Mestra do Patrimônio Vivo mantém viva tradição da renda de bilro

25 mar 2018 - 11:45


Foto: Agência Alagoas

“Olê, mulher rendera, Olê mulhé renda…”. Não é preciso completar o resto da música para saber que a mulher rendeira é símbolo da cultura popular no Estado. É no alto de uma almofada que linhas e bilros se que se encontram e se entrelaçam, fazendo, em tamanhos e larguras diferentes, desenhos que aos poucos viram renda.

Adotada no Nordeste, a renda de bilro desenha a vida de mulheres há muitos anos. Tradição que é passada de “mãe para filha”. É o caso de Maria Severiano dos Santos, mais conhecida como Mestra Maria de Clarice.

“Comecei a fazer renda desde pequena, já nasci ouvindo os barulhos do bilro. Foi aí que começou a despertar o interesse. Comecei brincando, depois ficou mais sério, fui aprimorando”, conta a rendeira. “Na minha família a renda de bilro é tradição, aprendi com a minha mãe, Clarice Severiano, também mestra do Patrimônio Vivo, falecida em 2012”.

Reconhecida como Mestra do Patrimônio Vivo desde 2016, Maria de Clarice, residente do município de São Sebastião, explica que a tradição, por vezes, compete com a tecnologia quando se trata de novas gerações. “É um pouco difícil manter a tradição, a juventude de hoje em dia está mais ligada à internet e novas tecnologias e deixa um pouco do lado a cultura popular. Mas tento de todas as maneiras atrair jovens para o artesanato”, explica a mestra.

Ótima qualidade

Não se sabe como a renda chegou ao município, mas o certo é que a produção da renda de bilros em São Sebastião é de excelente qualidade, destacando-se no Nordeste também pela fidelidade das artesãs ao padrão tradicional da comunidade. O tempo de confecção de cada peça varia. “O tempo gasto em cada peça depende do tamanho e do modelo. Alguns eu faço meio metro por dia, do mais fininho, umas peças mais largas são necessários vários dias”.

19 de março, Dia do Artesão, é considerado um dia importante para a rendeira. Mesmo com novas profissões surgindo, é certo que algumas são insubstituíveis e continuam as mesmas com o passar dos anos. “Nós resistimos. O Dia do Artesão é um marco. É um dia de grande valor para comemorar. Assim como o título de Mestre do RPV, que para mim foi uma graça de Deus. É uma forma de reconhecimento pelo nosso trabalho e luta de tantos anos”, comemora.

Trabalhando com a renda desde os 8 anos de idade, Maria de Clarice hoje possui um projeto, a Escolinha de Renda, que funciona na antiga sede da Secretaria de Cultura de São Sebastião, onde dá aulas de artesanato, de segunda a quinta-feira, para jovens e também ensina a renda de bilro, a fim de manter viva a tradição da renda na família. “Minha mãe deixou um legado não apenas de arte, mas dignidade, fé e persistência, que deve ser passado de geração em geração, assim como seus ensinamentos sobre a confecção da renda de bilro”.

Registro do Patrimônio Vivo

O título de Regitro do Patrimônio Vivo (RPV) é concedido pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, desde 2005, através da Lei Estadual nº 6.513/04, alterada pela Lei nº 7.172/2010.

É considerado mestre do RPV a pessoa que detenha os conhecimentos e técnicas necessárias para a preservação dos aspectos da cultura tradicional ou popular de uma comunidade, estabelecida em Alagoas há mais de 20 anos, repassando às novas gerações os saberes relacionados a danças e folguedos, literatura oral e/ou escrita, gastronomia, música, teatro, artesanato, dentre outras práticas da cultura popular que vivenciam.

A secretária de Estado da Cultura, Mellina Freitas, destaca a importância de reconhecer esses artistas que preservam a cultura, repassando os seus saberes populares para as novas gerações.

“O registro dos mestres é uma forma de homenagear a cultura alagoana e manter viva os saberes e fazeres. Ao nomear novos mestres estamos criando maneiras de perpetuar nossa cultura. Precisamos, cada vez mais, transmitir esses valores, para fortalecer a própria identidade do alagoano. Os nomes escolhidos são de grande representatividade nas áreas em que atuam”, destacou Mellina Freitas.

 Por Júlya Rocha / Agência Alagoas 

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