AINDA O PADRE CÍCERO

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de janeiro de 2016

Crônica N. 1.496
Foto: Informativo Atitude

Foto: Informativo Atitude

A nossa Igreja Católica já errou muito e continua errando desde os ciúmes do bispo do Crato em não possuir os mesmos poderes espirituais do padre Cícero. Negou os milagres de Romão com inveja – unicamente – ao jovem sacerdote. E com esse erro secular de inveja e prepotência, viu cada vez mais o aumento de romeiros pelo já consagrado por eles. Observando outras religiões crescendo no mundo e, a católica estagnada dentro do caramujo da arrogância e da ambição mundana de riqueza, resolve “reabilitar” o Homem. Uma tentativa de driblar os seguidores do padre.

A Igreja quer fortificar a fé católica no Brasil, indo buscar o “proscrito” para as suas hostes antes que outros seguimentos assim o façam. Para isso inventou uma história absurda: o toco do perdão. Perdão de quê? Não se perdoa a quem não cometeu erros. A minha Igreja, rica em empáfia, era quem deveria pedir perdão ao santo nordestino e a seus romeiros, pela inveja do bispo da época e seus covardes seguidores. Essa mesma igreja dos longos crimes de “Inquisição”, jamais teve em altas autoridades e em padres medíocres um só milagre registrado por esses pobres coitados.

Gente simples e humilde de pouca compreensão pode até engolir essa tal “reabilitação” com perdão tapeador. Padre Cícero não precisa de perdão e de engodo, pois tem feito muito mais milagres agora de que quando encarnado. É por esse e outros perdões carentes de causa que a minha igreja se encastela nas mordomias, riqueza e inveja, cujas estrelas valorosas são frustradas.

Historiadores e biógrafos de Cícero atestam bem a vida agitada do representante de Deus e os cuidados ao seu povo nordestino. Mesmo assim, o fundador de Juazeiro do Norte ainda é uma figura polêmica, notadamente, entre os que não suportam o destaque e a fama de outrem.

Ora, se o Cristo que tinha tantos poderes foi caluniado, quanto mais o seguidor fiel e missionário!

Padre Cícero já é santo, dizem seus devotos. Mais uma vez a Igreja chegou tarde. Veio em lombo de jegue.

OUSADIA NO VELHO CHICO

Clerisvaldo B. Chagas, 13/14 de janeiro de 2014

Crônica N 1.495

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Encontramos uma joia de documento detalhista sobre a construção da hidrelétrica de Paulo Afonso, na revista O Empreiteiro, Ano L – maio 2012 – N 508 – páginas 54-58. Com o título “Ousadia no Velho Chico”, o documento (sem autor) descreve tudo que se quer saber sobre os primeiros grandes passos da engenharia nacional, até então, dominada por estrangeiros.

“Havia certa resistência em acreditar que a engenharia nacional seria capaz de levar a diante obra de tal envergadura. Mas isso começou a mudar como o projeto da hidrelétrica de Paulo Afonso, concebida pelo engenheiro Otávio Marcondes Ferraz. Paulo Afonso é considerada a primeira usina construída pela engenharia nacional, que enfrentou, logo de cara, um desafio: instalar uma usina com casa de força subterrânea, algo então inédito no País”.

Continua o texto detalhando tudo, tudo, como se fosse um diário das obras da hidrelétrica. Um papel digno de qualquer museu de grande envergadura sobre essas páginas, orgulho nacional que arrepia e emociona a nossa brasilidade. O melhor de tudo é que foi no Nordeste diante da caatinga bruta que protegia o “Velho Chico”.

A música de Luiz Gonzaga que exalta Paulo Afonso canta em uma das estrofes, mais ou menos assim:

“Delmiro deu a ideia

Apolônio aproveitou

Dutra fez o decreto

E Vargas realizou

O presidente Café

Agora inaugurou

Meu Paulo Afonso é sonho

Que se concretizou…”

Delmiro Gouveia, dono da fábrica de linhas da fazenda Pedra, atual cidade que leva o seu nome, em Alagoas; Apolônio, Apolônio Sales, ministro da Agricultura; Dutra, Vargas e Café Filho, três presidentes do Brasil.

Faltou Gonzaga incluir o grande engenheiro Otávio Ferraz.

Quem se dispuser a pesquisar esse texto, principalmente professores de História, motivará em muito os seus alunos.

É esse o verdadeiro Brasil.

RUA DAS ÁRVORES

Clerisvaldo B. Chagas, 3-4 de janeiro de 2016

Crônica Nº 1.494

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

Quem esteve na orla de Maceió no final do ano passado, contemplou a maravilhosa decoração natalina. Um encanto! E se a orla por si só já é belíssima, imaginem decorada artificialmente com aquele marzão ao fundo e no cair da tarde. Vários outros lugares da capital faz jus ao título ganho como a capital mais bonita do Brasil. Deixando todos esses lugares, voltemo-nos para o comércio que tomou ares de lugar civilizado com os famosos calçadões.

Em alguns pontos desse mesmo comércio falta manutenção em parte do saneamento que fede mesmo. E nesse entrevero todo, entre o progresso e o atraso, particularizamos a Rua Augusta, sempre conhecida como Rua das Árvores. Rua do Ipaseal Saúde, rua de pequeno e médio comércio, rua de comércio ambulante de frutas, rua de pontos de ônibus. Ali você encontra um verdadeiro Frutal, mercadorias vindas de diversos lugares, tanto do estado quanto de fora. Entretanto, os pedestres sofrem com as calçadas estufadas que a ambição pelo dinheiro não consegue sequer um conserto. E naquele pomar ambulante sobre as sarjetas, escorrem as águas pretas de fossas, misturando a fedentina com o cheiro enjoativo dos pequenos restaurantes. Um descaso total com a saúde pública.

A Rua das Árvores, dessa maneira, torna-se complemento do Calcanhar de Aquiles de Maceió: o imundo mercado que gestor nenhum que meter a mão, como se fosse paciente em estado terminal. Não estamos falando dos Haiti moradias da Levada, nem das grotas inchadas de pobreza. Estamos nos referindo ao centro de Maceió que nos lugares citados continuam no Século XIX.

Continuemos desfrutando as partes sadias, mas não se pode calar diante das mazelas que atentam contra o coletivo. É dever, até, o grito da população para os ouvidos distraídos dos gestores.

Rua das Árvores, pedaço de tradição maceioense.

O REENCONTRO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de janeiro de 2016

Crônica Nº 1.493

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

Lembrando o velho casarão da antiga Praça da Bandeira, em Santana do Ipanema, veio ao empresário Juarez Delfino, a ideia de um reencontro com os colegas concluintes de 1966. O primeiro reencontro foi mesmo entre a minha pessoa e Delfino, de modo inusitado. Colega de Ginásio e de república de estudantes, cada qual seguiu seu rumo e há cerca de 30 anos não nos víamos, até que um almoço em sua residência matou saudades e formalizou um pedido: “Clero, pelo amor de Deus, organize em Santana um reencontro com os nossos ex-colegas concluintes de 1966 aqui na minha residência ou em Santana”. Prometi na hora que tentaria.

Iniciamos na antiga 5ª Série com 52 estudantes e encerramos a 8ª com 45. Fomos conhecer a novidade da época: a adutora de Belo Monte que traria água para Santana. Participamos de grêmio estudantil e conseguimos verba através das nossas promoções para um passeio a Paulo Afonso e outro a Fortaleza/Mossoró/ Juazeiro do Norte.

Depois, somente saudades da turma e do casarão que nos abrigara por tantos anos. Cada um procurou seguir o seu rumo e muitos nem sabemos por onde andam.

Pelo menos, na foto oficial da turma, tem um ex-colega falecido.

Vamos assanhando os que conhecemos, com os primeiros contatos sobre o assunto. Iremos tentar juntar o maior número possível dos antigos companheiros de escola, inclusive com aqueles que deverão comparecer com familiares e com surpresas. Temos a impressão de que José Pinto Araújo, ex-diretor do Ginásio Santana e o professor Antônio Dias, aceitarão comemorar conosco a era de ouro do Ginásio. Outros ex-professores também.

Nada está decidido. Entre fevereiro e março deveremos marcar os primeiros encontros de organização. Prazo longo para o evento, chefe, que a missão é árdua, mas saborosa.

Nada como um dia atrás do outro.

OS EXTERTORES DAS TRADIÇÕES

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de novembro de 2015

Crônica Nº 1.492

Repentistas Clerisvaldo e Zé  de Almeida na Matriz de Senhora Santana.  (Foto: Clerisvaldo / Arquivo)

Repentistas Clerisvaldo e Zé de Almeida na Matriz de Senhora Santana.
(Foto: Clerisvaldo / Arquivo)

Vamos seguindo feira adentro; olhos perscrutadores nas bancas, no quadro, no povo. Não encontramos folhetos, emboladores, violeiros, vendedores de óleos estranhos para todo tipo de doença. Tudo parece mais escasso e pobre. Vão-se as tradições e surge o novo na continuação da vida, em ciclos de novidades cada vez mais curtos.

Não aparece diante das feiras de Senador Rui Palmeira, Olho d’Água das Flores, Santana do Ipanema, Carneiros, Canapi… Um vate popular que imite, ainda de longe, o cego pedinte e repentista do sítio Travessão, Zequinha Quelé, o gênio das feiras interioranas do sertão alagoano. “Perdoe ceguinho”:

“A bacia do perdoe

Eu deixei no Travessão

Sou homem

Não sou menino

Todo ser é assassino

Só meu padre Ciço não.”

Nem mesmo se encontra mais o violeiro nos bares, tomando uma, cantando repente, devorando temas, assim como fazia o poeta Zezinho da Divisão: “Só vai arrochando tudo”:

“Se a sua mulher não presta

Se o filho é um ladrão

Se o pai é um cornão

Que vive coçando a testa

Se na vida nada resta

Nem trabalho nem estudo

Falta dinheiro graúdo

Nesse seu bolso furado

Se dane a comprar fiado

Só vai arrochando tudo.”

A escassez de atrações nas feiras, entretanto, não faz diminuir a importância desse comércio livre de grande valia para produtores rurais e consumidores, além de amenizar os custos dos produtos comestíveis ofertados por famosos atacadões.

Afinal, a tradição também tem seu Dia de Finados.

ESCRITOR, HOMENAGEM E PROFICIÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2015

Crônica Nº 1.490

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

As homenagens sucessivas do Magistério a nossa pessoa, como escritor, agrada ao ego, porém, fortalece dentro do romancista, historiador, poeta e cronista B. Chagas, um sentimento muito maior, quase infinito de agradecimento.

Trabalharam com as nossas obras, a Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas; a Escolinha Carrossel; o anexo da Escola Durvalina Pontes; a escola particular São Cristóvão e agora a outra, também São Cristóvão, da rede municipal.

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

Foi justamente o Magistério que nos honrou com o título “Escritor Símbolo de Santana do Ipanema”, quando nossos leitores complementaram: “e do Sertão Alagoano”.

Com a mesma grandeza das recepções nos outros estabelecimentos de Ensino, fomos recebidos pela diretora Maria Rosângela de Oliveira Melo Prudente, sua equipe nota mil, o ex-companheiro de AGRIPA, Ariselmo Melo e seu animadíssimo corpo discente.

Com o tema: Brasil um País em Busca da Proficiência Leitora, teve como uma das fontes de pesquisa o nosso livro Ipanema, um rio macho.

Também o cordelista e ator Silvano Gabriel, teve seus trabalhos pesquisados e comentados pelos alunos.

Foram apresentados atos de peças teatrais como “Sebo nas canelas Lampião vem aí!”, da nossa autoria e também, outras do cordelista Gabriel.

Foto: Clerisvaldo

Foto: Clerisvaldo

Cada turma ficou encarregada de apresentação de trabalhos, em maquetas sobre as mesas, com painéis temáticos na parede, ao fundo. Página musical, desenhos, textos, encenações, telão e aplausos, movimentaram a juventude que dão os primeiros passos na Educação, na Cultura Nordestina e Brasileira.

A todos os que fazem a “Escola São Cristóvão”, deixamos os nossos parabéns, com a certeza de que para se conhecer o mundo, primeiro se conhece a localidade em que se vive.

O reconhecimento dos valores geográficos, históricos, culturais e morais do seu entorno lhe embasa na felicidade do SABER.

GOLPE NA AGRIPA E NA SOCIEDADE SANTANENSE

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de setembro de 2015

Crônica Nº 1.489

TV GAZETA DE ALAGOAS E DONA JOANINHA. 15.09.2014 (Foto: Arquivo / Agripa)

TV GAZETA DE ALAGOAS E DONA JOANINHA. 15.09.2014 (Foto: Arquivo / Agripa)

O falecimento de Dona Joaninha, em Santana do Ipanema, na última sexta-feira, causou comoção em nosso município. Liderança inconteste do subúrbio Maniçoba/Bebedouro foi artesã, agricultora e comandante sem medo das lutas daqueles habitantes por melhor qualidade de vida.

Após tantas e tantas longas batalhas pela ala pessoal e coletiva, Dona Joaninha passou a ser conselheira da Associação Guardiões do Rio Ipanema AGRIPA, cuja presença era uma festa à parte. Empenhou-se em todas as lutas dos guardiões sem nunca se afastar um só segundo das responsabilidades com seu povo.

No dia 14 de setembro de 2014, justamente, completando um ano hoje, foi homenageada por nós, representando a AGRIPA, no encontro temático com as autoridades no auditório da prefeitura. Eis o teor da homenagem:

JOANINHA EM SESSÃO DE 29.12.2013 (Foto: Arquivos / Agripa)

JOANINHA EM SESSÃO DE 29.12.2013 (Foto: Arquivos / Agripa)

“Joana Maria da Silva, conhecida por Dona Joaninha, sócia-fundadora da AGRIPA, lidera duas comunidades em suas batalhas incansáveis. Respeitadíssima em qualquer um ambiente orienta e traz luz para a Associação Guardiões do Rio Ipanema. Todos os da AGRIPA têm Dona Joaninha como pessoa sábia e guerreira e, está perto dela é aprender lições de vida e de lutas que enriquecem a alma dos nossos associados.

Nas bifurcações dos nossos caminhos, Dona Joaninha aponta a trilha a ser seguida. De vez em quando pega na orelha de quem vacila e derrama um pouco de sabedoria na moleira jovem que não aprendeu a tradição solidificada.

Pernambucana de nascimento, veio nos ensinar a arte da guerra social pela felicidade em conjunto. Para aqueles que não cumprem suas promessas ou cochilam nas ações, Dona Joaninha é um terror no microfone. Para os corretos e bem-intencionados, a guardião representa a companhia que constrói que edifica, que harmoniza.

Saiba Dona Joaninha que a AGRIPA tem orgulho de possuir em seus quadros uma pessoa que faz parte do patrimônio humano do município santanense. Um forte abraço dos seus companheiros da Associação Guardiões do Rio Ipanema”.

A AGRIPA e a sociedade santanense perdem uma guerreira incorruptível, iluminada e doce que não cabia mais na pressão dos desumanos.

Foi sepultada ontem (domingo), no cemitério São José, da periferia Barroso, a “mulher de aço”.

OS VAQUEIROS DE SÃO CRISTÓVÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2015

Crônica Nº 1.488

Foto: Alagas na Net / Arquivo

Foto: Alagas na Net / Arquivo

Mais uma vez a Paróquia de São Cristóvão, no Bairro Camoxinga, divulga a programação da sua festa religiosa. O convite recebido pela nossa Escola Estadual Profa. Helena Braga das Chagas está perfeito. Muito bonito por dentro e por fora com ilustração de bom gosto, excelente papel e educação do envelope branco. Além disso, com uma programação bem elaborada e distribuída só faz exaltar o amor da equipe, caprichada nos detalhes que causou impacto altamente positivo.

Inúmeros noiteiros irão participar das honras ao padroeiro dos motoristas, principal evento do seco mês de outubro em Santana do Ipanema.

Pode parecer estranha a abertura que se tornou tradicional, com vaqueiros e/ou aboiadores, com vestimenta típica em seus cavalos derrubadores de gado. E se São Cristóvão é o santo dos motoristas, pode muito bem ser o santo dos vaqueiros, aboiadores e de todos os paroquianos sem exceção.

Além do miolo propriamente dito, isto é, as noites normais da novena, a festa reúne multidão imensa na vanguarda e retaguarda do evento. O desfile dos vaqueiros abre a festa, a procissão de veículos motorizados, fecha. Essa carreata deverá sair da cidade de Olivença, o que por si só já é um espetáculo impressionante de fé.

Após os movimentos religiosos noturnos, barracas bem iluminadas vendem lanches, em momento completamente descontraído e de encontro também feliz dos seus paroquianos.

Geralmente parques de diversão ocupam a praça defronte à Matriz, onde crianças e adultos se divertem a valer. Barracas tomam conta da Rua Pedro Brandão, principal do Bairro, formando assim o lado profano dos festejos.

O bispo diocesano sempre se acha presente na última noite da novena.

Com certeza a Escola Helena Braga se fará presente em uma daquelas futuras noites.

Tomara que chegue logo dia de abertura com os vaqueiros de São Cristóvão espantando a crise.

CEM METROS RICOS EM HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2015.

Crônica Nº 1.487

Foto: prof.mauriciocamargo.blogspot.com

Foto: prof.mauriciocamargo.blogspot.com

Confundindo-se com a história do sertão alagoano, a Rua Nilo Peçanha, cabeça quebrada da unidade Rua Antônio Tavares, em Santana do Ipanema, não chega a cem metros. Ignorada como fonte histórica por quase todos os habitantes da cidade, hoje representa apenas um terreno morto.

Foi ali, entretanto, onde existiu a célebre Cadeia Velha que só foi demolida com inauguração da atual Delegacia de Polícia no lugar chamado Aterro. A Cadeia Velha serviu de delegacia, prisão, quartel, necrotério, e lugar de venda de escravos. Dali saíram os soldados para defender a cidade contra um possível ataque de Lampião, não acontecido. Foi a Cadeia a primeira guarida para o 2º Batalhão de Polícia, comandado por Lucena para combater cangaceiros no sertão.

O trecho Nilo Peçanha foi agraciado como estrada Pedra de Delmiro a Palmeira dos Índios, consolidada pelo próprio coronel Delmiro.

Foi ali, defronte à Cadeia Velha, onde uma das duas excelentes bandas de músicas recepcionou o governador interino de Alagoas, padre Capitulino, acompanhado em comitiva de mais de cem cavaleiros e muitos fogos desde a sua entrada pelo subúrbio Bebedouro/Maniçoba. A outra banda aguardava no centro.

Foi ali na esquina da Nilo Peçanha com a travessa que leva ao rio, onde negociou o cidadão que deu nome ao município de Ouro Branco, Sebastião Jiló (hoje bodega fechada e em ruínas). Em Ouro Branco, antigo Olho d’Água do Chicão, tinha bodega frequentada por Lampião, seus irmãos e os Porcino. Lampião o defendia das maldades dos demais, principalmente do fiado.

Ainda no trecho dos cem metros da Nilo Peçanha, o panificador Antônio Tavares, foi atacado, covardemente, pelo soldado Artur (um dos homens de confiança de Lucena) o mesmo que matou o tenente Porfírio. O panificador trancou-se num quartinho onde morava só, não saiu de casa durante três dias, morrendo de desgosto. Era pai do futuro deputado Siloé Tavares. A Rua Antônio Tavares que antes se chamava Cleto Campelo, depois do nome Sebo, homenageia o comerciante.

A grande casa comercial na esquina da Nilo Peçanha com o comércio era salão de sinuca com jogo de baralho nos fundos. Pertencia ao chefe político no governo Arnon de Mello, Manoel Barros. A porta dos fundos dava para a Rua Nilo Peçanha.

Assim, muitos outros fatos históricos ocorreram no trecho dos cem metros.

*Do livro do autor: “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”.

MARTIRIZANDO OS MARTÍRIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2015

Crônica Nº 1.486

Foto: Divulgação / Site de Maceió

Foto: Divulgação / Site de Maceió

O palácio Floriano Peixoto, em Maceió, já não abriga governos estaduais. Virou museu pobre na sua arquitetura rica. Muitas histórias, inclusíveis tétricas e cabeludas, estão impregnadas em sua estrutura centenária. O antigo palácio, não é tão velho assim. Após marchas e contra-marchas, desde o seu começo, foi inaugurado o faustoso edifício, em 16 de setembro de 1902. Modificada a planta original, ganhou os traços de Lucarini com predominância neoclássica.

Tendo sido construída defronte a igreja de Bom Jesus dos Martírios, serviu a igreja como ponto de referência para o palácio. E, popularmente, o palácio Floriano Peixoto, passou a ser chamado “Palácio dos Martírios”, isto é, aquele que fica perto da igreja do Bom Jesus dos Martírios. O apelido pegou a tal ponto que foi questionado por um dos ocupantes nos seus apertos governamentais.

Para gastar mais dinheiro, fugir da influência do vulgo ou por outro motivo, inventaram outro palácio chamado Zumbi dos Palmares. Apesar do pomposo título, não causou nenhuma impressão psicológica no povo alagoano. É escuro e enfeitado de espelhos ou similares, com amplo aspecto de mausoléu.

Sem nada a oferecer, o antigo palácio dos Martírios, “Cavalo Branco”, pelo menos ocupa um espaço central vigiado.

O mausoléu dos Palmares, ali perto, vai registrando mais de setenta novas indústrias em Alagoas, segundo governo passado, mas parece que os impostos vão para outros territórios, pois não se vê melhora alguma e, a choradeira profissional das autoridades parece não ter fim.

Sobre o antigo Floriano Peixoto:

“O palácio sofreu algumas reformas na sua ambientação, perdendo grande parte do mobiliário e praticamente todas as peças de arte decorativa do início do século, sendo substituídas por objetos desprovidos de valor artístico” (…). (Alagoas memorável, fascículo 10, pág. 289).

O governo alagoano deu às costas aos Martírios; mas até quando o funcionalismo público e o povo do estado serão martirizados?