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  • Santana do Ipanema, 20/07/2025
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Marcelo Ricardo Almeida

SANTANA DO IPANEMA: TERRA DE ESCRITORES


SANTANA DO IPANEMA: TERRA DE ESCRITORES Foto: Marcelo Ricardo Almeida

Na avaliação da escritora Maria do Socorro Ricardo, se a arte é a expressão das emoções, escritor/a é escritor/a quando a criação superar a criatura. O trabalho do/a escritor/a, o trabalho intelectual do/a escritor/a, e, daí, trabalho diferente do pedreiro que ergue um prédio, diferente do médico que remedia uma vida. O trabalho intelectual do/a escritor/a é quando este for maior que o/a próprio/a escritor/a. E a escritora de Santana do Ipanema, Maria do Socorro Ricardo, conclui com os versos que se seguem:

Da janela de minha casa admiro os barcos que viajam pelo universo e

o som dos pássaros presos em gaiolas gorjeia sobre o tempo eterno

como se constroem barcos se constrói vida como se construíssemos

o silêncio do universo em páginas de cadernos de linhas e palavras

estou diante de um sábado de feira em Santana do Ipanema de 1970

onde o mercado se divide em mercados e cada mercado há um preço

os pés de pessoas vencem distâncias entre velhos e vazios planetas

há frutas na natureza-morta desenhada naquela jarra presa à mesa

o vaivém de silêncios entrecortados acorda os pássaros nas gaiolas

estas são minhas águas-panemas em Santana sertão alagoano

são terras parecidas com outras com pedras e água salobra de mar

Santana do Ipanema querida cidade cujas linhas geopolíticas pulam

falam e gritam sobre os acontecimentos neste ano de 1973 e mais

onde pés que caminham nas areias de seu rio com casas às margens

conto em linhas ligeiras passagem de seu povo Santana do Ipanema

ribeirinha cidade de Santana do Ipanema lugar de sol e de serras

distantes lugares de caminhos de pássaros que cantam em gaiolas

as águas-panemas lavam e alimentam os moradores das serras

silencia o universo do alto admiro outra cheia que lava a cidade

ai janela querida que ficou só em Santana do Ipanema

era maio de 1968 na cidade que me viu caminhar em suas ruas

a parede caiada de minha casa de fazenda admira os pássaros

nuvens formam figuras como se um Monet ou Manet as pintassem

de repente as cores voam e alcançam o universo dos pássaros

as gaiolas presas às paredes brancas revelam seus cânticos

como se a Terra de Escritores: Santana do Ipanema fosse una

janela querida que ficou só em Santana do Ipanema feérica

era maio de 1968 na cidade quando pintei palavras em versos

das janelas de minha querida Santana do Ipanema

o universo me contempla como o contemplo agora

as pedras conversam sobre tempos antigos e mornos

como o limo que as une em desespero absoluto musgo

Santana do Ipanema entre um cinturão de serras secas

colore as ruas com as cores saborosas das lembranças

dos janelões calados e sérios de minha eterna cidade

o som dos pássaros presos em gaiolas fala do universo

agora compreendo as suas ladeiras Santana do Ipanema

sua música suas feiras espalhadas pelas ruas metálicas

neste poema de maio de 1968 onde as palavras feéricas

lavam as ruas como águas de panemas areentas águas

e os caminhos que se caminham em Santana do Ipanema

são suaves e quentes como dois olhos presos às paredes

os olhos das casas são janelões abertos que falam por si

sobre um tempo que já se foi há meia hora desistiu de ser

numa canoa em preto e branco de madeira

segui a correnteza de ar em leves manobras

e leve deslizava a canoa sobre as cumeeiras

das casas velhas de minha Santana do Ipanema

numa porta um seresteiro afinava o pinho

noutra porta a mulher gorda aprisionava o sol

naquele sobradinho pássaros estavam em gaiolas

agora só ouço o zumbido do universo misterioso

eu me esqueci que fui criança e o mundo era de rosas e de mares

E surge o teatro, a nona maravilha

Com seus enredos e seus atores

Corre o sertão labuta acende a pilha

Com aventuras pelejas de amores

Visitando sítios vilas ruas cidades

O teatro conquista aplausos fama viva o teatro o feijão o arroz.

Escreveu a poeta, Maria Mércia Ricardo Almeida (1965-2023), sobre a sua cidade, Santana do Ipanema, associando-a com o título à cidade criado pela memorialista, Maria do Socorro Ricardo (1940-2023), ao identificar a cidade “Santana do Ipanema: Terra de Escritores”.   

Quando Deus quer é assim.

Sou a escrita, não a ciência.

Liberdade é poder, eu posso.

Os surdos ouvirão a palavra do livro.

Poesia é o sentimento concretizado.

Seja você mesmo,

Mas – mais tem Deus pra dar do que o malvado pra tirar.

Tudo isso acontece, e o homem não engravida.

Abrindo caminhos,

Mudei a cabeça deles e continuo mudando.

Agradeço e ofereço a Deus a publicação deste livro.

Um livro e nove títulos – ou mais.

Abrindo caminhos.

Seja você mesmo.

Quando Deus quer é assim.

Sou a escrita, não a ciência.

Liberdade é poder, eu posso.

E em outro de seus poemas, Maria Mércia Ricardo Almeida escreveu estes versos:

É isso que alguns

Tem pra dá...?

Uns dão o mal,

Outros dão o bem.

Cada um dá

O que tem.

A poeta sintetiza a sua poesia com versos breves sobre o cotidiano. Faz um desenho de suas observações em relação ao livro, que é feito para circular. Não nasce um livro para dormir em bibliotecas. Como versifica Maria Mércia Ricardo Almeida:

Entra uma criança sapeca

Na biblioteca

Mas não pode falar

Nem espirrar

Engole o espirro

E não pode mexer

Mas quer aprender.

E a criança sapeca vê

A monstra da biblioteca dizer:

Silêncio! proibido mexer

Tire as mãos desses livros

Aqui mando eu, e não você.



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