Marcelo Ricardo Almeida
MÉTODO TEATRO-FEIJÃO-COM-ARROZ
Clássicas, prosaicas; vão legiões ao teatro juntar, talvez, cacos.
O método Teatro-Feijão-Com-Arroz, que surgiu em Santana do Ipanema, 1975, propõe o texto dramatúrgico interpretado no espaço público. Em 2023, a peça “Debaixo da Ponte”, de 1982, é levada ao Festival Nacional de Teatro, no Espírito Santo, por atores locais, com a apresentação na praça, como se propõe neste método.
E a peça “Debaixo da Ponte” é teatralizada na praça defronte à igreja; os degraus na porta da igreja são usados como arquibancadas ao público que acompanha a trajetória de personagens na rua defronte à praça. Este ano, no Festival de Teatro de Curitiba, PR, os atores participaram com a peça de teatro “Debaixo da Ponte”.
O drama humano é tipo circo romano: bem tragicômico.
Diversas maneiras de se escrever peças para interpretar em palco de teatro são feitas há séculos. A dramaturgia de autores que antecedem o método Teatro-Feijão-Com-Arroz não aborda o gênero teatro da forma como se encontra neste método.
Dramaturgia sistematizada no método Teatro-Feijão-Com-Arroz com peça teatral publicada na Revista de Teatro, 2002, da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, RJ (RT no 513). Teatro-Feijão-Com-Arroz nas ações pedagógicas:
• O método Teatro-Feijão-Com-Arroz como percurso a se explorar estratégias de ensino e de aprendizagem.
• Nas ações pedagógicas, Teatro-Feijão-Com-Arroz como prática de linguagem para reencontrar espaço de leitura que promova a circulação da produção de textos e também da escrita.
Reelaboração da estética do teatro com este método:
O Teatro-Feijão-Com-Arroz substitui Atos e Cenas por Situações e Fases. Em suas peças teatrais, a Situação é Única, e as Fases mudam quando entra em palco (espaço de representação do texto teatral por atores) outra personagem, por exemplo. Situação é cada parte da peça de teatro; Fase é quando entra no espaço de palco ou sai a personagem (Fase A, Fase B etc. E Situação Um, Situação Dois etc.).
Divisão estrutural, neste método, usa situações e fases. No Teatro-Feijão-Com-Arroz, abolidos Atos e Cenas:
• Atos, no âmbito teatral, é uma das três ou cinco divisões em que se delimita o tempo e o espaço na peça de teatro; até em mais atos, segundo a estrutura do texto;
• Cenas são as marcações entre os diálogos, no discurso direto dos atores em palco, ocupando o lugar, com ações segundo o texto dramatúrgico; estas cenas são subdivisões dos atos.
Na estrutura dramática, este método suprime rubricas:
• Rubricas no teatro são indicações que orientam o ator e a direção do texto dramatúrgico durante a montagem do espetáculo; são anotações do dramaturgo (entre parênteses) próximas ao discurso direto.
Nesta dramaturgia, reconhecida na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (criada pela musicista Chiquinha Gonzaga em 1917), sediada na cidade do Rio de Janeiro, publicada na Revista de Teatro, no 513, com matéria sobre o método Teatro-Feijão-Com-Arroz, além da peça “Debaixo da Ponte” (encenada em diferentes Estados brasileiros, a exemplo do RS; modelo nas aulas, na UFAL, para o curso de Formação de Atores).
Teatro-Feijão-Com-Arroz está na tessitura de seu inventário que dá a fatos comuns do cotidiano atmosfera onírica, na prática bruxólica, para citar o crítico literário Silveira de Sousa. Mistura de gêneros, no humor e na ironia dramática, em linguagem sui generis. O grotesco, o onírico, o real, o fantástico, o humor, o satírico e o trágico.
Algumas das 120 peças neste método estão disponíveis na SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais). “Casa de fantasmas”, “Debaixo da ponte”, “História de Jaci (um passeio ao lugar do não sei onde)”, “Morcegos humanos”, “O bonde andando”, “O mosquito”, “Quem má cama faz, nela jaz”, “Um tesouro além do arco-íris”.
• O método Teatro-Feijão-Com-Arroz cria o projeto Teatro na Escola o Ano Todo. Ocasião na qual convida debatedores (escritores, professores universitários etc.) à escola para enriquecerem os trajetos programáticos na unidade escolar;
• Peças no método Teatro-Feijão-Com-Arroz em outros países: “Quem má cama faz, nela jaz”, em Córdoba, Argentina, 1990; “Ladrão-de-Galinhas”, em Santiago, Chile; em Nova Iorque, EUA, “A Fila do INPS”, 2004.
O papel do teatro na escola, segundo o método Teatro-Feijão-Com-Arroz:
• O teatro na escola pode ensinar o aluno, de maneira lúdica, a valorizar a empatia e a cooperação, parafraseando as competências gerais que disponibiliza a Base Nacional Comum Curricular (2018);
• Por meio de apresentações teatrais, o aluno pode aprender a exercitar o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação;
• A escola, como espaço coletivo, político, artístico e criativo, onde todos os envolvidos, pedagogicamente, possam se respeitar promovendo ética, direitos humanos e acolhimento;
• Teatro na escola como exercício de valorização da diversidade, sem preconceitos de qualquer natureza;
• Onde o aluno possa, democrática e republicanamente, apropriar-se de conhecimentos e experiências, entender o mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas à cidadania, ética (a exemplo do livro "Ética na Escola" com peças teatrais no método Teatro-Feijão-Com-Arroz) e ao seu projeto de vida com liberdade, autonomia, criticidade e responsabilidade.
Teatro-Feijão-Com-Arroz como leitura no mundo escolar:
Cada aluno possui algo de filosofia inata, como também de poesia, porque em todas as idades, ao se permitir o exercício da imaginação, por meio do Teatro-Feijão-Com-Arroz, descobre-se na escola uma outra escola.
Existem diferentes mundos no ambiente escolar. Há o mundo dos efeitos de sentido, decorrentes de recursos linguísticos que prevalecem sobre o mundo da empatia. Há o mundo do diálogo, da resolução de conflitos e da cooperação. Há o mundo do acolhimento, da valorização e da diversidade para que não haja preconceitos de qualquer natureza, segundo as competências gerais, na BNCC (2018). Se a curiosidade é a química do filósofo, a imaginação, no método Teatro-Feijão-Com-Arroz, é a força do poeta.
A metafísica do poeta faz poemas, não imagística.