidades, e chega a Maceió na próxima segunda-feira (18).

É mais uma oportunidade para quem ainda não viu o filme, e para quem viu e gostaria de votar na produção – já que os vencedores do festival serão escolhidos pelo público. A sessão é gratuita e começa às 19h no Museu da Imagem e do Som de Alagoas.

SERVIÇO:

O quê: Exibição do curta-metragem O que Lembro, Tenho no Festival do Júri Popular

Onde e quando: No Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Rua Sá e Albuquerque, 275, Jaraguá, em frente à praça Dois Leões).

Mais informações: 9904 7770

BASTIDORES

Aos 74 anos de idade, Dona Anita das Neves não podia imaginar a surpresa que o acaso lhe reservaria. Aquele que seria um dia comum em sua rotina virou um encontro inesquecível para ela e para a equipe que chegara em sua casa, naquele fim de tarde do último mês de junho. A frondosa árvore no terreno chamou a atenção do grupo, que realizava as pesquisas de locação para o curta-metragem O que Lembro, Tenho.

Após viajar grande parte do estado em busca de casa que atendesse aos pré-requisitos de seu roteiro, o diretor Rafhael Barbosa finalmente se deu por satisfeito ao encontrar a fazenda onde Dona Anita e seu esposo vivem há mais de 50 anos, no município de Boca da Mata. Mais que um cenário, também estavam ali todos os elementos que faltavam para que o filme pudesse ser realizado. Nos arredores, a casa, a igreja, o cemitério e o açude se encaixaram perfeitamente na proposta do curta. Porém o maior achado daquele dia foi a descoberta da atriz que viveria a protagonista da história.

No enredo, a professora Joana sofre com a eminência de ser completamente esquecida pela mãe, afetada pelos sintomas do Mal de Alzhaimer. Diante da distância entre as duas, a memória se torna um refúgio para um reencontro. Os momentos vividos no passado são evocados tanto pela memória nostálgica da filha quanto pela “regressão” que a doença submete a mãe.

Maria foi inspirada na vida de uma personagem real, Dona Maria Amaral da Silva, mulher que viveu a juventude no sertão alagoano e passou seus últimos anos na cidade ao lado da filha, antes de falecer em 2005. Como tantas sertanejas como ela, Maria era guardiã de tradicionais táticas da vida rural, o que é mostrado no filme por meio de cenas que ilustram hábitos como canções de trabalho, e a relação com a religiosidade.

Muitos dos hábitos representados no roteiro, inclusive, também faziam parte da vida da intérprete Anita das Neves. De tão semelhante, a história daquela mulher simples, que nasceu e morou a maior parte da vida num bucólico sitio em Boca da Mata, parecia ter inspirado o roteiro do filme. A principal diferença é que ao contrário da protagonista, uma idosa que sofre com os sintomas do Mal de Alzheimer, Dona Anita impressiona pela lucidez e pela precisão de sua memória. O que a tornou a intérprete perfeita para a personagem.

Mesmo sem nunca ter desempenhado qualquer função artística, ela não relutou em aceitar o desafio, e se entregou a experiência com intensidade. Durante cinco dias de filmagens (dois em Boca da Mata e dois em Maceió), a atriz estreante aos 74 anos contracenou com a atriz veterana Ivana Iza. A sintonia entre as duas criou uma relação verdadeira entre mãe e filha, que poderá ser vista no filme.

Com 19 minutos de duração, e realizado com recursos do Prêmio de Incentivo a Produção Audiovisual de Alagoas, a produção é uma realização Popfuzz Coletivo, Núcleo Zero e Filmes Imperfeitos.

CURRÍCULO DA PRODUTORA

O Núcleo Zero é uma das produtoras de conteúdo audiovisual mais ativas e premiadas de Alagoas. Desde 2003 tem realizado produções por meio de editais estaduais e nacionais. O primeiro filme realizado pela empresa foi o documentário Imagem Peninsular de Lêdo Ivo (2003), projeto vencedor do prêmio DOCTV, da TV cultura, veiculado na Rede Pública de Televisão e adquirido pelo MEC, para a programação da TV Escola.

Em 2005, também através do DOC TV, lançou o documentário História Brasileira da Infâmia – Parte 1. Tem ainda em sua carteira de trabalhos o média-metragem O Homem, O Rio e o Penedo, sobre a Festa de Bom Jesus dos Navegantes, produzido para o Progama Monumenta da Preservação do Patrimônio Imaterial Nacional. Em 2012 o Núcleo Zero lançou os documentários Interiores ou 400 Anos de Solidão, média metragem contemplado com o Prêmio Petrobras Cultural e EXU – Além do Bem e do Mal, ambos de Werner Salles Bagetti.

Além dos documentários citados a produtora já realizou as ficções KM 58 (dirigido por Rafhael Barbosa), fi­lme vencedor da II Mostra Sururu de Cinema Alagoano nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Fotogra­fia, e selecionado para a 16ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual de Pernambuco. Outra com a assinatura Núcleo Zero, O Matuto Zé Cará, curta inspirada na obra do cordelista Jorge Calheiros, se tornou um fenômeno popular, e hoje pode ser encontrado em diversos pontos de venda espalhados pela capital e pelo interior do estado.

O que Lembro, Tenho, mais novo projeto de ficção da produtora, venceu seis prêmios na III Mostra Sururu de Cinema Alagoano, e entrou para a competição do Festival do Júri Popular 2013.

CURRÍCULO DO DIRETOR

É graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Alagoas. Dirigiu o documentário Chimarrão, Rapadura e Outras Histórias (2007), e escreveu e dirigiu o curta-metragem de ficção KM 58 (2011), vencedor do prêmio de melhor filme na II Mostra Sururu de Cinema Alagoano, e selecionado para o Cine PE 2012 e para o Festival de Maringá 2012. É também diretor e roteirista do curta-metragem O que Lembro, Tenho. Como produtor, trabalhou nos documentários Interiores ou 400 Anos de Solidão, projeto contemplado no Programa Petrobras Cultual, e EXU – Além do Bem e do Mal, ambos lançados em 2012.

FICHA TÉCNICA

Roteiro e direção: Rafhael Barbosa

Produção: Nina Magalhães e Nataska Conrado

Maria: Anita das Neves

Joana: Ivana Iza.

Maria jovem: Lourdes das Neves

Joana criança: Ana Maria Lopes

Josuel: José Carlos das Neves

Diretor assistente: Nivaldo Vasconcelos

Direção de Elenco: Nilton Resende

Direção de fotografia: Michel Rios

Assistência de fotografia: Henrique Oliveira

Montagem: Pedro Octávio Brandão

Direção de arte: Nataska Conrado e Weber Salles

Platô: Vanessa Cabral

Eletricista: EdnerCareca

Still e Making off: Vanessa Mota

Assistência de produção: Caique Guimarães, Rodolfo Lima e Victor Guerra

Som direto: Pedro Octávio Brandão

Assistência de som: Nando Magalhães

Trilha sonora original: Nando Magalhães

Maquiagem: Nathaly Pereira

Figurino: Maria Aparecida da Silva

Pesquisa de locação: José Barbosa Silva

Logger: Victor Guerra

Mixagem de som: Gil Braga Dantas

Designer gráfico: Michel Rios e Thiago Oli

Assessoria

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