Marcelo Ricardo Almeida

DONA MAJESTADE, A GRAMÁTICA

Aplausos. Abram alas à Gramática.
A redentora da Língua,
A regrista inveterada,
A rainha dos estudos escolares. Aplausos.
Abram alas, abram alas.
Alarguem os corredores.
Iluminem a escola
Com candelabros, velas, orações,
Períodos simples e compostos.
Gramática é o princípio e o fim.
Não há nada além da Gramática.
Arrepare quem ladeia
Nossa pia protetora Gramática.
Louvada seja a mãe Gramática.
Força às forças da fundamentação teórica
Desde os anos iniciais, na escola.
Os seus maiores defensores são os tritongos
Crescente e decrescente,
Os hiatos e os ditongos,
As palavras oxítonas,
Paroxítonas, proparoxítonas
Vêm atrás com a proteção do cortejo;
Os dígrafos nasais vão à frente.
Formem frases, formem frases.
De nada, forme frase! disse a sala de aula.
A ortografia faz a recepção à Gramática.
Veja a Ortografia na porta da escola.
Veja a roupa, o laço de fita azul, o vento em seu cabelo.
Tudo é difícil no edifício da Linguagem. Aplausos.
Só há escola havendo leitura, sem leitura não há escola. Inferir é deduzir ou concluir. Sem a interferência do mundo imaginário não há aprendizagem real à vida humana.
O aluno que convive, entre os muros da escola e além dos muros, com o texto literário, é aquele que vai mais longe. Até quando a escola que se conhece existirá? Esta é a pergunta dia após dia pela inteligência artificial generativa.
O acendedor de lampiões, de Jorge de Lima, substituído pela cachoeira de Paulo Afonso no mundo de microplásticos e metais pesados. O papel do aluno que lê e escreve vai mais longe? O exemplo do aluno que lê, espontaneamente, é o exemplo a ser seguido por todos os alunos.
Classes gramaticais de novo? As aulas de Língua Portuguesa não são tão-só classes de palavras. Convive-se com aprendizado supervisionado, não supervisionado, semissupervisionado e por reforço.
Biblioteca! ocupe a sala principal, o espaço que recepciona quem chega à escola, terra entre rios que sobrevive desde os povos mesopotâmicos. Há um acordo tácito entre o aluno que lê (sem que ninguém peça que leia, sem ser uma obrigação escolar, sem ter uma compensação, uma nota) e o seu papel na comunidade escolar e também além dos muros escolares. Afinal, o mundo é construído por bibliotecas. Borges fala sobre isto em La biblioteca de Babel.
Na arquitetura escolar, o espaço da biblioteca não é apenas mais um setor pedagógico; nela, aluno e professor estabelecem parcerias. Aonde vai o aluno? Como é, no fim, é no princípio, e o princípio da aprendizagem colaborativa, no ensino, age na integração entre os envolvidos no processo educacional.
É aqui onde ressurgem inferências, sem elas não se deduz resultados nem interpretação das informações recebidas na escola. Anteontem, o acendedor de lampiões ficou desempregado. Ontem, foi a vez do cobrador de ônibus. Hoje, quem perderá o emprego?
Nos orienta a segunda competência, entre as dez competências gerais da BNCC (2017), sobre o valor social de se apropriar da linguagem escrita. Ou seja: Reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social.
E a nona competência geral da BNCC: Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.
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